quarta-feira, 14 de junho de 2017

Sucessão em stand by | Rosângela Bittar

- Valor Econômico

Sustadas as negociações, o novo lance é de Janot

Foram sustadas as articulações para composição das chapas de presidente e vice-presidente em eleição indireta para a sucessão de Michel Temer. As conversas, embora informais, seguiam adiantadas, andaram muito à frente na fase anterior à legalização da vitória da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral, mas agora reduziram o ritmo, contidas que foram à espera dos fatos novos que virão por aí.

Chegaram a se consolidar três chapas para a disputa em pleito indireto, como determina a Constituição, e não foram desfeitas. Nem desmobilizados reuniões e jantares em que se discute a sucessão de Temer.

Sucessão que, segundo o entendimento claro nessas reuniões, teria que ter, como princípio básico, a pacificação das forças políticas para chegar a 2018 sem esse paralisante clima de confronto.

Foi o motivo pelo qual as chapas em construção incluíram um nome do centro e um da esquerda, para presidente e vice. Há um consenso, já debatido inclusive por PDT, PSB, PTB, PCdoB e Solidariedade, na última reunião do grupo sobre a eleição indireta, em torno do nome que seria o representante da esquerda e da oposição na candidatura a vice-presidente: o ex-deputado e ex-ministro Aldo Rebelo, do PCdoB. Ideal para seus aliados, Aldo é cotado para ser vice de qualquer dos três nomes presidenciáveis em processo de viabilização: Rodrigo Maia, Gilmar Mendes, e Nelson Jobim. A campanha de Nelson Jobim é a mais discreta, mas nenhum dos três avança na argumentação contra Temer, de quem dependem não só para que o cargo fique vago, mas para ter os votos com que ele ainda conta no Congresso. As conversas são informais e muitas reuniões são em salões reservados de restaurantes.

A pressa não se justifica mais, porém, e a sucessão está adiantada o suficiente para, caso se coloque novamente a necessidade de uma rápida eleição indireta, sejam retomadas as providências. Houve retração das condições, cessou a urgência.

Mas todas as correntes da política ainda veem, presentes e armados, os elementos do conflito. Há uma inegável força em ofensiva (Rodrigo Janot e Edson Fachin), mas o governo ainda tem meios de se defender, como acaba de demonstrar. Depois do TSE, conquistou a decisão do PSDB de não abandonar a aliança neste momento quando se vai tentar retomar a ofensiva administrativa, aproveitando a brecha, que pode ser pequena, nas denúncias. Constrói agora sua aprovação na Câmara dos Deputados, de quem vai pedir a negação, ao STF, do pedido de autorização para processar o presidente da República.

Como está sob ataque, o governo Temer desgasta-se e desgasta seus elementos de defesa. A Câmara será fortemente pressionada a dar a abertura do processo, como o TSE o foi a condenar Temer.

Provavelmente, até segunda ordem se a nova bateria de denúncias sair antes, os deputados não se curvarão às pressões em número suficiente para derrubar o presidente. Será uma escolha entre um governo que apoiam e o Ministério Público e STF, duas instituições impopulares, hoje, no Congresso.

O mundo político não parece muito interessado em tirar Temer do cargo. Nem mesmo o PT que, politicamente, nunca esteve em situação mais confortável desde que eclodiu a Operação Lava-Jato. Segue enfrentando um governo, que já se enfraqueceu muito com os ataques de todos os lados, enquanto consolida um discurso, que combina com o do eleitorado, para as próximas disputas: acusa um governo corrupto que quer tirar direitos do trabalhador com as reformas. O Partidos dos Trabalhadores não podia contar com argumento melhor para seu público.

Portanto, a solução para a oposição é ficar Michel Temer, embora fique à vontade para manter o discurso e pedir o impeachment, as diretas já, a deposição pelo Supremo, vá autorizar o processo e tudo o mais que vier nesse script de oposição. Sabe o PT que não tem votos para decidir, e ao governo também não importa o que fará o PT, não precisa dos votos da oposição para se manter. Cada um no seu quadrado.

O PSDB, como se viu na definição de permanecer ao lado do presidente tomada esta semana, não quis dar um passo muito incisivo que o prejudicasse em 2018, mas sabe que, neste momento, já está prejudicado, com seu presidente derrubado por denúncias. Tudo o que o PSDB não quer é colocar em risco o futuro, quando espera se recuperar do baque, tanto quanto espera o PT. Porém, logo ali, à frente, será novamente peça decisiva e se prepara para isso.

O presidente Michel Temer está no cargo, sem forças mas ainda com vontade suficiente para não afastar todos os que precisa manter. Melhorou com as decisões da semana passada, mas não viu ainda o fim da sua agonia. Até por isso as forças políticas não desmobilizaram de vez as negociações sobre sucessão.

E como Temer pode ainda cair se a Câmara não der autorização ao STF para processá-lo?

Há o impeachment, ainda considerado inviável por ser demorado demais mesmo que a Câmara se virasse em maioria contra ele. E a renúncia, que Temer já disse estar fora de seu caráter. Porém, acredita-se que há fatores que podem inviabilizá-lo de uma maneira tal que acabará o levando ao gesto até agora recusado.

A perda do PSDB (em novo momento, dentro de algumas semanas, e do empresariado, dois fatores que foram decisivos para fazer o impeachment da presidente Dilma Rousseff e levar Temer, seu vice, ao cargo.

E como o PSDB e o empresariado decidirão em mais algumas semanas o contrário do que decidiram agora?

Podem ser jogados às cordas com tudo o que se diz que está por vir brevemente na guerra sem tréguas entre Janot-STF X Temer. Há três delações sendo produzidas, neste momento, agravando a situação do presidente: a de Lúcio Funaro, Rocha Loures e Eduardo Cunha. A perícia da fita de gravação da conversa do presidente, captada por Joesley Batista, reconstituiu, segundo se propaga, trechos inaudíveis ou supostamente suprimidos. E, ainda, Eduardo Cunha e Rocha Loures teriam sido levados a depor no inquérito contra o presidente, numa ação de efeito mais rápido que os trâmites da delação.

Por enquanto, o PSDB e aquela parte da elite da economia (por sinal afinada com o tucanato) está com Temer, no mínimo, porque resulta em mais lucro que prejuízo. Uma vez constrangidos pelas novas denúncias, podem forçar a renúncia, voltando às chapas da nova transição. Ontem, o ex-presidente Fernando Henrique fez formulações em torno desse teorema. Estava simplesmente dizendo que o gato subiu no telhado.

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