terça-feira, 8 de agosto de 2017

Temer não nos dá estabilidade | Joel Pinheiro da Fonseca

- Folha de S. Paulo

O que eu tenho sempre defendido é que, em meio às denúncias e evidências que incriminam políticos de todos os lados, o mais importante é seguir as regras do jogo (ainda que imperfeitas), sem mudá-las para favorecer este ou aquele lado. Em 2018, finalmente, o cenário pode mudar.

Não foi o que vimos na votação da Câmara que arquivou a denúncia contra Michel Temer. O fisiologismo levou a melhor. Mesmo os deputados da oposição não quiseram afastar o presidente. Fizeram seu show, agradaram os eleitores e continuaram na confortável oposição derrotada de um governo impopular.

Há bons motivos para querer que Temer fique? Diz um raciocínio de senso comum: ainda que haja méritos na acusação, tirar Temer seria pior para o Brasil neste momento. Melhor deixá-lo terminar o mandato e investigar depois, para não criar ainda mais instabilidade neste momento e não atrapalhar a agenda das reformas. 2018 está logo aí...

Qual é, contudo, a estabilidade que Temer nos assegura? O grande risco de sua queda no passado (por exemplo, no julgamento do TSE) era a possibilidade da eleição direta. A esquerda ia dar um jeito de emplacar essa ideia. Felizmente, essa opção já morreu. Pensando nos seis meses de investigação, mais o tempo para convocar a eleição, mais a campanha, a eleição direta elegeria um presidente que não ficaria nem seis meses antes de uma nova campanha. Um absurdo desses simplesmente não cola.

O único motivo pelo qual Temer não caiu ainda é porque abriu as torneiras das emendas parlamentares e dos cargos, inclusive para a oposição. Para a Câmara (aliados e opositores), um Temer na corda bamba é ótimo. É o que lhes garante recursos em tempos de (suposto) ajuste fiscal. Para cada dia de sobrevida, Temer se vê obrigado a sabotar o ajuste. Vão sugar dele tudo o que puderem. Se conseguirem, deixarão só a carcaça, fingindo que governa.

Pensar nas reformas agora é ilusório. Enquanto sua sobrevivência estiver em jogo, a negociação das reformas estará sempre em segundo plano, se não ativamente sacrificada. Afastado Temer, Rodrigo Maia já deu todas as indicações de que deve manter o caminho da política econômica.

A grande diferença é que ele –e seu sucessor na eleição indireta– não seria refém do Congresso. Um presidente que não tenha que negociar, paralelamente, sua própria sobrevivência, estará em melhores condições para negociar o que restou da reforma da Previdência.

No longo prazo, a decisão justa, aquela que respeita as leis acima dos interesses dos participantes, tende a nos levar a resultados melhores: um ambiente previsível e confiável. Contudo, há decisões pontuais nas quais o caminho mais justo pode trazer consequências ruins no curto prazo, e essas nos colocam em um dilema.

Felizmente, não é esse o caso com as denúncias contra Temer (há pelo menos mais duas a caminho). Seu afastamento não tornará o cenário mais instável e não prejudicará o trabalho econômico. Pelo contrário: tirarão de nós o fardo de custear a sobrevida do presidente. Por isso, quando as próximas denúncias chegarem, pode apoiar sem medo de ser feliz: sim, é o certo a se fazer e é o melhor para o Brasil.

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