sábado, 11 de março de 2017

Entrevista / Aloysio Nunes: Venezuela ainda longe do Mercosul

‘Não acredito que as relações internacionais se deem num ringue’

Novo ministro das Relações Exteriores quer a volta da Venezuela ao Mercosul, mas não agora, e diz que é preciso

Gabriela Valente, Maria Lima e Paulo Celso Pereira | O Globo

O novo ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, disse que não vê possibilidade de a Venezuela voltar ao Mercosul ainda no governo de Nicolás Maduro.

O senhor era um parlamentar muito combativo. Terá paciência com a liturgia do Itamaraty?

Um colega de vocês, que eu gosto muito, disse que eu tenho mais vocação para pugilista e boxer do que para diplomata. Quando estou brigando politicamente, estou contra adversários políticos. Agora, no Itamaraty, estou cuidando de política de Estado. Eu não acredito que as relações internacionais se deem num ringue. Nós temos que buscar a convergência e acordos, a boa convivência. Acho que, nas relações exteriores e defesa nacional, o ideal seria ter uma convergência das correntes políticas da situação e da oposição.

O que mudará no Mercosul para que ele volte a ter protagonismo?

O objetivo é dar nova vida ao Mercosul e permitir que passe a fazer o que deveria quando foi concebido: ser uma zona de livre comércio com tarifa comum e que tenha uma dimensão comercial. Estão em discussão o novo acordo de facilitação de investimentos e comércio e, no segundo semestre, um acordo de compras governamentais com olhar muito especial para pequenas empresas.

Há interesse efetivo da União Europeia em firmar um acordo com o Mercosul. Sai quando?

Eu espero que até o final do governo. Existe uma meta ambiciosa de tentar fechar o acordo principal ainda neste ano. Mas já há coisas que você pode avançar antes do acordo em termos de concorrência. A Venezuela voltará ao Mercosul? Espero que um dia ela possa voltar. Decidimos ontem que essa suspensão não pode afetar a vida do cidadão que, como membro de um estado sócio do Mercosul, continua com a possibilidade de entrar no Brasil sem visto. A volta depende do governo Maduro. Nestas condições de hoje, acho que não dá.

Cuba não aprovou o novo embaixador. A relação está estremecida?

Fora as manifestações de natureza política que eu atribuo mais à proximidade entre o Partido Comunista cubano e o PT, as coisas estão normais. Eu acho que a questão política da parte deles não afeta as nossas relações.

Como vai ficar a questão da liberação de vistos para cidadãos americanos entrarem no Brasil?

Eles liberaram os nossos vistos? Isso aqui tem que ser relação de reciprocidade. O país que não exige visto nosso, nós não vamos exigir visto deles. O país que exige visto nosso, nós vamos exigir deles também.

A delação da Odebrecht está perto de sair. O senhor teme ser citado?

Temo. Porque chateia. Quem fez campanha política nos últimos anos no Brasil pode ser mencionado. Agora, eu tenho plena consciência que eu nunca troquei medidas administrativas dos postos que eu ocupei, nunca ninguém ousou sequer me pedir algum tipo de contrapartida em ação política de iniciativa minha. Agora mesmo tem um inquérito em que sou investigado. Foi instaurado há mais de um ano e não se conclui, apesar de tudo ter sido esclarecido. Tem que ter nervos de aço. Sabemos que muitas dessas menções não vão se transformar sequer em inquérito.

Como o senhor vê no Congresso a volta de um debate sobre anistia para financiamento eleitoral?

É um debate inútil. Porque o Ministério Público vai encontrar outras formas, enquadrando como corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha. Não se anistia o caixa 2 porque caixa 2 como tal não é crime comum.

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