domingo, 26 de junho de 2016

Opinião do dia – Marco Aurélio Nogueira

"É uma época paradoxal: brilhante e opaca, participativa e improdutiva, de muita inovação e poucos resultados positivos, de sofrimento organizacional, excitação e mal-estar, de vida dinâmica e flutuante. Mas é a nossa época, e teremos de aprender a lidar com ela se quisermos cogitar de transformá-la."

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Marco Aurélio Nogueira é professor titular de teoria política e coordenador do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais (Neai) da Unesp. ‘Desentendimento e dogmatismo’, O Estado de S. Paulo, 25/6/2016

Vaccari e Dirceu querem que PT assuma culpa por desvios

Petistas presos querem que partido assuma culpa

• João Vaccari, José Dirceu e André Vargas cobram mea-culpa institucional da legenda por corrupção na Petrobrás; ideia ganhou força com ação da PF na sede do PT

Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

Os três petistas presos pela Operação Lava Jato, João Vaccari Neto, José Dirceu e André Vargas, querem que a legenda assuma institucionalmente a responsabilidade pelos desvios na Petrobrás. A ideia ganhou força na quinta-feira passada, quando a sede da legenda em São Paulo foi alvo de ação de busca e apreensão da Polícia Federal. Nos últimos dias, dirigentes passaram a defender internamente que o partido avalie a proposta na próxima reunião do diretório nacional do PT, marcada para 19 e 20 de julho.

Em conversas com parlamentares petistas que foram visitá-lo na carceragem da PF em Curitiba, Vaccari encaminhou a questão ao partido. O ex-tesoureiro da sigla argumenta que o alvo final da Lava Jato e operações derivadas não é sua pessoa física, é o PT enquanto instituição. O fato de a sede da legenda ter sido ocupada pela PF na quinta-feira reforça o argumento dos defensores da tese.

Documento da PF reforça suspeita de tráfico de influência no governo Lula

• Na análise de e-mails do pecuarista José Carlos Bumlai, Lava Jato encontrou indícios de que um grupo de "amigos" do ex-presidente atuavam como intermediários de negócios no governo federal

Ricardo Brandt, Fábio Serapião e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Um relatório da Polícia Federal anexado em inquérito da Operação Lava Jato, em Curitiba, reúne cópias de e-mails do pecuarista José Carlos Bumlai que reforçam as suspeitas dos investigadores de tráfico de influência no governo Luiz Inácio Lula da Silva. São conversas de Bumlai com um lobista, empresários e amigos do ex-presidente que tratam da agenda do ex-presidente, de ministros e de assunto no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Bumlai é investigado por tráfico de influência, suspeito de intermediar interesses privados no Planalto na gestão do petista. Preso em novembro de 2015 – alvo da fase Passe Livre – ele é réu em uma ação penal, em Curitiba, e alvo de outros inquéritos.

Nas mensagens trocadas no período em que Lula era presidente, os interlocutores tratam com Bumlai e outros amigos do ex-presidente de negócios em Gana, no Catar, de uma parceria com o BNDES, com pedido de agendamento de reunião com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, do Programa Fome Zero e de assuntos de interesse de um servidor da Infraero.

Lava-Jato investiga empresas usadas para burlar controle

• TCU quer fiscalizar sociedades criadas por sistema Eletrobras e empreiteiras

Falta de regras e transparência é a tônica na relação com SPEs, conclui tribunal. Compra suspeita em Furnas é investigada no Supremo

A Lava-Jato investiga a crescente participação do setor elétrico em empresas que, sem controle e transparência, como constatou o TCU, recebem bilhões em recursos públicos, envolvendo empreiteiras condenadas pelos desvios na Petrobras, conta Alessandra Duarte. O sistema Eletrobras já participa de 179 das chamadas Sociedades de Propósito Específico (SPEs). Só em Furnas, elas movimentaram R$ 21,9 bilhões desde 2011 e há ao menos um caso nebuloso, alvo de inquérito no STF dentro da Lava-Jato: a recusa de Furnas a comprar ações de uma SPE por R$ 7 milhões para, meses depois, adquiri-la por R$ 80 milhões, numa transação só possível com mudança na lei patrocinada por Eduardo Cunha.

Alessandra Duarte - O Globo

“Empresas paralelas” formadas por agentes privados e capital de empresas públicas — para administrar empreendimentos como hidrelétricas, termelétricas e transmissoras de energia —, as chamadas Sociedades de Propósito Específico (SPEs) cresceram no setor elétrico nos últimos anos sem regras de controle e transparência, aponta decisão deste ano do Tribunal de Contas da União (TCU). E agora entraram também no foco da Lava-Jato: inquérito pedido dentro da operação no fim de abril pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e instaurado pelo Supremo Tribunal Federal, inclui nas investigações a suposta influência do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na participação de Furnas em sociedades desse tipo.

Curitiba vira modelo para outras ações

Modelo de investigação criado na Lava-Jato se dissemina pelo país

• Operações como a que prendeu ex-ministro do PT adotam mesmo padrão

Cleide Carvalho, Renato Onofre, Chico Otavio - O Globo

Dois meses após o juiz Sérgio Moro ter previsto que os trabalhos da Lava-Jato em Curitiba poderiam ser encerrados até dezembro, a operação volta a tomar corpo, se espalha e mostra fôlego para alcançar governadores e prefeitos. A planilha da Odebrecht, com cerca de 200 nomes e ainda não decifrada, registra repasses desde as eleições municipais de 2012.

Pelo menos R$ 68 milhões trazidos do exterior se transformaram em dinheiro em espécie pelas mãos de doleiros identificados como Kibe e Dragão. Esse dinheiro foi entregue a beneficiários de propina, o que mostra o potencial de danos que a Lava-Jato pode causar no cenário político, incluindo as eleições de 2018.

A transparência dada às apurações da Lava-Jato já serve como modelo de investigações que envolvem homens e dinheiro públicos. E gera filhotes. Pelo menos três novas operações — Cratons, O Recebedor e Custo Brasil — trilham o caminho do dinheiro cujos meandros foram identificados em Curitiba.

Lista de obras com desvios
Já foram identificados desvios na Ferrovia Norte-Sul, na Integração Leste-Oeste, nas obras do Rio São Francisco e na extração ilegal de diamantes em terras dos índios cinta-larga, cujo dinheiro transitava pela conta de um dos doleiros da Lava-Jato, Carlos Chater.

Temer cria relação estável com o Congresso, mas cede a barganhas

• Presidente consegue aprovar projetos sem contestar imposições da base aliada

Simone Iglesias - O Globo

BRASÍLIA - Com as incertezas políticas pairando sob o governo por conta da Operação Lava-Jato, o presidente interino Michel Temer conseguiu uma trégua com o Congresso, em especial com a Câmara dos Deputados, que a presidente afastada Dilma Rousseff não teve. Mas, para pacificar sua base de apoio, teve que ceder a pressões e barganhas. Uma das mais simbólicas foi a imposição pelo “centrão” do deputado André Moura (PSCSE) para líder do governo na Câmara.

Acéfala pelo afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência e, com um interino, Waldir Maranhão (PP-MA), sem controle e sem respeito dos parlamentares, a Câmara se adaptou rápido ao estilo agregador de Temer. Em vez de boicotar, como fez muitas vezes com a petista, está ajudando a agilizar a aprovação de matérias de interesse do governo paradas na gestão anterior.

A diferença de postura entre a presidente afastada e o presidente interino fez com que a relação melhorasse nas últimas seis semanas, levando o peemedebista a vitórias importantes, como a aprovação da DRU (Desvinculação de Receitas da União) e da Lei das Estatais. Ele também conseguiu a aprovação rápida da nova meta fiscal, com deficit de R$ 170,5 bilhões; do reajuste dos servidores públicos e da medida provisória que abre integralmente o setor aéreo para investimentos de empresas estrangeiras.

'Centrão' e PMDB negociam revezar o controle da Câmara

Ranier Bragon, Débora Álvares – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Com a aproximação do desfecho que pode retirar Eduardo Cunha (PMDB-RJ) formalmente da presidência da Câmara —por cassação ou renúncia—, partidos do chamado "centrão" e o PMDB, maior sigla da Casa, tentam manter o controle da instituição pelos próximos anos.

A saída de Cunha terá como efeito imediato nova eleição para a presidência da Câmara em um prazo de cinco sessões. O vencedor cumprirá um mandato-tampão até 1º de fevereiro de 2017.

Pouco mais de uma dezena de deputados são cotados para o mandato-tampão, a maioria deles do "centrão" (PP, PR, PSD, PTB, PRB e outras siglas menores), que reúne pouco mais de 200 dos 513 deputados.

O "centrão" foi crucial para o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência e tem forte ligação com Cunha.

Moro retoma inquéritos que investigam o ex-presidente Lula

• À exceção de diálogo com Dilma, outras escutas serão usadas em eventuais ações

- O Globo

SÃO PAULO - O juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, mandou intimar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a retomada dos inquéritos que investigam ocultação de patrimônio e possíveis benefícios recebidos de empreiteiras investigadas na Lava-Jato, que incluem as apurações sobre o sítio de Atibaia, o tríplex no Guarujá e recebimentos da empresa LILS Palestras.

Moro ‘reativa’ todos os inquéritos contra Lula

• Após receber sinal verde do STF, juiz da Lava Jato retoma investigações que envolvem ex-presidente em supostos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro na compra e reforma de imóveis, em recebimentos por palestras e em doações a seu instituto

Fausto Macedo, Ricardo Brandt e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo

CURITIBA - Os inquéritos e processos de busca e apreensão e quebra de sigilos que têm como alvo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua família foram reativados, nesta sexta-feira, 24, pelo juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, em Curitiba – origem do escândalo Petrobrás.

São frentes que apuram corrupção e lavagem de dinheiro na compra e reforma do sítio, em Atibaia (SP), no negócio do tríplex do Condomínio Solaris, no Guarujá (SP), nos pagamentos para a LILS – empresa de palestras do ex-presidente – e nas doações para o Instituto Lula, entre outros.

“O eminente ministro Teori Zavascki determinou, acolhendo parecer do exmo. procurador-geral da República, a devolução do inquérito. Tendo os autos retornado, traslade-se para estes autos cópia do parecer apresentado no Inquérito 4220 e cópia da decisão de 13 de junho de 2016 na Reclamação 23.457”, despachou Moro, que conduz todos os processos da Lava Jato em primeira instância.

Moro volta a despachar em procedimentos sobre Lula na Lava Jato

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Depois de três meses, o juiz federal Sergio Moro, responsável pelas ações da Lava Jato na primeira instância, voltou a despachar nos procedimentos da operação relacionados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em medida expedida na quinta-feira (23), Moro determinou que as defesas renovem perante a Justiça Federal no Paraná os pedidos que tinham sido formulados junto ao STF (Supremo Tribunal Federal). Também ordenou que apresentem suas procurações.

Esquema de Paulo Bernardo ‘ainda se mantém’, aponta investigação

• Fundo Consist, do qual teriam saído R$ 7,1 milhões em propinas para ex-ministro do Planejamento, preserva 'uma gama de contratos', diz força-tarefa da Operação Custo Brasil

Ricardo Brandt, Julia Affonso e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - A Polícia Federal e a Procuradoria da República descobriram que o fundo Consist – cujo mentor e beneficiário maior teria sido o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento/Governo Lula e Comunicações/Governo Dilma) – continuou operando mesmo depois da deflagração da Operação Pixuleco II, em agosto de 2015, quando foram presos um lobista e um advogado sob suspeita de serem os operadores do esquema de desvios milionários sobre empréstimos consignados.

Paulo Bernardo, preso na quinta-feira, 23, na Operação Custo Brasil, deixou o governo Dilma em 2015. A investigação mostra que, mesmo depois da saída dele do Ministério das Comunicações, o fundo Consist ainda se mantém ativo.

“Há indícios de que havia uma permanência da organização criminosa e, mesmo após cessarem os cargos públicos esse esquema ainda se mantém em diversos locais, uma gama de contratos ainda está em vigor e diversas pessoas têm uma força política grande”, declarou o procurador da República Andrey Borges de Mendonça, da força-tarefa da Operação Custo Brasil.

Políticos não sabem como bancar custos de campanha

• Proibição de doações de empresas e efeitos da Lava-Jato geram perplexidade a menos de 4 meses das eleições

Catarina Alencastro e Isabel Braga - O Globo

BRASÍLIA Os candidatos a prefeito e vereador nas eleições deste ano serão as cobaias de um novo modelo de financiamento, minguado sem as doações empresariais milionárias. O resultado é uma incógnita. A Operação Lava-Jato e a mudança na legislação provocaram um terremoto nas práticas eleitorais, obrigando a classe política a redefinir a metodologia de arrecadação das campanhas. Até agora, os partidos não sabem o que fazer.

As eleições, marcadas para outubro, batem à porta, e os preparativos ainda não começaram. Quem concorre este ano estima que os gastos vão cair pela metade, já que só restam como fontes de receitas o Fundo Partidário e as doações de pessoas físicas, sem tradição no Brasil.

Novatos disputam capitais, mas ‘caras velhas’ predominam

• Em pelo menos cinco cidades, novos nomes aproveitam a rejeição crescente dos eleitores à ‘velha política’ e lançam candidaturas a prefeito; alguns, porém, já são citados em denúncias

Silvia Amorim - O Globo

-SÃO PAULO - Ex-dirigente de clube de futebol, apresentador de TV, ex-juiz federal e empresário. Essas são as “caras novas” que se apresentarão na eleição para prefeito este ano. Incentivados pelo descrédito e revolta com a classe política, os outsiders — profissionais de outras áreas que decidiram se aventurar na eleição — marcarão presença na disputa em, ao menos, cinco capitais — São Paulo, Belo Horizonte, Cuiabá, Teresina e Palmas. Eles são minoria diante da legião de candidatos, mas estão confiantes de que o discurso contra a “velha política” pode fazer sucesso nas urnas.

Na capital mineira, é um ex-cartola do futebol que se arrisca na travessia para a política. Desde que deixou a presidência do Atlético Mineiro em 2014, Alexandre Kalil ensaia uma candidatura. Na última eleição, chegou a se lançar para deputado federal, mas desistiu. Polêmico e debochado, ele disse na época que não havia nascido para ser político. Parece ter mudado de ideia. Este ano trocou de partido, do PSB para o PHS, e tentará um voo mais alto.

‘Está no livrinho?’ - Carlos Ayres Britto

- O Estado de S. Paulo

O genial brasileiro Tobias Barreto (1838-1889) era contundente com os pseudointelectuais que “se achavam”, falemos assim. Ia na jugular dos escritores que não se davam conta do mico em que habitualmente incidiam com suas análises e teorizações de fundo de quintal. Fruto de uma visão de mundo que não era senão a mais rasteira cumplicidade entre o provincianismo colonial brasileiro e os balofos privilégios da monarquia igualmente brasileira. Com o seu acabrunhante séquito de patriarcalismo, racismo, patrimonialismo, compadrio, nepotismo, fisiologismo, autoritarismo, soberba, cartorialismo e o tão renitente quanto ilícito enriquecimento privado à custa do erário.

Donde o conhecido trocadilho do padre Antônio Vieira (1608-1697): “Os governadores chegam pobres às Índias ricas e retornam ricos das Índias pobres”. Pois bem, Tobias sapecava em tais personagens o rótulo de “figuras caricatas”.

Paisagem depois da batalha - Fernando Gabeira

- O Globo 

Embora para onde, Ademário? Que sinistras curvas você prepara para nós? Pela minha agenda, deveria estar na Serra da Mantiqueira, visitando agricultores orgânicos cuja lavoura está sendo atacada por javalis. Mas a notícia de que o Rio decretou calamidade pública, os problemas de segurança pública que se agravam, tudo isso contribui para que fique por aqui e, por enquanto, deixe os javalis em paz. Documentar a paisagem depois da batalha é remexer as cinzas de um sonho em que a roubalheira e a megalomania dominaram o cenário.

Esta semana ficamos sabendo que a Odebrecht, além de seu departamento de propina, tinha um servidor na Suíça e um banco em Antígua, um sofisticado e talvez inédito esquema para uma só empresa. Os rankings internacionais de corrupção terão de abrir uma nova modalidade para abarcar essa capacidade de construção de um sistema fechado, um mundo virtual onde empreiteiros movem fortunas de verdade.

Incertezas aumentam - Merval Pereira

- O Globo

Pesquisa mostra queda de expectativa sobre sucesso do governo Temer. A incerteza induzida pelo cenário político agrava as expectativas em torno de uma recuperação econômica e quanto à real possibilidade de um avanço em uma agenda mínima que permita ao país chegar, em 2018, não pior do que agora. Esta é uma das principais constatações da segunda pesquisa sobre expectativas em torno de cenários de sucesso do atual governo interino realizada pela consultoria Macroplan, especializada em estratégia e cenários.

Com a corrupção no centro do debate político no Brasil, os resultados da atual sondagem espelham claramente o poder de influência e transformação da Operação Lava-Jato e ações conexas ou derivadas na percepção de futuro do país.

União fraterna - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

Senadores ficaram indignados com a “batida” da Polícia Federal em um dos apartamentos funcionais da Casa, ocupado pela colega Gleisi Hoffmann, em operação para busca e apreensão de provas para instruir o inquérito contra o marido da senadora, ex-ministro Paulo Bernardo, preso preventivamente sob a acusação de crime de corrupção.

Os senadores, no entanto, não pareceram se espantar nem a eles acometeu sentimento de indignação diante do motivo da investigação: o desvio de R$ 100 milhões das operações de crédito consignado, no Ministério do Planejamento, entre 2010 e 2015. Segundo os investigadores, parte do dinheiro teria ido para Paulo Bernardo (titular da pasta no governo Luiz Inácio da Silva) e parceiros do esquema, parte destinada aos cofres do PT sob a gerência do notório João Vaccari Neto.

Sobre o mal e o bem - Luiz Carlos Azedo

• Os partidos inviabilizaram a reforma eleitoral e agora estão enredados na Lava-Jato, porque os grandes financiadores de campanha operavam com recursos ilícitos

- Correio Braziliense

“Há uma coisa nova acontecendo no Brasil. Não é mais aceitável desviar dinheiro público, seja para o financiamento eleitoral ou para o próprio bolso”, anunciou o ministro Luís Roberto Barroso, no julgamento do Supremo Tribunal Federal que aceitou denúncia contra o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Assim como, historicamente, se tornou inaceitável descriminar negros, historicamente, se tornou inaceitável bater em mulher, dirigir embriagado, a nomeação de parentes para cargos públicos, acho que está em curso uma nova mudança de paradigma”, concluiu.

O joio e o trigo - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

A Lava Jato está não só lavando contratos espúrios das empreiteiras e desvios de mil e uma utilidades para políticos como também alvejando presidenciáveis presentes, futuros e até pretéritos, como Eduardo Campos, morto aos 49 anos quando disputava a Presidência em 2014. É preciso, porém, distinguir quem é quem e o quê é o quê, sob risco de uma terra arrasada em que não teremos ninguém para acreditar daqui para frente, nem para votar em 2018.

As investigações já pegaram tesoureiros, marqueteiros e doadores da candidatura de Dilma Rousseff, atingiram a imagem pública de Aécio Neves com o tijolo Furnas, chegaram ao avião e a um suposto esquema milionário de lavagem de dinheiro na campanha de um morto e resvalam até para Marina Silva. O que foi dito e ventilado sobre a equipe dela é muito pouco para causar decepção, mas talvez o suficiente para massificar a versão de que “político é tudo igual” e que “a política não tem jeito”.

Viver dá trabalho - Míriam Leitão

- O Globo

No Congresso da Abraji, ministra Cármen Lúcia deu uma aula sobre o Brasil “A lã não pesa ao carneiro”. Com esta frase a ministra Carmen Lúcia respondeu como se vê diante do fato de que poderá até assumir a presidência da República, por chegar ao comando do Supremo Tribunal no período mais conturbado da nossa história. Ela disse estar preparada para as suas responsabilidades e relativizou a tensão atual: “em cada época os problemas parecem os maiores da história”.

A ministra que assumirá a presidência do STF é definida, nas conversas gravadas dos investigados, como “carne de pescoço”. Sérgio Machado diz no diálogo com o senador Renan Calheiros que “o novo Supremo com essa mulher vai ser pior ainda”. Ela foi na sexta-feira conversar com jornalistas e estudantes no Congresso da Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos (Abraji). Chegou sem assessores e sem pose. Defendeu fortemente a liberdade de expressão, falou do seu amor ao Brasil — “sou capaz de morrer pelo país’ — e criticou os que pensam que podem pressionar os ministros da suprema corte brasileira.

A desobediência do andar de cima - Elio Gaspari

- O Globo

Num artigo em que defendeu o mandato de Dilma Rousseff e condenou “a hipocrisia como tradição política”, a historiadora Hebe Mattos, da Universidade Federal Fluminense, foi ao século XIX e nele encontrou “um vigoroso processo de desobediência civil por parte da classe senhorial” contra a extinção do tráfico de africanos.

Em geral pensa-se que desobediência civil é coisa de pobre. A desobediência civil do andar de cima ajuda a entender o que está acontecendo com a Operação Lava-Jato. (Em nenhum momento a professora fez esse paralelo e é possível que nem sequer concorde com ele.) Até hoje só partiram do novo governo defesas cerimoniais da Lava-Jato. Tramitam no Congresso lotes de iniciativas destinadas a desossá-la. Aqui e ali, ouvese: “Aonde é que isso vai parar?” José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá não podiam ter sido mais claros nos grampos de Sérgio Machado.

E os juros? – Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

Há duas semanas o governo enviou proposta de emenda constitucional (PEC) que limita o crescimento do gasto público não financeiro, conhecido por gasto primário, à inflação do ano anterior.

A PEC congela o gasto real do setor público por alguns anos.

Por que motivo a PEC não congelou o crescimento do gasto com pagamento de juros?

Dois motivos. Primeiro, como discuti na semana passada, o juro é o instrumento que temos para controlar a inflação. Redução dos juros sem que as condições permitam, como ocorreu de 2011 até o início de 2013, resulta em aceleração inflacionária.

Nem criança, nem adulto - José de Souza Martins

• A sociedade brasileira criou, nas últimas décadas, a criança e o jovem descartáveis, melancólica técnica de controle da natalidade e de eutanásia social

- O Estado de S. Paulo

À medida que cresce o número de notícias sobre a delinquência juvenil, sobre o envolvimento de crianças na criminalidade, sobre a violência praticada por adolescentes nas escolas públicas e gratuitas até contra a própria escola, os colegas e os professores, as notícias sobre o envolvimento de crianças e adolescentes com drogas, no uso e no tráfico, é cada vez mais frequente ouvir questionamentos sobre a proibição legal do trabalho infantil e juvenil: “Se estivessem trabalhando, não estariam disponíveis para a maldade, o crime, a vagabundagem, a violência”. À vista de rapagões de 15 anos devotados à vadiagem, muitos acham que lhes cairia bem o mesmo duro trabalho que recai sobre os ombros de franzinos garotos já responsáveis pelo sustento da própria família.

Sórdida tramoia petista – Editorial / O Estado de S. Paulo

Já não há quem se surpreenda com a prisão de mais um figurão do PT, ex-ministro de Lula e de Dilma, por envolvimento em corrupção. A acusação que pesa sobre Paulo Bernardo e seus cúmplices, no entanto, é excepcionalmente grave não pelo fato de tratar-se de mais uma velhacaria urdida com o objetivo de alimentar o propinoduto que durante tantos anos financiou o lulopetismo, mas porque a natureza dessa trama criminosa é particularmente perversa do ponto de vista social: obrigava funcionários públicos de baixa renda – os principais usuários do crédito consignado – a contribuir compulsoriamente para abastecer os cofres do PT e rechear o bolso de espertalhões como o ex-ministro do Planejamento e também das Comunicações. A Operação Custo Brasil, congênere da Lava Jato, desvela assim mais uma sórdida tramoia do peculiar modo lulopetista de promover a defesa dos interesses dos trabalhadores.

Existência de estatais é causa básica da corrupção – Editorial / O Globo

• Empresas públicas atuando em vários mercados, onde bilhões circulam em operações de compra e venda, dão condições para o roubo do dinheiro público

Enquanto a Operação Lava-Jato autopsia um bilionário escândalo de corrupção, com repercussão mundial — também devido aos prejuízos causados no exterior —, segue o debate sobre o que fazer para reprimir o roubo do dinheiro do contribuinte e de investidores. Que se tornou sistêmico desde que o lulopetismo subiu a rampa do Planalto, em 2003. O PT não inventou a corrupção, mas lhe propiciou enormes ganhos de escala.

Há todo tipo de proposta. Existe quem se iluda por imaginar que a usina da roubalheira está no financiamento de campanha por empresas. Voltou-se a proibi-lo, e isso de nada adiantará, porque caixa dois e lavagem de dinheiro foram alçados à condição de esporte nacional no mundo político. Não de hoje. O caminho seria o inverso: liberar, regular, dar transparência e punir com rigor.

As pedaladas, as campeãs e o assalto aos velhinhos - Rolf Kuntz

- O Estado de S. Paulo

O assalto de R$ 100 bilhões aos velhinhos e outros clientes do crédito consignado ainda era o grande assunto do dia, turbinado pela prisão do ex-ministro Paulo Bernardo, quando foi noticiado o desastroso balanço da Petros, com déficit de R$ 23,1 bilhões. O buraco será coberto pelos mutuários, pelos aposentados e pela patrocinadora, a Petrobrás, empresa sob controle financeiro da União e, portanto, dos cidadãos brasileiros. A conta, portanto, vai também para eles. O tamanho do prejuízo pode ser inesperado, mas a condição miserável das fundações de previdência das estatais é bem conhecida. Também sujeitos ao jogo partidário, ao aparelhamento e ao loteamento, esses fundos de pensão têm perdido bilhões em aplicações mal feitas, frequentemente orientadas pelos interesses do grupo no poder. Exemplo: investimentos na Sete Brasil, criada para fornecer sondas à Petrobrás, impuseram perdas a todas as grandes fundações, assim como aos bancos federais.

Risco de populismo e caixa dois na eleição municipal – Editorial / O Globo

A notícia de que o pré-candidato à prefeitura do Rio Pedro Paulo Carvalho vai proibir o Uber caso seja eleito acionou o alerta para a grande possibilidade de as próximas eleições serem marcadas — numa intensidade jamais vista — por populismo e corporativismo. Não que surpreenda, mas será a primeira vez em que valerá a proibição de doações de empresas, diminuindo a quantidade de dinheiro disponível para propaganda, e os candidatos deverão tentar compensar a falta de recursos apostando ainda mais em práticas nocivas. Estarão em alta promessas que garantem votos de grupos específicos, mas são lesivas à coletividade, caso da proibição do aplicativo, uma alternativa ao sofrível serviço de táxis na cidade. Há, ainda, grande risco de mais caixa dois e compra de votos por esquemas clientelistas.

Não quero ter razão – Ferreira Gullar

- Folha de S. Paulo

Fiquei surpreso ao ler o artigo de Augusto de Campos ("Ilustrada", 15.jun, pág. C4). Surpreso pelo tom insultuoso e agressivo de suas palavras em reação à crônica que eu havia publicado aqui, um domingo antes, evocando minha relação com Oswald de Andrade e sua obra. Toda a fúria de Augusto foi motivada por ter eu mencionado uma conversa nossa, ocorrida em 1955, em que ele fez restrições a Oswald e de que discordei. Se fiz menção a tal conversa foi apenas porque ela efetivamente ocorreu e faz parte de minha relação com o autor de "Serafim Ponte Grande". Não tive outro propósito, muito menos o de subestimar a contribuição de Augusto, Haroldo e Décio para a revalorização da obra de Oswald, fato que reconheci e registrei na referida crônica.

Homens que passam – Graziela Melo

As dores
dos homens
que passam,

nunca
sabemos
quais são!

Entre
sorrisos
e afagos,

as vezes,
até um aperto
de mão!!!

Escondem
tristezas
profundas,

no fundo
do coração!!!

Choro no Bandolim de Ouro II