quinta-feira, 11 de maio de 2017

Gravata verde-amarela e jato privado | José Casado

- O Globo

Lula é um político que tenta explicar o inexplicável

Lula levou ontem a Curitiba algumas das principais agruras da sua biografia política, entre elas o mensalão e a corrupção na Petrobras.

Chegou à cidade, para interrogatório em processo no qual é réu por corrupção, nas asas de um jato do empresário Walfrido dos Mares Guia, ex-deputado federal pelo PTB.

Dono de uma das maiores fortunas de Minas Gerais, Mares Guia se destacou no papel de operador do propinoduto que abasteceu campanhas eleitorais do PT e do PSDB, partidos dominantes na política nacional nas últimas duas décadas.

Em 1998, Mares Guia esteve no centro do desvio de recursos públicos e de doações privadas ilegais que irrigaram o caixa do PSDB mineiro na candidatura de Eduardo Azeredo para o governo de Minas.

Quatro anos depois, ministro de Lula, ajudou na montagem do acordo financeiro para criação da “maior base parlamentar do Ocidente” — como na época definiu José Dirceu, chefe da Casa Civil. No acerto estavam o PTB de Mares Guia, mais o PR, PP, PRB, PSB e PPS.

Revelado em 2005, pelo insatisfeito Roberto Jefferson, líder do PTB de Mares Guia, o mensalão foi um ponto de inflexão do governo Lula.

Descoberta mais tarde, a corrupção na Petrobras e outras estatais deixou o mensalão na categoria de gorjeta pluripartidária.

Foram iniciativas simultâneas sob Lula.

Ontem, ele saiu da cobertura de São Bernardo do Campo (SP) com uma gravata verde-amarela no pescoço. Desceu do jato privado em Curitiba e exercitou cinco horas de negativas diante de um juiz que chegara ao trabalho carregando sacola plástica branca com marmita do almoço. Como no mensalão, o ex-presidente nada soube, viu ou assinou. Tríplex no Guarujá? “Tem que perguntar à dona Marisa” (falecida). Quando terminou, foi encontrar militantes agrupados pelo PT, CUT e MST. Falou pouco mais de dez minutos para uma praça semivazia, o que já não deve surpreendê-lo (na campanha de 2014, houve comício em que não conseguiu reunir mais que cinquenta pessoas na porta de uma montadora veículos, no ABC paulista.)

Lula, claro, não pode explicar o inexplicável. Por exemplo, porque na sua administração a ética passou a ser um procedimento aplicável exclusivamente aos adversários. Como repetiu na praça, ele “continua em busca da verdade”.

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