quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Queda positiva - Míriam Leitão

- O Globo

As boas notícias com a inflação continuarão nos próximos meses. Em maio, a taxa em 12 meses deve estar na meta de 4,5% e em agosto pode ficar abaixo de 4%. Depois, subirá um pouco no fim do ano, mas com muita chance de terminar 2017 no centro da meta. O IPCA divulgado ontem foi o mais baixo janeiro da era do real, levou o índice em 12 meses a ficar em 5,35%, metade da taxa registrada há um ano.

O noticiário de economia está repleto de informações de quedas: nível de atividade, produção, emprego, renda e receita. Mas essa é uma queda positiva. O número surpreendeu o Banco Central, que tinha a previsão de 0,61%. O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, acha que a taxa pode ficar um pouco mais alta em fevereiro por causa do impacto do reajuste das escolas e de alguns ônibus, mas ele não acredita que vá além de 0,45%. E em março espera um índice de 0,4%.

— Isso faz o trimestre fechar com 1,4%. No ano passado, a inflação nos primeiros três meses ficou em 2,62%. Por isso, a chance de chegar a 4,5% em maio é alta. E é possível que em agosto fique abaixo de 4%, depois sobe um pouco no fim do ano — diz Luiz Roberto Cunha.

Muitos fatos colaboraram para esse resultado, porém janeiro é um mês normalmente alto por causa de alimentos e foi melhor do que o imaginado exatamente porque o clima colaborou e o grupo alimentação não teve alta forte como em outros anos. Alimento sempre tem muita oscilação e pode voltar a subir, mas há uma grande chance de ser um ano mais tranquilo com esse conjunto de preços. A inflação de serviços também tem caído e ficou em 6,18% em 12 meses. No caso dos serviços, o que puxou o grupo para baixo foi principalmente a recessão.

Segundo o Bank of America, a inflação veio menor do que o banco esperava pelo sexto mês consecutivo. Com isso, a estimativa para o IPCA no final do ano caiu de 4,7% para 4,4%, abaixo do centro da meta. O efeito de um cenário assim é que o Banco Central pode continuar cortando os juros em doses de 0,75 ponto nas próximas reuniões. Luiz Roberto Cunha acha que o BC pode fazer mais três cortes de 0,75 p.p.

O Bank of America reforçou a previsão de Selic em um dígito ainda este ano. Para o ano que vem, os juros podem ficar em 8,25%. O economista Elson Teles, do Itaú Unibanco, prevê que a taxa cairá para 4,9% já em fevereiro, no acumulado em 12 meses. A queda é generalizada por diversos grupos que compõem o índice. A alimentação no domicílio, que chegou a subir 16,79% no acumulado em 12 meses no ano passado, caiu para 6,47%.

De 13 capitais pesquisadas pelo IBGE, 12 estão com a inflação abaixo do teto da meta. Fortaleza tem o maior índice do país, com 7,45%, enquanto Curitiba tem o menor, 4,01%. A alta das tarifas públicas, puxada pelo aumento da energia elétrica, para corrigir o congelamento de preços do primeiro mandato do governo Dilma, já chegou ao fim. Esse grupo bateu em 14,95% em fevereiro do ano passado, segundo o IBGE, e agora voltou ao centro da meta de 4,5%.

No passado, quando a taxa chegava num número elevado como o que chegou, de dois dígitos, era difícil derrubá-la. Aliás, a cada subida de patamar era árduo trazê-la para o nível anterior. O país teve períodos de inflação se elevando inclusive no meio de recessão. Por isso, a capacidade de trazer a inflação de volta ao centro da meta é uma excelente notícia. Parte desse resultado foi possível por causa da recessão, sim, mas não explica tudo. Um ponto importante foi que a nova equipe econômica demonstrou que estava determinada a levar a inflação de volta ao centro da meta e isso teve resultado de melhorar a confiança na economia.

Essa queda levará a outras boas notícias. Os juros devem cair mais e mais rapidamente, o que melhora o quadro fiscal e ainda tem efeito positivo na recuperação da atividade econômica. O crescimento não será retomado a curto prazo, mas a redução da inflação dará um fôlego a mais ao PIB. Há outros nós cegos na conjuntura brasileira, mas pelo menos esse velho problema que sempre nos importunou voltou a ser domado. Quando ela sobe, é sempre mais difícil enfrentar qualquer outro desafio da economia.

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