sexta-feira, 31 de março de 2017

Lava Jato vai processar o PP devido à corrupção na Petrobras

Estelita Hass Carazzai | Folha de S. Paulo

CURITIBA - A força-tarefa da Operação Lava Jato anunciou em entrevista coletiva nesta quinta (30) que propôs uma ação de improbidade administrativa contra o Partido Progressista, cobrando a devolução de valores supostamente desviados na Petrobras pelo partido.

É a primeira ação de improbidade administrativa contra um partido envolvido no escândalo do petrolão. Outras agremiações ainda devem ser acionadas na Justiça.

O Ministério Público Federal pede o pagamento de R$ 2,3 bilhões em multas e ressarcimento aos cofres públicos.

Também foi solicitada a perda dos cargos e a suspensão de direitos políticos dos deputados federais Nelson Meurer (PP-PR), Mário Negromonte Júnior (PP-BA), Arthur Lira (PP-AL), José Otávio Germano (PP-RS), Luiz Fernando Faria (PP-MG) e Roberto Britto (PP-BA), e dos ex-deputados Pedro Corrêa (PP-PE), Pedro Henry (PP-MT), João Pizzolatti (PP-SC) e Mário Negromonte (PP-BA), além de João Genu, que foi assessor parlamentar do deputado José Janene. O MPF ainda pediu a perda da aposentadoria especial desses congressistas.

O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, afirmou que o Ministério Público não pretende impedir o exercício da atividade político-partidária.

"Essa ação não criminaliza nem obstrui a atividade política, mas sujeita a todos, inclusive poderosos, debaixo da mesma lei", declarou.

O PP indicou o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa -que, segundo o Ministério Público, era encarregado de arrecadar propinas para o partido.

Por isso, a agremiação foi usada, segundo Dallagnol, para a prática de corrupção e desvio de recursos públicos, e deve estar sujeita à lei de improbidade.

"[Processar o partido] não é uma opção. É aquilo que a lei determina", afirmou o procurador. "A atividade partidária é um valor da nossa democracia. Mas a responsabilidade de todos debaixo da lei também é."

MESADAS
Segundo a ação, integrantes da bancada do PP na Câmara receberam propinas mensalmente, de R$ 30 mil por mês, até março de 2014. Este seria o caso dos deputados federais Otávio Germano, Luiz Fernando Faria e Roberto Britto.

Já o "mensalinho" aos líderes do partido chegava a R$ 300 mil por mês, segundo o MPF.

Os desvios, segundo a procuradoria, ocorreram em contratos da diretoria de Abastecimento da Petrobras e por meio de pagamentos da Braskem, empresa do grupo Odebrecht, que teria sido beneficiada por Paulo Roberto Costa na renegociação de um contrato de fornecimento de nafta.

No total, o partido e seus integrantes teria recebido cerca de R$ 460 milhões em vantagens indevidas, entre 2004 e 2014, por meio de mensalinhos, doações eleitorais oficiais e não-oficiais e contas no exterior.

O valor é superior aos repasses do fundo partidário ao PP no período, que foram de R$ 296 milhões.

"Isso provoca um imenso desequilíbrio nas disputas eleitorais e interfere de forma bastante nociva no sistema eleitoral brasileiro", afirmou a procuradora Isabel Groba Vieira.

O bloqueio de valores do fundo partidário, neste momento, está descartado, porque é proibido por lei. Em caso de condenação, porém, o fundo pode ser bloqueado pela Justiça.

OUTRO LADO
Em nota, o PP informou que todas as doações recebidas pelo partido foram legais e declaradas à Justiça eleitoral.

"[O partido] não compactua com condutas ilícitas e confia na Justiça para que os fatos sejam esclarecidos", diz a nota.

Os deputados citados na ação disseram não ter sido notificados oficialmente, e que irão se pronunciar somente depois de tomarem conhecimento das acusações.

Já a Braskem informou que assinou acordo de leniência com o Ministério Público e que está cooperando com as autoridades.

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