domingo, 24 de setembro de 2017

Balões para 2018 – Editorial | Folha de S. Paulo

Mostra-se tão intenso o descrédito dos políticos e dos partidos que, com relação às candidaturas presidenciais para 2018, a coisa certa a dizer seria que tudo parece possível, e nada parece provável.

Contando com indiscutível trânsito nos meios empresariais e tendo a oferecer ao eleitorado em geral apenas os resultados até agora obtidos por sua atuação na pasta da Fazenda, Henrique Meirellesestaria longe de constituir, em condições normais, objeto de cogitação numa disputa ao Planalto.

Seja como for, o ministro ensaia alguns passos para além dos círculos financeiros e administrativos. Ei-lo, segurando o que aparenta ser uma Bíblia, numa mensagem gravada em que pede apoio dos "evangélicos cariocas"; o mês de outubro, informa o vídeo, será "de oração pela economia".

A movimentação conta com a bênção, se se pode dizer assim, da bancada de seu partido, o PSD.

Ex-presidente do Banco Central no governo Lula –e, em tempo de vacas gordas, presidente do conselho de administração da holding que controla a JBS–, Meirelles reagiu com "entusiasmo" à proposta de que se lance candidato, segundo Marcos Montes (MG), líder do partido na Câmara dos Deputados.

O tecnocrata desconversa, atento quem sabe aos austeros conselhos de um provável rival dentro de seu campo político, o prefeito paulistano João Doria (PSDB).

Após participar de evento empresarial, sob os auspícios do Movimento Brasil Competitivo, Doria expressou seu desejo de que o ministro "não se contamine pela questão política", que "pode até prejudicar um pouco sua conduta à frente da política econômica".

O prefeito será provavelmente a última pessoa, no cenário político brasileiro, a ter autoridade para esse tipo de recomendações –veja-se o açodamento com que embarcou na própria pré-candidatura.

Com maior densidade política, o governador tucano Geraldo Alckmin compõe o terceiro nome nessa incipiente corrida ao papel de representante –ainda que contrafeito– do statu quo que se configurou na esteira do impeachment de Dilma Rousseff (PT).

No que tange aos movimentos da opinião pública e da sociedade, vê-se que muitas vertentes confluem no campo antilulista.

Há a defesa das reformas e do controle dos gastos públicos; há o conservadorismo de costumes expresso por setores religiosos; há o populismo autoritário dos nostálgicos do regime militar; há a imensa decepção com a política instituída, e o entusiasmo com os feitos do combate à corrupção.

Talvez seja impossível que uma única figura encarne tantas preferências nos campos centrista e conservador. As pretensas candidaturas atuais surgem, nesse contexto, como balões de ensaio, ainda sem solidez em seu conteúdo.

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