sábado, 21 de janeiro de 2017

Líderes criticam enfoque nacionalista do discurso

• Europeus e latino-americanos demonstraram preocupação

- O Globo

BERLIM E CIDADE DO MÉXICO - O discurso nacionalista e protecionista de Donald Trump na posse ontem — reflexo da campanha do magnata — foi criticado por líderes europeus e visto com preocupação por alguns presidentes latinoamericanos. Um dos primeiros a reagir foi o mexicano Enrique Peña Nieto que parabenizou Trump pelo Twitter, mas avisou que a soberania do México e a proteção dos mexicanos é fundamental na relação entre os países vizinhos. Já o vice-chanceler da Alemanha, Sigmar Gabriel, destacou que o discurso teve “tons fortemente nacionalistas”, antes de defender que os europeus devem se unir em defesa dos seus valores.

— O que ouvimos hoje foram altos tons nacionalistas — disse Gabriel em entrevista à TV estatal ZDF, lembrando que Trump “foi extremamente sério”, o que significa que deve seguir suas promessas sobre protecionismo. — Acho que temos que nos preparar para um percurso difícil. A Europa e a Alemanha devem estar unidas para defender nossos interesses.

FOCO NOS ESTADOS UNIDOS
Em sua conta no Twitter, o mexicano Peña Nieto garantiu que vai procurar um “diálogo respeitoso” com o homem que deixou muitos de seus cidadãos furiosos ao iniciar a campanha eleitoral descrevendo os mexicanos que cruzam a fronteira como “estupradores” e “traficantes de drogas”. Em nota, o novo governo americano disse ontem que Trump continua comprometido com a construção de um muro na fronteira entre os dois países. Mas, como as medidas não foram citadas em seu discurso de posse, a Bolsa mexicana fechou com ligeira alta ontem.

“A soberania, o interesse nacional e a proteção dos mexicanos guiarão a nossa relação com o novo governo dos EUA”, escreveu o chefe de Estado mexicano no Twitter.

Da Bolívia, Evo Morales — um ferrenho crítico de Washington — expressou sua esperança de restabelecer relações com o governo americano “respeitando a soberania e dignidade de nosso povo”. Os dois países tiveram as relações afetadas em 2008, quando Morales expulsou o embaixador americano de La Paz.

— Tomara que o novo presidente acabe com as intervenções e as bases militares no mundo para garantir a paz com justiça social — alfinetou Morales, em referência a Barack Obama.
Evitando polêmicas, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse que espera trabalhar com Trump para “restaurar a prosperidade da classe média nos dois lados da fronteira”.

— O Canadá e os EUA construíram uma das relações mais próximas entre dois países no mundo — lembrou.

Alguns líderes sentiram faltam de um discurso mais abrangente. Anders Fogh Rasmussen, ex-chefe da Otan e agora conselheiro do presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, afirmou que esperava que Trump se voltasse para questões internacionais durante a cerimônia:

— Como presidente dos Estados Unidos, ele também deveria perceber que se tornou o líder do mundo livre. Por isso, pessoas de todo o mundo estavam assistindo seu discurso de posse. Esperava que ele focasse a liderança global americana. Mas, em vez disso, o que tivemos foi um pronunciamento antiestablishment, muito orientado domesticamente.

Já em Israel e na Rússia, o clima era de comemoração. Um dia antes da posse, políticos, analistas e ativistas russos comemoravam em um prédio de Moscou com champanhe. Em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu — que nos últimos anos teve desentendimentos com o ex-presidente Barack Obama — afirmou que espera que a aliança de seu país com os EUA seja “mais forte do que nunca”.

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, por sua vez, preferiu se esquivar das controvérsias — Trump insinuou que pretende transferir a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém. Na TV, Abbas felicitou o presidente e disse que estava “ansioso para trabalhar com ele em prol da paz, segurança e estabilidade”.

EXTREMISTAS COMEMORAM
A ala mais conservadora dos políticos europeus também celebrou a mudança de governo. No Twitter, Nigel Farage, líder da legenda de extrema-direita UKIP — e articulador da saída do Reino Unido da União Europeia — zombou de Obama em uma foto em que se despedia do americano. E elogiou o discurso de Trump:

“A revolução política genuína teve lugar nos Estados Unidos”, escreveu.

Já o presidente de Taiwan, Tsai Ingwen, parabenizou Trump, acendendo a polêmica contra a China — que não reconhece o país.

“A democracia é o que une Taiwan e os Estados Unidos, esperamos avançar na nossa amizade e parceria”.

Até o Papa Francisco se manifestou. Após o discurso de Trump, ele felicitou o novo presidente dos Estados Unidos e disse que rezará para que Deus lhe dê “sabedoria e força”. Ele pediu que Trump não se esqueça dos “pobres, marginalizados e necessitados”.

“Rezo para que suas decisões sejam guiadas pelos ricos valores espirituais e éticos que formaram a história do povo americano”, escreveu o Pontífice em mensagem divulgada pelo Vaticano.

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