domingo, 23 de outubro de 2016

Opinião do dia – Fernando Gabeira

É tarde para choradeira. Uma das duas forças sairá vencedora. Só resta estar por aqui, lembrando que o muro de Berlim já caiu e que mistura de religião com política ficou no passado, embora se manifeste hoje no Exército Islâmico e em outros grupos terroristas. Lembrar que o populismo agoniza no continente. São tantas as promessas eleitorais, tão grave a crise econômica, que acredito que a primeira tarefa será ajustar discurso e realidade.

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Fernando Gabeira é jornalista. ‘Entre a cruz e a espada’, O Globo, 23/10/2016

Itaquerão foi presente para Lula, diz Emílio Odebrecht

Arena do Corinthians foi presente para Lula, diz patriarca da Odebrecht

Mario Cesar Carvalho – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A Lava Jato vai chegar ao Corinthians. Emílio Odebrecht, presidente do conselho de administração do grupo que leva o seu sobrenome, afirmou em acordo de delação, em fase de negociação, que o estádio construído pela empreiteira foi uma espécie de presente ao ex-presidente Lula, torcedor do time.

O agrado, na versão de Emílio, foi uma retribuição à suposta ajuda de Lula ao grupo nos oito anos em que o petista comandou o país, de 2003 a 2010.

Sob governos do PT, de 2003 a 2015, o faturamento do grupo Odebrecht multiplicou-se por sete, de R$ 17,3 bilhões para R$ 132 bilhões, em valores nominais (a inflação do período foi de 102%).

Emílio é pai de Marcelo Odebrecht, preso desde junho de 2015 e condenado a 19 anos de prisão. Por pressão do patriarca, ele e cerca de 80 executivos do grupo decidiram buscar um acordo de delação premiada.

2.442 prefeitos vão assumir municípios no vermelho

• Número equivale a 77,4% das 3.155 cidades que informaram o Tesouro Nacional sobre suas finanças

Pelo menos 2.442 municípios gastam mais do que arrecadam, ou seja, são deficitários, segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios. Esse número representa 77,4% das 3.155 cidades que prestaram informações ao Tesouro Nacional. A declaração não é obrigatória, mas representa o retrato mais amplo disponível sobre as finanças das prefeituras – 5.570, no total. O quadro deve piorar até o fim do ano, com a contínua queda da arrecadação, deixando a bomba fiscal para os novos prefeitos. Ao contrário dos governadores, que têm alardeado a crise em seus cofres para tentar obter dinheiro do governo federal, as prefeituras empurraram os problemas para debaixo do tapete na campanha eleitoral. Nos últimos dias, às vésperas do fim do prazo de emendas ao Orçamento da União, os futuros prefeitos fizeram uma romaria no Congresso em busca de dinheiro.

‘Bomba fiscal’ aguarda novas administrações

• Situação se agravou neste ano porque os municípios contavam com repasse de R$ 99 bi do FPM, mas valor deve ficar em R$ 84 bi

Adriana Fernandes e Idiana Tomazelli - O Estado de S. Paulo

/ BRASÍLIA - Passado o segundo turno das eleições, a situação financeira das prefeituras virá à tona. De 3.155 municípios que informaram o quadro de suas finanças ao Tesouro Nacional, 2.442, ou 77,4%, já estão com as contas no vermelho, segundo levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM). E a situação vai piorar até o fim do ano, com a contínua queda da arrecadação, deixando a bomba fiscal para a próxima administração.

Peregrinação em busca de recursos

A.F. e Ricardo Brito O Estado de S. Paulo

• Prefeitos eleitos fizeram fila nos corredoresdo Congresso para tentar emplacar emendas

Alheios à prisão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que paralisou os trabalhos da Casa na quarta-feira, filas se formavam nas entradas e nos corredores do Congresso. No saguão do prédio onde fica a maioria dos gabinetes da Câmara, o deputado Tiririca (PR-SP) atendia prontamente aos prefeitos que queriam tirar fotos ao seu lado. No seu gabinete, outra fila de prefeitos o aguardava.

Todos ali eram “caçadores” de emendas. “Atendi hoje mais de cem prefeitos”, disse Tiririca, ao revelar que a sua estratégia era dar um pouco de suas emendas para cada um dos visitantes. Mas não tem para todos: cada deputado ou senador pode indicar até 25 emendas parlamentares individuais no valor total de R$ 15 milhões.

Independentemente de partido e às vésperas dos último dia para apresentação de emendas ao Orçamento de 2017, os prefeitos eleitos que assumem o cargo em 1.º de janeiro faziam uma verdadeira peregrinação nos gabinetes. Boa parte deles em busca de recursos para a área de saúde.

PEC do Teto enfrenta novo teste nesta semana

• Projeto tem nova votação prevista para terça-feira, mas ainda suscita dúvidas até mesmo entre seus apoiadores; governo aposta na aprovação

Alexa Salomão – O Estado de S. Paulo

Apesar de tratar de uma legislação recheada de sutilezas jurídicas e muito economês, a discussão sobre a Proposta de Emenda Constitucional sobre o limite de gastos para governo federal, a chamada PEC do Teto de Gastos, tem de tudo, menos tédio. Nas redes sociais, a proposta é demonizada. Nos embates no Congresso, virou instrumento de polarização do ainda tenso cenário de divergências partidárias. Para muitos especialistas, deve ser aprovada como está, mas alguns põem em dúvida sua utilidade.

O Estado ouviu economistas que passaram as últimas semanas destrinchando a mecânica da PEC e contrapôs as dúvidas aos argumentos do governo, que joga todas as suas fichas na aprovação do projeto.

Governo e centrais sindicais discordam sobre dados da Previdência

Mariana Carneiro – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - As discordâncias sobre a reforma da Previdência vão além do provável aumento da idade para aposentadoria, como o governo quer estabelecer, e opões críticos e defensores das mudanças até na leitura dos dados do setor.

As centrais sindicais defendem a ideia de que a Previdência não é deficitária, o que reduziria a urgência da reforma. Do outro lado, o governo e economistas consideram a leitura equivocada e apresentam, na defesa por mudanças, saldos negativos crescentes.

O número mais difundido sobre a insolvência do sistema previdenciário é um deficit no Regime Geral de Previdência Social (que inclui trabalhadores da iniciativa privada urbana e rural) que, segundo dados oficiais, superou R$ 85 bilhões em 2015.

'A PEC do Teto vai forçar o País a fazer reformas', diz pesquisador

• Para Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, as punições previstas em caso de estouro dos gastos vão obrigar o País a discutir como usar seu dinheiro

Alexa Salomão - O Estado de São Paulo

Para o pesquisador e doutor em Economia, Samuel Pessôa, é a falta de clareza sobre a gravidade da crise que angaria opositores à Proposta de Emenda Constitucional que cria limites para os gastos da União – a PEC do teto dos gastos.

“As pessoas não sabem, mas os números que temos sugerem que o quinquênio que vai de 2014 a 2018 será o pior em 120 anos”, diz. Segundo o pesquisador, a única alternativa à PEC seria o País aceitar o fato de que precisa fazer reformas, o que não vai ocorrer.

Assim, o teto de gastos é o remédio necessário e “engenhoso”: se for cumprido, será ótimo; se não for, também. “Se não for cumprida (a PEC), gera um monte de problemas. A ideia é que esses problemas vão construir na sociedade a defesa das reformas. Essa é a mecânica”, diz ele.

A seguir, os principais trechos da entrevista que concedeu ao Estado:

PT pode apoiar nome do PMDB para presidir o Senado

Marina Dias, Daniel Carvalho – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Com aval do Planalto para substituir Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) tem buscado todas as forças da Casa para garantir unanimidade em torno de sua candidatura, negociando, inclusive, cargos para o PT na Mesa Diretora.

Segundo a Folha apurou, senadores petistas procuraram Eunício para saber se ele estaria disposto a adotar, na eleição de fevereiro, o critério da proporcionalidade para a distribuição de postos no comando do Senado. Em troca, receberia o apoio de pelo menos parte da bancada do principal partido de oposição ao governo de Michel Temer.

Para se eleger presidente da Casa, o senador precisa do voto de 41 dos 80 colegas. O PMDB de Eunício tem 18 parlamentares na Casa. O PT, partido da ex-presidente Dilma Rousseff, conta com 10.

Alckmin nacionaliza agenda e articula ‘bancada’

• Governador de São Paulo atua para ganhar espaço em postos-chave do PSDB com o objetivo de fortalecer seu nome como candidato do partido em 2018

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

Considerado o maior vitorioso do PSDB nas eleições municipais, o governador Geraldo Alckmin atua agora para expandir sua influência para além de São Paulo e ganhar espaço na bancada do partido no Congresso, hoje dominada por aliados do ministro das Relações Exteriores, José Serra, e do senador Aécio Neves (PSDB-MG).

A movimentação, que visa a disputa ao Palácio do Planalto em 2018, tem como objetivo reforçar a “bancada alckmista” na Câmara para os debates sobre as escolhas de postos chaves do parlamento e do partido, que acontecem entre o fim de 2016 e os primeiros meses de 2017. Além de Alckmin, Serra e Aécio aparecem como nomes tucanos cotados para a sucessão de Michel Temer.

Aécio interrompe giro pelo País para tentar evitar derrota em BH

• Tucanos avaliam que um resultado negativo de João Leite forçaria retorno de senador a Minas em 2018

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

O senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB e um dos nomes cotados para disputar a Presidência em 2018, deve concentrar sua agenda de compromissos em Belo Horizonte na reta final do segundo turno para tentar evitar a derrota de seu aliado, João Leite (PSDB), na disputa pela prefeitura da cidade.

Após ser o mais votado no primeiro turno, o candidato tucano aparece com 35% das intenções de voto, em desvantagem numérica em relação a Alexandre Kalil (PHS), que tem 41%, segundo pesquisa Ibope divulgada na quinta-feira. Com a margem de erro de três pontos porcentuais, o resultado indica empate técnico.

PMDB mergulha em crise e pode perder Paes

• Partido, que controla a prefeitura do Rio e o governo do estado, vê avanço do desgaste de principais líderes

Fernanda Krakovics, Gustavo Schmitt - O Globo

Primeiro, vieram a crise e a penúria do estado. Depois, a derrota na eleição para a prefeitura. Agora, o PMDB do Rio enfrenta o desgaste de acusações de corrupção contra lideranças do partido, feitas em delações premiadas ou em negociações com o Ministério Público Federal para a obtenção do benefício. E ainda vê no horizonte a possibilidade de perder um de seus principais quadros no estado.

A apreensão aumentou após a prisão de Eduardo Cunha, na última quarta-feira. E não é só. A negociação do acordo de delação de Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, que tem como alvo o ex-governador Sérgio Cabral, também amedronta.

FORTALECIMENTO DO ESTADO
Cacique mais poderoso do PMDB estadual, o presidente da Alerj, Jorge Picciani, é outro que não passou imune pelas investigações da Lava-Jato. O empresário Ricardo Pernambuco Júnior, da Carioca Engenharia, disse em delação premiada que comprou vacas superfaturadas da Agrobilara, empresa da família Picciani. O presidente da Alerj nega irregularidades. Moreira Franco, por sua vez, viu-se envolvido na delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht.

Crivella obtém apoio de mais de metade da Câmara

• Levantamento do GLOBO mostra que pelo menos 30 dos 51 vereadores do Rio aderiram a candidato do PRB

Ruben Berta - O Globo

Terminado o primeiro turno das eleições municipais, o quadro que se avizinhava na Câmara do Rio era de um futuro prefeito com uma perspectiva bem diferente da de Eduardo Paes, que governou com uma margem folgada para aprovar seus projetos na Casa. Tanto os partidos da coligação de Marcelo Freixo (PSOL), como os de Marcelo Crivella (PRB) ficaram longe de eleger uma quantidade de representantes suficiente para uma construir uma base de governo. Passadas três semanas, porém, houve uma verdadeira debandada no Legislativo na direção do candidato do PRB, que, se for eleito, pode assumir o cargo com uma maioria semelhante à de seu antecessor. Um levantamento feito pelo GLOBO mostra que, agora, ao menos 30 dos 51 vereadores eleitos já declararam publicamente apoio ao senador.

— Ele (Freixo) me acusa de fazer alianças, mas quem governa sem os vereadores? A maior virtude de um político é a capacidade de entendimento, de ouvir a todos. Eles acham que a política é derrotar todos, eu acho que a política é unir todos — afirmou o senador num encontro na Associação Comercial, na semana passada.

No PMDB, sete de dez eleitos já rumaram para o senador

• Onda começou com Rosa Fernandes e chegou a Chiquinho Brazão

Rubens Berta - O Globo

Boa parte do apoio já consolidado por Marcelo Crivella vem exatamente de vereadores do PMDB, partido ao qual ele fez duras críticas no primeiro turno. Pelo menos sete dos dez eleitos para a Câmara demonstraram publicamente estar com o candidato do PRB. A onda começou com Rosa Fernandes, a mais votada da legenda, passou pelo presidente da Casa, Jorge Felippe, e chegou até Chiquinho Brazão, que declarou um apreço ao senador que parece até maior do que tinha por Eduardo Paes, seu colega de sigla.

“Considero que Marcelo Crivella está muito bem preparado para assumir a prefeitura do Rio. Eduardo Paes fez um bom governo, mas a nível de obras. Entretanto, a obra sozinha, ela é morta. A população precisa ser assistida como um todo”, disse Brazão em sua página no Facebook.

Nos bastidores da Câmara, o que se comenta é que a debandada para Crivella foi um movimento natural de vereadores acostumados a ser governo para poderem se vangloriar de benefícios para a sua região. Também há a perspectiva de cargos regionais ou secretarias, apesar de o candidato ressaltar que todas as suas alianças são “republicanas”. Com seis cadeiras de seu partido, Freixo não tem seguido o mesmo caminho de diálogo.

— O que está acontecendo agora é um jogo de cena da velha política, de movimentos de apoio de olho em futuras trocas por serviços, obras ou cargos nas regiões de atuação. Seja Freixo eleito ou não, queremos a Câmara como um lugar de debate de ideias — comenta Tarcísio Motta, vereador eleito do PSOL.

Economista liberal vira conselheira do socialista Freixo

• Ex-secretária de Eduardo Paes, Eduarda La Rocque foi convencida pelos filhos de 22 e 16 anos a ajudar candidato do PSOL no Rio

Clarissa Thomé - O Estado de S. Paulo

RIO - Economista de linha ortodoxa formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), um dos centros do pensamento liberal no Brasil, a ex-secretária municipal de Fazenda do Rio Eduarda La Rocque, de 47 anos, virou uma das principais conselheiras de programa de governo do candidato do PSOL à prefeitura do Rio, Marcelo Freixo. Ex-integrante da equipe de Eduardo Paes (PMDB) em seu primeiro mandato, ela integra a equipe de economistas que adapta o projeto do PSOL à lei orçamentária.

A expectativa é de que a participação de Eduarda na elaboração do programa de governo de Freixo tenha o mesmo efeito da nomeação de Henrique Meirelles para o Banco Central no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – a meta é acalmar o mercado. “Espero que sim. Estou aqui para isso. Para fazer um governo responsável e de inclusão social”, afirma Eduarda, em entrevista ao Estado.

Entre a cruz e a espada - Fernando Gabeira

- O Globo

• Entre dois obscurantismos: o religioso e o político

Pensei em escrever sobre a prisão de Eduardo Cunha. Mas já falei dela e a considerava uma consequência da perda de seu mandato. Era tão amadurecido na minha cabeça que ao ser informado de que Cunha foi preso, corri o risco de perguntar: de novo?

O Rio é uma cidade surpreendente. Na Olimpíada, lançou a mensagem universal de diversidade e tolerância. Nas urnas levou dois candidatos ao segundo turno cujas campanhas são sacudidas pelos fantasmas do obscurantismo político e religioso. Esses fantasmas reaparecem na forma de um livro de Crivella e uma declaração de uma corrente do PSOL afirmando que Shimon Peres é um genocida que ganhou o Prêmio Nobel da Paz.

Ambos, Crivella e PSOL, navegam num contexto em que esses fantasmas já surgiram. Um pastor evangélico no passado chutou a imagem de uma santa católica. Um dirigente do PSOL, também no passado, queimou uma bandeira de Israel em praça pública. Outro dia, estava lendo uma história da expressão tolerância, de Wendy Brown, e ele aponta que a gênese histórica da tolerância não dependeu apenas do liberalismo, mas também do fim de sangrentas guerras pela separação entre Igreja e Estado, cavando com isso um espaço maior para o indivíduo.

Ao considerar Temer ilegítimo, meu estimado Suplicy pisou na bola – Ferreira Gullar

- Folha de S. Paulo

Sempre tive simpatia por Eduardo Suplicy, muito embora ele pertença ao Partido dos Trabalhadores. Mas também tive simpatia por esse partido. Muitos anos atrás, melhor dizendo, quando ele foi fundado, em 1980.

Naquela época, eu militava no Partido Comunista Brasileiro (PCB), que não viu com bons olhos a criação do PT. Menos pelo partido do que por ter, como figura principal, Luiz Inácio Lula da Silva. Os dirigentes do PCB não confiavam nele por saber de sua atuação à frente do sindicato dos metalúrgicos do ABC.

Mas eu argumentava: se não conseguimos mobilizar a classe operária para a luta política, deixemos pelo menos que alguém o faça. Mais ou menos assim pensavam também Mário Pedrosa, Antonio Cândido, Sérgio Buarque de Holanda, entre outros intelectuais de esquerda.

Governar será o próximo teste - Rolf Kuntz

- O Estado de S. Paulo

• Orçamento e PEC 241 são a receita do bolo. Falta ver se o governo saberá cozinhar

Governar será o próximo desafio para o presidente Michel Temer e seus ministros, se o Congresso trabalhar direitinho, sem muitos truques, e aprovar para o próximo ano um Orçamento parecido com aquele proposto pelo Executivo, com despesa corrigida apenas pela inflação e déficit primário, isto é, sem juros, de até R$ 139 bilhões. A primeira condição para a mudança fiscal, a aprovação do limite para o aumento de gastos, vem sendo cumprida. A Proposta de Emenda Constitucional 241, a PEC do Teto, passou pela primeira votação na Câmara. A segunda deve ocorrer em poucos dias. Se der tudo certo, o assunto estará resolvido no Senado antes do fim do ano. É um cenário positivo, mas ainda é preciso algum otimismo para imaginar uma tramitação normal da proposta de lei orçamentária, sem mágicas e sem distorções. Será complicado, já se sabe, acomodar as despesas no limite previsto. Cortes serão necessários para compensar um espaço maior para saúde. O truque de aumentar a previsão de receita, usado habitualmente pelos parlamentares há muitos anos, está fora da pauta. Nem teria sentido, porque a restrição, agora, está no lado da despesa.

Vamos fazer de conta que está tudo bem? - Marcos Lisboa

- Folha de S. Paulo

A Secretaria do Tesouro Nacional divulgou, nesta semana, um relatório que revela a gravidade da crise fiscal nos Estados.

As despesas com pessoal, ativos e inativos, correspondem a mais de 50% da receita corrente líquida em todos os Estados e chegam a 78% no caso de Minas Gerais.

A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece que essas despesas não podem superar 60% da receita. Segundo o trabalho do Tesouro, porém, oito Estados estão acima do limite e a maioria está acima de 55%.

A crise fiscal não deve surpreender. Nos últimos anos, os gastos estaduais cresceram significativamente.

Além dos erros do PT - Celso Ming

- O Estado de S. Paulo

• Algum reconhecimento dos equívocos até que existe, mas não apontam quais foram

Nas últimas semanas pipocam as advertências de dentro do próprio PT de que é preciso refazer o chão e começar de novo.

Para que tenham um mínimo de consequência, essas coisas têm de começar com o reconhecimento dos erros e isso é complicado, porque depende de diagnósticos corretos e de concepção adequada das políticas, a que o PT não está acostumado ou não está disposto a fazer.

Algum reconhecimento dos equívocos até que existe. Mas é iniciativa inconsistente de políticos e dirigentes que admitem – vá lá – que “alguns erros foram mesmo cometidos”, sem, no entanto, dizerem quais foram. Ou então, esse reconhecimento meia-boca vem acompanhado de observações vazias, de que errar é humano, quem não erra que atire a primeira pedra, etc.

Disputa de poder - Merval Pereira

- O Globo

O episódio da prisão de membros da Polícia Legislativa do Senado acusados de estarem agindo para obstruir as investigações sobre senadores envolvidos na Lava-Jato é a explicitação de uma disputa entre o Ministério Público, a Polícia Federal e o Poder Legislativo, empenhado em aprovar uma legislação que limite as investigações.

Esses limites, segundo os parlamentares, são os da lei, que consideram estar sendo ultrapassada em muitos casos. Já o Ministério Público e o próprio juiz Sérgio Moro acham que os políticos querem colocar obstáculos ao combate à corrupção.

É provável que o presidente do Senado, Renan Calheiros, que responde a 9 processos no Supremo, a maioria ligada à Lava-Jato, faça reclamação ao STF pelo que teria sido invasão do Senado pela Polícia Federal.

Gato e rato - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

A ação da Polícia Federal contra a Polícia Legislativa não apenas evolui para um mal-estar entre Executivo e Legislativo como assume ares de literatura barata ou filme de espionagem bom de público e péssimo de crítica. Rocambolesca, a história tem o mérito de expor à opinião pública um aparato caro, inchado e pouco conhecido, mas deixa muitas dúvidas no ar. Num momento como este, dúvidas só aumentam a boataria e o nível de tensão.

A Polícia Federal não agiu no Senado por sua conta e risco, numa guerrinha de vaidades, mas sim por uma ordem judicial para apurar delações de “contraespionagem”. Quer dizer que a Polícia Federal espiona Suas Excelências e a Polícia Legislativa corre atrás para desarmar a espionagem? De filme policial, desanda para pastelão.

A democracia relativa - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• O PT foi apeado do poder porque não respeitou as regras do Estado de direito democrático. A responsabilidade fiscal faz parte dessas regras

Na época do regime militar, o projeto de institucionalização do autoritarismo no Brasil era uma espécie de “mexicanização” do país, na qual o “dedazo” do Partido Revolucionário Institucional (PRI) seria substituído por um presidente civil, a ser ungido no Congresso pela antiga Arena, depois de indicado pelos militares. Dizia-se que o Brasil tinha uma “democracia relativa” e que a abertura política do governo do general Ernesto Geisel poderia resultar na passagem do poder para um presidente civil. O grande artífice desse projeto era o político piauiense Petrônio Portela, presidente do Senado. A estratégia começou a fazer água com o resultado das eleições de 1974, quando o MDB, o único partido de oposição, teve uma vitória espetacular nas urnas. Com mão de ferro, Geisel indicou outro general como sucessor: João Batista Figueiredo.

Um fantasma na ópera - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

• Força demolidora de Cunha é uma suposição que contradiz o resultado da cassação

Eduardo Cunha não foi o primeiro nem será o último político de destaque a ser preso pela operação Lava Jato. Sequer pode ser apontado como aquele que maior poder e/ou volume de informações reuniu na República. As presenças de José Dirceu e Antônio Palocci em Curitiba - chefões da era em que o PT mandava (e principalmente desmandava) no País - dão por si tal testemunho.

Pode ser que ele venha a fazer uma delação devastadora que comprometa do baronato ao cardinalato da política? Pode ser que haja vida em Marte. No terreno das possibilidades criam-se, entre outras coisas, fantasmas. Tudo é possível embora nem tudo seja provável. Para dirimir quaisquer dúvidas, o melhor método é o exame das condições objetivas.

Lula e Trump, dupla improvável - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

O que Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump têm em comum? Além de serem ambos homens brancos, eles são autênticos representantes do que a imprensa já chama de era pós-verdade que não hesitam em colocar seus projetos pessoais acima das instituições.

Acossado pela Justiça e sem conseguir explicar seu relacionamento com empreiteiras, Lula elabora uma sofisticada narrativa, com toques de surrealismo, segundo a qual foi montado um enorme complô conservador para bani-lo da política e eliminar um projeto de governo popular.

Os tempos do STF – Editorial / O Estado de S. Paulo

Diante do que se sabe a respeito do personagem, a prisão preventiva de Eduardo Cunha tem um claro significado moralizador. A condescendência com o crime causa deletérios efeitos, e a ordem de prisão expedida pelo juiz Sergio Moro contra o ex-presidente da Câmara dos Deputados é um poderoso símbolo do combate à impunidade.

A prisão revela também outra faceta, não menos importante, da vida institucional brasileira. Ela evidencia, mais uma vez, a disparidade que existe entre a primeira e a última instância do Poder Judiciário a respeito do significado do tempo. O pedido de prisão foi formulado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no início de junho, quando a ação ainda estava no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a relatoria do ministro Teori Zavascki. Na ocasião, Eduardo Cunha, ainda no exercício do mandato de deputado federal, tinha foro privilegiado. Pois bem, o pedido da PGR ficou por quatro meses sem qualquer resposta da parte de Zavascki. Uma vez cassado o mandato de Cunha, a ação foi remetida à 13.ª Vara Federal de Curitiba. O juiz Sergio Moro precisou de apenas uma semana para analisar o processo e expedir um fundamentado mandado de prisão.

Corporações tentam demonizar o teto dos gastos – Editoria/ O Globo

• Grupos organizados que vivem do dinheiro público rejeitam qualquer sistema de avaliação da qualidade das despesas e se opõem a que governos revejam prioridades

Seja ou não a medida econômica mais importante desde a instituição do Plano Real, em 1994, a PEC 241, proposta de emenda à Constituição que estabelece um teto ao crescimento dos gastos públicos, ao menos deflagrou debates e atraiu um certo tipo de crítica de grupos organizados que ajudam a entender como o Orçamento tem sido manipulado por pressões de corporações. É uma PEC também pedagógica.

Grupos sindicalizados ou não, com representantes no Congresso, atuam para retalhar o Orçamento, sempre em nome da grande massa da população, dos mais pobres. Uma deslavada balela. Trabalham para interesses próprios — servidores públicos em geral, em especial funcionários da Justiça, do MP, da Saúde, policiais, militares e assim por diante.

Mais pressa – Editorial / Folha de S. Paulo

A recuperação do crescimento econômico perdido desde 2014 depende muito de um plano de aumento de investimentos incentivados pelo setor público.

A aceleração das obras em infraestrutura, porém, não poderá contar com recursos do governo federal. Na melhor das hipóteses, o montante reservado para investimento será igual ao deste ano.

É necessário, pois, apressar o programa de concessões de obras de infraestrutura e de privatizações em geral. Dado o cronograma de leilões, apenas com muito otimismo algumas das obras em aeroportos, rodovias e ferrovias começarão antes do final de 2017 -e mesmo esse calendário corre risco.

O Sobrevivente - Carlos Drummond de Andrade

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

Bruna Caram - Vou Pra Rua