quarta-feira, 5 de abril de 2017

Casal teve que chegar ao coração das ilegalidades

Thiago Herdy | O Globo

Até pouco tempo, era difícil encontrar alguém que apostasse na homologação do acordo

Imagine ganhar uma eleição de virada, no segundo turno, com uma diferença de menos de 1% dos votos. É mais ou menos o que representa a assinatura e homologação do acordo de delação premiada com o Ministério Público para João e Mônica Santana.

Até o início deste ano, era difícil encontrar quem ainda apostasse no sucesso da negociação do casal com a Lava-Jato, depois da homologação do acordo de 78 executivos da Odebrecht. O motivo era simples: a empreiteira entregou provas sobre atos controversos de três das principais figuras do cardápio oferecido pelos baianos aos investigadores: os ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega e a ex-presidente Dilma Rousseff.

Para conseguir um acordo, o casal Santana teve que aumentar a oferta.

Há mais de um ano, já se dizia disposto a entregar detalhes sobre apoio ilegal de Eike Batista e do Grupo J&F ao PT. Agora, foi preciso levar a Procuradoria-Geral ao coração do financiamento escuso de campanhas petistas, ao meio da sala onde se debateu a reação às descobertas da Lava-Jato e o próprio risco de prisão dos envolvidos. Também foram à intimidade da relação do ex-presidente Lula com líderes latino-americanos eleitos em campanhas sob responsabilidade do casal.

São vários os pontos de interseção entre a delação dos executivos da Odebrecht e do casal Santana. Uma colaboração corrobora a outra. A Lava-Jato passa a ter à mão informação sobre quem pediu, quem pagou, como pagou, para que pagou. São casos sem necessidade de obtenção de novas provas, provavelmente os primeiros a ter sigilo levantado pela Justiça.

Mônica Moura decidiu fazer acordo com a Lava-Jato depois dos primeiros dias na carceragem da Polícia Federal (PF), em Curitiba. O marido resistiu e deu-se a mais difícil crise do casal. Hoje eles estão juntos novamente — no acordo com a Justiça e também intimamente.

Na PGR, pesou entendimento que já tinha sido adotado pelo juiz Sérgio Moro ao conceder liberdade ao casal depois de pagarem fiança de R$ 31,5 milhões, no ano passado: João e Mônica fizeram marketing político com dinheiro sujo. O que é diferente de operacionalizar esquema para obtenção do dinheiro sujo.

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