quarta-feira, 5 de abril de 2017

2018 já chegou | Fábio Alves

- O Estado de S. Paulo

A tramitação da reforma da Previdência já está de mãos dadas com as eleições de 2018

As eleições presidenciais de 2018 ainda não estão no radar dos investidores, mas deveriam estar. O grande risco em relação aos ativos brasileiros, como as ações negociadas em bolsa e o câmbio, resume-se na seguinte questão: haverá continuidade da política econômica após 2018 ou poderemos ver uma guinada heterodoxa aos moldes da Nova Matriz Econômica adotada pelo governo Dilma Rousseff?

Indagado se os investidores já estavam preocupados com a corrida eleitoral para 2018, o gestor de um fundo estrangeiro com grande exposição ao Brasil disse que o único foco da atenção do mercado por enquanto é a aprovação da reforma da Previdência. Segundo ele, que pediu para não ser identificado, somente após a votação final da reforma é que o mercado passará a reagir mais às pesquisas de intenção de voto para 2018 e ao noticiário sobre potenciais candidatos à Presidência.

Mas a movimentação em direção a 2018 já começou, haja vista o rompimento recente do senador Renan Calheiros com o presidente Michel Temer. Há analistas que defendem que até o atual ciclo de corte agressivo de juros pelo Banco Central vai muito além da desaceleração forte da inflação: mira um aquecimento maior da economia em 2018, permitindo uma recuperação, mesmo que ainda tímida, do mercado de trabalho e, assim, turbinando os índices de popularidade e de aprovação do governo Temer.

Na mais recente pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Ibope, a avaliação negativa do governo do presidente Michel Temer (PMDB) aumentou de 46% para 55%, enquanto que a avaliação positiva caiu de 13% para 10%. Também a aprovação pessoal do presidente piorou: 73% dos entrevistados desaprovam a maneira de Temer governar. Na pesquisa anterior, eram 64%.

O analista político da consultoria Tendências, Rafael Cortez, diz que, se o governo Temer chegar às vésperas da eleição presidencial de 2018 com uma popularidade baixa, semelhante ao que Dilma tinha nos últimos meses de seu mandato, crescerão os riscos de uma mudança na elite política do País. “Essa mudança vai depender de quem serão os candidatos e de quantos candidatos representarão os partidos da base governista”, diz Cortez.

Quanto mais candidatos a base governista lançar, maiores as chances não somente de o petista Luiz Inácio Lula da Silva chegar forte em 2018, como também de uma candidatura de terceira via (Jair Bolsonaro, Marina Silva ou Ciro Gomes) conseguir avançar para um segundo turno das eleições. Para Cortez, o limite para que a base governista seja competitiva em 2018 é lançar, no máximo, dois candidatos. Mais do que isso, a eleição de um presidente que represente a continuidade da política econômica fica ameaçada.

Um renomado economista de uma grande instituição financeira, que também pediu para não ser identificado, afirma que o cenário para 2018 ainda está completamente aberto em termos de candidatura. Uma dúvida dele é se Lula conseguirá concorrer ao pleito, caso processos em curso na Operação Lava Jato levem o poder judiciário a impedir sua candidatura.

Outras dúvidas: se o PMDB lançará candidato próprio e quem encabeçará uma chapa do PSDB. Nesse sentido, ainda falta clareza se a Lava Jato poderá inviabilizar politicamente, se não legalmente, a candidatura do senador Aécio Neves ou a do governador paulista Geraldo Alckmin, ou a dos dois.

Nesse caso, aumentou significativamente o interesse do mercado pelo prefeito João Doria, que poderia herdar a candidatura tucana. Um investidor argentino, que negocia pesadamente ações e títulos de dívida de empresas brasileiras, indagou mais detalhes sobre Doria: se era de direita, se o mercado gostava dele e se já havia apresentado bons resultados à frente da Prefeitura.

O problema de os investidores deixarem a corrida para as eleições de 2018 em segundo plano é de serem surpreendidos com um leque de candidatos competitivos que representem uma mudança da atual política econômica.

A reforma da Previdência é, obviamente, essencial para aumentar a confiança de investidores, empresários e consumidores, acelerando a retomada da economia. Mas a tramitação dela no Congresso já está de mãos dadas com as eleições de 2018.

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