sexta-feira, 15 de julho de 2016

Opinião do dia – Roberto Freire

A vitória, hoje, é do Brasil. Há vários vitoriosos, e nós nos integramos nisso. O PPS, junto com o PSDB, o PSB e o DEM, que apresentaram a candidatura de Rodrigo Maia. E ele, com sua capacidade de diálogo, viu sua candidatura crescer e se viabilizou.

O outro vitorioso é o governo Temer, pois os dois candidatos que disputaram o segundo turno [Maia e Rogério Rosso, do PSD] apoiam o governo de transição. E, com isso, é uma vitória do Brasil, pois a figura do presidente da Câmara restaura o respeito à Casa.

Não será nada fácil, ainda existem problemas, mas algo foi feito. Agora vamos ter, sem nenhuma dúvida, uma pauta de votação no sentido de ajustes e reformas que precisam ser feitas.
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Roberto Freire é deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS, em entrevista concedida ao programa “Portugal Dentro de Nós”, da Rádio Trianon (AM 740 KHz), S. Paulo, 14/7/2016

Terror mata 80 na Riviera Francesa

• Caminhão atingiu multidão que celebrava Dia da Bastilha

Veículo atropelou pessoas por quase dois quilômetros em Nice; havia explosivos e armas a bordo, e motorista foi morto

Oito meses após o maior ataque terrorista na França, em Paris, o país voltou a sofrer, ontem, um atentado de grandes proporções quando um caminhão em alta velocidade atingiu a multidão que comemorava a festa nacional em Nice, na Riviera Francesa. Pelo menos 80 pessoas morreram, entre elas sete crianças, e cerca de cem ficaram feridas quando esperavam o show de queima de fogos. O veículo deixou um rastro de morte de quase dois quilômetros na mais popular avenida à beira-mar da cidade, e o motorista foi morto em troca de tiros com a polícia. Testemunhas disseram que ele, francês descendente de tunisianos, também atirou na multidão. Havia explosivos, armas pesadas e granadas dentro do veículo. O presidente François Hollande, que estava em Avignon, voltou a Paris e foi para o centro de crises. Mais cedo, ele tinha anunciado para o dia 26 a suspensão do estado de emergência que vigora em todo o país desde os ataques que deixaram 130 mortos em Paris, em novembro passado. Nenhum grupo reivindicou ainda a autoria do ataque.

Terror na festa da liberdade

• Caminhão jogado contra a multidão em Nice mata 80 na celebração do Dia da Bastilha

- O Globo

-NICE- No mesmo dia em que anunciou que iria suspender o estado de emergência no país, após os atentados de Paris em 13 de novembro do ano passado, que deixaram 130 mortos, o presidente da França, François Hollande, viu-se diante de mais um letal ataque contra o país. Desta vez em Nice, na Riviera Francesa, resultando em pelo menos 80 mortos — incluindo sete crianças — e até cem feridos. Todas as vítimas foram atropeladas por um caminhão que avançou contra a multidão que celebrava o Dia da Bastilha — a festa nacional, que marca o início da Revolução Francesa, em 1789. Contando com o atentado contra o semanário satírico “Charlie Hebdo” — 12 mortes — e os ataques subsequentes que mataram uma policial, na rua, e quatro clientes num supermercado de produtos kosher, em Paris, a França se depara com a média de um atentado a cada seis meses, que deixaram pelo menos 227 mortos e quase 500 feridos.

Hollande, que previa levantar o estado de emergência no próximo dia 26, estava em Avignon, também no Sudeste francês, retornou imediatamente a Paris para chefiar a célula de crise montada às pressas no Ministério do Interior, em reuniões que vararam a madrugada de ontem para hoje (hora local). Hollande se reuniu com o primeiro-ministro Manuel Valls e com o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve. A Procuradoria de Paris abriu investigação por terrorismo. Por volta das 2h da madrugada de hoje (hora local), Hollande falou à nação:

— Não há como negar a natureza terrorista deste ataque. Mais uma vez a forma mais extrema de violência cometida por fanáticos que rejeitam os direitos humanos. Presto solidariedade às famílias das vítimas — afirmou Hollande, ressaltando que o estado de emergência, imposto desde o atentado de Paris em novembro, seria prorrogado por mais três meses. — Vamos reforçar forças de segurança responsáveis pela vigilância contra o terrorismo, inclusive nas fronteiras. Também vamos reforçar ainda mais nossa ação no Iraque e na Síria. Mais uma vez a França foi atingida, mas somos mais fortes.

Polícia mata motorista a tiros
O motorista do caminhão foi morto em troca de tiros com a polícia. Documentos de identidade de um franco-tunisiano foram encontrados na cabine. Uma fonte policial informou que “a identificação do motorista está em curso”, acrescentando tratar-se de um homem de 31 anos, com residência em Nice. Nenhum grupo reivindicou a autoria do ataque.

Segundo o prefeito de Nice, Christian Estrosi, o motorista abriu fogo contra a multidão antes de jogar o caminhão contra as pessoas. Ele disse que armas pesadas, explosivos e granadas foram encontrados no caminhão. A polícia informou que estava buscando possíveis cúmplices. “Permaneçam em casa”, pediu o prefeito pelo Twitter.

Cartão-postal da Riviera francesa, a Promenade des Anglais, à beira-mar, estava lotada de turistas em pleno verão europeu, reunidos no local para assistir à tradicional queima de fogos, por volta das 22h30m (hora local).

— Um caminhão branco avançou em plena velocidade para cima das pessoas, que estavam começando a deixar a orla. Passou muito perto de mim e só tive alguns segundos para me afastar: pulei de lado. Havia destroços voando para todos os lados, e tive que proteger meu rosto — contou o jornalista Robert Holloway, da AFP. — Depois disso, foi o caos absoluto. Muitas pessoas estavam gritando. Entendi logo que um caminhão daquele tamanho, com uma trajetória em linha reta, só poderia ser um ato totalmente deliberado.

De acordo com testemunhas, o caminhão percorreu quase dois quilômetros, em alta velocidade, atropelando o que estivesse pela frente — há relatos de que havia mais de um ocupante na cabine, mas isso não foi confirmado pelas autoridades.

— Foi uma cena de horror — disse o deputado local Eric Ciotti à France Info, contando que o caminhão acelerou, ao longo do calçadão junto à orla, “derrubando centenas de pessoas”.

O jornal “Nice Matin” informou que 42 feridos estavam em “condições críticas”. O caminhão, com a frente bastante danificada, ficou crivado de balas. Um forte esquema de segurança foi montado no Centro de Nice, com todo o perímetro do ataque isolado: militares, forças de elite, policiais e ambulâncias foram mobilizados. Paramédicos prestavam primeiros socorros na rua.

— As pessoas caíam como pinos de boliche — contou Jacques, dono de um restaurante.

Ataques com veículos têm sido usados por membros de grupos militantes, particularmente em Israel, mas também na Europa, embora nunca com efeito tão devastador. Com 350 mil habitantes, no departamento francês dos Alpes Marítimos, Nice já registrou moradores muçulmanos viajando para a Síria, para se juntar ao Estado Islâmico.

Durante a madrugada, o Conselho Francês da Fé Muçulmana condenou o “hediondo e abjeto” ataque. Líderes mundiais também reagiram.

— Somos solidários à França, nosso mais antigo aliado, no momento em que ela enfrenta esse ataque — afirmou o presidente dos EUA, Barack Obama, oferecendo ajuda dos EUA na investigação. — Sabemos que o caráter da República Francesa vai durar muito tempo depois dessa devastadora e trágica perda de vidas. Neste Dia da Bastilha, somos lembrados da extraordinária resiliência e dos valores democráticos que fizeram da França uma inspiração para o mundo inteiro.

A nova premier britânica, Theresa May, disse que o Reino Unido está chocado, e também ofereceu solidariedade aos franceses.

Hollande confirma ato terrorista e anuncia renovação do Estado de Emergência

• 10 mil soldados continuarão a fazer o patrulhamento de sítios sensíveis na França, e reservistas serão convocados para aliviar o peso do trabalho de policiais e militares

Andrei Netto - O Estado de S. Paulo

PARIS, - Menos de 15 horas depois de anunciar sua decisão de sair do Estado de Emergência, o presidente da França, François Hollande, anunciou na madrugada de hoje (noite desta quinta-feira no Brasil) que vai prolongar por mais três meses o regime de exceção no qual o país vive desde 13 de novembro.

A decisão foi informada em um pronunciamento no qual o chefe de Estado confirmou que o ataque de Nice se trata de um "ato terrorista". Para enfrentar a ameaça de novos crimes, 10 mil militares continuarão a reforçar o policiamento, e reservistas serão convocados para aliviar a carga de trabalho de agentes e militares em todo o país.

Os anúncios foram feitos em uma declaração solene no Palácio do Eliseu. Hollande usou pela primeira vez a palavra "terrorismo" para designar o atentado de Nice. "Esse ataque, cujo caráter terrorista não pode ser negado, é mais uma vez de uma violência absoluta. Temos de fazer de tudo para lutar contra o flagelo do terrorismo", afirmou o presidente, confirmando a morte de dezenas de pessoas, incluindo "várias crianças".

"A França foi atingida no dia de sua festa nacional, o 14 de Julho, símbolo da liberdade. Os direitos humanos são negados pelos fanáticos", analisou, reconhecendo que a ameaça persiste. Depois de Paris em janeiro de 2015, e em novembro, junto com Saint-Denis, Nice é agora atingida. Toda a França está sob a ameaça do terrorismo islamista."

Para enfrentar essa realidade, Hollande pediu "vigilância absoluta" de parte da população para evitar novos ataques. Segundo ele o país já reformou seu arsenal legal para enfrentar a ameaça terrorista, mas que algumas medidas precisam ser tomadas. O presidente citou a manutenção do efetivo militar de 10 mil homens que integram a operação Sentinela, que garante a participação das Forças Armadas no reforço da segurança do país. Pela manhã, Hollande havia evocado a possibilidade de reduzir para 7 mil homens o efetivo.

Além disso, conforme esperado, o presidente decidiu prolongar por três meses o Estado de Emergência, situação que amplia os poderes da polícia, do Ministério Público e da Justiça para apurar crimes e suspeitas de terrorismo. Antes do atentado, Hollande havia anunciado no início da tarde que o regime de exceção seria suspenso até 26 de julho, mas agora deve ir até outubro, sem interrupção.

A terceira medida de segurança interna foi a convocação dos reservistas. O presidente, entretanto, ainda não divulgou números nem detalhes sobre a medida.

Já no plano da política externa, Hollande afirmou sua disposição de reforçar os ataques ao Estado Islâmico, com a missão de reforçar os bombardeios a posições do grupo, facilitando a tarefa do exército iraquiano, que luta pelo controle de Mossul. "Nada nos fará ceder em nossa vontade de lutar contra o terrorismo", afirmou, referindo-se especificamente à Síria e ao Iraque.

De acordo com o presidente, o país está abalado, mas vai se levantar. "A França está horrorizada pelo que acaba de acontecer, essa monstruosidade que é utilizar um caminhão para matar dezenas de pessoas", disse Hollande. "Mas a França será sempre mais forte do que os terroristas que querem atingi-la."

Atentado mata ao menos 84 em festa do Dia da Bastilha no sul da França

Agências de notícias – Folha de S. Paulo

Ao menos 84 pessoas morreram nesta quinta-feira (14) quando um caminhão avançou de forma deliberada sobre milhares de pessoas que estavam na orla de Nice, no sul da França, comemorando a Queda da Bastilha.

O novo ataque, que até o momento não foi reivindicado por nenhum grupo, fez com que o presidente François Hollande voltasse atrás eestendesse o estado de emergência no país por mais três meses.

Foi decretado luto oficial de três dias pelo governo francês.

Segundo testemunhas e policiais, o veículo entrou na promenade des Anglais, na orla da cidade da Riviera Francesa, por volta das 22h30 (17h30 em Brasília). Minutos antes, os espectadores viram a queima de fogos que celebra o principal marco da Revolução Francesa, feriado mais importante do país.

O motorista havia avançado lentamente por 2 km da avenida antes de acelerar por poucos metros e atropelar mais de cem pessoas.

"Vi os corpos como pinos de boliche no meu caminho. Muito barulho, uma gritaria como eu nunca vou esquecer", disse o jornalista francês Damien Allemand, que passava férias em Nice.
Em pânico, os espectadores da festa saíram correndo da região da orla. Uma hora depois do ataque, a praça estava completamente vazia, após pedido do governo para que moradores e turistas ficassem em locais fechados.

Caminhão avança sobre multidão na França
De acordo com o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, dezenas de pessoas ficaram feridas —entre elas há pelo menos um brasileiro. Ao menos 18 estavam em estado grave.

O caminhão foi parado por um cerco policial perto da praça Masséna. Segundo os agentes, o motorista abriu fogo contra a tropa. Houve troca de tiros e os policiais mataram o condutor. No baú do caminhão, encontraram armas como pistolas, fuzis e metralhadoras, munição e granadas.

Dentro do caminhão, a polícia encontrou os documentos do suspeito morto. Ele foi identificado como um francês de origem tunisiana de 31 anos, que cometeu delitos no passado, mas nunca esteve na lista de pessoas investigadas por terrorismo. Também não se sabe se ele teria ligação com extremistas. Os agentes afirmam que o caminhão era alugado.

Embora nenhum grupo tenha se manifestado sobre a autoria até o momento, diversos usuários de redes sociais ligados à milícia terrorista Estado Islâmico comemoraram o atropelamento.

A facção foi responsável pela série de ataques em Paris, que deixou 130 mortos em 13 de novembro passado.

Autoridades
Horas depois de anunciar, em uma parada militar da Revolução Francesa, ofim do estado de emergência que vigorava desde as ações do Estado Islâmico na capital, o presidente François Hollande voltou atrás e expandiu a medida até outubro.

Em pronunciamento à nação depois de uma reunião de emergência, disse que é "inegável" que o país tenha sofrido uma atentado terrorista. "A França como um todo está sob ameaça do terrorismo islâmico. Nós temos que demonstrar absoluta vigilância e uma determinação inabalável."

Ele prometeu aumentar o controle de fronteiras e reforçar os ataques na Síria e no Iraque —as medidas são as mesmas tomadas após a série de ataques de novembro.

"Nós vimos a violência extrema e obviamente temos de fazer tudo para lutar contra esse terrorismo", disse.

Aliados como o presidente americano, Barack Obama, a primeira-ministra britânica, Theresa May, e a chanceler alemã, Angela Merkel, prestaram suas condolências.

No Brasil, o presidente interino Michel Temer disse que a França foi vítima de "mais uma injustificada intolerância" e chamou o incidente de "abjeto" e "ultrajante".

Se confirmada uma nova ação terrorista, Hollande deverá sofrer mais com a pressão por controle da imigração e por novas medidas para evitar mais mortes como as mais de 200 em três atentados.

Temer vê ‘distensão’, e governo aposta em votação de reformas

• Eleição de Maia, segundo o Planalto, põe fim a momento conturbado

Catarina Alencastro, Júnia Gama, Maria Lima - O Globo

-BRASÍLIA- O Palácio do Planalto espera que a vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara supere o momento confuso que a Casa viveu nos últimos tempos e que sejam aprovadas medidas necessárias para recuperar a economia. O presidente interino, Michel Temer, ficou aliviado com o resultado, segundo assessores próximos.

Ao se encontrar com Maia no gabinete presidencial, ontem de manhã, os dois se abraçaram e sorriram. Eles ficaram sozinhos por vinte minutos. Depois, entraram no gabinete o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o líder do governo, André Moura (PSC-SE), o ex-deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), a líder do governo no Congresso, Rose de Freitas (PMDB-ES), e o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima.

Minutos antes de receber Maia no Planalto, Temer afirmou que ficou felicíssimo com a “conduta cívica” da Câmara e que a escolha de Maia dará mais harmonia ao Legislativo:

— Teremos uma harmonia muito maior, que será útil para o Executivo. No caso do Executivo, você precisa ter um apoio substancioso do Legislativo, sem o qual fica difícil de governar. Foi uma disputa muito competente e adequada, e teve o resultado que a Câmara desejou — disse Temer, para quem o resultado mostra que o “Brasil está se distensionando”.

Líderes da base governista creem que Maia terá força para encaminhar a pauta de votação de projetos prioritários para o ajuste fiscal, inclusive reformas impopulares como a trabalhista e da previdência. Eles não acreditam que os votos dados a Maia pela oposição de esquerda impeçam a aprovação dessas matérias.

— Tenho certeza que o Rodrigo irá priorizar e tocar a pauta do ajuste. É hora de responsabilidade, não vamos nos furtar a enfrentar o desafio das reformas. Mas não acredito que a oposição entre na pauta das reformas, apesar do Rodrigo ter bom trânsito com eles — disse o líder do DEM, deputado Pauderney Avelino (AM).

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse que o compromisso de Maia com sua base é votar até as reformas mais difíceis:

— E essa é nossa expectativa. Que o Rodrigo faça logo agora o que tem que ser feito. Temos que fazer um pacto com os partidos para enfrentar, além da pauta econômica, a pauta política — disse Aécio.

O líder do PT, Afonso Florense (PT-BA), avisou que, apesar de ter liberado a bancada para votar contra Rogério Rosso (PSDDF), candidato do ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não haverá trégua no combate ao que chamou de “golpe” e à pauta governista:

— Vamos continuar a lutar contra o golpe e contra a pauta do governo interino de retirada de direitos . Temer e Maia não terão paz — disse.

‘Eu quero desidratar essa coisa de Centrão’, diz Temer

• Após eleição do deputado Rodrigo Maia (DEM) para comandar a Câmara, presidente em exercício afirma que pretende ‘aos poucos unificar’ base aliada

Tânia Monteiro, Vera Rosa e Marcelo Beraba - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente em exercício Michel Temer disse, em entrevista ao Estado, que pretende implodir o Centrão, grupo de partidos médios e até hoje ligados ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está prestes a ser cassado. “Quero desidratar essa coisa de Centrão e de outro grupo. É preciso unificar isso. Quero que seja tudo situação”, afirmou ele. O “outro grupo” se refere à antiga oposição, composta por PSDB, DEM, PPS e PSB.

Temer confia no recesso branco deste mês para que as “pequenas ranhuras” deixadas na disputa pelo comando da Câmara sejam cicatrizadas. “Uma ferida não dura mais do que 15 dias, não é verdade? Se você se ferir, verá que dali a 15 dias se formou uma casquinha. A casquinha se dissolve.”
Um dia após a vitória do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), apoiado pelo Planalto e pelo PSDB para a presidência da Câmara, Temer contou que usará os 15 dias do recesso para compor o segundo escalão do governo. A direção de Furnas, por exemplo, ficará com a bancada do PMDB de Minas.

• O sr. avalia que a eleição do deputado Rodrigo Maia para a presidência da Câmara representou derrota do PT, do ex-presidente Lula, da presidente afastada Dilma Rousseff e de Eduardo Cunha?

O Congresso quis dar uma mensagem de apoio ao governo, com os dois candidatos que foram para o segundo turno (Rodrigo Maia e Rogério Rosso, do PSD, candidato do Centrão). Acho que está havendo uma distensão na Câmara. O candidato que teve apoio de outras alas foi justamente o nosso peemedebista Marcelo Castro. O que restou de tudo isso foi apoio ao governo.

• E uma derrota poderia ter impacto na votação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff?

Convenhamos, se há outro tipo de vitória já iam dizer “Ah, o governo perdeu”, dar outra interpretação. Se o Planalto fosse derrotado seria negativo para o governo e para o País.

• O Centrão saiu maculado, presidente, está se desintegrando...

Hoje, conversando com Rodrigo (Maia), nossa ideia é acabar com essa história da divisão. O que houve foram pequenas ranhuras, pequenas rachaduras. O recesso branco vai ajudar. Quando chegar agosto, não haverá cicatriz. Eu quero aos poucos desidratar essa coisa de Centrão e outro grupo (formado pela antiga oposição). Quero que não haja mais essa coisa. É preciso unificar isso. Quero que seja tudo situação.

• O sr. fará reforma ministerial para acomodar a base aliada após a disputa na Câmara?

Isso eu vou examinar naturalmente depois que o Senado decidir (se acatará o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff). Seria apressado qualquer outra afirmação. Mas não creio que haja feridas na base ministerial. Na base parlamentar, isso passa. Especialmente porque agora tem o recesso.

• Mas como o sr. vai curar essas feridas? Ficaram cicatrizes.

Não é exatamente a mim que cabe curar. Uma ferida não dura mais do que 15 dias, não é verdade? Se você se ferir, verá que dali a 15 dias se formou uma casquinha. A casquinha se dissolve e volta ao normal.

• Nesses 15 dias as nomeações vão sair do papel?

Vamos fechar tudo isso. Os nomes serão examinados, pautados pela Lei das Estatais, que estabelece restrições.

• Quem vai para o Turismo? Alguém do PMDB de Minas?

Estamos examinando com calma. A bancada do PMDB de Minas está acertando com Furnas. Vou devolver a estatal a eles. Furnas pode ser mais expressiva politicamente do que o Turismo. Tem Chesf, Eletronorte, Eletrosul, Itaipu...

• A ascensão do DEM e do PSDB configura nova hegemonia na base aliada do governo?

Acho que tem de haver hegemonia da base. Por quem ela é composta pouco importa. Se eu falar em hegemonia de um ou outro estarei dividindo aquilo que estou fazendo força para reunificar. É claro que, quando surgirem problemas, em fevereiro (nova eleição para a presidência da Câmara), talvez haja nova movimentação.

• O senador Aécio Neves (MG) tentou fechar um acordo para que o sr. apoiasse um candidato do PSDB à presidência da Câmara, em 2017. Isso é possível?

Procurei não entrar nessa questão da Câmara, mas, quando começou a ter aquela coisa de que havia um candidato de oposição e que ia gerar manchete “Temer derrotado”, é claro que eu tive uma preocupação. Não entrei nessas histórias de acordo para depois. No momento oportuno, em janeiro de 2017, vamos examinar.

• O sr. planeja se afastar de Eduardo Cunha?

Eu nunca me aproximei demais nem me afastei demais. Sempre tive um trato pessoal e um institucional. Nunca tive preocupação do tipo “Ah, se falar com fulano está condenado”. Eu falo com o Brasil inteiro, falo com a oposição. Aliás, confesso que não sei: como foi a CCJ hoje (quinta-feira, 14)?

• Cunha sofreu fragorosa derrota e agora o seu caso vai para o plenário da Câmara.

É matéria tipicamente da Câmara, que saberá decidir. Resta a ele o combate no plenário.

• Mas o sr. sugeriu que ele renunciasse, não?

Não. Apenas quando ele falou sobre isso, de passagem, eu disse que ele deveria meditar...

• Cunha chegou a dizer a seus pares: “Hoje sou eu, amanhã são vocês”. O sr. não teme uma delação dele na Lava Jato?

Não sei o que ele quis dizer com isso. Talvez ele saiba, mas eu não saberia avaliar.

• O sr. já disse que a Lava Jato não abalará sua gestão, mas delatores de empresas que tinham contratos com a Petrobrás acusam políticos do PT e do PMDB, entre outros, de corrupção. O governo está imune?

O presidente da República está e penso que o governo também. Não tenho preocupação com isso. De vez em quando um ou outro fala em meu nome, mas é tão irrelevante que, se me permite a expressão, não cola, não é?

• O sr. já mostrou disposição de conversar com a oposição. Quando será isso?

Nas questões de Estado, não nas questões de governo. Nas questões de governo tenho absoluta convicção de que eles não apoiariam. Mas (...) a Previdência, por exemplo, é algo que dá para conversar porque não é para hoje.

• O sr. vai procurar o ex-presidente Lula?

Precisamos primeiro esperar passar a decisão do impeachment, não é?

• Como será sua participação nas eleições? O sr. subirá no palanque de Marta Suplicy (senadora e pré-candidataà Prefeitura de São Paulo pelo PMDB)?

Não vou subir em palanque. Acho complicado porque tenho uma base parlamentar muito ampla. Não sou mais presidente do PMDB. Hoje tenho de tomar mais cautela.

• O sr. fica incomodado quando é chamado de golpista?

Nada, porque não sou. Só se for um golpista que se ampara na Constituição. Se isso é ser golpista... (faz silêncio e dá risada). Eu acho graça.

Derrotado, Centrão promete colaborar

• Líderes do grupo admitem que articulações do governo federal favoreceram vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara; ‘Somos parte da mesma base’, diz Rogério Rosso (PSD-DF)

Erich Decat - O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Derrotados com a ajuda do Palácio do Planalto na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, líderes do Centrão (PP, PR, PSD, PTB, PSC e partidos nanicos) prometem não atrapalhar a votação de propostas de interesse do governo, após a retomada das atividades no Congresso Nacional, em agosto.

Apesar do abatimento com a derrota, a ordem dentro do grupo é aproveitar o recesso legislativo para “recolher os mortos e cuidar dos feridos”.

“Não gosto de comentar nada logo após a derrota. Prefiro esperar acalmarem os ânimos um pouco. Temos um agrupamento importante, mas mudou o comando da Casa e vamos aguardar para ver como isso vai ser”, afirmou o líder do PTB, Jovair Arantes (GO).

Jovair foi um dos coordenadores da campanha de Rogério Rosso (PSD-DF), que também preferiu minimizar a derrota e a participação do governo na corrida pelo comando da Casa. “Agora somos parte da mesma base. Com equilíbrio e maturidade, vamos apoiar o presidente Michel Temer e procurar ter uma maior coesão, com menos divisão”, afirmou Rosso, líder do partido. Ele falou com o presidente em exercício logo após o resultado no plenário.

Efeito Cunha’. Apesar de declarar fidelidade, líderes do Centrão consideram que Temer poderá enfrentar uma “tormenta” caso o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) resolva apontar sua artilharia contra integrantes do PMDB e do governo. Mesmo derrotado na Casa, Cunha ainda tem uma base aliada que pode tentar obstruir votações, por exemplo.

Na análise do Centrão, o governo, ao entrar em campo para derrotar Rosso na disputa pela presidência da Casa, acabou por “entregar a cabeça de Cunha”. Alguns deputados lembram que o revés na campanha de Rosso, considerado um aliado do deputado fluminense, ocorreu menos de 48 horas depois de Cunha, ao se sentir acuado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), fazer ameaças contra seus adversários. “Hoje foi comigo; amanhã será com vocês”, afirmou Cunha no colegiado que julga seu processo de cassação. Nesta quinta-feira, 14, ele voltou a repetir esse discurso e acabou derrotado, tendo seu recurso rejeitado pela CCJ.

Outro elemento que pode provocar “estremecimentos” na base é a leitura de parlamentares de que foi feito um “acordão” entre o grupo que elegeu Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o Planalto para a disputa de fevereiro de 2017. Na ocasião, estará em jogo um mandato de dois anos no comando da Casa.

O líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB), outro coordenador da campanha do Centrão, considerou como um dos motivos para a derrota o clima criado dentro da Casa contra Cunha, considerado o “arquiteto” do grupo. “Acho que o efeito Cunha foi muito forte, a realidade é essa. Mas a Casa definiu por duas excelentes candidaturas. O importante é que a decisão foi tomada dentro da base do governo”, afirmou Ribeiro.

No balanço do Centrão, a participação do governo em prol de Maia e a debandada da bancada do PR contribuíram para a derrota do grupo. Na noite da disputa, o líder do partido, Aelton Freitas (MG), chegou a procurar Rosso e informou a ele que, dos 43 integrantes da bancada, ele poderia entregar entre sete a dez para o candidato.

“No segundo turno não tínhamos nenhum compromisso com nenhum dos candidatos. Questionei um a um da bancada e, de cada dez, oito estavam com Maia”, afirmou Freitas. Segundo ele, o ministro dos Transportes, Maurício Quintella Lessa, também deu o aval pela candidatura do DEM. “Consultamos o nosso ministro. Ele também disse que tinha preferência pelo Maia”, ressaltou o líder.

‘Sem interferência’. Procurado, o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), nega que o governo tenha tido qualquer interferência na disputa. “O governo não entrou. O ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) nos disse para ficarmos distantes”, afirmou. Sobre o racha no Centrão, do qual o PSC também faz parte, Moura considerou: “Não tenho que ficar preocupado com o Centrão, mas com a base como um todo, o que importa é ela estar unida”.

Para ele, o andamento do processo de Cunha dentro da Casa também não vai contaminar a governabilidade. “Não tem essa história de o governo ter entregado a cabeça dele de bandeja. A situação de Cunha vai ter que ser enfrentada em algum momento e temos que dar continuidade aos nossos trabalhos.”

Depois da derrota, centrão tende à extinção

• Deputado Rogério Rosso defende o fim de reuniões exclusivas entre os partidos que compõem o grupo

Eduardo Bresciani, Isabel Braga - O Globo

-BRASÍLIA- A avaliação na Câmara ontem era de que a derrota de Rogério Rosso (PSD-DF) na disputa pela Presidência da Casa foi um golpe praticamente fatal no centrão, grupo de partidos médios que se aglutinaram por influência de Eduardo Cunha (PMDBRJ). A larga margem de votos na derrota para Rodrigo Maia (DEM-RJ), que venceu por 285 a 170, a defecção do PR e as cobranças do Planalto por unidade fazem com que o grupo já articule o seu fim. O próprio Rosso defende que os líderes dessas legendas não se reúnam mais de maneira separada.

— Um dos grandes desafios é virar a página e não olhar mais o governo com divisões dentro da base, olhar os partidos de forma homogênea. Se for fazer reunião, faz com todo mundo. Isso é importante, integrar toda a base agora — disse Rosso ao GLOBO.

O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), defende também um trabalho para desconfigurar o centrão como forma de permitir a unificação de toda a base. Um dos articuladores da candidatura de Rodrigo Maia, ele acredita que uma continuidade dessa fragmentação poderia gerar problemas para o presidente interino Michel Temer.

— Estigmatizaram partidos importantes da vida brasileira, e a forma mais eficaz de resolver é a desconfiguração (do centrão), fazendo os partidos da base conviverem irmanamente — disse o tucano.

O discurso da busca de unidade é entoado também pelo líder do PMDB, Baleia Rossi (SP):

— O clima é de pacificação. A disputa foi respeitosa. A prova de que o governo não interferiu é que o PMDB liberou a bancada. É preciso baixar a poeira.

Um gesto de distensionamento foi feito pelo líder do governo, André Moura (PSC-SE), que fez questão de participar da reunião de Maia com Temer. A indicação de Moura, construída pelo centrão e imposta ao presidente interino, foi o que levou Maia a romper com Cunha e iniciar o trabalho para sucedê-lo. Moura tem agora a difícil missão de curar as feridas de seu grupo e criar pontes com os vencedores para evitar que seu cargo seja colocado em risco.

Há quem acredite que, com a derrota de Rosso, o Planalto ficará menos refém do “toma lá, da cá” que vigorou nos tempos de Cunha. Na visão de uma pessoa próxima a Temer, a eleição de Maia gera mudança no eixo político, fazendo com que PMDB se realinhe ao PSDB e ao DEM (o antigo PFL), remontando à coalizão que imperou durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

A avaliação é de que o centrão não terá forças para retaliar o governo, mesmo que proteste pela falta de apoio explícito a Rosso. Logo após a votação, Temer tratou de telefonar para Rosso e o cumprimentou pelo desempenho. Os ministros do núcleo político também entraram em contato para confortá-lo.

— Não vai haver retaliação do centrão. Se tentarem retaliar, não vão aguentar a resposta do Diário Oficial, que é o oxigênio deles — diz esta fonte.

Para evitar sequelas nesta eleição, o governo terá o cuidado de tratar com atenção os cerca de 170 deputados do centrão. A ordem é atender a todos, acelerar as nomeações para cargos e atendimentos das demais demandas e cobrar, em troca, fidelidade ao Planalto. O governo avalia que a batalha pela sucessão de Cunha foi muito acirrada e deixou “corpos pelo caminho”. Os auxiliares mais próximos de Temer acreditam que os traumas da disputa podem ser resolvidos com ações pontuais. E que, em poucos meses, as mágoas estarão resolvidas.

— Temos que fazer a coisa funcionar de forma igualitária. Não tem mais o que barganhar, as nomeações e pedidos já foram todos negociados. Agora, é concluir esses acordos e, quando nomeados e com orçamento, que eles possam agir em prol do governo também — afirma uma fonte do Planalto.

Para um deputado da antiga oposição, o resultado da eleição para a Mesa e a derrota de Cunha na CCJ são sinais de que o centrão, como concebido originalmente, está com os dias contados.

— A curva do centrão é a mesma curva de Cunha — avalia.

Derrota em eleição na Câmara ameaça futuro do 'centrão'

Gabriel Mascarenhas, Débora Álvares – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O resultado da eleição para a presidência da Câmara colocou na berlinda a continuidade do chamado "centrão", grupo formado por deputados de partidos de média e pequena expressão e que apoiava o candidato derrotado Rogério Rosso (PSD-DF).

"O jogo agora é outro. O cenário, neste momento, é de indefinição. Vamos ter que sentar e decidir, com maturidade, se vamos seguir juntos ou não. Até esse nome, 'centrão', ficou com uma imagem muito pejorativa", afirmou o líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB).

Reservadamente, parlamentares do bloco admitem que a vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) com diferença de 115 votos deflagra o início do fim do grupo pluripartidário.

A bancada informal ganhou força sob a batuta do ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e impôs diversas derrotas ao governo Dilma Rousseff, inclusive a maior delas, a aprovação da autorização para a abertura do processo de impeachment.

"O 'centrão' vivia uma situação irreal de votar junto a atropelar tudo e todo mundo. Só que agora eles não têm mais o maestro, que era o Eduardo Cunha. Acabou", resumiu Heráclito Fortes (PI), que é do PSB, partido que não integra o grupo.

Alguns dos principais nomes do "centrão" já admitem a possibilidade de o bloco perder força e unidade daqui para frente. O PR, por exemplo, um dos integrantes da ala, votou em peso no candidato do DEM.

Líder do PTB, Jovair Arantes (GO) não escondeu o incômodo com as traições. "Prefiro não fazer análises agora para não azedar o caldo. Sobre o futuro, não sei se o grupo seguirá com a mesma força e unidade, mas um número grande de deputados vai continuar junto, é da natureza se agruparem", disse.

Ex-deputado pelo PR, Bernardo Santana (MG) participou das articulações que levaram seu partido para a candidatura de Rodrigo Maia.

"Aquilo [o centrão] aconteceu porque havia um objeto, agora é diferente. Vamos ver o que acontecerá", afirmou.

Caso desapareça, o "centrão" de 2016 seguirá os mesmos passos de seu homônimo da Constituinte (1987 e 1988), que acabou virando sinônimo de fisiologia e desapareceu como grupo orgânico na esteira da baixa popularidade do fim do governo de José Sarney (1985-1990).

Temer recebe Rodrigo Maia e reforça necessidade de coesão da base aliada

Por Andrea Jubé - Valor Econômico

BRASÍLIA - Com a eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para o comando da Câmara dos Deputados, o presidente interino Michel Temer se ocupa, agora, de reunir os estilhaços de sua base de apoio e cuidar das feridas de grupos de aliados. Preocupado com a votação de matérias relativas ao pacote fiscal, Temer tem exaltado a necessidade de coesão da base aliada, mas no novo cenário, ele ainda terá de administrar uma iminente guerra de vaidades, face ao período de superexposição que favorecerá Maia nos próximos meses.

Em agosto, Maia comandará o processo de cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e em setembro, assumirá a Presidência da República. Se o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff for confirmado em agosto, como esperam os aliados do interino, Temer embarca no início de setembro para a reunião de líderes mundiais do G-20, em Hangzhou, na China. Ele outras viagens internacionais no radar: para Estados Unidos, Argentina e México, ocasiões em que Maia assumirá a chefia do Executivo.

O impacto da iminente explosão da imagem de Maia acabou evidenciado ontem, quando Temer recebeu o recém-eleito no Planalto. O presidente da Câmara chegou em comitiva, junto com o presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o líder do governo, deputado André Moura (PSC-SE), e o líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA). Todos posaram para a foto com Temer e Maia.

Representante do Centrão, ligado ao candidato derrotado, o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), Moura apressou-se para compor o grupo de Maia. Ambos não se afinam, mas o Planalto não cogita substituir Moura, até para não ampliar as fissuras no bloco ligado a Rosso e ao líder do PTB, Jovair Arantes (GO), aliados de primeira hora.

Por isso, Temer pregou harmonia e distensão ontem, ao repercutir o resultado da eleição na Câmara. "Foi uma disputa competente, elevada, que teve o resultado que a Câmara desejou, com harmonia de todos", declarou. Temer ressaltou que o Executivo precisa de apoio "substancioso" do Legislativo, mas se o Legislativo faz oposição ao Executivo, fica difícil governar.

Ao reforçar o discurso da distensão, o presidente interino citou que antes do segundo turno, os dois candidatos remanescentes, Maia e Rosso, até se abraçaram, num sinal de harmonia.

Mas numa conjuntura que colocará Maia em evidência até outubro, a derrota do Centrão - bloco criado por Eduardo Cunha de apoio ao governo - e o racha na bancada do PMDB, por causa da candidatura de Marcelo Castro (PI), obrigarão Temer a se desdobrar em afagos para consolar os derrotados e apaziguar os rebelados.

Cabo eleitoral de Marcelo Castro, o deputado José Priante (PMDB-PA) acusa o Palácio do Planalto de ter sabotado a candidatura de um correligionário de Temer para o comando da Câmara. "O Marcelo [Castro] foi cristianizado, a candidatura do PMDB era uma reação ao Centrão", afirma. Ele acusa ministros de Temer de entraram em campo para esvaziar a candidatura do pemedebista e turbinar o nome de Maia. "Houve uma vitória atrapalhada e atropelada do governo", avalia. Ele ressalta, contudo, que o PMDB tem um histórico de dissidências, e que sendo a legenda de Temer, a torcida é para que o governo dê certo.

Um auxiliar de Temer minimizou que remanesçam sequelas insuperáveis na base. "Não tem racha no Centrão, a base continua sólida", afirma.

Mas alguns movimentos do governo deixarão tramas que ecoarão por alguns dias. O Centrão acha que o PR, do candidato derrotado no primeiro turno, Fernando Giacobo, foi orientado a votar em Rodrigo Maia. O ministro dos Transportes, Maurício Quintella Lessa, telefonou para Temer e perguntou em quem a bancada deveria votar. Auxiliares do interino afirmam que a orientação foi para liberar o voto. A expectativa é que após o recesso branco, que termina em agosto, as mágoas tenham sido superadas.

Rebelião pemedebista foi frustrada pelo Planalto

Por Thiago Resende e Raphael Di Cunto – Valor Econômico

BRASÍLIA - A candidatura de Marcelo Castro (PMDB-RJ) à presidência da Câmara surgiu assim que Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao renunciar ao cargo, tentou convencer a bancada a ficar de fora da disputa e apoiar o Centrão, no caso, Rogério Rosso (PSD-DF). A ala do partido que derrotou o Palácio do Planalto lançou Castro por insatisfação com a atuação do governo para impedir um candidato oficial da sigla, além da demora em nomeações de indicados a cargos federais.

Castro apoiou Rosso no segundo turno, ainda em contraponto ao Palácio que, segundo a avaliação dessa ala do partido, estava fortalecendo Rodrigo Maia (RJ), candidato do DEM, e, assim, desidratando o correligionário. O pemedebista, até então favorito para a segunda etapa, parou na primeira fase, com 70 votos, enquanto os outros dois superaram os 100.

Aliados de Castro atribuem o revés à atuação do Planalto, além da perda de apoio na oposição. PT, PDT e PCdoB não entregaram todos os votos previstos para o pemedebista. Dividiram-se entre ele e Maia, embora em maior número para ele, numa estratégia do ex-presidente Lula, pelo menos no caso do PT.

O PMDB que sustentou Castro (estimado em cerca de 40 deputados), na maior parte, não seguiu o deputado. Apoiou também Maia. Pemedebistas como Leonardo Quintão (MG) e Washington Reis (RJ), que articularam por Giacobo (PR), candidato do PR ligado à bancada ruralista, também declararam apoio a Maia no segundo turno. Diante da divisão, o líder do partido, Baleia Rossi (SP), liberou a bancada na votação entre Rosso e Maia.

A candidatura de Castro foi uma articulação do ex-presidente Lula, ideia executada, no início, por Celso Pansera (RJ), deputado e ex-ministro de Ciência e Tecnologia de Dilma. Castro esteve à frente da pasta da Saúde no mesmo período.

Pemedebistas descontentes com a articulação política do governo Temer se alinharam. "Tem o desprestígio do PMDB. Parece que dá mais importância para o Centrão", contou um dos integrantes da campanha de Castro, lembrando que Centrão ajudou a eleger Cunha à Presidência da Casa e, depois, ocupou principais cargos em comissões e relatorias.

Quando, por decisão da maioria, o PMDB escolheu Castro como candidato oficial do partido, o PT indicou que iria aderir ao projeto, por ser um dos poucos candidatos contra o "golpe" do impeachment. Mas alguns ainda duvidavam da capacidade de Castro derrotar Rosso em eventual segundo turno. PSDB, PSB, PPS e o DEM (de Maia) resistiam a votar num candidato que teria apoio do PT.

Vitória restabelece relações com Senado, diz Renan

Vandson Lima - Valor Econômico

BRASÍLIA - Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) disse ter comemorado muito a vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na eleição para o comando da Câmara dos Deputados.

Para Renan, trata-se de uma "vitória da política", que restabelece as relações entre Senado e Câmara, que se esfacelaram diante de embates entre ele e Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Renan costumava acusar Cunha de engavetar projetos importantes aprovados pelo Senado - o que ele também fez em alguns casos. A proposta de regularização da terceirização nas relações de trabalho foi uma das medidas que colocou Renan e Cunha em campos opostos. O texto está parado no Senado desde o ano passado

"Depois da vitória do Aldo [Rebelo, do PCdoB, em 2005], tive agora talvez a maior satisfação com a eleição da Câmara. A vitória de Rodrigo Maia é uma demonstração sobeja de que a boa política não morreu. Está vivíssima e competitiva", saudou Renan, em entrevista a jornalistas após receber Rodrigo Maia em seu gabinete.

Para Renan, "a vitória de Maia recoloca a possibilidade de as duas Casas [Senado e Câmara] fazerem um esforço conjunto por uma pauta mínima, suprapartidária e de interesse nacional".

Esse esforço deve começar já na terça-feira, quando haverá uma reunião com o presidente interino, Michel Temer, no Palácio do Jaburu.
Com Renan, Maia disse ter "expectativa grande de construir uma agenda em conjunto, de poucos itens, mas que possa dar produtividade ao Congresso, em harmonia com o Senado".

Sobre a votação em plenário da cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Maia reafirmou que só marcará a data quando tiver segurança de que haverá um quórum elevado, parecido com o que participou da eleição para a presidência. "Não quero ajudar nem prejudicar. Quero votar de forma transparente e com quórum elevado. Temos que escolher a semana certa, porque temos Olimpíada, convenções [dos partidos] e depois eleição. [Votaremos] quando tivermos clareza do quórum".

O deputado, que falou após encontro com Renan, esteve mais cedo com o presidente interino Michel Temer. "Fui agradecer a ele a imparcialidade do governo nesse processo. É muito importante o respeito à independência dos poderes". Antes, abriu sua agenda com uma visita ao senador Aécio Neves (PSDB-MG)

Aécio afirma que PSDB quer presidir a Câmara

Por Vandson Lima – Valor Econômico

BRASÍLIA - Presidente do PSDB e considerado um dos articuladores fundamentais para a vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na eleição ao comando da Câmara dos Deputados, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) é taxativo em afirmar que "o PSDB tem condições e pretensão de presidir a Câmara a partir de 2017".

Ao Valor, Aécio avaliou que "o PSDB na presidência de uma das Casas [Câmara ou Senado] é bom para Michel Temer", pois consolida um novo eixo político, composto por PSDB, DEM, PPS e PSB, que está alinhado com o governo do presidente interino. No Senado, há um acordo para que Eunício Oliveira (PMDB-CE) presida a Casa em substituição a Renan Calheiros (PMDB-AL) no próximo biênio.

Aécio nega que tenha havido qualquer acerto de reciprocidade, no qual Maia apoiaria um futuro candidato tucano à sua sucessão, em fevereiro. Mas pondera que seu trabalho priorizou a união dessas siglas, para a consolidação de um "novo eixo" que atuará cada vez mais afinado daqui para frente - o que por sua vez cria as condições para que um deputado do PSDB, maior partido do grupo, postule a vaga.

"A preocupação principal foi manter esse nosso campo político coeso. Foi nosso principal trabalho. Procuramos dissuadir candidaturas dentro do nosso campo e nos unir em torno de um nome. Deu certo".

Um dos principais atores nessa costura, lembra Aécio, foi Antonio Imbassahy (PSDB-BA), que estava ao seu lado no momento da conversa com a reportagem. Seria ele o nome tucano para a presidência da Câmara no próximo ano? "Imbassahy foi fundamental nessa construção. Ele é um dos grandes nomes que temos", disse, olhando para o deputado.

O senador recebeu a primeira visita de Maia em sua agenda inaugural como presidente da Câmara. O deputado do DEM foi ao encontro de Temer e, depois, Renan, apenas depois de estar com o tucano, que o acompanhou no encontro com o presidente do Senado.

"Vejo que nasce um novo tempo nas relações internas no Congresso Nacional, com a eleição do deputado Rodrigo Maia. Tem que ser utilizado em favor dos brasileiros, com a priorização de uma robusta pauta que vem aguardando na fila há muito tempo, tanto de temas econômicos, quanto em temas políticos", disse Aécio. Em parceria com o senador Ricardo Ferraço, Aécio apresentou a Maia e Temer uma proposta de emenda à Constituição (PEC) propondo alterações no sistema político-eleitoral.

Moro defende no STF validade de áudios interceptados entre Lula e autoridades com foro

Gustavo Aguiar – O Estado de S. Paulo

O juiz Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato na primeira instância, em Curitiba, defendeu a validade dos áudios em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi interceptado conversando com autoridades que, na época, tinham foro privilegiado. As gravações foram obtidas em uma investigação contra o petista, sob suspeita de envolvimento no esquema da Petrobrás.

A manifestação de Moro foi enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) em resposta a uma reclamação ajuizada pela defesa de Lula. Os advogados apontam que o juiz está usurpando da competência da Suprema Corte ao incluir nas investigações contra o ex-presidente as conversas em que também foram interceptadas pessoas que não poderiam ser investigadas na primeira instância.

Moro afirma que as investigações contra Lula conduzidas por ele respeitam a decisão do relator da Lava Jato no STF, ministro Teori Zavascki, sobre o caso. Teori anulou apenas um dos áudios, o que Lula aparece conversando com a presidente afastada Dilma Rousseff, mas manteve a validade de outras interceptações que envolvem autoridades com foro.

Além do dialogo com Dilma, Lula foi gravado conversando com Jaques Wagner e Edinho Silva, que na época eram ministros, e com o senador petista Lindbergh Farias (RJ).

Moro afirma que estas gravações só serão usadas “se tiverem relevância probatória na investigação e na eventual imputação do ex-presidente” e mediante autorização do ministro Teori. “É prematura afirmação de que (os áudios) serão de fato utilizados, já que dependerá da análise de relevância do Ministério Público e da autoridade policial”, completa o magistrado.

Maia: teto para gastos e previdência são prioridades

Eleito por maioria ampla, o novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), elegeu como prioridade de sua gestão a agenda econômica do país. Em entrevista ao GLOBO, cita a renegociação das dívidas dos estados, o teto para gastos e a reforma da Previdência como os projetos mais urgentes. Afirma ainda que o aumento de impostos não pode ser solução para o Brasil.

‘Brasil não pode ficar gerando imposto’

• Deputado de quinto mandato, Rodrigo Maia (DEM-RJ) derrotou o centrão e quer aprovar matérias de recuperação da economia em seu mandato-tampão de seis meses. Ex-aliado de Eduardo Cunha, diz que a cassação do mandato será votada em agosto no plenário.

Júnia gama, Isabel braga, Leticia Fernandes - O Globo

• Quais são as suas prioridades?

Reorganizar a Câmara, ampliar o diálogo com todos os partidos, inclusive com a oposição, retomar o diálogo com o Senado, para retomarmos agendas em comum e para que não se aprovem matérias que acabem engavetadas na outra Casa. A prioridade do país é a agenda econômica: a PEC do teto de gastos, a renegociação das dívidas dos estados e a reforma da Previdência. São os temas que o governo deve encaminhar.

• E a reforma política?

Começamos um primeiro debate com (José) Serra e Aécio (Neves). Temos que reunir os líderes e tentar construir um consenso. Ou vai se construir um entendimento, ou nada vai andar. Mas uma coisa precisa ser discutida: o financiamento privado acabou e não vai voltar por longos anos. Só que as despesas continuam do mesmo tamanho. Nesta eleição, talvez aconteçam grandes problemas, vamos ter que discutir como se financia uma campanha.

• Qual será a marca da sua gestão?

A pacificação da Câmara, a recuperação da boa relação entre os Poderes e, junto com o governo, a pauta da superação da crise econômica. Quero ver se consigo coordenar na Câmara a aprovação dessas matérias econômicas, que para mim são urgentes.

• Para o PT apoiá-lo houve promessa de não votar a reforma da Previdência?

Não tenho esse compromisso com o PT. Quando conversei com eles, a minha conversa era: não vou abrir mão da agenda econômica do governo. Essa agenda não é do governo, é do Brasil. E a reforma da Previdência será enviada.

Justiça mantém condenação de Paes por improbidade administrativa

Fábio Grellet - O Estado de S. Paulo

RIO - A Justiça do Rio divulgou nesta quinta-feira, 14, ter rejeitado recurso e mantido a condenação por improbidade administrativa do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), do secretário especial de Turismo, Antonio Pedro Figueira de Mello, do ex-subsecretário de Comunicação Social da Casa Civil Ricardo Luiz Rocha Cota e de outros agentes públicos pelo prejuízo de R$ 3,37 milhões causado aos cofres públicos em função do evento "Bailes do Rio", realizado durante o carnaval de 2012, entre 16 e 21 de fevereiro daquele ano. Uma ação civil pública foi proposta em 2014 pela 5ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania.

Dos R$ 3,37 milhões, R$ 2,95 milhões foram repassados pela Riotur (empresa municipal de turismo) à L21 Participações Ltda. e outros R$ 420 mil foram gastos pelo governo do Estado do Rio no mesmo evento, sob pretexto de publicidade institucional. Segundo o Ministério Público, a participação do município e do Estado contrariou o interesse público e voltou-se ao incremento de negócios de caráter privado que, de acordo com um dos organizadores, arrecadou R$ 7.509.021,64.

Na ação, argumentou-se que "a população não teve acesso aos referidos bailes, a menos que ocorresse a compra de ingressos, cujos preços foram fixados em valor significativo, de modo a selecionar os participantes em virtude das possibilidades econômicas que ostentam. Por muito esforço que se faça, não se consegue conceber que o co-financiamento de bailes de carnaval fechados cujos ingressos foram vendidos a R$ 250,00 e R$ 500,00 represente incentivo à cultura popular e tradições históricas da cidade, ao contrário, evidencia a garantia do investidor privado de lucro subsidiado pelos cofres públicos. Não minimiza a situação o fato de ter havido um único baile a preços populares: R$ 50,00", destacou a sentença.

Defesa. Consultada pela reportagem, a assessoria de Eduardo Paes não havia se manifestado até a publicação da notícia. Os outros envolvidos não foram localizados na noite desta quinta.

Exemplo aos políticos - Otavio Leite

• Propostas precisam ser concretas, traduzindo o que se pretende fazer

- O Globo

Em decisão recente, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou a cassação do prefeito e do vice da cidade de Nova Viçosa (BA) por crime de estelionato eleitoral. O fato em si constituiu-se num ardiloso conluio eleitoral praticado para iludir os cidadãos daquele município.

O ponto de partida coube ao então prefeito (cujo mandato se concluía), que encaminhou à Câmara dos Vereadores projeto de lei, às vésperas do pleito, isentando todos os devedores de IPTU. A “boa nova” foi amplamente explorada, através de reuniões com moradores e divulgação geral. Nesses encontros, o presidente da Câmara — a essa altura candidato a prefeito — dava garantias de que a matéria seria aprovada e aproveitava o especial momento para pedir votos. 

Para onde foi a esperança - Fernando Gabeira*

• Eleições de 2018 abrem o caminho da renovação ou da aventura, tudo vai depender da sociedade

- O Estado de S. Paulo

Não sei se pela distância, vejo cada vez mais a esfera da política como um obstáculo à recuperação econômica sustentável. Temer ainda luta pela estabilidade. Prometeu não ser candidato em 2018. Ainda assim, a lógica política vai empurrando suas decisões para o sentido oposto de uma contenção de gastos necessária para superar a crise.

O socorro ao Rio e ajustes com os Estados já estavam inscritos como grandes problemas pós-impeachment. E ainda inseguro no cargo, Temer não tem condições de vetar o aumento para o funcionalismo.

O governo é frágil também porque a cúpula do PMDB está implicada na Lava Jato. Aliás, se estivesse só implicada, o problema seria menor. Mas ela mostrou ter como sonho de consumo esvaziar a Lava Jato, até pela via do jogo parlamentar.

Mudança de rota - Merval Pereira

- O Globo

A vitória do deputado do DEM Rodrigo Maia para a presidência da Câmara, sobretudo da maneira como aconteceu, reforça a mudança na tendência política do Congresso, reflexo do que já havia sido detectado no eleitorado na própria eleição presidencial, vencida por Dilma por menos de 3% de diferença.

Ogrupo formado por PSDB, DEM, PPS e PSB passou a ter o protagonismo numa Câmara que nos últimos anos foi dominada por PT e PMDB. Progressivamente, a partir da vitória de 2002, em que apenas em Alagoas o PSDB venceu, a supremacia do PT foi sendo corroída por dissensos na base aliada e pela perda constante do apoio da classe média, que vira no PT saída para a nova política e combate à corrupção e, a partir do mensalão, desencantou-se.

Vitórias e derrotas - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

A eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara foi uma vitória do presidente interino Michel Temer, que atuou o suficiente para render resultados, mas não mergulhar na crise interna nem atrair chuvas e trovoadas. Foi coisa de político hábil e experimente, que precisa agora canalizar essas qualidades para fazer o País andar, a economia reagir e os agentes políticos e econômicos acreditarem minimamente que “yes, he can”.

O perfil do vitorioso estava traçado naturalmente, faltava encaixar um nome. Rodrigo Maia caiu como uma luva: 46 anos, quinto mandato, filho do conhecido político César Maia, ele representa a “nova situação” – PSDB, PPS, PSB e o próprio DEM –, transita bem em todos os partidos, não orbitou em torno de Eduardo Cunha e, ao que se saiba, passa ao largo da Lava Jato.

Cunha no corredor da morte – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Para quem se gabava de mandar e desmandar na Câmara, deve ter sido um baque e tanto. Com o mandato por um fio, o deputado Eduardo Cunha sofreu duas derrotas em apenas 12 horas. Fracassou na disputa pela presidência da Casa e não conseguiu usar a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) para melar seu processo de cassação.

O deputado-réu tentava anular outro revés, sofrido no Conselho de Ética. Em junho, depois de oito meses de manobras, o órgão conseguiu enfim aprovar o parecer que pede sua cassação por quebra de decoro. Cunha evocou uma série de miudezas para contestar o resultado. Entre outros detalhes, alegou que a votação deveria ter sido feita pelo sistema eletrônico, e não por chamada nominal.

Corra, Rodrigo, corra - César Felício

• O novo presidente da Câmara assume com uma base frágil

- Valor Econômico

A vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na corrida pela presidência pela Câmara dos Deputados assinala o fim do Centrão e o declínio definitivo da influência na casa do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afastado do mandato desde maio por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em seu curto mandato de pouco mais de seis meses, Maia deverá ser um presidente da Câmara alinhado com o Planalto, em uma perspectiva de negociação partidária, e não de varejo. Maia foi presidente de seu partido, historicamente alinhado com o PSDB, e sob esta perspectiva deve se comportar diante de Temer. O baixo clero, ao menos temporariamente, desce do altar.

A importância de ter um teto - Rogério Furquim Werneck

• Interinidade tem custado caro ao governo, como bem evidenciam as muitas medidas na contramão do esforço de ajuste fiscal

- O Globo

O recesso do Congresso, ao fim de um semestre especialmente tumultuado, dá ao país um momento de respiro para avaliar, com o realismo que se faz necessário, em que pé andam as coisas.

Sessenta dias após empossado, Michel Temer parece ter conseguido, afinal, com a escolha do novo presidente da Câmara, consolidar o amplo apoio parlamentar de que não poderá prescindir. E tem boas razões para comemorar o recrutamento de uma equipe econômica de excelente nível, que já lhe serviu para estender, em larga medida, o prazo normal de carência perante a opinião pública a que, nas circunstâncias, faria jus.

Receitas minguam e precisam de reforma - Claudia Safatle

• Um FDIC para R$ 300 bilhões de dívida ativa

- Valor Econômico

Há um problema estrutural nas receitas tributárias que caem como proporção do Produto Interno Bruto desde 2007. Isso aflige os técnicos da área econômica, que temem que a arrecadação do governo federal não cresça mesmo com a recuperação da economia.

Foi por receio e cautela que, na previsão de déficit de R$ 139 bilhões para 2017, considerou-se uma queda das receitas de 0,8% do PIB, embora esteja previsto crescimento de 1,2% para o PIB.

Parte da retração da arrecadação federal decorre da recessão, que levou as empresas a se financiarem com a suspensão do pagamento de tributos. O crescimento previsto para o ano que vem seria, segundo fontes oficiais, insuficiente para restabelecer a solidez financeira das companhias para que voltem a recolher os impostos.

A queda e a espera - Míriam Leitão

- O Globo

Na economia, a reação à decisão na Câmara foi positiva e isso se refletiu nos indicadores mais voláteis do mercado, como a bolsa e o dólar, mas no meio da manhã já veio mais uma notícia desanimadora: o índice de atividade econômica calculado pelo Banco Central foi pior do que o projetado pela média do mercado. O 0,5% de queda — abaixo do -0,24% da média das previsões — indica que o PIB cairá no trimestre.

A visão positiva sobre a eleição do deputado Rodrigo Maia à presidência da Câmara é resultado de uma soma de percepções. Foi mais uma vitória parlamentar do governo interino, apesar do processo meio tumultuado em que houve uma forte fragmentação da base aliada. No conflito, o governo conseguiu esvaziar a candidatura de Marcelo Castro, que fora articulada pelo ex-presidente Lula. No segundo turno, enfrentaram-se dois governistas e venceu o mais comprometido com a agenda de reformas.

Uma chance para os políticos – Editorial / O Estado de S. Paulo

O fortalecimento político do governo interino de Michel Temer, o desprestígio de Eduardo Cunha que provocou o esvaziamento do Centrão e a confirmação do papel marginal a que o PT está relegado na cena política são as boas notícias que resultam da vitória de Rodrigo Maia na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, com 285 votos (55,6% do número total de deputados). Além disso, a votação recebida pelo democrata fluminense indica que, com engenho e determinação, ele poderá transformar seu mandato-tampão de seis meses e meio no primeiro passo decisivo para a recuperação plena do papel institucional da Câmara e da hoje extremamente desgastada imagem da chamada classe política.

Temer ganha e Cunha perde com Maia na Câmara – Editorial / O Globo

• Novo presidente da Casa pode garantir espaço para o diálogo essencial à aprovação de reformas, enquanto derrota de deputado é outra garantia de tranquilidade

A vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na disputa pela presidência da Câmara representa uma limpeza de terreno na Casa, para o governo interino de Michel Temer, com a vantagem adicional de ter aproximado ainda mais Eduardo Cunha do precipício da cassação. Maia, no segundo turno da eleição, na madrugada de ontem, obteve 285 votos contra apenas 170 de Rogério Rosso (PSD-DF), nome de Cunha e do centrão na disputa.

No decorrer do dia, o deputado fluminense suspenso também perderia na Comissão de Constituição e Justiça, por 48 votos a 12, na tentativa de fazer voltar o processo de sua cassação ao Conselho de Ética, mais uma manobra protelatória. Agora, em agosto, passado o recesso, o futuro de Cunha na vida pública deverá ser decidido em plenário, por voto aberto. Os prognósticos não são risonhos para ele. Se o vitorioso na disputa pela presidência da Casa fosse Rosso, Temer não seria derrotado, mas não saborearia uma vitória ampla, pois Cunha, mesmo cassado —é o que se espera —, poderia tentar alguma influência na Casa a partir da sua presidência. Agora, não.

Depois da vitória- Editorial / Folha de S. Paulo

Em meio ao intrincado xadrez de traições e alianças de ocasião na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, mal se notava que o que estava em jogo não passava do semestre restante do mandato interrompido de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Sobre essa fração de poder atiraram-se nada menos que 13 postulantes, dez deles de partidos da base de sustentação ao presidente interino, Michel Temer (PMDB) —ou, mais precisamente, de siglas contempladas por cargos em ministérios e estatais.

O número estapafúrdio, reflexo do grau inédito de fragmentação do Legislativo, deu ares folclóricos, mais até que fisiológicos, ao pleito. E, mesmo nas candidaturas de fato competitivas, era mais fácil identificar oportunismo imediato que plataforma programática.

Forças Armadas se preocupam com segurança no Rio após Olimpíada

- O Estado de S. Paulo

Existe preocupação nas Forças Armadas com a situação do Rio de Janeiro, depois do fim da Olimpíada.

Segundo fontes militares, poderá ser explosiva a combinação da fragilidade da segurança pública na cidade com o desemprego, que deve aumentar muito com o fim das obras envolvendo os Jogos Olímpicos.

Um novo Carnaval – Ruy Castro

- Folha de S. Paulo

O Rio está habituado a apanhar, e dos seus filhos mais queridos. Para Millôr Fernandes, a cidade teve o seu apogeu nos anos 60 e então decaiu para sempre. Para Paulo Francis, o Rio morreu justamente em 1960, quando a capital se mudou para Brasília. E, para Ivan Lessa, o Rio só foi bom até 1949, quando ele tinha 14 anos. Devia ter razão — não havia uma semana nos anos 50 sem uma reportagem da revista "Manchete" detonando a cidade. O incrível é que, aos olhos de hoje, aqueles eram "os anos dourados".

A Uma Passante - Charles Baudelaire

A rua, em torno, era ensurdecedora vaia.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão vaidosa
Erguendo e balançando a barra alva da saia;

Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina.
Eu bebia, como um basbaque extravagante,
No tempestuoso céu do seu olhar distante,
A doçura que encanta e o prazer que assassina.

Brilho... e a noite depois! - Fugitiva beldade
De um olhar que me fez nascer segunda vez,
Não mais te hei de rever senão na eternidade?

Longe daqui! tarde demais! nunca talvez!
Pois não sabes de mim, não sei que fim levaste,
Tu que eu teria amado, ó tu que o adivinhaste!

Mirelle Mathieu - Santa Maria De La Mer.