segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Brasil depende da Argentina e China no superávit comercial – Editorial | Valor Econômico

Os espetaculares resultados da balança comercial brasileira neste ano confirmam que o país continua fortemente dependente do superávit obtido nas relações comerciais com duas nações, China e Argentina. São os negócios com esses dois parceiros que explicam boa parte da performance positiva registrada entre janeiro e julho.

Nestes sete primeiros meses do ano, o país registrou um saldo positivo acumulado de US$ 42,5 bilhões, conforme os dados divulgados na semana passada pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic). É um recorde histórico. As exportações somaram US$ 126,4 bilhões, enquanto as importações atingiram US$ 83,9 bilhões. Nos sete primeiros meses de 2016, a balança comercial brasileira registrava superávit de US$ 28,2 bilhões.

O detalhamento das estatísticas oficiais mostra que o Brasil vendeu US$ 30 bilhões à China até junho, e comprou dos chineses menos da metade desse valor - US$ 14,5 bilhões. O que resultou, portanto, num saldo favorável aos brasileiros de US$ 16,2 bilhões. Ou seja, quase 38% do superávit brasileiro no período veio das relações comerciais com a China. O Brasil exporta basicamente commodities para o país.

Guardadas as devidas proporções pela diferença do tamanho dos dois mercados, foi o que aconteceu também com a Argentina. O superávit nas transações de compra e venda de produtos e serviços entre os dois países resultou num saldo favorável ao Brasil de US$ 4,5 bilhões neste ano (quase o dobro dos US$ 2,5 bilhões de 2016, sempre segundo as estatísticas divulgadas pelo Mdic). O valor deste ano representa 10% do superavit brasileiro com todas as nações com que negocia.

Na prática, portanto, quase metade do saldo veio de negócios com China e Argentina. É importante registrar que também houve um superávit substancial, semelhante ao obtido com os argentinos, nas compras e vendas com a Holanda, mas neste ano boa parte do que é exportado para lá segue para outros destinos dada a importância dos portos do país para a distribuição de bens pela Europa.

Este cenário mostra um aumento da concentração de superávits comerciais em poucos países. O que não é bom para o Brasil. Quanto mais diversificado for o espectro de destinos das exportações tanto melhor para o país.

Essas observações não obscurecem, evidentemente, o sucesso dos exportadores brasileiros neste ano, apesar de certas condições desfavoráveis. Segundo relatório divulgado na semana passada pela Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), no primeiro semestre de 2017, o índice de rentabilidade das exportações registrou uma queda de 2,6% na comparação com igual período do ano anterior. O detalhamento dos indicadores revela que a alta do preço das exportações (17,6%) não foi suficiente para compensar a forte valorização cambial (14,3%) e o aumento moderado dos custos de produção (3,6%) no período. Destaca-se que para a rentabilidade das exportações ter encerrado o primeiro semestre do ano com variação positiva, a taxa de câmbio nominal média teria que ter alcançado pelo menos R$ 3,26, ou seja, a valorização deveria ter sido inferior a 12%.

Apesar disso, a performance da balança até agora avaliza uma projeção do Ministério da Indústria e Comércio Exterior de um superávit de cerca de US$ 60 bilhões no fechamento de 2017, valor próximo de estimativas do mercado.

Em julho especificamente, os números mostram alta nos três grupos de exportação. Cresceram as vendas de produtos básicos (19%), manufaturados (12,6%) e semimanufaturados (8,7%). No grupo de produtos básicos, cresceram as vendas principalmente de milho em grão, minério de cobre e petróleo em bruto, entre outros itens. No de manufaturados, aumentaram as exportações principalmente de óleos combustíveis, tratores e máquinas para terraplanagem. No de semimanufaturados, destacaram-se os itens óleo de soja em bruto, semimanufaturados de ferro e aço e ferro fundido.

Do lado das importações, em julho cresceram as compras de combustíveis e lubrificantes (57,3%), bens intermediários (6,8%) e bens de consumo (3,4%). Mas caiu 22% a entrada de bens de capital.

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