segunda-feira, 29 de maio de 2017

Juros na crise – Editorial | Folha de S. Paulo

Com longo atraso, a queda dos juros do Banco Central começou a se refletir nas taxas de fato cobradas de empresas e consumidores, ainda exorbitantes. Não obstante as incertezas trazidas pela crise política, há sinais de que essa trajetória favorável à recuperação do crédito e da economia vá continuar nos próximos meses.

Para pessoas físicas, o juro médio anual caiu de 42%, ao final do ano passado, a 39% em abril; para pessoas jurídicas, houve redução de 20% a 19%. Embora modesta, a melhora indica que começa a ser afrouxado o torniquete das dívidas de famílias e companhias, obstáculo à retomada do consumo e do investimento.

A perspectiva de adiamento das reformas, cada vez mais palpável, decerto fez retroceder o otimismo que tomava forma no mercado antes das delações que abalaram o governo Michel Temer (PMDB).

Ainda assim, há elementos que favorecem —mais exatamente, recomendam— a continuidade do abrandamento monetário.

Analistas começam a rever para baixo as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto neste ano e em 2018, que hoje rondam 0,5% e 2,5%, respectivamente.

Por ora, tal movimento parece mais precaução do que convicção. Ainda assim, é plausível a expectativa de que o país deixe para trás a recessão de forma mais lenta.

De um lado mais virtuoso, há consenso de que a política econômica não está sob ameaça. O ajuste gradual das contas do Tesouro Nacional prossegue, tudo indica, a salvo de pressões políticas.

Minora-se, assim, o risco de que o mercado credor exija taxas mais altas para comprar os títulos da dívida do governo federal.

Ademais, com o saldo positivo da balança comercial e a redução das dívidas externas das empresas, a possibilidade de uma fuga de dólares é bem menor. Não por acaso, a alta brusca da moeda americana, sob o impacto inicial da delação da JBS, foi em boa parte revertida nos últimos dias.

A inflação cai rapidamente e, no período de 12 meses a ser encerrado em junho, deve ficar abaixo de 3,5% –a meta oficial, recorde-se, é um IPCA de 4,5%.

Estão preservadas, portanto, as condições para que o Banco Central volte a reduzir seus juros na reunião marcada para esta semana. Nada impede que a taxa Selic, hoje em 11,25%, caia a um dígito antes do final do ano.

A recessão iniciada em 2014, que o país mal começou a deixar para trás, teve intensidade e duração agravadas pelo elevado endividamento nacional. O barateamento do crédito, assim, afigura-se essencial para debelar a fragilidade financeira do setor privado.

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