sexta-feira, 28 de julho de 2017

Alckmin tenta organizar sua sucessão de olho no Planalto

Fernando Taquari | Valor Econômico

SÃO PAULO - A pouco mais de um ano das eleições, o PSDB paulista tenta encontrar um nome com densidade eleitoral para concorrer ao governo de São Paulo e que garanta palanque para o presidenciável tucano - os mais cotados ao Planalto até agora são o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria.

A opção por Doria agrada ao governador, porque afastaria o prefeito da disputa pela candidatura à Presidência. Mas Doria dá sinais de que mira o Palácio do Planalto. Sua candidatura ao governo paulista também enfrenta a oposição de outros tucanos que querem o cargo, como o ex-governador José Serra e José Aníbal, e de tradicionais aliados do governador no PSB e no DEM. Há muitos interessados, mas que não se arriscam a colocar a "cabeça para fora", diz um dirigente do partido.

Base de Alckmin começa a discutir sucessão
A pouco mais de um ano da eleição de 2018, o PSDB paulista corre contra o tempo em busca de um nome com densidade eleitoral para concorrer ao governo de São Paulo. A sucessão estadual é estratégica para as pretensões nacionais do partido. Caberá ao escolhido garantir um palanque para o governador Geraldo Alckmin ou o prefeito paulistano, João Doria, presidenciáveis da sigla.

Um candidato com potencial eleitoral na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes seria uma vacina contra "erros" cometidos na campanha presidencial de 2014, na visão de tucanos de São Paulo. Naquela eleição, o senador Aécio Neves perdeu a disputa para Dilma Rousseff em seu reduto, Minas Gerais. O resultado foi decisivo para a derrota nacional. Aécio, a despeito da resistência de aliados, bancou a candidatura ao governo mineiro do ex-deputado Pimenta da Veiga (PSDB), que foi derrotado no primeiro turno.

Naquele caso, entretanto, os tucanos tinham um adversário sólido, o petista Fernando Pimentel, que se elegeu com apoio do PMDB. Em São Paulo, PT e PMDB também se opõem ao PSDB, mas sem candidatos com a mesma viabilidade eleitoral.

A indefinição sobre o candidato a presidente trava o surgimento de um nome natural da sigla para o governo estadual. Há oito nomes citados dentro do partido. Com a popularidade em alta, Doria é apontado como opção preferencial do governador para a sua sucessão.

Essa solução praticamente assegura a Alckmin a vaga no partido para disputar a Presidência ao mesmo tempo em que lhe garante um palanque forte em seu reduto eleitoral.

O prefeito, no entanto, dá sinais de que mira o Palácio do Planalto. Além disso, uma eventual candidatura de Doria ao governo paulista enfrenta a oposição de tucanos que também demonstram interesse em disputar o cargo e de tradicionais aliados do governador, como o PSB e o DEM, que nesta semana, em encontros particulares com Alckmin, anunciaram as pré-candidaturas, respectivamente, do vice-governador Márcio França e do secretário estadual de Habitação, Rodrigo Garcia.

Os dois partidos, na visão de aliados do governador, fizeram um movimento antecipado com o objetivo de vender mais caro um eventual apoio ao tucano no futuro, seja na esfera federal ou estadual, uma vez que a composição das chapas para presidente, governo do Estado e senador certamente entrará na mesa de negociações de uma eventual aliança do PSDB com DEM e o PSB em 2018.

No PSDB, há muitos interessados, mas por ora poucos se arriscam a colocar a cabeça para fora. Na lista de cotados estão o ex-governador e senador José Serra, o presidente do Instituto Teotônio Vilela (ITV), José Aníbal, os secretários estaduais David Uip (Saúde) e Floriano Pesaro (Desenvolvimento Social), os prefeitos Orlando Morando (São Bernardo do Campo) e Paulo Barbosa (Santos) e o presidente da Assembleia, Cauê Macris. Serra é da ala do partido que historicamente disputou espaço interno contra Alckmin na década passada.

Nenhum deles é unanimidade no PSDB, o que fortalece o poder do governador para ser a voz decisiva na escolha do candidato. Neste sentido, afirma um interlocutor do Palácio dos Bandeirantes, a primeira a coisa a ser feita pelos tucanos que cobiçam o governo do Estado é estruturar a candidatura presidencial de Alckmin. Se essa decisão esticar até o prazo limite para a desincompatibilização, em abril, tudo será postergado até lá, acrescenta.

No radar, ainda existe a perspectiva de prévias, a exemplo do que ocorreu na eleição à Prefeitura da capital paulista em 2016. Na época, porém, a disputa interna evidenciou a divisão no tucanato. Derrotado nas urnas, o então vereador Andrea Matarazzo migrou de partido para o PSD, concorrendo como vice-prefeito na chapa encabeçada pela senadora Marta Suplicy (PMDB).

Sem um candidato natural, uma ala do PSDB paulista procura um candidato com o perfil do partido, mas sem vínculo "com administrações passadas ou com a velha política". A ideia, segundo um dirigente, é ter um candidato no Estado com as características do presidente da França, Emmanuel Macron, que antes de ser eleito, em maio, em meio a um cenário de descrença entre os franceses com a classe política, era conhecido como um acadêmico com passagem pelo ministério da Economia.

Sem um nome novo, diz esse dirigente, o PSDB está fadado à derrota depois de 24 anos consecutivos do partido no comando do Estado em uma trajetória iniciada em 1995, com a posse de Mário Covas, que veio a falecer em meados de seu segundo mandato, em março de 2001.

"Novos quadros podem dar o brilho que os 24 anos de governo tiraram", opina Orlando Morando, acrescentando que os partidos não entendem, mas os "políticos têm prazo de validade". O prefeito de São Bernardo despista sobre uma eventual candidatura ao declarar que está focado no mandato conquistado em 2016.

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