segunda-feira, 10 de julho de 2017

O dia seguinte a Temer | Ricardo Noblat

- O Globo

“Devemos encerrar o período das reformas. Depois, não vejo razão para o PSDB participar do governo”. GERALDO ALCKMIN, governador de SP _


Se a Câmara arquivar a primeira denúncia do procurador Rodrigo Janot contra Temer por corrupção passiva, ele sucumbirá à segunda. Se sobreviver, será derrubado pelas delações do ex-deputado Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro. Se não for, passará à condição de presidente decorativo sem poderes para governar. Então se arrastará no cargo como o ex-presidente José Sarney no final dos anos 1980.

SE NÃO ERRAR, e até aqui não errou, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, completará o mandato da ex-presidente Dilma Rousseff que Temer, abatido, vê escapar-lhe por entre os dedos. E tudo por culpa dele, máxima culpa dele, que recebeu às escondidas no porão do Palácio do Jaburu, onde mora, um empresário investigado por corrupção e que se deixou gravar ouvindo e dizendo coisas nefastas.

QUEM SE APRESENTOU há quase dois anos como capaz de unificar o país carece agora das qualidades requeridas para fazê-lo. O que Temer diz em sua defesa só convence os parvos. A perícia da Polícia Federal atestou a veracidade da gravação da conversa dele com Joesley Batista, dono do Grupo JBS. Ninguém receberia “um notório bandido” na calada da noite se ele não fosse, mais do que um simples parceiro, credor de favores.

DILMA CAIU PORQUE perdeu apoio político, sem o qual não se governa. Havia levado o país para o buraco da maior recessão econômica de sua História. As pedaladas fiscais serviram apenas de gatilho para detoná-la. Temer está para cair devido ao avançado processo de desmanche de sua base política e apesar de ter tirado o país da recessão. Em tempos de Lava-Jato, ele pedalou acintosamente a moral, a ética e os bons costumes.

A IMPOPULARIDADE PARECIA FUNCIONAR como um fiador da sua disposição para fazer as reformas a ferro e a fogo, de costas para os mais necessitados, e de frente para o mercado. Ela, no momento, é seu maior algoz, responsável pelo crescente distanciamento dos que ainda ontem o sustentavam. A pouco mais de um ano de eleições gerais, quem se arriscará a morrer abraçado com um presidente que mais de 80% dos brasileiros desejam ver pelas costas?

O MERCADO QUE PÕE é o mesmo mercado que tira. E nada mais fácil do que tirar um presidente quando se tem outro para pôr comprometido com os mesmos ideais. Maia é a garantia de que algo mudará para que tudo permaneça como está. Ao assumir a presidência temporariamente, ele manterá a atual equipe econômica. Se eleito para governar até o último dia 2018, deverá trocar o ministro da Fazenda. Ele não gosta de Henrique Meirelles.

TROCARÁ TAMBÉM OUTROS MINISTROS. Eliseu Padilha (PMDB-RS), da Casa Civil, será mandado embora. Antonio Imbassahy (PSDB-BA), da Secretaria do Governo, voltará à Câmara. Espera-se que Aloysio Nunes (PSDB-SP), ministro das Relações Exteriores, servidor fiel de Temer, peça demissão e reassuma seu mandato de senador. A Moreira Franco (PMDB-RJ) caberá outro ministério fora do Palácio do Planalto.

O QUE FAZER COM TEMER PARA PROTEGÊ-LO de futuros constrangimentos com a Justiça? Sem o cargo, ele perderá o direito de só ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Por coerência, o que se concedesse a ele como benefício teria de ser concedido a Lula, réu em meia dúzia de processos, às vésperas de ser condenado pela primeira vez. É por isso que Temer não renuncia. Aguardará a palavra final do STF.

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