quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Biênio do desemprego – Editorial | Folha de S. Paulo

Será necessária muita boa vontade para extrair alguma notícia positiva dos resultados exibidos pelo mercado de trabalho em 2016, recém-divulgados pelo IBGE. Quando muito, há sinais que alimentam a esperança de um arrefecimento no ritmo de piora.

A taxa de desocupação fechou o ano em 12%, correspondentes a 12,3 milhões de pessoas que buscaram vagas sem conseguir —contingente semelhante à população da cidade de São Paulo. O número de desempregados quase dobrou em apenas dois anos.

Resultado da renitente e brutal recessão econômica ainda não superada pelo país, a deterioração se dá em quantidade e qualidade. Desde o final de 2014, 2,5 milhões de postos com carteira assinada foram eliminados, cifra que não considera os serviços domésticos. Na indústria, a perda chegou a 2 milhões nos mesmos 24 meses.

Além dos cortes de pessoal nas empresas, contribuiu para a alta do desemprego a expansão do número de brasileiros —como jovens em idade escolar e donas de casa— que se viram forçados pela crise a buscar o mercado, engrossando as estatísticas do insucesso.

Pode-se encontrar algum motivo de alento nos dados quando se comparam prazos menores. Num exemplo, o Caged, cadastro que contabiliza os empregos formais, mostrou criação de 40 mil vagas em dezembro, interrompendo trajetória de queda iniciada em setembro de 2014.

Já o IBGE apurou ligeira melhora da renda no último trimestre, pela primeira vez no ano. O rendimento médio do trabalho, de R$ 2.043 mensais, superou em 0,5% o do período correspondente de 2015, considerada a inflação.

Trata-se ainda, no entanto, de observações frágeis, insuficientes para caracterizar uma nova tendência. Mesmo que a economia nacional inicie a tímida recuperação esperada pela maior parte dos analistas, permanece improvável uma retomada consistente do emprego antes do próximo ano.

Em um aspecto, ao menos, o fundo do poço parece ter sido atingido: a inflação deve voltar a níveis aceitáveis em consequência da recessão. Com a perspectiva de um IPCA mais próximo à meta de 4,5% ao ano, os juros do Banco Central deverão cair de modo mais célere, incentivando o investimento das empresas e o consumo das famílias.

Mesmo que se materialize o cenário mais otimista, o país terá amargado nesses últimos anos uma das piores recessões já medidas em toda a sua história —um preço altíssimo a pagar, sem dúvida, pela ilusão de que seria possível basear uma política de pleno emprego na expansão contínua dos gastos do governo.

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