quinta-feira, 29 de junho de 2017

Precário com Temer. Pior sem ele. Para reformas, agora, e em 2018 | *Jarbas de Holanda

A turbulência política desencadeada pela divulgação do áudio do encontro do delator Joesley Batista com Michel Temer; alimentada pela prisão do ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures, bem como pelo preparo de delação do doleiro Lucio Funaro; e exacerbada pela primeira das denúncias, fatiadas, da PGR contra Temer ao STF (dois dias úteis após seu plenário validar a delação de Joesley e manter o ministro Fachin como relator do processo), essa turbulência, ademais de acentuar a rejeição social ao presidente, vem reduzindo o respaldo a ele nos diversos segmentos empresariais.

Respaldo responsável, quase tanto quanto o apoio das duas Casas do Congresso, pelo razoável sucesso do governo de transição. Respaldo vinculado basicamente a dois fatores: confiança na equipe econômica e no conjunto da agenda reformista assumida pelo Palácio do Planalto, de par com a aposta na capacidade do presidente de viabilizá-la (como resposta ao verdadeiro descalabro fiscal deixado pelos governos petistas e à maior recessão da história do país produzida por suas políticas populistas e estatizantes).

Mas, confiança que vai sendo afetada pela incerteza sobre a preservação dessa capacidade e pelo receio de que a perda dela venha a submeter um governo muito fragilizado ao predomínio de pressões corporativistas e eleitoreiras, com o abandono de tal agenda (inclusive o afastamento da equipe econômica), na sequência e no fecho de uma gestão parecida com a da fase final dos anos 80 – a da chamada “sarneização”.

Incerteza e receio que têm levado vários analistas, assim como quadros políticos ligados à base governista ou próximos, como os “cabeças pretas” do PSDB e o ex-presidente FHC, a dissociar a perspectiva das reformas da continuidade do presidente Temer. Com avaliações que chegam à defesa da renúncia dele diante do tiroteio que está sofrendo do titular da PGR, Rodrigo Janot.

Tiroteio com duas inspirações, a rigor contraditórias. Primeira – a de legítimo ataque a atos de corrupção praticados por peemedebistas (como sócios minoritários da institucionalização desses atos como política de estado nos governos petistas). Segunda – a de representação das enormes resistências corporativistas da elite do funcionalismo às reformas estruturais encaminhadas pelo presidente Temer. Entre cujos dividendos inclui-se com destaque o desmonte do gigantismo estatal – fator básico da corrupção entre autoridades, políticos e empresários. O Janot dessa denúncia é o mesmo autor de recurso impetrado no STF contra a lei da Terceirização aprovada pelo Congresso e sancionada por Temer.

Avaliações e perspectivas essas basicamente equivocadas, a meu ver. Começando pelo fim, um afastamento do presidente Temer (mesmo com a eleição indireta de um integrante da atual base governista), ao invés de facilitar a viabilização de reformas, potencializaria as resistências corporativistas (trabalhadas pelo “quanto pior, melhor” do lulopetismo), bem como as pressões fisiológicas e eleitoreiras sobre as decisões do governo. Implicando o recuo ou abandono de passos importantes dados na quebra do gigantismo, da partidarização e da corrupção das estatais e dos bancos públicos.

E aos efeitos imediatos e neste ano do bloqueio às reformas – com a protelação de importantes investimentos privados gerada pela atual turbulência política convertendo-se em cancelamento deles, e interrompendo a reversão em curso do processo recessivo e do desemprego – a tais efeitos se somaria um tão ou mais grave econômica e politicamente.

O de tornar-se bem mais difícil a presença, relevante, no pleito presidencial de 2018, de um candidato reformista competitivo, a partir de uma aliança entre o PMDB (pós-impeachment de Dilma), o PSDB e o DEM. O que agravaria muito os riscos já existentes de termos à frente “salvadores da pátria” populistas de direita e esquerda.

Por tudo isso – e convencido de que há forte percepção social do imperativo de preservação da agenda reformista, inclusive no Congresso – posiciono-me decididamente em favor da manutenção do mandato do presidente Michel Temer.

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*Jarbas de Holanda é jornalista

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