sábado, 6 de maio de 2017

Se quiserem me pegar, terão de competir comigo pelas ruas, diz Lula

Catia Seabra | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta sexta-feira (5) durante a abertura da etapa paulista do congresso do PT, que, se quiserem o "pegar", terão que competir com ele pelas ruas do país.

Após mencionar a hipótese de prisão, Lula afirmou que "hoje, aos 71 anos, está com mais tesão para ser candidato". "Se quiserem me pegar, se quiserem evitar minha candidatura, terão que competir comigo pelas ruas deste país."

O ex-presidente disse que há dois anos ouve pela imprensa que será preso no dia seguinte: "Se eles não me prenderem logo quem sabe um dia eu mande prendê-los por mentira".

Lula chamou José Dirceu – libertado da prisão pelo Supremo Tribunal Federal na última terça-feira (2) – de companheiro e voltou a afirmar que existe um "pacto diabólico entre a operação Lava Jato e os meios de comunicação".

Dirceu, que estava preso desde 2015 por decisão de Sergio Moro, juiz responsável pela Lava Jato em primeira instância – foi ovacionado pelos petistas no início do evento.

No discurso, Lula disse que há uma tese pronta contra ele sobre a qual falará na quarta-feira (10) durante depoimento a Moro.

Após elencar críticas às medidas implementadas pelo governo Temer, Lula voltou a falar de seu próprio destino. "Estou mais preocupado com o que pode acontecer com a classe trabalhadora do que pode acontecer comigo".

Lula também chamou o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), de almofadinha e disse que seus opositores devem estar desesperados com a ascensão nas pesquisas de intenção de voto para 2018 do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), a quem definiu como fascista.

O ex-presidente se comparou a um pé de mandacaru, capaz de sobreviver na seca.

Durante seus 50 minutos de discurso, Lula se disse um homem de sorte e paciente. "Na hora que tentam destruir uma biografia que não devo a eles, devo a vocês, vão ter que me enfrentar outra vez nas ruas."

Antes do discurso de Lula, o presidente do PT, Rui Falcão, afirmou que o depoimento foi adiado para que forjassem provas contra o ex-presidente.

DIRCEU
Condenado duas vezes pelo juiz Sergio Moro na Lava Jato – em penas que somam 32 anos de prisão –, Dirceu foi celebrado pelos petistas no início do encontro.

Citado pelo mestre de cerimônias, ele foi homenageado com um coro após ser saudado pelo presidente do PT de São Paulo, Emídio de Souza.

"Dirceu, guerreiro do povo brasileiro", gritaram os militantes presentes à quadra do sindicato dos bancários.

"Gostaria de mandar uma saudação para um companheiro que não podendo estar aqui por limitação da Justiça, está nos assistindo pela internet. Um abraço companheiro José Dirceu de Oliveira e Silva", disse Emídio.

O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto também foi homenageado. Emidio afirmou esperar que ele esteja de volta entre os petistas. "Eu espero que em breve outros prisioneiros políticos, principalmente o Vaccari, possam estar entre nós."

O senador Lindbergh Farias (RJ) também defendeu uma "saudação a Zé Dirceu". Segundo Lindbergh, "o PT foi frouxo desde o mensalão". "Precisamos nos preparar para o enfrentamento", disse.

A chegada de Dirceu ao prédio em que deve morar, em Brasília, foi marcada por tumulto na noite de quinta-feira (4).

Manifestantes invadiram a garagem do edifício atrás do carro que o transportava vindo de São Paulo. Aos gritos de "ladrão" e "paga o que deve", eles perseguiram o veículo antes de Dirceu conseguir desembarcar com a ajuda de policiais militares.

CONDENAÇÃO
Sua primeira condenação na Lava Jato aconteceu m maio de 2016. Acusado de participação no esquema de contratos superfaturados da construtora Engevix com a Petrobras, foi condenado pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e organização criminosa.

Em março de 2017, Dirceu foi condenado pela segunda vez pelo juiz Sergio Moro por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A pena soma 11 anos e três meses de prisão.

A defesa de Dirceu nega os crimes, afirma que ele não interferiu em licitações na Petrobras e diz que o ex-ministro jamais solicitou propina a empresários em troca de contratos na estatal.

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