segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Opinião do dia - Fernando Henrique Cardoso

Postas à luz do sol as práticas de corrupção e a traição dos que, em nome dos pobres, serviram não ao grande capital em seu conjunto, mas ao capital próprio e ao dos amigos, defrontamo-nos com um desmazelo administrativo sem precedentes, com uma fragmentação partidária que torna difícil governar e, o que é mais desafiador, nos defrontamos com uma “nova sociedade”. Nesta as pessoas se informam, comunicam-se e às vezes agem por conta própria, sem que líderes ou partidos as conduzam.

Assim o Brasil no ano que terminou redescobriu suas mazelas, reagiu a elas, mostrou que as instituições são mais fortes do que parecem, e também se reencontrou com a contemporaneidade. Não é pouca coisa.

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Fernando Henrique Cardoso é sociólogo, foi presidente da República. ‘Desbalanço’, O Estado de S. Paulo, 1/1/2017

Em SP, Doria usa posse para lançar Alckmin presidente

Por Cristiane Agostine, Ricardo Mendonça, José de Castro e Paula Selmi | Valor Econômico

SÃO PAULO - No comando da cidade com o maior eleitorado do país, o prefeito João Doria (PSDB) usou ontem seu discurso de posse para defender a candidatura à Presidência da República do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do mesmo partido. À plateia repleta de correligionários, mas sem lideranças nacionais tucanas, Doria bradou: "Com Geraldo Alckmin, vamos colocar o país nos trilhos". Em seguida, foi ovacionado.

Durante a cerimônia de transmissão de cargo de Fernando Haddad (PT) para Doria no Theatro Municipal, o tucano explorou o mote de sua campanha, de "João trabalhador", ao exaltar que o importante é "acordar cedo, trabalhar duro, com honestidade, decência e respeito pelos mais pobres". Nesse momento, uma pessoa da plateia gritou: "Vamos colocar São Paulo nos trilhos". Foi a deixa para Doria adaptar a frase e defender Alckmin à Presidência.

Prefeitos tomam posse com discurso contra gasto e cargos

Prefeitos assumem com promessa de cortar gastos

• Crise financeira sem precedentes em Estados e municípios deu o tom a cerimônias de posse; cargos comissionados também estão na mira de novos gestores

- O Estado de S. Paulo

Os novos prefeitos tomaram posse neste domingo em meio à maior crise financeira enfrentada por municípios e Estados nos últimos anos. A grave situação dos governos municipais motivou discursos com promessas de corte de gastos, principalmente via redução de cargos.

“A ordem é a seguinte: é proibido gastar”, disse o novo prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB). Ele anunciou ainda a redução do número de secretarias e de cargos de comissão na prefeitura. De acordo com Crivella, a crise afeta o País, o Estado do Rio e a cidade que assume.

Em SP, cerimônia alckmista

Sem outros tucanos de peso na cerimônia, o prefeito de São Paulo, João Doria, aproveitou a posse para lançar o governador Geraldo Alckmin, seu padrinho político, candidato à Presidência em 2018: “Com Geraldo Alckmin vamos colocar o Brasil nos trilhos.” Em clima cordial, o ex-prefeito Fernando Haddad, do PT, disse que fez a transição como se Doria fosse seu irmão.

Doria promete eficiência e lança candidatura de Alckmin para 2018

• Novo prefeito de São Paulo diz que fará governo histórico, ético e conciliador

Silvia Amorim | O Globo

-SÃO PAULO- Em sua posse ontem como prefeito de São Paulo, o empresário João Doria (PSDB) prometeu um governo histórico, conciliador e eficiente e, mais uma vez, lançou o nome de seu padrinho político, o governador Geraldo Alckmin, para a Presidência, em 2018. O discurso resume a missão que Doria tem agora à frente da maior capital do país: fazer uma gestão bem-sucedida capaz de impulsionar a candidatura de Alckmin ao Palácio do Planalto pela segunda vez.

Austeridade é a promessa dos novos prefeitos

Prefeitos empossados nas capitais trocam anúncio de investimento por discurso de austeridade

Com dificuldades financeiras, os prefeitos que tomaram posse ontem trocaram as promessas de investimentos pelo discurso de austeridade e eficiência. Em Belo Horizonte, Alexandre Kalil disse que cortará gastos e pediu “juízo” aos vereadores. O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior, afirmou que há um “grande risco” de atrasar salários já em janeiro. Em Curitiba, Rafael Greca anunciou corte de 40% da máquina pública.

Promessa só de cortes

• Prefeitos empossados nas capitais trocam anúncio de investimento por discurso de austeridade

Júnia Gama, Eduardo Bresciani | O Globo

-BRASÍLIA- Com dificuldades financeiras e necessidade de cortes de gastos em muitos dos 5.570 municípios do país, os prefeitos que tomaram posse neste primeiro dia de 2017 trocaram as promessas de investimentos pelo discurso da austeridade e da busca de eficiência para otimizar os poucos recursos em caixa. Tom e conteúdo diferentes de circunstâncias do passado recente, quando, quem assumia, vendia otimismo e dias melhores em suas cidades.

Ao menos em janeiro, os prefeitos assumem com certo alívio, após o repasse, por parte do governo federal, de cerca de R$ 5 bilhões distribuídos entre as prefeituras, dinheiro arrecadado com a repatriação de recursos do exterior. No entanto, o reforço é insuficiente no longo prazo, e o Planalto será alvo de pressão para também renegociar as dívidas municipais com a União, a exemplo do que ocorreu com os estados, que conseguiram aprovar projeto sobre o tema no Congresso Nacional.

Desde a simbólica frase “a ordem é: proibido gastar”, pronunciada por Marcelo Crivella, ainda pela manhã, ao assumir o cargo no Rio, a sinalização de prefeitos de capitais por todo o Brasil foi de que 2017 será um ano de dificuldades de caixa. Em São Paulo, o prefeito João Doria (PSDB) destacou ter respeito aos políticos, mas avisou que atuará como “gestor” e “administrador” para dar eficiência à máquina.

Nelson Marchezan Júnior, do PSDB, afirmou, em entrevista logo após assumir como prefeito de Porto Alegre (RS), que “há um grande risco de atrasar salários” de servidores já neste mês de janeiro. Ele disse que, nos próximos dias, pretende apresentar medidas que não serão “soluções fáceis”. Ele venceu a eleição no segundo turno.

O prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PMN), prometeu enxugar a máquina em seu discurso de posse. Anunciou a redução de cargos em comissão e prometeu lutar para que sua gestão possa honrar a folha de pagamento dos servidores. Greca volta à prefeitura após 20 anos e fez uma campanha baseada na nostalgia, quando a cidade ganhou notoriedade por ser modelo na área de urbanismo.

— Vamos enxugar a máquina da prefeitura em 40%, reduzir cargos de comissão, lutar para que a prefeitura possa honrar a folha de pagamentos nos próximos anos e, ao mesmo tempo, devolver a eficiência dos serviços públicos — disse o prefeito de Curitiba, em sua posse.

REELEITOS TAMBÉM ACENAM COM AUSTERIDADE
Em Belo Horizonte, o prefeito Alexandre Kalil (PHS), eleito como um “outsider” da política para seu primeiro mandato, disse que pretende cortar gastos desnecessários. Durante sua campanha, o ex-presidente do Atlético Mineiro se apresentou com o slogan “chega de político, é hora de Kalil”. Agora, ele prega o fim do desperdício.

— Governar para quem precisa é governar abrindo mão de cargos, abrindo mão de empregos, abrindo mão de gastos desnecessários — afirmou Alexandre Kalil ao ser empossado.

O peemedebista Iris Rezende, que assume pela quarta vez a prefeitura de Goiânia (GO), reclamou que não sabe a real dívida da prefeitura e que somente após uma semana poderá anunciar medidas na área financeira.

— A comissão (de transição) que trabalhou nesse período não conseguiu chegar a um balanço real de como está a situação. Não sabemos a real dívida da prefeitura. Não sei o dinheiro em caixa e tenho uma semana para conhecer a realidade administrativa para que eu possa fazer as determinações das ações necessárias — afirmou o peemedebista.

Mesmo no discurso de prefeitos reeleitos a crise financeira esteve presente. Edivaldo Holanda Jr. (PDT), de São Luís (MA), prometeu corte de despesas e fusões de secretarias na prefeitura.

— Vamos diminuir as despesas e vamos tratar também da fusão de secretarias e órgãos. Vamos buscar parcerias com os governos estadual e federal e a iniciativa privada para realização de melhorias na cidade e geração de emprego e renda — afirmou Edivaldo.

O pedetista reclamou ainda que os municípios têm perdido receita com a queda de arrecadação e que a cada dia as obrigações dos prefeitos são maiores.

Alguns prefeitos que tomaram posse ontem, em cidades médias do país, anunciaram medidas extremas logo em seus discursos de posse. O prefeito de Montes Claros (MG), Humberto Souto, do PPS, o novo administrador de Petrópolis (RJ), Bernardo Rossi, do PMDB, e Rogério Lisboa, do PR, de Nova Iguaçu, declararam situação de “calamidade financeira”. Essa medida dá mais flexibilidade para as prefeituras negociarem redução de valores de contratos com fornecedores.

Ontem, em entrevista ao GLOBO, o presidente da Associação Brasileira de Municípios (ABM), Eduardo Tadeu Pereira, disse que a capacidade de investimento das prefeituras está “completamente estrangulada” e fez uma previsão pessimista para os municípios. Afirmou que o peso da folha de pagamento dificulta negociações para recursos para investir e que, com a aprovação da PEC do teto de gastos, o dinheiro de convênios com recursos federais para investimentos nas cidades “minguou” e que a tendência é “piorar”.

A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) diz que ao menos 500 prefeituras informaram, ao final de novembro, que os pagamentos de salários de servidores estão com atraso. Também há casos de atraso no pagamento a fornecedores de cerca de oito meses, mecanismo que é utilizado às vezes para que a inflação corroa parte da despesa pendente. A relação entre a dívida e a receita piorou em nove capitais, segundo dados da Secretaria do Tesouro Nacional, revelados ontem pelo GLOBO. Em Cuiabá, Porto Alegre, Manaus, Florianópolis, Recife, Aracaju, Natal, Porto Velho e Belém, a dívida cresceu mais do que a receita entre 2015 e 2016.

Crivella anuncia corte de gastos e mudanças no IPTU

• Prefeito pretende fazer reforma tributária e criar taxa de hospedagem

Ao assumir a prefeitura do Rio, ele divulgou pacote com 79 medidas de austeridade, prometeu ajustes na máquina administrativa e incremento de programas sociais. Mas repetiu: ‘É proibido gastar

Ao receber ontem o cargo de Eduardo Paes, o prefeito Marcelo Crivella anunciou, além de corte de gastos, uma reforma tributária. Disse que vai rever isenções, tanto de IPTU quanto de ISS, e criar taxa de hospedagem para aumentar a receita do município. Dos imóveis cadastrados hoje no Rio, só 40% pagam IPTU. Ele divulgou pacote de 79 medidas que incluem corte de 50% dos cargos comissionados e 25% dos contratos. E prometeu reduzir filas na saúde e bilhete único integrado ao metrô. Algumas das medidas dependem de aprovação da Câmara de Vereadores.

Em nome da austeridade

• Crivella assume a prefeitura decretando auditorias nas contas e cortes em gastos

- O Globo

Nos 79 decretos publicados numa edição extraordinária do Diário Oficial e em seu discurso de posse ontem de manhã na Câmara de Vereadores, o prefeito Marcelo Crivella passou um recado de austeridade. De imediato, deu 20 dias para que os novos secretários apresentem uma proposta para reduzir à metade os cargos em comissão, poupando apenas as áreas de saúde e educação. As despesas feitas pelo antecessor, Eduardo Paes, a partir de abril do ano passado passarão por um pente-fino: o objetivo é saber se ferem os princípios de legalidade e economicidade. Uma auditoria externa fará ainda uma checagem para encontrar os funcionários da prefeitura que recebem salários acima do teto constitucional, chamados pelo novo prefeito de “fura-teto”. Outra meta é reduzir os valores dos contratos em 25%.

Agronegócio volta a investir para produzir safra recorde

Por Fernando Lopes | Valor Econômico

SÃO PAULO - Fortalecidos por preços mais elevados das commodities e pelo câmbio favorável às exportações em boa parte do ano, produtores rurais retomaram no ano passado os investimentos em busca de aumento da safra e ganhos de eficiência. Em 2015, o setor agrícola havia cortado aportes mesmo em insumos básicos, mas nos últimos meses, apesar da queda do Produto Interno Bruto e da quebra das colheitas de grãos e de café conilon, a situação mudou.

São vários os indicadores dessa retomada, que ajuda a confirmar as projeções de uma excelente colheita. O país se prepara para colher uma safra recorde de mais de 210 milhões de toneladas de grãos em 2016/17, quase 15% superior ao volume registrado em 2015/16.

Está havendo, por exemplo, maior liberação de recursos para investimentos no setor. Segundo o Banco Central, foram R$ 13,9 bilhões entre 1º julho, quando entrou em vigor o Plano Safra 2016/17, até o fim de novembro, 5,3% mais que no mesmo período do ciclo anterior. O aumento foi puxado pela tomada de recursos do Moderfrota, linha destinada à aquisição de máquinas agrícolas.

Mercado vê inflação de 4,87% em 2017 e expansão de 0,50% da economia

Ana Conceição | Valor Econômico

SÃO PAULO - A expectativa do mercado para a inflação em 2017 subiu pela primeira vez desde o fim de agosto de 2016, de acordo com o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (BC). A mediana das estimativas para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) saiu de 4,85% para 4,87%.

A última vez em que essa mediana subiu foi na semana encerrada em 26 de agosto, quando saiu de 5,12% para 5,14%. Desde então, a previsão oscilou entre períodos de queda e estabilidade. Desta forma, ao menos no momento, as expectativas ainda não convergem totalmente à meta de 4,5% para 2017. O Focus mostra que a projeção para a inflação em 12 meses também subiu, de 4,77% para 4,80%.

Que venha 2017- Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

2016 foi um daqueles anos que pareciam não terminar nunca, tal a safra de más notícias e saldos preponderantemente ruins. Fatos que impactaram negativamente as expectativas sobre o novo ano que floresceu há um dia —e o tornaram ainda mais desafiador— e reduziram drasticamente a confiança no futuro.

Em breve retrospectiva, ninguém imaginava, na mais pessimista das análises, que o desastre tomaria a proporção e a gravidade que tomou. Tudo ficou mais complexo e difícil porque os problemas não estão no verniz. São estruturais e estão enraizados, após anos e anos de leniência e procrastinação com o que precisava ser feito.

Assim, não há por que esperar por soluções simples ou saídas fáceis, tampouco rápidas, depois de um trecho tão longo de equívocos, desvios e falhas graves acumuladas.

A hora da política - Vera Magalhães

- O Estado de S. Paulo

• Vestir o figurino do ‘João trabalhador’ nada tem a ver com se vestir de gari

João Doria Jr. tomou posse ontem num ambiente ao qual está bastante acostumado: num palco, cercado de cerimonial, de artistas e de pompa e fortemente encorajado por uma plateia entusiasmada. Tirando a circunstância e os discursos, pouco havia de diferente ali dos eventos do Lide que há até poucos meses ele comandava com eficiência e organização impecáveis. Até muitos dos convidados eram os mesmos.

Mas a hora do espetáculo está chegando ao fim. Não se pode dizer que ela já acabou, porque o showman Doria insiste em permanecer na ribalta, e hoje o dress code ditado pelo novo prefeito de São Paulo – outra de suas obsessões dos tempos do Lide – será um uniforme customizado de gari para si e outros para os principais secretários.

A polêmica renegociação da dívida dos Estados - Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

Desculpe-me, leitor, por iniciar o ano com assunto tão árido, mas com tantas repercussões na vida de todos nós: a crise fiscal. Mas é que votamos, no final de 2016, o PLP 257, que trata da renegociação da dívida dos Estados. As mudanças introduzidas pela Câmara dos Deputados no texto do Senado Federal despertaram enorme polêmica. Supostamente, teríamos relaxado a cobrança da dívida sem as devidas contrapartidas.

A crise econômica afeta a todos: trabalhadores, empresários, consumidores e o setor público. Três grandes Estados – RJ, RS e MG – decretaram calamidade financeira. Compromissos básicos, como salários e aposentadorias, começam a sofrer atrasos. Despesas fundamentais, como a gasolina para as viaturas policiais, medicamentos e serviços hospitalares, começam a ficar comprometidas. No caso, misturam-se fatores conjunturais, como a recessão, e estruturais, como os gastos previdenciários. Nesses Estados, 50% da folha são aposentadorias e pensões.

Parlamentarismo branco e farofa carioca - Cristian Klein

- Valor Econômico

• Crise aumentou poder do Congresso e da lógica política do Rio

A política local recomeçou seu ciclo com as posses dos prefeitos e traz um recado das urnas contraditório. Há renovação, reforçada pela emersão de nomes fora da política em duas das três maiores capitais - o empresário e apresentador de TV João Doria (PSDB) em São Paulo e o também empresário e ex-dirigente de futebol Alexandre Kalil (PHS) em Belo Horizonte. Mas há conservadorismo e continuidade na escolha de 15 dos 26 prefeitos de grandes centros que se reelegeram a despeito da grave crise econômica nacional.

Entre os 11 "novos" prefeitos, três são velhos conhecidos em suas cidades e já exerceram o cargo (Iris Rezende, PMDB, em Goiânia; Edvaldo Nogueira PCdoB, em Aracaju; e Rafael Greca, PMN, em Curitiba). Dos oito restantes, apenas Doria, Kalil e o prefeito de Porto Velho, Dr. Hildon (PSDB) - ex-promotor de Justiça e dono de uma rede de ensino -, não tinham carreira política prévia.

Otimismo, por favor - Julianna Sofia

- Folha de S, Paulo

Nem o mais otimista dos brasileiros apostaria um vintém na possibilidade de o ano de 2017 ser um passeio no parque.

Entre analistas e colunistas, há um pessimismo recalcitrante e generalizado sobre os rumos da economia neste ano, principalmente nos três primeiros meses.

Em suas últimas projeções para o PIB brasileiro, o Banco Central reviu para baixo sua estimativa e passou a esperar uma expansão pouco expressiva de 0,8% para 2017. As sondagens de mercado apontam para algo pior: 0,5%.

O desemprego, que já bateu recorde em novembro (11,9%), manterá sua escalada. A taxa de desocupação deverá superar 13% para só então começar a ceder a partir do segundo semestre.

A crise de insolvência dos Estados adiciona ceticismo ao cenário econômico, político e social, enquanto governadores insistem em buscar nos cofres do Tesouro Nacional a salvação para a lavoura.

A locomotiva da Lava Jato "ora desembestada, ora em marcha lenta" continua em movimento. As delações da Odebrecht ameaçam o mundo político e o presidente da República. Em Curitiba, o ex-deputado Eduardo Cunha faz mais do que tomar banho de sol na cadeia.

As incertezas sobre o governo de Donald Trump nos EUA elevam o nível de instabilidade global.

Mas, apesar de todas as evidências e admitindo que "toda unanimidade é burra" (Nelson Rodrigues), há uma fresta de luz.

Lampejos de esperança na análise do ex-BC Mário Mesquita, para quem a economia pode, sim, crescer 1,5% com ajuste nos estoques, reação de setores da indústria, aumento da produção agrícola e ritmo forte de expansão na China.

Com a inflação ancorada, o BC catalisará esse processo se ousar, reduzindo os juros em 0,75 ponto percentual já neste mês. Começa hoje oficialmente 2017. Um pouco de otimismo, por favor.

Trampolim para 2018, as reformas avançam - Angela Bittencourt

- Valor Econômico

• Reformas podem ser insuficientes para bancar presidente

Este ano será singular. Herdeiro da terra arrasada na economia e na política em 2016 e patrocinador de um novo governo a ser eleito em 2018, 2017 nasce com atribuições: produzir resultados econômicos positivos o bastante para compensar a desconfiança nas instituições decorrente da realidade escancarada pela Operação Lava-Jato, sustar o retrocesso imposto ao bem-estar dos brasileiros, resgatar o setor produtivo de uma apatia crônica e restaurar a crença de que há um futuro a planejar.

Resultado de uma política monetária restritiva potencializada por atividade zero, ou abaixo disso, em função, inclusive, de um desbalanceado ambiente externo, a convergência da inflação para a meta de 4,5% - objetivo do Banco Central a ser alcançado em 2017 - é a informação mais promissora desta virada de calendário. O ano começa sobrecarregado por importante reajuste de tarifas de transportes urbanos e pela ainda resistente inflação de serviços derivada sobretudo de setores que deixarão de contar com isenções tributárias e os que se preparam para maior taxação.

Lições de um escândalo - Gustavo Loyola

- Valor Econômico

• A retirada do Estado da atividade empresarial seria um marco na batalha contra a corrupção

Diz o velho ditado que as dificuldades são criadas para que facilidades sejam vendidas. O escândalo desvendado pela Operação Lava-Jato tem exposto com clareza o liame entre a corrupção e as políticas públicas concebidas para interferir deliberada e injustificadamente no funcionamento normal dos mercados. O intervencionismo estatal tem sido a grande mãe da corrupção no Brasil.

As revelações trazidas pelas colaborações premiadas mostram como a ideologia por trás das políticas econômicas dos governos petistas se prestou bem aos propósitos dos corruptos e dos corruptores. Escondido sob o manto de expressões pomposas, mas vazias de significado econômico palpável, esteve sempre o objetivo principal do uso das instituições e das políticas do Estado para perpetuar um grupo político no poder e enriquecer seus integrantes. Desavergonhadamente, juntou-se o "útil ao agradável".

A falácia dos outsiders – Editorial | O Estado de S. Paulo

Os resultados das últimas eleições municipais – principalmente os observados em São Paulo e no Rio de Janeiro, as duas maiores cidades do País – têm servido como pretexto para se difundir a ideia de que estão em ascensão os chamados candidatos outsiders, aqueles que se apropriam da aversão difusa de boa parte da população à política dita tradicional para lustrar suas campanhas eleitorais com o verniz da candura dos que estão “contra tudo isso que está aí”. Noves fora a platitude, trata-se, evidentemente, de uma falácia. Se não pelas biografias dos candidatos que se apresentam – revelando um prolífico histórico de participação política, seja ela partidária ou não – ao menos pela afronta à própria noção de política em seu mais elevado significado.

A Constituição de 1988 caracteriza a democracia brasileira como uma democracia representativa do tipo partidário, ou seja, nenhuma candidatura a cargo político, seja para mandato no Poder Executivo, seja no Legislativo, é admitida a não ser por intermédio de partidos políticos legalmente constituídos.

O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa admite o anglicismo e define outsider como a “pessoa que não pertence a determinado grupo; estranho, intruso, forasteiro, leigo”. Ora, o fato de filiar-se a um partido político e pavimentar o caminho de sua candidatura pela legenda já inviabiliza no nascedouro a proclamada antipolítica do postulante. Fossem permitidas as candidaturas avulsas no Brasil, estas, sim, dariam azo aos arroubos aventureiros que por definição distinguem um outsider. Mas não. Da forma como rege a Constituição brasileira, a “antipolítica” não passa de uma narrativa – para usar uma palavra da moda – tão política como o mesmo discurso que esses candidatos pretendem desconstruir.

Tóxico ideológico – Editorial | O Globo

• Não se pode perder o foco, no debate, em que o sistema não reflete a realidade demográfica e econômica

Concentra-se no debate sobre a imprescindível reforma da Previdência, forçada por motivos aritméticos, uma série de equívocos derivados da intoxicação ideológica da defesa de um modelo de Estado tutor da sociedade, responsável único pelo combate à pobreza e desníveis sociais. É esta visão que plasmou a Constituição de 1988. Mas, hoje, já em 2017, com uma população de 220 milhões de habitantes, e numa crise fiscal ironicamente plasmada por uma política econômica assentada naquele tipo de visão míope de mundo, o Estado quebrou e o governo precisa fazer, entre outras reformas, a previdenciária. Só assim, poderá reequilibrar as contas públicas, base de qualquer processo de crescimento sustentável.

Reformas sem parar – Editorial | Folha de S. Paulo

Em qualquer momento da história contemporânea do Brasil, um presidente que conseguisse aprovar leis que limitassem o aumento da despesa do governo federal seria autor de um feito notável. Fazê-lo durante uma das maiores crises econômicas, sob rejeição maciça, seria ainda mais impressionante.

Michel Temer (PMDB) está a meio caminho de ter êxito na empreitada, que depende de uma dura reforma da Previdência, sem o que o teto de gastos se torna inviável ou disfuncional.

Temer, porém, pretende ir além. Quanto mais abaladas suas bases políticas, mais reformas propõe.

Decidido a reforçar seus laços com os setores sociais restantes que o apoiam, o peemedebista redobra suas apostas de reformas econômicas. É um comportamento inverso ao do padrão dos governos, que em momentos de dificuldades em geral revertem populismo.

2017 será um bom ano se a mais longa das recessões terminar – Editorial | Valor Econômico

O ano que chega deve ser melhor que o péssimo 2016, quando os efeitos da mais longa recessão da história republicana e da explosão da crise política se fizeram sentir plenamente. A recessão deve se dissipar lentamente ao longo de 2017, que terminará com crescimento pequeno, mas, afinal, crescimento. Não será fácil deixar para trás uma crise em tudo diferente das outras do passado e seu legado de expansão econômica bem abaixo do potencial.

As diferenças em relação às tempestades anteriores ditarão o timing da recuperação, bem mais vagarosa. Não houve explosão da inflação nem um colapso do setor externo, mas, após mais de uma década de crescimento rápido do crédito, a recessão encontrou empresas e consumidores mais endividados do que nunca antes, ainda que em padrões ainda modestos, se comparados aos de países desenvolvidos. Um enorme escândalo de corrupção abriu uma cratera no sistema político e desvendou um modus operandi que, com nuances, vem desde a ditadura militar, pelo menos: a relação de compra e venda entre empresas e parlamentares, no qual ocorreu de tudo, em vasta escala: compra de votos para aprovação de projetos de interesses particulares, caixa 2 para campanhas eleitorais e roubalheira pura e simples. A Operação Lava-Jato coleciona suspeitos que vão do círculo íntimo do presidente Michel Temer - ele próprio citado nos depoimentos - a lideranças dos principais partidos.

O verbo no infinito – Vinicius de Moraes

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...

Alceu Valença- Voltei Recife (Luiz Bandeira)