sábado, 14 de janeiro de 2017

Opinião do dia – Karl Marx

A burguesia não pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por consequente, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais. A conservação inalterada do antigo modo de produção era, pelo contrário, a primeira condição de existência de todas as classes industriais anteriores. Essa subversão continua da produção, esse abalo constante de todo sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepções e de ideias secularmente veneradas; as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes de se consolidarem. Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado e os homens são obrigados finalmente a encarar sem ilusões a sua posição social e as suas relações com outros homens.
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Há 169 anos atrás Marx (1816-1883), no conhecido Manifesto Comunista, fevereiro de 1848.

O legado de Obama pode ser apagado

Por Carlos Eduardo Lins da Silva | Valor Econômico

• Reforma da saúde e reaproximação com Cuba estão ameaçados com Donald Trump na Casa Branca

O legado de Obama
Ao eleger-se presidente dos EUA em 2008, Barack Obama despertou em seu país e no mundo tantas e tão diversificadas esperanças que nem ele nem ninguém poderiam jamais realizar integralmente. A carga simbólica de um negro comandar o mais rico e poderoso país do mundo, que apenas emergia historicamente de um passado de segregação racial (a qual só foi legalmente abolida nos anos 60) era imensa.

Havia tamanha expectativa, que Obama ganhou o Prêmio Nobel da Paz meses após ter tomado posse, sem concretizar uma só ação que o justificasse, apenas pela antecipação do que poderia vir a fazer. O formidável arsenal retórico de sua campanha, expressado com dons oratórios raros na cena política mundial contemporânea, antecipava quase tudo para quase todos.

O país estava mergulhado na sua pior crise econômica em pelo menos 80 anos e moralmente combalido pela desastrosa condução da guerra no Iraque e no Afeganistão pelo seu antecessor, George W. Bush.

Os desafios para Obama eram imensos. E foram acrescidos por uma oposição implacável, baseada acima de tudo em preconceito racial e ideológico, que se expressou intensamente no Congresso. Obama só teve maioria nas duas casas do Legislativo nos dois primeiros anos de governo. Nos quatro seguintes, ficou em minoria na Câmara e apertada vantagem no Senado. Nos dois anos finais, em minoria em ambas.

Historiador vê 'ecos' dos anos 1930 em ascensão do populismo na Europa

Guilherme Magalhães | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - "É muito tentador pensar no século 20 da Europa como um século de dois tempos completamente diferentes, talvez com uma prorrogação a partir de 1990."

É com essa metáfora futebolística que o historiador britânico Ian Kershaw, 73, —torcedor do Manchester United— inicia a empreitada de contar a história do continente europeu no conturbado século passado.

O primeiro de dois volumes, "De Volta do Inferno: Europa, 1914-1949", acaba de ser lançado no Brasil pela Companhia das Letras e cobre os acontecimentos que vão do início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) até o estabelecimento da Europa dividida entre capitalismo e comunismo.

O segundo, que analisará a metade do século marcada pela Guerra Fria, tem publicação prevista para 2018.

Congresso dos EUA avança para enterrar Obamacare

Obamacare na UTI

• Republicanos começam a pôr fim a programa de saúde, mas governadores do partido resistem

- O Globo

20 milhões Número de pessoas que podem ficar sem seguro de saúde se Obamacare for revogado

39 Número de estados que aderiram ao programa federal. Os 11 restantes e o Distrito de Colúmbia têm esquema próprio

US$ 75 Preço médio do seguro de saúde por pessoa, por mês

8,6% É o percentual de americanos que não estão cobertos por seguros de saúde. Antes do Obamacare, eram 15,7%

WASHINGTON - Uma das principais promessas de campanha do magnata republicano Donald Trump começou a tomar forma ontem: acabar com o Obamacare — o plano de saúde pública elaborado pelo mandatário americano de saída, Barack Obama. Seguindo a aprovação prévia no Senado, na quinta-feira, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou, ontem, por 227 votos a 198, a resolução que dá o primeiro passo para o fim do Obamacare, instruindo as principais comissões do Legislativo a redigirem uma lei que revogue, até 27 de janeiro, o projeto de saúde de Obama. Ambas as Casas têm hoje maioria republicana. Como já era esperado, nenhum democrata apoiou a iniciativa.

Mesmo antes da aprovação da revogação pelo Congresso, o agora presidente eleito Trump já festejava no Twitter: “O ‘Unaffordable' Care Act em breve será história!”, fazendo um trocadilho com o nome formal do programa, chamando-o de “inacessível”. O Obamacare, que obriga os americanos a contratarem planos de saúde sob pena de multa, mas fornece subsídios aos mais carentes, acabou virando objeto de uma guerra política entre republicanos e democratas. Os primeiros afirmam tratar-se de uma intromissão excessiva do Estado na vida das pessoas, com um alto custo bancado com dinheiro público que não se justificaria pelo benefício proporcionado à população, além dos aumentos nos preços e franquias — algumas grandes seguradoras abandonaram o sistema. Já os democratas acusam os republicanos de se precipitarem em eliminar uma lei que permitiu estender a cobertura de saúde a 20 milhões de americanos.

‘Prévia do PIB’ avança 0,2% em novembro e tem o maior nível desde julho, diz Banco Central

• Leve melhora, contudo, não indica recuperação do PIB, que acumula queda de 4,76% em 11 meses de 2016

Fabrício de Casto | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Após ceder 0,15% em outubro (dado já revisado), a economia brasileira registrou avanço em novembro de 2016. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) do mês teve alta de 0,20% ante outubro, com ajuste sazonal, informou nesta sexta-feira, 13, a instituição.

É o maior nível do indicador desde julho e também o primeiro avanço nesta comparação. O movimento, contudo, ainda não aponta uma retomada do crescimento após o País passar meses mergulhado em recessão. Na série com ajuste sazonal, é possível identificar um recuo de 4,76% de janeiro a novembro do ano passado.

Em todo o ano de 2016, o IBC-Br ficou positivo apenas em abril, junho, julho e novembro, além de ter ficado estável em setembro, sempre na comparação com o mês anterior.

Atraso no pagamento do 13º bate recorde

• Na construção, 2.150 empresas atrasaram o pagamento; em 2015, foram 87

Márcia De Chiara | O Estado de S. Paulo

A última vez que o salário do mês entrou na conta do encarregado de obra Diego Alves de Farias, de 28 anos, foi no dia 20 de novembro. Naquela data, a empreiteira na qual trabalha depositou R$ 720, o adiantamento de novembro, que corresponde a 40% do salário. “De lá para cá não pagaram mais nada: nem salário do mês, 13.º, vale-transporte, tíquete-refeição”, conta. A empresa, segundo Farias, alega que não tem obras e o mandou ficar em casa.

No fim do ano, Farias, pai de duas filhas, com quatro e cinco anos de idade, deu um jeito. “Fiz uns bicos de pintura e manutenção e comprei uma bonequinha para cada uma, não deixei passar o Natal em branco.” A festa de Natal, normalmente com amigos e familiares que ocorria na sua casa, não houve. Desta vez, ele foi para casa de um amigo.

Janot quer terceiro mandato e causa reação entre procuradores

• Oposição a chefe do Ministério Público demonstra ‘surpresa’

Carolina Brígido | O Globo

BRASÍLIA - Enquanto a Operação Lava-Jato avança em direção às principais autoridades do país, o condutor das investigações, Rodrigo Janot, cogita disputar o terceiro mandato como procurador-geral da República. A decisão ainda não foi tomada, mas já divide opiniões dentro do Ministério Público Federal (MPF). Há quem apoie a recondução, sob o argumento de que a continuidade de Janot à frente das apurações daria mais estabilidade à LavaJato. No entanto, a oposição interna já começou a criticar, mesmo sem formalização de uma eventual candidatura.

Diante de informações de que Janot estuda continuar no cargo, um de seus principais opositores, o subprocurador Carlos Frederico, postou mensagem no fórum de discussões virtual dos procuradores da República, de acesso restrito à categoria. Ele comparou Janot a Geraldo Brindeiro, procurador-geral durante oito anos nomeado por Fernando Henrique Cardoso. Brindeiro era conhecido como “engavetador geral da República”, pela pouca disposição de denunciar autoridades.

Moro contrata sua mulher para defendê-lo em ação de Lula

• Rosângela Moro atuará caso queixa-crime seja aceita pelo TRF-4

- O Globo

O juiz Sérgio Moro, alvo de uma ação movida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por abuso de autoridade em dezembro, não saiu de casa para contratar sua defensora no processo: sua mulher, Rosângela Maria Wolff de Quadros Moro, é quem consta como advogada na queixa-crime proposta pelo ex-presidente em dezembro.

Rosângela tem um escritório próprio e é especializada na defesa de entidades sociais. Além da atuação reconhecida como advogada, nas redes sociais ela divulga a atuação do marido na Lava-Jato. Ela é administradora de uma página no Facebook intitulada “Eu Moro com ele”, onde compartilha notícias sobre o marido, nega boatos e publica imagens e vídeos do dia a dia do juiz. Caso a ação seja aceita pelo desembargador Sebastião Ogê Muniz, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), Moro será réu, e Rosângela tentará evitar a condenação do marido.

Os advogados de Lula pediram a condenação do juiz a uma pena de dez dias a seis meses de detenção. Entre os motivos para a ação, os defensores citaram a condução coercitiva do ex-presidente, a busca e apreensão de bens de Lula e a interceptação de ligações realizadas, além da divulgação do conteúdo dos diálogos.

Setor do PT quer lançar candidatura de Lula à presidência na semana que vem

• Proposta ainda está em construção; Lula seria candidato ao terceiro mandato em 2018 com a plataforma de revogar imediatamente, caso eleito, todos os feitos do governo Michel Temer

Ricardo Galhardo | O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Setores da esquerda do PT articulam o lançamento da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República na próxima sexta-feira, 20, durante a reunião do Diretório Nacional do partido, em São Paulo. Pela proposta, Lula seria lançado candidato ao terceiro mandato com a plataforma de revogar imediatamente, caso eleito, todos os feitos do governo Michel Temer --em especial a PEC do Teto e a reforma da Previdência-- com amparo de uma frente composta por movimentos sociais e partidos de esquerda.

“O Diretório Nacional, reunido em 20 de janeiro de 2017, deve apresentar a candidatura de Lula à Presidência da República, conclamar a mobilização por diretas já e a construção da unidade popular de esquerda. Deve dirigir-se especialmente às Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, ao PCdoB, ao PDT, ao PSOL, para construirmos juntos uma frente única com o objetivo de eleger um governo democrático-popular que revogará de imediato todos os decretos e leis golpistas e convocará uma assembleia nacional constituinte com participação popular e liberdade irrestrita de comunicação”, diz trecho do esboço de resolução, sujeito a alterações, elaborado pelo secretário nacional de Formação, Carlos Árabe, representante da Mensagem.

A herança maldita - Marcello Cerqueira

- O Globo

• Cada preso político dava aulas no setor de sua especialidade

Leio artigo do estimado Frei Betto no GLOBO de 2 de janeiro e copio seu texto final: “Basta analisar o índice de reincidência criminal daqueles que, em Presidente Venceslau, passaram pelo curso de ensino médio e as oficinas de pintura, teatro e estudos bíblicos. Todos administrados por nós, meia dúzia de presos políticos inseridos na massa carcerária.”

Embora preso político, Frei Betto e meia dúzia de companheiros, na Penitenciária de Presidente Venceslau, lograram a adesão de muitos detentos comuns às atividades que ele acima narra.

Antigo advogado de presos políticos, quero dar minha contribuição ao momento que estamos vivenciando das tragédias em penitenciárias, revelando as origens da organização de presos comuns que resultaram, hoje, em comandos que se digladiam.

A Lava Jato e a ordem democrática - *Sergio Fausto

- O Estado de S. Paulo

• Em que pesem erros e exageros cometidos, sobra um significativo saldo positivo

Ao longo da História o Brasil experimentou mais o arbítrio do que a lei. Não apenas porque vivemos a maior parte do tempo sob regimes não democráticos, mas também porque mesmo na democracia a lei foi aqui aplicada desigualmente. Seu peso recaiu, em geral, sobre quem tinha pouco ou nenhum dinheiro, prestígio social e/ou poder político. Contra esse pano de fundo, a Lava Jato representa a possibilidade de uma mudança de época. É um daqueles processos que podem separar um antes e um depois na História.

Sem ser especialista no ramo, não me convenço das críticas feitas à atuação da força-tarefa do Ministério Público (MP) e do juiz Sergio Moro. Advogados criminalistas renomados apelaram a analogias descabidas entre a prisão preventiva e a tortura, como se o País tivesse retrocedido aos anos de chumbo. Pode ter havido abusos no uso daquela, mas a maioria das delações premiadas foi negociada com delatores em liberdade. Tudo sob a tutela do STF.

A impopularidade do Presidente – Sérgio C. Buarque

- Revista Serà?

Se sobreviver à onda de denúncias da Lava Jato e aos desmantelos e impropriedades de alguns dos seus auxiliares diretos, Michel Temer deve terminar o seu mandato como o presidente mais impopular da história do Brasil. Será péssimo para sua imagem e para sua biografia política. Mas pode ser muito bom para o Brasil. Por que? Porque parte da sua impopularidade decorre de decisões e iniciativas políticas que desagradam à população no curto prazo, embora sejam indispensáveis para tirar a economia brasileira do atoleiro, preparando condições melhores no futuro. A definição de um teto para os gastos primários – Emenda Constitucional aprovada nesta semana – e a proposta de reforma da previdência são medidas drásticas que, no entanto, enfrentam as causas fundamentais da dramática crise fiscal brasileira, que inviabiliza a execução de uma estratégia de desenvolvimento.

Cenários de incerteza - Merval Pereira

- O Globo

Crise na segurança é fonte de incerteza para o futuro. A atual crise de Segurança tornou-se uma questão determinante nos cenários delineados para o futuro do governo federal — regularmente divulgados pela consultoria Macroplan, empresa especializada em estratégia e estudos prospectivos, que acaba de concluir estudo que busca antecipar se Michel Temer terminará o seu mandato e, isso ocorrendo — o que é mais provável —, como será o desempenho do governo nos próximos dois anos, baseado em tendências consolidadas e em incertezas com potencial desestabilizador do governo e de sua base de sustentação.

A tendência mais provável, pelo estudo da Macroplan, é que o país enfrente, no campo econômico, dois anos turbulentos, com alta volatilidade e reduzida previsibilidade, especialmente este ano. No campo político, é certo que Michel Temer não será um incumbente competitivo, se vier a ser candidato — o que hoje parece improvável, diz a consultoria

Brincando com fogo - João Domingos

- O Estado de S. Paulo

Se hoje o governo de Michel Temer não está envolto num escândalo de grandes proporções, o presidente deve essa ao diplomata e ex-ministro da Cultura Marcelo Calero. Foi ele que, em novembro, pediu demissão do cargo e disse, com todas as letras, por que o fazia: não aguentava mais a pressão do ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) para que revogasse portaria do Iphan que vetava a construção de um prédio em área de patrimônio histórico de Salvador. Geddel tinha interesses imobiliários no edifício. Queria vê-lo subir de qualquer jeito.

Mesmo com a denúncia, Temer manteve Geddel no cargo. Até que o próprio ministro, amigo e confidente de Temer, decidiu também ele pedir demissão. Mesmo assim, não conseguiu se livrar de um processo na Comissão de Ética Pública. Foi punido com uma censura ética por conflito de interesses. O colegiado ainda encaminhou a papelada ao Ministério Público. Quem sabe o MP não descobriria algo mais?

Provisórios sob risco – Leandro Colon

- Folha de S. Paulo

Uma história contada em reportagem da Folha nesta sexta-feira (13) revela um pequeno e simbólico pedaço de uma das causas da crise nos presídios: o inchaço no quadro de presos provisórios.

Entre os 33 mortos no massacre na cadeia de Boa Vista (RR) estava Abel Paulino de Sousa. Um dos 16 decapitados na ação, ele foi enterrado no dia em que completaria 25 anos.

Conforme relato dos repórteres Rubens Valente e Marlene Bergamo, Sousa e outros cinco presos que morreram não haviam sido julgados. O personagem, ex-montador de móveis, não tinha condenação anterior.

Cenários mistos - Miriam Leitão

- O Globo

Economia terá melhoras pontuais em 2017. A economia viverá os próximos meses em dois tons. O da crise que permanece, e o das melhoras pontuais. Alguns índices de inflação, como os IGPs, vão trazer ainda números altos, mas no IPCA haverá queda durante todo o primeiro semestre. Os juros vão cair mais de três pontos ao longo dos meses. A falta de dinheiro nos cofres públicos e nos orçamentos das famílias permanecerá aguda.

Um desafio imediato do governo é o de adaptar o Orçamento à lei que estabeleceu o teto de gastos. Já saiu da mesa do presidente Temer, aprovado, o novo decreto de programação orçamentária e financeira para limitar em 1/18 por mês as despesas com os ministérios até março. Será menor do que o gasto mensal previsto. Se em março, na primeira avaliação bimestral de receitas e despesas, ficar claro que é necessário o contingenciamento, ele será feito. Mas com outro nome.

BC e bancos na mira - Adriana Fernandes

- O Estado de S. Paulo

• Há pressão para que grandes bancos saiam da retranca e reduzam as taxas de juros

A redução de 0,75 ponto porcentual da taxa Selic provocou no governo um misto de alívio com a aceleração do processo de flexibilização da política de juros pelo Banco Central e otimismo com a possibilidade de uma antecipação da retomada do crescimento.

Antes prevista para o último trimestre deste ano, a volta do crescimento poderá agora ocorrer, na aposta de integrantes do governo, já no início do segundo semestre com a ajuda de novas medidas que estão no forno para serem anunciadas pelo presidente Michel Temer.

Identidade nacional? - Eliana Cardoso

- Valor Econômico | Eu & Fim de Semana

Sendo cosmopolita, liberal e livre-cambista, qualquer forma de nacionalismo me causa desgosto, pois atrás dele enxergo o discurso demagógico e o risco da xenofobia. Quando ouço um amigo dizer que "o" americano é ingênuo; "o" alemão, duro; "a" brasileira, sexy; "o" carioca, malandro e "o" italiano, mafioso, sinto que o diálogo terminou. Essas generalizações refletem não apenas a crença de que uma sociedade tem uma cultura nacional identificável. A cultura da própria nação seria melhor do que a das outras nações, e se não o fosse, coração, pelo menos seria nossa.

Fenômeno relativamente moderno (em contraste com outros tipos tradicionais de lealdade, como à família ou ao clube de futebol), o nacionalismo nasceu na Europa tendo como base duas objeções. A objeção ao Iluminismo - que argumentava que, no fundamental, todos os povos são os mesmos. E a objeção ao aumento dos movimentos migratórios.

O nacionalismo recebeu um impulso significativo da Revolução Francesa. Ao derrubar as instituições locais e ao reduzir o poder da igreja, criou a ideia de que o governo pertencia ao povo, que agora devia lealdade ao Estado. Da Europa, o nacionalismo rapidamente se espalhou em muitas direções. Nas Américas, serviu principalmente para formar novos Estados.

Como o nacionalismo prometia que as rápidas mudanças do século XIX podiam ser contrabalançadas pelo apego à tradição, as classes médias abraçaram a lealdade ao país natal e encontraram no nacionalismo a solução para suas inseguranças. No seu lado mais negativo, o nacionalismo ajudou a motivar o engajamento em duas grandes guerras.

Hoje políticos prometem muros para barrar os desterrados. As manifestações dos filhos de imigrantes na França mostram que eles não foram integrados à sociedade e ainda são percebidos como estrangeiros.

Lula se defende na Justiça com ataque político – Editorial | O Globo

• Cercado por processos, nos quais já se tornou réu cinco vezes, o ex-presidente volta a usar o artifício da vitimização diante do risco de ficar inelegível

A conhecida capacidade do ex-presidente Lula de se vitimizar e tudo politizar vai ficando cada vez mais exposta à medida que o tempo passa, os inquéritos em que é acusado tramitam e se aproxima 2018, ano eleitoral, quando, não se duvida, ele, se puder, tentará a volta por cima nas urnas, para também conseguir, de quebra, foro privilegiado. Mas é pedregoso o caminho até lá.

A velha maneira de agir de Lula foi detectada assim que seus advogados entraram em cena para defendê-lo em processos que tramitam em Curitiba, no âmbito da Lava-Jato, São Paulo e Brasília. Até agora, o ex-presidente está formalmente acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes, em cinco processos, três dos quais na Lava-Jato.

Apesar do mau humor – Editorial | O Estado de S. Paulo

O fato de o País permanecer mergulhado numa grave crise econômica e a circunstância associada de a chamada classe política viver uma crise de confiança, por ter cedido ao pecado mortal do patrimonialismo que vem sendo exposto pela Operação Lava Jato, explicam o mau humor dos brasileiros em geral com o governo Temer. Esse estado de espírito não tem permitido uma avaliação serena e objetiva, a salvo do maniqueísmo do “nós contra eles”, dos muitos resultados até agora alcançados na criação das precondições indispensáveis aos objetivos de impor racionalidade na gestão da coisa pública e estimular a recuperação da economia para que toda a sociedade possa compartilhar dos benefícios da produção de riquezas.

Governos não operam milagres, embora muitos aspirantes ao poder os prometam. À exceção de uma inflação que chegara a ficar fora de controle e agora caminha em direção ao centro da meta e de alguns sinais ainda tímidos de que investidores nacionais e estrangeiros não desistiram do Brasil, o governo Temer, que assumiu de pleno direito há cerca de cinco meses, ainda não pode apresentar grandes resultados concretos de recuperação da economia. Mas tem trabalhado ativamente para cumprir o que dele se espera: acabar com a ilusão voluntarista de que recursos públicos são, por definição, ilimitados – “gasto público é vida”, proclamava Dilma Rousseff –, restabelecer o equilíbrio fiscal e criar condições para reverter a recessão que atinge os mais pobres de modo mais impiedoso. O grande exemplo é a aprovação da PEC do Teto de Gastos. Mas há dezenas de outras medidas oficiais, algumas delas de cunho marcadamente social, que já foram adotadas para minimizar os efeitos sociais perversos da crise.

Sem trégua – Editorial | Folha de S. Paulo

A queda de Geddel Vieira Lima da Secretaria de Governo, em novembro, marcou o agravamento da crise política que aflige a administração de Michel Temer (PMDB). Agora, percebe-se que o presidente teve sorte de se livrar com alguma antecedência do fiel aliado.

O então responsável pelas negociações políticas entre o Planalto e o Congresso havia sido flagrado em lobby desavergonhado por interesses particulares. Pressionava a pasta da Cultura, com conhecimento de Temer, a rever o embargo de obras em um edifício no qual havia comprado apartamento.

Embora o governo tenha procurado minimizar o episódio, sua gravidade era inconteste —da proverbial promiscuidade entre o público e o privado ao abuso de autoridade para afrontar a decisão de um órgão técnico, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O sobrevivente - Carlos Drummond de Andrade

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

Desconfio que escrevi um poema.

Nena Queiroga | Frevos de Bloco