sábado, 28 de outubro de 2017

Em trégua, PSDB busca remendar efeitos de crises

Igor Gielow / Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O PSDB, partido que amargou profundo desgaste nas últimas semanas por uma combinação de crises, estabeleceu uma espécie de trégua até sua convenção nacional em 9 de dezembro.

O reencontro com a turbulência definirá o rumo da sigla em 2018, isso se os caciques tucanos não retomarem sua vocação para a confusão e anteciparem as disputas.

A cúpula partidária favorece hoje uma combinação de manutenção do apoio ao governo Michel Temer, montagem de uma Executiva que prefere Geraldo Alckmin como presidenciável e a defesa de uma agenda reformista mais agressiva.

O primeiro item se baseia na percepção de que o pior da associação com Temer já foi atingido, não só pelos quatro ministros da sigla, mas pelo fato de que o relatório aprovado salvando o presidente de ser afastado foi de autoria de um tucano.

Há expectativa também sobre o efeito da melhora paulatina da economia, o que levaria à absorção do ônus atual. Para embasar a discussão, o Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, apresentou um modelo estatístico correlacionando popularidade presidencial e desempenho econômico.

Na simulação, Temer fecha 2018 com 8,3% de aprovação, com um piso de 3,3% e, mais importante nas projeções, um limite superior de 19,3% –um índice ruim, mas longe da tragédia contaminante de hoje.

Falta, claro, combinar com os russos. E são muitos, a começar pelo presidente interino do partido, senador Tasso Jereissati (CE), e o senador Aécio Neves (MG), licenciado da função desde que foi abatido pela delação da JBS.

Tasso manobrava para ser efetivado no cargo depois que Aécio resgatou seu mandato na semana passada, episódio que afundou ainda mais a imagem ética do partido.

Mas açodou-se e cobrou a saída do mineiro da função, gerando desconforto na cúpula partidária, que tende a referendar o governador Marconi Perillo (GO) –o que favorece a escolha de Alckmin como candidato para 2018.

O cearense, contudo, não jogou a toalha. Ele conta com o apoio da ala jovem do partido na Câmara, os chamados cabeças pretas, que defendem desembarque imediato do governo. Perillo, por sua vez, acena a eles dizendo que a desincompatibilização obrigatória para quem quiser candidato abrirá janela para uma saída pacífica do ministério.

O partido na Câmara permaneceu rachado em relação à denúncia de Temer, e os cabeças brancas, por assim dizer, dizem estar prontos para assimilar defecções dos mais jovens. É briga anunciada.

Até lá, Tasso e Aécio acertaram um pausa nas hostilidades, o que pode facilitar o debate do projeto presidencial dos tucanos.

Ele passa, claro, pela existência de um país a governar em 2019. Para tanto, apesar da anemia óbvia de Temer, o PSDB busca formas de pressionar o comando democrata da Câmara a fazer avançar qualquer arremedo de reforma previdenciária e outra matérias econômicas.

Na equação, a manutenção da parceria com o DEM em 2018. O partido ganhou poder desproporcional à sua capilaridade, mas é vital no campo de batalha da Bahia, quarto maior colégio eleitoral –onde tem um candidato forte, ACM Neto, para drenar votos cativos do PT.

Já o PMDB de Temer, que namorou o prefeito paulistano, João Doria (PSDB), e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), pensando numa candidatura que não vingou até aqui, é a noiva a ser cortejada por seu tempo de TV e Fundo Partidário.

O desgastado Doria, por sinal, tem sido tratado com deferência por Alckmin.

O governador paulista ficou contrariado com a movimentação presidencial do pupilo, mas não pode se dar ao luxo de vê-lo fracassar em São Paulo caso seja demovido da vontade de tentar o Planalto, seja como prefeito, seja como candidato ao Palácio dos Bandeirantes.

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