domingo, 9 de abril de 2017

Crise moral dificulta aprovação de medidas para aliviar as contas

Enfraquecido, Pezão busca votos por projetos que exigem sacrifício da população

Miguel Caballero | O Globo

Quando enviou à Assembleia Legislativa (Alerj), no início de novembro, o que se convencionou chamar de “pacote de maldades” em busca de soluções para o caos financeiro do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB) já era um governador impopular — seu antecessor e fiador político, Sérgio Cabral, seria preso dias depois. Nas últimas semanas, o desenrolar das investigações atingiu em cheio o Tribunal de Contas do Estado (TCE) e chegou pessoalmente ao próprio governador e ao presidente da Assembleia, Jorge Picciani, citados pelo delatores da operação O Quinto do Ouro — o conselheiro do TCE Jonas Lopes e seu filho.

É inevitável que autoridades no alvo de investigações fiquem enfraquecidas para negociar a aprovação de medidas que, para tirar da asfixia um governo incapaz até de pagar a folha salarial, exigirão sacrifícios da população. O agravamento da crise moral do Rio ocorre, por coincidência, num momento crucial para essas votações — seja em Brasília, onde a Câmara dos Deputados deixou para a próxima semana a apreciação do projeto de recuperação fiscal dos estados, seja no quintal de casa, a Alerj, que ainda não votou o ponto mais sacrificante, para os servidores, do pacote enviado em novembro — o aumento da contribuição previdenciária de 11% para 14%.

Não é só o enfraquecimento para negociar. Apontado como recebedor de R$ 900 mil ilegais para despesas pessoais, Pezão tem de cuidar de sua defesa e tentar governar enquanto viaja semanalmente a Brasília para convencer deputados. Na sexta-feira, telefonava a outros governadores para articular votos no Congresso enquanto aguardava para depor ao juiz Marcelo Bretas como testemunha de Sérgio Cabral no prédio da Justiça Federal no Rio.

Na Alerj, Picciani, ele próprio acusado de articular pagamentos a membros do TCE, diz que só levará a voto o aumento da contribuição previdenciária depois que o governo puser os salários dos servidores em dia, o que não há previsão de ocorrer.

Longe de ser dos mais ferrenhos opositores do governo na Alerj, Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) resume a situação na Casa:

— O tempo corre contra os anseios governamentais. Quanto mais demora, menos chance de passar.

Nenhum comentário: