sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Vice da Câmara diz que irá romper com governo após convite a Serraglio

Ranier Bragon, Daniel Carvalho, Gustavo Uribe | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O convite para que o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) assuma o Ministério da Justiça já causou o primeiro racha público na bancada do partido na Câmara.

Parlamentares dizem que o PMDB deixa de ser o "partido do presidente" para tornar-se apenas um "partido da base".

Por causa disso, o anúncio oficial do nome de Serraglio não deve mais ser feito nesta quinta-feira (23).

Vice-presidente da Casa, o também peemedebista Fábio Ramalho (MG) afirmou nesta tarde que está rompendo com o governo de Michel Temer e que sua vontade agora é impôr seguidas derrotas ao Palácio do Planalto nas votações.

"Parece que o governo tem ódio de Minas", disse Ramalho à Folha, afirmando que irá procurar colegas do partido, não só de seu Estado, para o acompanharem na rebelião.

A insatisfação da bancada do PMDB de Minas reside no fato de Temer não ter escolhido o também deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), que chegou a ser cotado, mas acabou sendo descartado após vir a público declarações que ele deu contra o poder de investigação do Ministério Público.

Fábio Ramalho afirmou que recebeu na tarde desta quinta um telefonema de Temer, que tentou lhe explicar a escolha.

Segundo o deputado, Temer prometeu até recriar um ministério para colocar um peemedebista de Minas como ministro. "Falei que a gente recusava, que estamos de ouvido aberto para as ruas e que não queremos recriação de ministério, queremos é menos ministério", disse Ramalho, em tom exaltado.

O deputado afirmou que Temer disse apenas, então, que se a vontade dele era essa, ela seria respeitada. "Minas está sendo preterida em tudo, já cansou de entrar ministro de outro Estado. Pelo tamanho da bancada, o tamanho do nosso Estado, da nossa população, a gente exige mais respeito."

A insatisfação com a escolha de Ramalho se estende a peemedebistas de outros Estados também. Sob condição de anonimato, dois deles disseram que o Ministério da Justiça não resolve o problema do partido, que demanda comandar uma pasta com acesso a recursos para obras nos redutos eleitorais dos parlamentares.

Segundo eles, Serraglio não conseguiu o apoio da bancada, que é a maior da Câmara. Dizem que o provável futuro ministro tem apenas o voto dele a oferecer ao governo.

O partido de Temer reclama ter um espaço no governo menor do que o PSDB.

Por conta do racha na bancada peemedebista, o presidente considera deixar o anúncio do novo ministro para a semana que vem. Segundo um assessor presidencial, ele terá de pacificar a bancada federal antes de anunciar um nome caso não queira enfrentar retaliações de seu próprio partido no Congresso Nacional.

Um parlamentar do PMDB diz que o governo está ficando nas mãos dos tucanos, do ministro Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência) e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

"Não existe consenso quando se fala do PMDB. Com toda certeza, [a primeira missão de Serraglio como ministro] vai ser unificar o partido. Por mais que se diga que [o partido] está reunido em torno de um nome, não é assim que funciona. O ministro Osmar terá que provar ao presidente Temer que será capaz de dar os votos do PMDB para aprovar as reformas", disse o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

O presidente Michel Temer já sabe que terá que pacificar a bancada peemedebista para não por em risco as reformas da Previdência, trabalhista e tributária.

Peemedebistas queriam, além do Ministério da Justiça, a liderança do governo, que, sob pressão de Rodrigo Maia, Temer pretende entregar ao deputado Aguinaldo Ribeiro (PB), do PP, partido que já comanda estruturas gigantes como Ministério da Saúde e Caixa Econômica.

A sensação de enfraquecimento da bancada peemedebista põe em risco também o deputado Baleia Rossi (SP) como líder do partido na Câmara. Deputados relatam um fortalecimento para tirar o parlamentar, muito próximo a Temer, da liderança da sigla. "Isso torna o terreno fértil para insatisfação", afirmou um parlamentar sob anonimato.

Nenhum comentário: