sábado, 25 de fevereiro de 2017

Sem surpresas - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

A cada dia que passa, as garras da Lava Jato ficam mais próximas do núcleo do governo Temer. O que me surpreende aqui é que ainda existam pessoas que se surpreendem com isso.

Já desde antes do impeachment de Dilma Rousseff venho alertando que aqueles que viam o afastamento da petista como uma ação para promover a ética na política quebrariam a cara. "Não há nenhum motivo para esperar que um governo encabeçado por Michel Temer e próceres do PMDB seria perceptivelmente mais ético do que a gestão petista", escrevi em abril do ano passado.

Karl Marx pode ter errado em muitas coisas, mas era um observador arguto da realidade. Ele estava correto ao sustentar que são as relações econômicas, a infraestrutura, que acabam determinando a superestrutura, categoria que inclui os desenvolvimentos políticos de uma sociedade.

O principal fator a determinar a queda de Dilma não foi, portanto, a lambança ética capitaneada pelo PT, mas o desastre econômico que resultou de sua gestão. Se, no ano passado, o país estivesse crescendo e o desemprego permanecesse controlado, não haveria crise política ou escândalo capaz de derrubá-la. Como a situação era diametralmente oposta —nove trimestres de recessão, com inflação e desemprego nas alturas—, bastaram delitos de difícil compreensão para o grande público, como as pedaladas, para apeá-la do cargo.

Voltando a Temer, seu governo é, no plano ético, tão ruim quanto o anterior, mas, na economia, ao adotar uma agenda mais ortodoxa, ele está conseguindo aos poucos arrumar a casa, algo que Dilma também tentou com Joaquim Levy e não conseguiu.

É óbvio, contudo, que o parcial sucesso econômico da gestão Temer não lhe dá um salvo-conduto. As investigações devem prosseguir e atingir quem tiverem de atingir. Apesar de eventuais instabilidades agora, será institucionalmente bom para o Brasil levar a Lava Jato até o fim.

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