sábado, 14 de janeiro de 2017

BC e bancos na mira - Adriana Fernandes

- O Estado de S. Paulo

• Há pressão para que grandes bancos saiam da retranca e reduzam as taxas de juros

A redução de 0,75 ponto porcentual da taxa Selic provocou no governo um misto de alívio com a aceleração do processo de flexibilização da política de juros pelo Banco Central e otimismo com a possibilidade de uma antecipação da retomada do crescimento.

Antes prevista para o último trimestre deste ano, a volta do crescimento poderá agora ocorrer, na aposta de integrantes do governo, já no início do segundo semestre com a ajuda de novas medidas que estão no forno para serem anunciadas pelo presidente Michel Temer.

Se publicamente ninguém ousava bater de frente com a equipe do presidente do BC, Ilan Goldfajn, nos gabinetes de Brasília a impaciência era enorme com a demora do Copom em acelerar a queda dos juros num cenário de depressão econômica.

É muito provável que essa blindagem política do BC, conduzida pelo Palácio do Planalto, começasse a desintegrar rapidamente se o Copom não tivesse surpreendido o mercado financeiro e ampliado a dosagem do ritmo de queda dos juros na reunião desta semana. Ainda mais com a volta dos trabalhos no Congresso.

A percepção crescente era a de que o BC tinha errado – e muito – a mão no fim do ano passado ao não acelerar a redução da Selic, mesmo depois dos sinais de piora da atividade econômica e preocupação com o custo fiscal da manutenção de juros altos por um período tão elevado.

A comunicação do desconforto já havia chegado à instituição, que de fato sentiu o tranco. Tanto foi assim que, no fim do ano passado, Ilan saiu do casulo habitual, no qual costumam se refugiar os integrantes do Copom em momentos de maior pressão, para rebater a avaliação de que tinha cometido barbeiragem ao dar apenas duas tesouradas de 0,25 ponto porcentual na Selic em 2016.

Ilan justificou na época que não houve erro porque o Copom havia conseguido domar as expectativas futuras de inflação na direção da meta de 4,5%. Menos de três semanas dessa defesa enfática, ele conduziu o movimento de saída do conservadorismo na calibragem da política monetária, levando o próprio presidente Temer a se animar e prever juros de um dígito.

Se depois da queda da Selic, a política do BC foi fortemente louvada, o mesmo não dá para dizer em relação à agenda de medidas que divulgou no dia 20 de dezembro para aumentar a eficiência, modernização e redução do custo do crédito.

Considerada tímida demais e sem medidas concretas que levem ao aumento da concorrência entre os bancos e diminuição da excessiva concentração bancária no País, a agenda tem de mudar na avaliação de auxiliares do presidente.

Por trás desse descontentamento, está a pressão para que os grandes bancos saiam da retranca, reduzindo os juros para empresas e famílias e contribuindo com uma participação mais efetiva no processo de retomada da economia.

Essa pressão começou com os bancos públicos e continua com o movimento deflagrado internamente para estimular a vinda de bancos estrangeiros ao País. É nesse cenário que integrantes do governo já discutem como é possível eliminar barreiras legais para aumentar a participação dessas instituições no sistema financeiro nacional.

O BC já saiu ontem da toca ao anunciar que decidiu padronizar as orientações para o agendamento de reuniões e audiências com o presidente e os diretores da instituição. É uma resposta não só às críticas de que há favorecimento na marcação dessas reuniões aos analistas de grandes bancos, como também a decisão foi feita sob medida para aplacar rumores no mercado de vazamento sobre a avaliação de integrantes do Copom às vésperas da reunião da semana passada.

Conservadorismo. O conservadorismo da política monetária do BC ganhou holofotes esta semana depois que um dos pais do Plano Real, o economista André Lara Rezende, publicou o artigo “Juros e Conservadorismo intelectual” no qual levanta a hipótese de que a teoria econômica que até hoje balizou a política monetária dos bancos centrais pode estar equivocada. Ele alerta que o juro alto pode não só agravar o desequilíbrio fiscal, como a longo prazo mantém a inflação elevada.

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