quinta-feira, 6 de abril de 2017

Ritmo dos juros | Míriam Leitão

- O Globo

O mercado já dá como certa a redução de um ponto nos juros na semana que vem. A grande pergunta é: mesmo com o corte maior, saindo de 0,75 para 1 ponto, o ritmo do BC está de acordo com a forte queda da inflação? Ao que parece, não. Há espaço para uma postura menos conservadora do Banco, diante da recessão, da queda da inflação e das expectativas. A redução não chegou aos consumidores e às empresas.

Se o Banco Central cortar os juros em 1 ponto na semana que vem, a Selic cairá para 11,25%. Se mantiver o ritmo no encontro seguinte, no final de maio, a taxa básica recuará para 10,25%. Como as reuniões têm intervalo de 45 dias, o país ficará todo o primeiro semestre com juros de dois dígitos, apesar de as projeções de inflação estarem abaixo do centro da meta para este ano, e o próprio IPCA já dar sinais de que voltará para a meta quando for divulgado o resultado de março, amanhã.

O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, especialista em inflação, acredita que o BC vai fazer o corte que está nas previsões, quando se reunir na semana que vem, porque foi isso que ficou entendido pela comunicação do Banco. Mas avalia que todas as condições técnicas estão dadas para um relaxamento maior da política monetária, que poderia até já ter começado.

— Se depender da inflação, o Banco Central não terá problemas em acelerar o ritmo de corte para 1,25 ponto ou 1,5 ponto. Acho que isso não vai acontecer por causa da comunicação recente. Mas ele pode sinalizar na reunião da semana que vem e na própria Ata que vai acelerar a queda dos juros. Espaço, existe. O BC poderia ter cortado mais os juros há alguns meses — afirmou.

Cunha lembra que no Relatório de Inflação, divulgado na semana passada, o Banco Central admite que o IPCA, nos últimos seis meses, veio sempre abaixo do esperado pela instituição e pelo mercado. Ou seja, agora está “correndo atrás da curva”, como dizem os economistas. O BC também revisou para baixo as projeções do seu cenário de referência, após divulgar uma errata na última terça-feira. Agora, com juros e dólar constantes, a expectativa é de inflação de 3,6% este ano e 3,3% no ano que vem.

— Pelas minhas projeções, o IPCA vai ficar muito próximo da meta em março, e em abril pode ficar em torno de 4%. Até agosto, a taxa cairá ainda mais e poderá encostar em 3% no acumulado em 12 meses. A redução nos últimos meses foi muito grande — disse.

Chama atenção que as taxas praticadas pelos bancos privados e públicos do país ainda não caíram, pelo contrário, na média, ficaram mais altas. De acordo com a Nota de Política Monetária do Banco Central, em fevereiro do ano passado os juros médios praticados no país — incluindo pessoas jurídicas e físicas, crédito livre e direcionado — foram de 31,8%. Naquele mês, a Selic estava em 14,25%. Em fevereiro deste ano, a média dos juros havia subido para 32,2%, enquanto a Selic já tinha caído para 13%.

Em outras linhas, a alta é ainda maior. O crédito pessoal, na mesma comparação, saltou de 52,4% para 54,1%. O cheque especial disparou de 293% para 327%, enquanto o rotativo do cartão subiu quase 40 pontos percentuais. Para as empresas, os juros aumentaram em várias linhas: desconto de cheques, duplicatas, cheque especial, antecipação de faturas do cartão e aquisição de bens. O spread saiu de 20,8% para 23,9%, com estabilidade nas taxas para as empresas e aumento para os consumidores.

Os bancos alegam que o desemprego está elevado e precisam se proteger do risco de aumento da inadimplência. Com isso, a redução da Selic não chega ao consumidor e não há estímulo para a recuperação da economia. A única forma de o BC romper essa barreira é diminuindo a rentabilidade do sistema financeiro, com a redução da Selic. Se o dinheiro parado render menos, os bancos terão que começar a liberar as linhas para a ponta final.

A queda da inflação e os sinais de um primeiro trimestre fraco, como mostrou a queda do IBC-Br de janeiro, dão todas as condições para que o Banco Central seja mais agressivo no ritmo de cortes. Desta vez, será diferente da experiência fracassada do governo Dilma, em 2011, que reduziu os juros com a inflação acima do teto da meta. Naquela época, foi um erro cortar os juros porque a inflação, pressionada, não abria espaço. Mas agora o erro será não acelerar a queda da Selic. Com a forte queda da inflação, Banco Central deveria ser mais rápido nos cortes de juros Selic ficará em dois dígitos durante todo o primeiro semestre, se BC cortar no ritmo de 1 ponto Inflação deve chegar em agosto na casa de 3%, muito abaixo do centro da meta de 4,5%

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