segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Vácuo ao centro: Paulo Guedes

- O Globo

A cada bofetada na face de uma já enfurecida opinião pública, desabam as chances dos candidatos do establishment em 2018

Não se desespere o leitor, pois os abusos de hoje são a garantia das mudanças. As eleições de 2018 estão logo aí. Quando o Supremo Tribunal Federal (STF) se rebaixa colocando o Poder Legislativo acima da lei, as togas pretas não mais simbolizam respeitabilidade, mas sim cumplicidade. Ora, sobe imediatamente pelo menos 10% nas intenções de voto o candidato presidencial que convide um herói da Lava-Jato para o Ministério da Justiça.

Da mesma forma, O aparelho de Estado brasileiro foi moldado quando o Legislativo retarda as inadiáveis reformas em regime politicamente fechado. Com seus política e da Previdência, em busca de sua burocratas, empresas estatais e bancos oficiais, própria impunidade, explode a indignação da atendia às prioridades de investimento em capital opinião pública e disparam as probabilidades de físico de um planejamento central dirigista. uma renovação parlamentar devastadora para o Por outro lado, uma democracia emergente establishment nas eleições de 2018. exige investimentos em capital humano através

O Leviatã hobbesiano, segundo Norberto Bobbio, de educação, saúde e saneamento, assim teve duas representações: o “Estado Divindade”, como crédito acessível para moradias populares. exprimindo a vontade soberana da monarquia absoluta, e o “Estado Máquina”, como instrumento de exercício do poder. Em suas versões contemporâneas, o moderno Estado Democrático substitui o antigo Estado Divindade, expressando agora a vontade do povo, segundo Rousseau. E o Estado Máquina de Hobbes tornou-se a moderna burocracia estatal, o “aparelho de Estado”. Mas o antigo aparelho de Estado não atende às necessidades dos novos tempos. Nossos políticos e seus economistas perderam-se em malconduzida transição rumo à Grande Sociedade Aberta.

A primeira pesquisa do Ibope coloca Lula e Bolsonaro no segundo turno. Lula é o sobrevivente populista de uma “esquerda” que dirige a Velha Política desde a redemocratização. Bolsonaro é o fenômeno eleitoral de uma “direita” que defende “a lei e a ordem”, valores de uma classe média indignada com a corrupção na política, a estagnação na economia e a falta de segurança nas ruas. Ao centro, a cada bofetada na face de uma já enfurecida opinião pública, desabam as chances dos candidatos do establishment.

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