terça-feira, 31 de outubro de 2017

A superreforma do ministério: Raymundo Costa

- Valor Econômico

Meirelles pode sair, mas Ilan e Dyogo ficam no governo

Apesar das pressões em sentido contrário, o presidente Michel Temer só pensa em mudar o governo no início de abril, quando 20 ou mais ministros e dirigentes de estatais devem deixar seus cargos para disputar as eleições de outubro de 2018. Atualmente, são 17 os ministros pré-candidatos a algum cargo eletivo, mas a conta não considera os ministros Henrique Meirelles (Fazenda), já lançado à Presidência pela bancada do PSD na Câmara dos Deputados, e dois outros homens-chaves do governo - Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil, e Moreira Franco, titular da Secretaria de Governo, que devem sobreviver à grande dança das cadeiras.

Chefe de um governo impopular, Temer conta com a grande mudança ministerial de abril como um trunfo a seu favor em 2018. Se 17 ministros saírem, são outros 17 que entram. Com a sucessão aberta em praticamente todos os Estados, inclusive nos maiores colégios eleitorais do país, nos quais até agora não despontaram favoritos, o governo federal tem possibilidades nas articulações de bastidor para a composição das alianças. Esse é um terreno em que Michel Temer, Eliseu Padilha e Moreira Franco sabem como poucos se movimentar.

Se recuperação econômica criar um ambiente mais favorável ao presidente - no momento quem cabala votos quer mais é distância- o Palácio do Planalto vai tentar organizar uma candidatura da situação. Por enquanto, mede as próprias forças. A curto prazo, o desafio é manter sob controle as demandas dos aliados que ajudaram o presidente e os dois ministros a salvarem seus pescoços e agora querem uma retribuição à altura no governo. Nos cargos com poder de multiplicação eleitoral e na pauta de votações do Congresso. Um bom teste deve ocorrer na votação de vetos prevista para a noite desta quarta-feira, com destaque para o projeto da convalidação dos incentivos fiscais.

A votação da segunda denúncia acabou com qualquer dúvida que pudesse restar sobre os problemas de relacionamento entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Michel Temer. Cada vez mais Rodrigo aponta dificuldades que Temer teria para aprovar medidas importantes no Congresso sem o seu auxílio, sobretudo a reforma da Previdência. Temer gostaria de acelerar a tramitação da proposta; Rodrigo, que é um defensor da reforma, remancheia de olho no seu eleitorado do Centrão, onde a proximidade das eleições arrefeceu o ânimo reformista. Por isso Maia quer retardar ou ditar o ritmo da emenda da Previdência. Temer dificilmente aceitará a tutela do presidente da Câmara.

Haverá um outro governo a partir de abril, montado já a partir dos interesses de Michel Temer na sucessão presidencial. Pelo cenário atual, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria de Governo), homens-chaves do mandato Temer, ficam no ministério. A pergunta é se aguardam a eleição nos mesmos postos ou trocam de pasta, visto que dificilmente ambos ficarão expostos à caça do Ministério Público Federal. A composição em torno da candidatura mais próxima ou apoiada pelo governo é que dará a resposta. Outro homem-chave é Henrique Meirelles.

O ministro da Fazenda não é o pré-candidato do peito do presidente. Mas as candidaturas dos partidos aliados, segundo as pesquisas, somadas não chegam a 15%, no melhor cenário. Do centro para a direita só Jair Bolsonaro se destaca. Isso permite a Meirelles se colocar como o candidato da recuperação econômica, se forem confirmadas as projeções de retomada do crescimento para 2018. Na equipe econômica ficam Ilan Goldfajn, atual presidente do Banco Central, e o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira. Os presidentes do BNDES, Paulo Rabello de Castro, e da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, estão na planilha na célula de possíveis candidatos. Nada certo.

A mudança de abril terá impacto nas articulações para alianças nos principais Estados, a começar por São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, onde a sucessão de Geraldo Alckmin no Palácio dos Bandeirantes está aberta. A única coisa certa é que o vice-governador Márcio França (PSB), titular do cargo a partir de abril, será candidato à reeleição com ou sem o apoio de Alckmin. Do governo Temer devem disputar a eleição dois ministros: Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores), provavelmente candidato à reeleição ao Senado, e Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia), cujo leque de possibilidades vai de uma candidatura a deputado federal, passando pela de vice-governador, até governador de São Paulo.

Do Rio de Janeiro deve sair o ministro da Indústria e Comércio, Marcos Pereira, candidato a uma vaga na Câmara ou no Senado, e o deputado Leonardo Picciani (Esportes), candidato à reeleição. No PMDB a candidatura de Eduardo Paes ao governo é dada como certa, visto que o ex-prefeito não foi atingido de morte pela sucessão de escândalos que envolveu a política da antiga capital. Um problema que vai exigir a habilidade de Michel Temer, pois a vaga também é cobiçada pelo vereador César Maia (DEM), pai de Rodrigo, o presidente da Câmara.

A sucessão também está aberta em Minas Gerais, onde o senador Aécio Neves, um dos mais fieis aliados do presidente no PSDB, encontra dificuldades para se reeleger, sobretudo depois que foi envolvido na delação premiada da J&F. Mais um enrosco: a eleição de Pernambuco, que deve contar com a participação de três ministros de Temer: Bruno Araujo (PSDB), de Cidades, e Raul Jungmann (PPS), da Defesa, para deputado e Fernando Coelho Filho (Minas e Energia) a governador do Estado.

A eleição da Bahia, o quarto maior colégio eleitoral do país, apresenta contornos mais claros: Antonio Imbassahy, cuja cabeça já está a prêmio no Centrão, será candidato ao Senado ou à Camara. O governador Rui Costa faz um governo bem avaliado e dá a largada como um dos poucos candidatos favoritos do PT, muito embora o prefeito de Salvador, ACM Neto seja a principal aposta do DEM para 2018. O apoio do governo federal pode dar o empurrão que Neto precisa para brilhar onde mais reluz a estrela do PT.

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