quarta-feira, 12 de julho de 2017

Complexo de Peter Pan | Merval Pereira

- O Globo

Peter Pan por trás de uma ação deplorável no Senado. O que se viu ontem no plenário do Senado remete a cenas a que estamos assistindo diariamente na Venezuela, com o Congresso sendo invadido por vândalos, e parlamentares submetidos a pressões ilegais por representantes de corporações que cuidam de seus interesses sem atentar para os do país.

As senadoras que ocuparam a Mesa Diretora do Senado, não permitindo que o presidente Eunício Oliveira (PMDB-CE) iniciasse a sessão de votação da reforma trabalhista, fizeram um papel deplorável. Por um momento o Senado Federal transformou-se em um palco para que senhoras voltassem aos tempos de ação política em grêmios estudantis, capitaneadas por um ex-presidente da UNE que tem complexo de Peter Pan.

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) manipulou os cordéis para que as senadoras se sentissem no comando das ações, mas foi dele que partiu a ordem para que a senadora Fátima Bezerra permanecesse na cadeira da presidência quando ela já se dispunha a liberá-la. Corria a boca pequena que todo aquele espetáculo fora concebido por outro ex-líder estudantil, o ex-ministro e atual condenado em prisão domiciliar José Dirceu.

A coisa foi tão ridícula que o deputado Marco Maia (PT-RS), ex-presidente da Câmara e envolvido em acusações na Operação Lava-Jato, comemorava: “Já estão fazendo um vídeo comparando as senadoras às grandes mulheres que mudaram a História, a Rosa Luxemburgo, Olga Benário. Um sucesso”.

A cena das senadoras comendo quentinhas na mesa do Senado parece de uma comédia pastelão, e o mais grave é que essas senhoras estão convencidas de que participaram de uma ação histórica, quando não passaram de ações histéricas que rebaixaram a política, já tão rebaixada pelos acontecimentos que estão sendo revelados no dia a dia da Operação Lava-Jato.

No final, a reforma trabalhista foi aprovada como veio da Câmara, e o governo se comprometeu a fazer diversas mudanças através de vetos ou medidas provisórias para acatar algumas das reivindicações da oposição, como a não permissão para que trabalhadoras grávidas frequentem ambientes considerados insalubres.

A flexibilização das leis trabalhistas poderá ajudar o país a melhorar a taxa de desemprego, uma consequência da crise econômica em que os últimos anos petistas nos meteram. Para o PT e seus satélites de esquerda, foi uma boa oportunidade para jogar para suas plateias. A maior demonstração de que as senadoras estavam ali como meras linhas auxiliares dos sindicatos, que perderão sua força com a reforma trabalhista, foi a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, telefonar para o presidente da CUT para pedir permissão para encerrar a ocupação da mesa do Senado. Como não foi autorizada pelo sindicalista, continuou sua patética atuação junto às outras senadoras.

O fim da contribuição sindical obrigatória está na legislação aprovada, o que retirará dos sindicatos esse poder financeiro que exercem sobre seus sindicalizados. Há tentativas de mitigar essa decisão, e o Palácio do Planalto negocia com os sindicatos. Mas, depois de ontem, não há garantia de que uma negociação é possível.

Episódios deploráveis que só fazem demonstrar o que esses políticos consideram ser uma ação democrática. O que chamam de resistência democrática significa apenas a não aceitação da vontade da maioria parlamentar, o contrário da democracia.

Agosto
Rodrigo Pacheco, presidente da CCJ, apresentou requerimento à Mesa Diretora da Câmara para prorrogar por três sessões o debate sobre o relatório de Sergio Zveiter, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, avisou que ele não pode interferir. Se a CCJ quer mais prazo, cabe a seu presidente definir isso. O Palácio do Planalto quer votar a aceitação da denúncia até esta sexta-feira no plenário da Câmara, mas, pelo calendário já aprovado, o tempo não será suficiente. As discussões devem ir até a próxima segunda-feira, quando o Congresso terá também que votar a LDO antes do recesso. Tudo indica que a definição desse processo será após o recesso, em agosto. A não ser que o Palácio do Planalto tenha força para aprovar no Congresso o fim do recesso.

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