domingo, 12 de fevereiro de 2017

Opinião do dia - Montesquieu

Não haverá também liberdade se o poder de julgar não estiver separado do poder legislativo e do executivo. Se estivesse ligado ao poder legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário, pois o juiz seria legislador. Se estivesse ligado ao poder executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor.

Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes o de fazer leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos.

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Montesquieu (1689-1755). ‘O Espírito das leis’ (1748), p. 202. Editora Nova Cultura, 2005

Nove meses de Temer: avanços na economia e 'velha política'

Entre o atraso e a modernidade

• Ao completar nove meses no poder, o presidente Michel Temer abraça uma agenda reformista na economia, mas preserva as práticas da 'velha política'

José Fucs | O Estado de S. Paulo

Ao completar nove meses no cargo neste domingo, incluindo o período de 110 dias como interino, o presidente Michel Temer continua mal avaliado nas pesquisas. Segundo um levantamento divulgado no início de fevereiro pelo instituto Ipsos, uma das maiores empresas de pesquisa do mundo, Temer é aprovado por apenas 19% dos brasileiros, o mesmo resultado obtido em junho e julho. Seu governo também recebe nota baixa no boletim popular – 59% da população o classificam como ruim ou péssimo. Pior ainda, 74% consideram seu governo inferior (40%) ou igual (34%) ao da ex-presidente Dilma Rousseff.

Embora não tenha conseguido ainda o reconhecimento da população, Temer já tem resultados para apresentar. Apesar das turbulências e de tropeços na área política, no campo econômico ele promoveu uma considerável mudança de rumo no País, em relação ao quadro herdado de Dilma. Ao abraçar uma agenda claramente reformista, baseada no programa “Ponte para o Futuro”, elaborado em 2015 por seu partido, o PMDB, Temer tenta imprimir sua marca na gestão do País.

Crise leva meio milhão de volta ao Bolsa Família

Taxa de reingresso no programa aumenta com a alta do desemprego

Para especialista, situação social só vai melhorar quando a economia do país retomar crescimento

Mais de meio milhão de famílias beneficiárias do Bolsa Família no passado e que conseguiram renda para sair do programa pediram reingresso em 2016 por causa da crise econômica e do desemprego, conta Renata Mariz. O número de famílias que voltam a ser dependentes do programa vem crescendo desde 2012, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social. A escalada acende o sinal vermelho para o aumento da pobreza após mais de uma década de queda e a necessidade de retomada do crescimento.

De volta ao Bolsa Família

Crise econômica devolve mais de meio milhão de famílias ao programa de transferência de renda

Renata Mariz | O Globo

-BRASÍLIA- Pouco mais de um ano foi o tempo suficiente para Rosimaria Rodrigues de Santana Amorim deixar o programa Bolsa Família. Há quase uma década, ela deu “baixa” no cartão porque conseguiu emprego como auxiliar de serviços gerais. O marido, Wagner Amorim, também passou a trabalhar de ajudante de pedreiro com carteira assinada. A renda do casal que mora em Planaltina de Goiás, mais conhecida como “Brasilinha” devido à proximidade de 60 km com a capital federal, permitiu financiar uma casa popular, comprar móveis modestos, ter eletrodomésticos e fazer um agrado vez por outra para os dois filhos, que adoram pizza e sonham com um tablet.

Lava-Jato: ações pelo país podem provocar prescrição de crimes

Operação enfrenta dilema da Banestado, que viu reús ficarem impunes

Thiago Herdy | O Globo

CURITIBA - Informações dos depoimentos de 77 executivos da Odebrecht que fizeram acordo de colaboração premiada com o Ministério Público serão distribuídas a promotores e procuradores de todo o Brasil, colocando a Lava-Jato, na opinião de promotores, frente ao mesmo problema que viveu há 10 anos: no auge da operação Banestado — que desvendou um esquema bilionário de evasão de divisas para paraísos fiscais — processos envolvendo centenas de beneficiários e doleiros foram distribuídos pelo país, pois Curitiba não dava conta de processar todos os casos. O resultado foi trágico: a maior parte dos processos prescreveu e réus ficaram impunes.

Procurador que atuou tanto na Banestado quanto na LavaJato, Carlos Fernando dos Santos Lima torce para que o rumo dos processos seja outro:

Delatores da Odebrecht vão cumprir penas mais duras

Wálter Nunes, Mario Cesar Carvalho | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Já foi uma moleza fazer acordo de delação com a Lava Jato.

Em 2015, por exemplo, Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras que recebeu US$ 23 milhões de propina em uma conta secreta na Suíça, teve de cumprir apenas um ano de prisão domiciliar. Os empresários Julio Camargo e Augusto Mendonça nem disso precisaram.

Esse padrão mudou com a delação da Odebrecht. Os 77 executivos do grupo terão de cumprir as penas mais longas da operação, que completa três anos no próximo mês.

A punição mais dura coube a Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo que leva o seu sobrenome e considerado pelos procuradores como o mentor do sistema de propinas que movimentou pouco mais de US$ 1 bilhão no Brasil e em 11 países.

Só para comparar: os ex-presidentes da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, e da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, ambos delatores, acertaram penas bem menores do que Marcelo.

Militares respondem por um terço do rombo das previdências dos Estados

Crise na segurança pública, evidenciada com a paralisação de PMs no Espírito Santo, tornou mais difícil para o governo negociar mudanças nas aposentadorias dos militares

Idiana Tomazelli e Adriana Fernandes | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A crise na segurança pública, escancarada na semana passada com a paralisação dos policiais militares no Espírito Santo, que ameaçava se espalhar para outros Estados, adicionou um novo obstáculo para a reforma da Previdência. Segundo levantamento feito em alguns Estados, os militares são responsáveis por cerca de um terço do rombo das previdências estaduais, mas ficaram de fora da reforma proposta pelo governo. A ideia era enviar um projeto com novas regras para a aposentadoria dos militares até o fim de março, mas fontes do governo admitem que essa possibilidade está cada vez mais distante.

“O momento não é oportuno para entrar nessa discussão, porque o Congresso já vai estar bastante tensionado por conta da reforma da Previdência e da reforma trabalhista. É hora de avançar na reforma previdenciária geral”, avalia o cientista político Murillo de Aragão, presidente da Arko Advice. Para ele, a previdência dos policiais, inclusive civis e federais, que estão dentro do projeto de reforma da Previdência, precisa ser discutida de forma separada por conta do risco da profissão.

Juro da dívida de Estados e capitais atinge R$ 77,6 bilhões em 2016

Desse valor, 41,1% recaem sobre Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul; conta fluminense supera R$ 10 bilhões

Fernando Nakagawa | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A conta dos juros da dívida de Estados e capitais chegou a R$ 77,6 bilhões em 2016. Números do Banco Central mostram que 41,1% desse valor – R$ 31,9 bilhões – recai sobre as três unidades da Federação em calamidade financeira: Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Só a conta do governo fluminense superou os R$ 10 bilhões, o que colocaria o juro como terceiro maior item do orçamento do Estado, atrás apenas de saúde e educação.

Dados regionais do BC mostram outra face da frágil situação dos Estados. O detalhamento dos indicadores fiscais revela que o governo fluminense, a capital e alguns grandes municípios do Rio receberam uma conta de R$ 12,5 bilhões em juros no ano passado. O valor é resultado dos juros cobrados em empréstimos tomados no passado, como a própria repactuação da dívida estadual feita na década de 90 pela União.

O levantamento revela que 83% dessa cifra é de responsabilidade exclusiva do governo estadual – R$ 10,3 bilhões – e o restante da conta foi enviado à prefeitura do Rio e a outros municípios fluminenses. Se constasse do orçamento estadual, essa conta representaria a terceira maior despesa do Estado. No ano passado, o montante dos juros ficou atrás apenas da saúde (R$ 17,8 bilhões) e da segurança pública (R$ 11,6 bilhões).

Sem eleições internas, partidos abusam de comissões provisórias

TSE exige que legendas mudem forma de escolha de dirigentes

Eduardo Bresciani | O Globo

BRASÍLIA - Quase metade dos diretórios regionais dos maiores partidos brasileiros é comandada por comissões provisórias indicadas pela cúpula nacional das legendas. Levantamento feito pelo GLOBO mostra que 123 dos 270 diretórios dos dez maiores partidos estão nessa situação. Na semana passada, a Câmara se movimentou para tentar derrubar uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que entra em vigor no próximo mês e fixa um prazo para o funcionamento dessas estruturas como forma de obrigar os partidos a exercer democracia interna e eleger seus dirigentes. O projeto pode ser votado ainda nesta semana e, na terça-feira, o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, recebe os presidentes dos partidos para debater o tema.

O instrumento de comissões provisórias existe para que as direções possam intervir em casos de descumprimento do estatuto ou das diretrizes apontadas pela legenda ou até mesmo para a montagem de estruturas temporárias em caso de fatalidades, como a morte de dirigentes. Os caciques partidários, porém, passaram a usar esse instrumento para impor suas vontades, e o levantamento mostra que há casos de até 10 anos de funcionamento de estruturas “provisórias”.

PROJETO CONTRA PRAZO É DE MINISTRO
Quinto maior partido do país, o PR tem todas as suas seções estaduais sob comando provisório e com duração “indeterminada”, ou seja, sem prazo para eleição. Presidido atualmente pelo deputado amazonense Alfredo Nascimento, o partido é comandado nos bastidores com mão de ferro por Valdemar Costa Neto, ex-deputado que chegou a ser preso no mensalão. O projeto que tenta derrubar a resolução do TSE é do ministro dos Transportes, Maurício Quintella Lessa, filiado ao partido. A legenda tem quatro diretórios regionais com a mesma comissão provisória desde a década passada.

Copo meio cheio, meio vazio - *Bolívar Lamounier

- O Estado de S.Paulo

• Não estaremos a perseguir uma miragem, uma reforma política que tudo resolva?

Alguém já disse que o Brasil é o país do oito ou oitenta. Para nós, passar do pessimismo ao otimismo e vice-versa é como trocar de camisa. Tudo no vapt-vupt, como um pêndulo acelerado. É bem isso o que acontece em nossos debates sobre as instituições políticas. Um dia afirmamos peremptoriamente que nunca superamos o estágio das capitanias hereditárias, tempo de Sarney e Renan Calheiros. No dia seguinte nos ombreamos com as democracias mais avançadas, temos o melhor sistema político do mundo, os melhores partidos, lideranças admiráveis.

Em certos momentos, somos bipolares. Sustentamos avaliações opostas ao mesmo tempo, como se fosse a coisa mais natural do mundo. A presente conjuntura é desse tipo, e, convenhamos, a bipolaridade faz pleno sentido. No polo positivo, o governo Temer está conseguindo pôr alguma ordem na casa. Aproveitando-se da tremedeira que tomou conta do Congresso Nacional, vai aos poucos consertando o estrago deixado pelo populismo de Lula e Dilma Rousseff. Aprovou uma medida importante, a PEC do Teto de gastos, e está para sancionar a reforma do ensino médio – reforma tímida, mas melhor que nada. No polo negativo, carnificinas nos presídios, greve da Polícia Militar e desordem no Espírito Santo, febre amarela batendo às nossas portas. Sem esquecer a dengue, a chikungunya e a zika.

Uma leitura das ruas - Fernando Gabeira

- O Globo

Num mundo que enlouquece celeremente, o Brasil deu sua cota na semana passada com a greve dos PMs no Espírito Santo: mortes, saques, assassinatos e assaltos dominaram as grandes cidades capixabas. O medo se ampliou com a possibilidade de outras PMs, notadamente Minas e Rio, seguirem o mesmo caminho. No auge da crise, o governo como sempre se omite, e o próprio ministro da Justiça pede demissão para se dedicar à sabatina para ocupar o STF.

A fórmula de sempre é mandar o Exército, com sua grande força psicológica, baseada na simpatia popular pela instituição. Mais psicológica do que real, uma vez que há 2.000 homens para cobrir a ausência dos 11 mil PMs em greve. Por trás do drama cotidiano, uma grande máquina, açucarada e viscosa, move-se não apenas para neutralizar a Lava-Jato, mas para garantir o poderoso esquema de corrupção que une políticos e empresários no Brasil. O ministro indicado para o STF escreveu uma tese dizendo que presidentes não deveriam escolher seus auxiliares porque passariam a ficar dependentes desse favor.

De chalanas a jatinhos - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

• Políticos brincam com fogo, apesar da Lava Jato e do desemprego galopante

Em meio à significativa batalha campal no Espírito Santo e aos recorrentes confrontos de rua no Rio de Janeiro, o que mais chamou a atenção na semana política foram a guerra jurídica detonada pelo presidente Michel Temer por premiar Moreira Franco com foro privilegiado e os sucessivos erros dos políticos, que se armam até os dentes contra a Lava Jato, mas ao mesmo tempo insistem em não entender a gravidade da situação, mantendo a velha ostentação como se nada estivesse acontecendo.

Aos fatos: como é possível Alexandre de Moraes fazer um ensaio com membros da CCJ na Chalana Champanhe, uma belíssima casa flutuante no Lago Paranoá de Brasília, como divulgado pela Coluna do Estadão? Ensaios são próprios de shows, de teatros... E por que o senador tucano Aécio Neves tinha de voar para São Paulo num jatinho pago com recursos do Fundo Partidário? O fundo é financiado com o meu, o seu e o nosso suado dinheirinho...

Sem anistia – Merval Pereira

- O Globo

Não anistiar policiais é dar um basta na chantagem. Não anistiar os oficiais envolvidos na greve dos PMs do Espírito Santo, responsável pelo clima de barbárie que tomou conta do estado e por um recorde de mortes nas ruas sem policiamento, é a única maneira de dar um basta nessa chantagem que corporações fazem sobre o Estado, inaceitável especialmente vinda de corporações armadas.

Não está em discussão a necessidade de os PMs receberem reajuste salarial ou terem mesmo melhores condições de trabalho, inclusive vislumbrando uma carreira estável a longo prazo, que garanta a suas famílias segurança e estabilidade. Mas essa negociação tem que ser feira à luz do dia, sem que a chantagem se sobreponha ao funcionamento normal dos serviços do Estado.

O número de assassinatos e os saques a estabelecimentos comerciais demonstram claramente o prejuízo à sociedade que a greve dos policiais militares causou no Espírito Santo, e o governador Paulo Hartung fez muito bem em chamar as coisas pelo nome que têm: chantagem.

O pior governo… - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• Imaginemos que a tática das “paisanas” venha a ser adotada em todo o país, como já acontece no Rio de Janeiro

O governo Temer aprovou praticamente tudo o que quis no Congresso, e recuperou o controle das finanças públicas. Os sinais da economia são positivos, pois a inflação entrou numa espiral descendente significativa. Mas está perdendo o controle de segurança pública, cuja responsabilidade principal é dos estados. Depois da crise dos presídios do Maranhão, Amazonas e Roraima, depara-se agora com uma grave crise no Espírito Santo. O jurista italiano Norberto Bobbio dizia que todo governo, mesmo o pior, é a forma mais concentrada de poder. Quando nada nele funciona, as tarefas essenciais do Estado são mantidas: arrecadar, normatizar e coagir. Quando um governo perde a capacidade de manter a ordem pública, deixa de ser um governo ruim para ser desgoverno. É o que está acontecendo no Espírito Santo e pode se generalizar.

Debate desimpedido - Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

Elio Gaspari, em sua coluna nesta Folha na quarta-feira (8), sugeriu que eu contribuo para interditar o debate de política monetária.

No início de janeiro, André Lara Resende publicou artigo no caderno de fim de semana do "Valor Econômico", sobre a possibilidade de que, no Brasil, a inflação seja elevada porque os juros são altos.

Eu e Marcos Lisboa criticamos André no mesmo caderno na semana seguinte, citando-o. Na semana posterior, no mesmo caderno, André respondeu-nos sem nos citar.

No mesmo caderno, após mais uma semana, Eduardo Loyo apresentou alentado artigo, novamente criticando André, e citando-o também. No Broadcast, Carlos Kawall, citando André, elaborou sobre as limitações da literatura empregada por André para tratar do caso brasileiro.

No navio de Temer, mais suspense que no Henrietta - Rolf Kuntz

- O Estado de S.Paulo

• Phileas Fogg queimou os mastros para ganhar tempo. Temer se arrisca a destruir o barco

Júlio Verne poderia ter dado um pouco mais de suspense e de emoção à corrida final da Volta ao Mundo em 80 Dias se o herói Phileas Fogg tivesse um ataque de insensatez ou, pelo menos, fizesse algumas besteiras no comando do Henrietta. Mas só houve ousadia, nenhuma besteira. Ele fez queimar na fornalha do barco os mastros, pedaços de camarotes e mais um monte de madeira para ganhar velocidade até o porto de Liverpool. Reduzido quase só ao casco e ao motor, o navio chegou a tempo e foi possível cumprir o prazo da aposta. Mas a história poderia ser mais acidentada. E se Phileas Fogg, além de ter comprado a tripulação, tivesse distribuído responsabilidades de forma imprudente e assumido o risco de um naufrágio a algumas centenas de milhas da costa britânica?

O Henrietta alcançou o porto, devastado, mas com o casco inteiro, e a aventura foi um sucesso. Porém os leitores de Júlio Verne, assim como os expectadores do filme de 1956, premiado com o Oscar, tiveram menos emoções que os brasileiros de hoje, incapazes de dizer como o governo e o País chegarão a 2018, depois da complicada travessia iniciada no meio de 2016. Os 12 meses finais do prazo, se forem alcançados, poderão ser especialmente perigosos, por causa das eleições.

A separação - Míriam Leitão

- O Globo

Economia e política vivem momento de divórcio. Há um divórcio entre economia e política. A economia começa a dar sinais de melhoras cada vez mais consistentes; a política se afunda em crises e decisões ruins. Na semana passada, o Senado encheu a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) de investigados, um ministro ficou numa guerra judicial, a Câmara tentou reduzir poderes da Justiça Eleitoral.

Empresários têm ido falar com o ministro Henrique Meirelles e outros integrantes da equipe para contar que a crise ainda é grave, mas existem sinais de melhora. Os indicadores antecedentes mostram isso, e o ministro, como contou ontem este jornal, já acredita que o PIB do primeiro trimestre pode ser positivo. A recuperação não será rápida porque a crise foi longa e funda demais, mas já há sinais positivos. Semana passada, o ministro da Fazenda ouviu de um investidor estrangeiro que, na sua avaliação, a crise política acabará levando mais rapidamente à aprovação das reformas. Pode ser, mas o mais provável é que a confusão política paire sobre a economia reduzindo o ímpeto da retomada.

Visões diferentes - Amir Khair

- O Estado de S. Paulo

• A visão de que é o investimento o disparador do crescimento não é sólida

As análises econômicas vêm apresentando avaliações positivas sobre as perspectivas de saneamento fiscal e retomada do crescimento. Os últimos fatos têm corroborado essas avaliações. Na política, as eleições para o comando da Câmara e do Senado dos candidatos fiéis ao governo, esvaziamento do Centrão, divisão na já frágil oposição, bem como a perspectiva para aprovação no Congresso para as reformas previdenciária e trabalhista.

Na economia a queda da inflação favorecida pelos preços dos alimentos e valorização cambial, rumo à meta de 4,5% neste ano e redução da Selic. No campo oposto a essas avaliações tem-se o elevado nível de endividamento das famílias e das empresas e o alto desemprego em tendência crescente.

Diante desse cenário o que esperar?

As análises correntes apontam para uma retomada lenta da economia com crescimento entre 0,5% e 1,0% neste ano e superior a 2,0% em 2018. Uma vez aprovadas as reformas seria dado um paradeiro à sangria fiscal com ânimo aos empresários para retomada do investimento, considerado a nova mola do crescimento. Não creio que esse cenário atenda anseio coletivo nem parcela significativa do empresariado afogada em dívidas, com perda de faturamento e custos crescentes de insumos.

O nó górdio da política - Sérgio Besserman Vianna

- O Globo

• Corrupção continuará sendo a regra do nosso capitalismo de Estado

A Nova República morreu. À luz do que foi revelado de suas catacumbas, não existe mais chance alguma de restauração de sua legitimidade. Se ela não for enterrada e substituída, poderá sobreviver como zumbi, mas a política jamais terá capacidade de enfrentar os desafios que amarram o desenvolvimento da sociedade brasileira.

Essa é a hipótese mais provável, lamentavelmente. Os donos do poder restaurarão, com total falta de pudor, certa normalidade, e, com uma futura pequena melhoria da economia, decorrente do dever de casa básico, um ajuste modesto das contas fiscais, seguiremos nosso medíocre caminho: um gigante aprisionado na armadilha da renda média. E a corrupção continuará sendo a regra do nosso capitalismo de Estado e de nossa democracia de baixa qualidade.

O nó górdio tende a não ser desatado porque os parlamentares não têm nenhum desejo de mudar aquilo em que nem a Constituinte de 1988 mexeu: as regras do sistema eleitoral. As regras com as quais eles mesmos se elegem e exercem o poder. Por que mudar, então?

O pântano é composto de três lamaçais principais:

A Lava-Jato precisa se proteger – Elio Gaspari

- O Globo

Soberba ajuda adversários da Lava-Jato. Na solene e medonha rotunda da universidade de Columbia, em Nova York, o juiz Sérgio Moro explicou sua estrondosa decisão de liberar o grampo de um telefonema de Dilma Rousseff para Lula, em março do ano passado. Os dois trataram da blindagem de Nosso Guia que havia sido nomeado chefe da Casa Civil. O efeito da divulgação do áudio foi devastador. Contudo, havia um problema. Às 11h12m Moro determinara o fim da escuta do telefone de Lula e a conversa ocorreu às 13h32m. Ainda assim, foi transcrita e anexada aos autos da Polícia Federal às 15h37m .

Falando para uma plateia relativamente leiga, Moro explicou sua conduta: “Nossa decisão foi a de não esconder nenhuma evidência nesses casos”. Meia verdade. Sua decisão foi a de expor uma tramoia na qual Dilma blindava Lula, mas a prova que usou era ilegal.

Confrontado à época, Moro disse que a questão dos horários não tinha relevância, porque as companhias telefônicas ainda não haviam sido notificadas. Conversa para boi dormir. Ele é que não deveria ter anexado o grampo feito fora do prazo legal.

Foi um golpe de mestre, mas custou a Moro uma repreensão vinda do ministro Teori Zavascki: “Não há como conceber a divulgação das conversações do modo como se operou”. Explicando-se, Moro disse o seguinte: “Compreendo que o entendimento então adotado possa ser considerado incorreto, ou mesmo sendo correto, possa ter trazido polêmicas e constrangimentos desnecessários. Jamais foi a intenção desse julgador (...) provocar tais efeitos e, por eles, solicito desde logo respeitosas escusas a este Egrégio Superior Tribunal Federal”.

Os méritos da Lava Jato – Editorial | O Estado de S. Paulo

A declaração do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a respeito das prisões decretadas no âmbito da Operação Lava Jato causou desconforto em muitos que confiam no bom trabalho da força-tarefa. “Temos um encontro marcado com as alongadas prisões que se determinam em Curitiba. Temos que nos posicionar sobre esse tema, que conflita com a jurisprudência que construímos ao longo desses anos”, disse o ministro.

Embora também haja quem diga ser inconveniente um ministro do STF fazer esse tipo de declaração, assiste razão a Gilmar Mendes quando discorre sobre a necessidade de os tribunais superiores analisarem a conformidade com o bom Direito das ordens de prisão decretadas pelos juízes de primeiro grau. Ele estava tratando, em foro próprio, de assunto pertinente às elevadas funções públicas que ocupa. Mais de uma vez, neste espaço, alertou-se para eventuais abusos que podem surgir no âmbito da Lava Jato e, principalmente, para algumas propostas, feitas por membros do Ministério Público Federal (MPF), que destoavam dos princípios e garantias próprios de um Estado Democrático de Direito.

A má formação do professor – Editorial | O Globo

• É grande a proporção do corpo docente não formada em disciplinas que ensinam nas salas de aula, e este problema requer soluções realistas

A já histórica crise da educação básica brasileira pode ser vista por diversos ângulos. Por ser assunto complexo, multifacetado, analisa-se o problema por incontáveis aspectos: investimentos do Estado mal alocados; feitos e acompanhados de forma deficiente; falhas de currículo; má gestão em geral e assim por diante. O papel do professor é estratégico, não se discute. Isso não significa culpá-lo por todas as mazelas educacionais, expressas em testes como o internacional Pisa, em que os estudantes brasileiros adolescentes costumam aparecer nos últimos lugares no ranking de proficiência.

O retrato de Doria – Editorial | Folha de S. Paulo

O prefeito João Doria (PSDB) tem razões para alegrar-se com a pesquisa Datafolha divulgada neste domingo (12). Após 40 dias de hiperatividade midiática do alcaide, sua popularidade vai bem.

Entre os paulistanos, 44% consideram ótimo ou bom o desempenho de Doria (percentual praticamente idêntico ao dos votos que obteve em outubro). E 63% dos entrevistados opinam que ele fará um governo melhor que o de Fenando Haddad (PT).

A comparação direta com os seis antecessores imediatos do tucano sai prejudicada, porém, por não ser usual o levantamento com pouco mais de um mês de governo. O mais recente, até então, se dera com Paulo Maluf (PP), em 1993, e o hoje deputado obteve como prefeito 25% de ótimo e bom.

Feita a ressalva, registre-se que o comunicador apadrinhado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) se sai melhor na largada que os dois prefeitos mais bem avaliados aos três meses no posto, ambos petistas na época da aferição: Marta Suplicy, com 34% de ótimo e bom, e Haddad, com 31%.

Um novo papel para nós - Cacá Diegues

Adicionar legenda
- O Globo

Nossa cordialidade e alegria de viver foram para o brejo há tempos Nossa famosa cordialidade e a alegria de viver características da civilização brasileira já foram pro brejo há muito tempo. Há muito tempo que, no carnaval da inteligência mundial, não somos mais o Bloco Inocentes do Ocidente, os ingênuos e bons selvagens que consolavam nossos próprios antropólogos e os turistas da cultura em busca de uma esperança. Para tomar conhecimento disso, basta abrir os jornais.

As taxas de homicídio crescem em quase todos os estados da Federação. Os presídios se rebelam e provocam a morte de centenas de pessoas em poucos dias. No Espírito Santo, a greve de policiais militares deixa as ruas vazias e vândalos depredam lojas, trocam tiros na esquina e matam mais de cem cidadãos. No lendário e aprazível Rio de Janeiro, terra de samba e pandeiro, apenas neste ainda curto 2017 um policial militar foi morto a cada dois dias, enquanto no ano anterior foram cometidos 5.033 homicídios intencionais, 20% a mais do que em 2015. No mesmo 2016, quase cem mil pessoas foram assaltadas nas ruas da capital fluminense, nosso paraíso tropical.

Os domingos - Paulo Mendes Campos (1922-1991)

Todas as funções da alma estão perfeitas neste domingo.
O tempo inunda a sala, os quadros, a fruteira.
Não há um crédito desmedido de esperança
Nem a verdade dos supremos desconsolos –
Simplesmente a tarde transparente,
Os vidros fáceis das horas preguiçosas,
Adolescência das cores, preciosas andorinhas.

Na tarde – lembro – uma árvore parada,
A alma caminhava para os montes,
Onde o verde das distâncias invencidas
Inventava o mistério de morrer pela beleza.
Domingo – lembro – era o instante das pausas,
O pouso dos tristes, o porto do insofrido.
Na tarde, uma valsa; na ponte, um trem de carga;
No mar, a desilusão dos que longe se buscaram;
No declive da encosta, onde a vista não vai,
Os laranjais de infindáveis doçuras geométricas;
Na alma, os azuis dos que se afastam,
O cristal intocado, a rosa que destoa.
Dos meus domingos sempre fiz um claustro.
As pétalas caíam no dorso das campinas,
A noite aclarava os sofrimentos,
As crianças nasciam, os mortos se esqueciam mortos,
Os ásperos se calavam, os suicidas se matavam.
Eu, prisioneiro, lia poemas nos parques,
Procurando palavras que espelhassem os domingos.
E uma esperança que não tenho.

Em: “O Domingo Azul do Mar” (1958)

Bloco da Solidão - Alcymar Monteiro