segunda-feira, 31 de julho de 2017

Votos no Congresso desafiam economia | Angela Bittencourt

- Valor Econômico

Convivência de três CPIs no Congresso gera expectativa

Agosto chegou e o calendário já avançado do ano recomenda bom senso à classe política ou, no mínimo, resistência à tentação de adiar decisões por mais tempo. A economia brasileira emite sinais vitais que foram identificados no primeiro quadrimestre do ano, mas perderam pulso rapidamente quando os irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS, delataram o presidente Michel Temer, que foi parar no centro da Lava-Jato. Se preservados, os sinais mais recentemente observados de reação da atividade podem dar uma nova perspectiva ao país, que teve na queda da taxa de desemprego a 13% no segundo trimestre, de acordo com a PNAD Contínua divulgada na sexta, incentivo a algum otimismo. No primeiro trimestre, a taxa foi de 13,7%.

Essa melhora não abortou, porém, críticas ao aumento de preços dos combustíveis, que se tornou um indicador prático da dificuldade do governo em conter gastos, sem despertar a rebelião do funcionalismo público, e em bancar uma taxa de crescimento econômico que patrocine a expansão de receitas. E, no tempo, o reequilíbrio de suas contas. Afinal, o nó dos problemas.

Desemprego menor, inflação a 3,5% em 12 meses e juros cadentes são conversores de expectativas negativas que historicamente brotam no mercado financeiro e são irradiadas para a população. Essa trinca de dados numa mesma direção aumenta ou ao menos preserva o poder de compra da população e fortalece o sentimento de confiança - esse, sim, capaz de chamar novos investimentos que realimentam o ciclo econômico.

A queda do juro, positiva para a avaliação da dívida pública brasileira, tem importante efeito sobre a formação das demais taxas, inclusive as cobradas das empresas. De agosto de 2016 a junho de 2017, a Selic caiu 4 pontos percentuais, enquanto o crédito para pessoas físicas caiu 63 pontos e, para as empresas, quase 25 pontos.

O banco suíço UBS recomenda atenção aos índices de confiança e sua estreita relação com o desempenho do PIB. O economista-chefe da instituição no Brasil, economista Tony Volpon, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, destaca o Índice de Confiança Industrial da FGV para comparação com o IBC-Br - Índice de Atividade do BC como "proxy" do PIB - e afirma que o índice ao redor de 100 aponta para expansão econômica acima de 2,5% em 12 meses.

Neste momento, o índice ronda 90, o que é uma boa notícia sobre o Brasil, considerando que está bem acima de 70, patamar que ameaçou tocar no auge da crise. A pontuação 100 é o alvo desejado por todos e, calcula o UBS, poderá ser atingido com resultados eleitorais de 2018 que apoiem esforços de reforma.

Não se deve descartar, porém, um retrocesso desses indicadores a depender do ambiente político, onde a temperatura sempre pode subir. Na sexta-feira, um roteiro político-jurídico para esta semana estava praticamente traçado. Concluído o período de recesso, Legislativo e Judiciário voltam a protagonizar um capítulo já não tão raro na história recente do Brasil: decidir se o presidente da República cometeu um crime, o que pode custar sua cadeira no Palácio do Planalto.

Nesta semana em que o Senado vota a reforma trabalhista que, se aprovada, segue para sanção presidencial, o ponto alto será a votação, no plenário da Câmara, da denúncia apresentada ao STF pela Procuradoria-Geral da República contra o presidente por corrupção passiva com base na delação da JBS.

Contudo, o roteiro pode ganhar nova versão, dependendo da repercussão das informações divulgadas no sábado pela revista "Época", sobre repasses de R$ 1,1 bilhão da JBS a políticos entre 2006 e 2014. A reportagem revela um suposto envolvimento do presidente Temer na distribuição desse dinheiro. Os documentos publicados pela "Época" são parte do acordo de delação dos irmãos Batista com a PGR, a quem os empresários entregarão, de acordo com a publicação, comprovantes bancários, notas fiscais e contratos.

Na última semana de julho, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, mostrou-se seguro com a perspectiva de presença mínima de 342 deputados no plenário para abrir, na quarta, sessão de votação da denúncia; Temer mostrou convicção - até em depoimentos-relâmpago postados nas redes sociais - de já ter obtido votos de sobra para garantir o placar a seu favor, portanto, pelo arquivamento do processo; e a equipe econômica repetiu o discurso sobre a conta que os brasileiros vão pagar se a reforma da Previdência não for rapidamente aprovada e se a economia empacar sem viabilizar a expansão das receitas.

A União depende das receitas para aliviar o prejuízo coletivo que irrita e constrange todos os que não participaram da inesgotável farra monetária revelada pela Lava-Jato que sugere ser o Brasil um país sem comando, sem projeto e de credibilidade arranhando a primeira marcha.

A tensão política poderá ganhar novos contornos nos próximos dias com o desenrolar das investigações da Polícia Federal sobre Aldemir Bendine, detido na quinta-feira. Pesa contra o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, denúncia de que teria cobrado propina de R$ 3 milhões da Odebrecht para defender interesses da empreiteira na Petrobras.

A relação do governo com o Congresso pode passar por mais uma turbulência com a perspectiva de funcionamento simultâneo de três CPIs: uma tem como alvo operações do BNDES com a JBS. A segunda é sobre maus tratos a crianças e a terceira trata da Previdência.

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