quarta-feira, 19 de abril de 2017

Longe do PT, ex-ministro pode integrar time dos delatores

Com seu processo perto do fim, Palocci está prestes a escolher caminho diferente de petistas como Dirceu e Vaccari, que, mesmo presos, decidiram não colaborar

Sérgio Roxo | O Globo

-SÃO PAULO – O distanciamento de Antonio Palocci da vida partidária e o agravamento de sua situação depois da divulgação dos detalhes dos depoimentos de executivos da Odebrecht podem contribuir para que o ex-ministro engrosse o grupo de delatores da Operação Lava-Jato. Entre os petistas, a avaliação hoje é que Palocci deve seguir um caminho diferente do adotado por José Dirceu e João Vaccari Neto, que, mesmo condenados, resistiram a abrir a boca.

Os sinais de que o ex-ministro vai confessar os seus crimes e fazer acusações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se intensificaram nos últimos dias com as divulgações de que ele recebeu pagamentos por aprovações de medidas provisórias de interesse da empreiteira. A avaliação dentro do PT é que, na situação em que está, Palocci tem pouco a perder.

— Ele pode muito bem virar as costas para o partido e se transformar em um novo Delcídio — afirma um petista, numa comparação com o ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral, que fechou o acordo de delação poucos dias depois de ser preso.

A pressão sobre Palocci aumenta com as perspectivas de que o processo contra ele será encerrado nas próximas semanas. Além de estar preso há seis meses, já teve bens bloqueados no valor de até R$ 128 milhões.

Palocci sempre foi distante da militância. Nos encontros da legenda, por exemplo, o seu nome nunca foi exaltado junto à frase “guerreiro do povo brasileiro”. Entre os caciques petistas, a interlocução de Palocci se restringia quase que exclusivamente a Dilma.

— A impressão na militância é que o Palocci se acostumou com a boa vida de consultor e deixou o partido de lado — afirma um petista.

A esperança entre os aliados de Lula de impedir uma delação de Palocci está nas mãos do advogado José Roberto Batochio, que defende o ex-ministro e também o ex-presidente Lula. Batochio é radicalmente contra a colaboração e tem mantido contatos frequentes com o petista. Caso o acordo seja fechado, o advogado deixaria imediatamente a defesa do ex-ministro, diante do conflito ético de ter um cliente acusando o outro.

Dentro do PT, a avaliação é que as acusações contra Palocci são fruto de atuação pessoal, e não partidária, como no caso de Vaccari, preso há dois anos e já condenado a 41 anos. O ex-tesoureiro é idolatrado pelos petistas porque, nas investigações contra ele, não foram apontados indícios de enriquecimento pessoal e, mesmo diante de agravamento de sua situação na Justiça, Vaccari não delatou. O presidente do PT, Rui Falcão, tem dado auxílio aos familiares do ex-tesoureiro

As implicações de Dirceu também são tratadas no PT como resultado de atividade pessoal. A diferença com Palocci se dá na relação do ex-ministro com a militância do partido. Apesar de também ter seguido a vida de consultor, Dirceu nunca deixou de fazer política e chegou a montar um blog para servir de tribuna, arregimentando um estridente legião de admiradores.

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