segunda-feira, 13 de junho de 2016

Opinião do dia – Merval Pereira

É preciso ser muito cínico para sair pelo país gritando contra um suposto golpe e não dizer uma palavra sequer contra a espoliação da Petrobras, um símbolo nacional que simplesmente foi dilapidado com objetivos eleitoreiros, e deixou muita gente rica no rastro da destruição. Assim como a Eletrobrás, os fundos de pensão, e assim por diante.

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Merval Pereira é jornalista. ‘Referendo autorrevogatório’, O Globo, 12/6/2016

“A volta de Dilma à Presidência é inviável”, diz Aécio


Entrevista a Marcelo de Moraes – O Estado de S. Paulo

Depois da aprovação do afastamento da presidente Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves não teve dúvidas que o único caminho possível para o PSDB era o de apoiar o governo provisório liderado por Michel Temer. “Poderíamos lavar as mãos ou procurar fazer o melhor para o Brasil. Esse é o DNA do PSDB”, afirma. Para ele, a incapacidade de tirar o Brasil da crise foi decisiva para que Dilma fosse afastada. E duvida que ela tenha condições políticas de voltar. “Acho impossível esse retorno. Até setores do PT não querem sua volta”, diz.

Saída de Dilma
Ainda é um cenário de grande instabilidade, mas o Brasil passou a ter uma chance de construir um novo roteiro. O fato é que chegou-se à conclusão de que com ela o País não avançaria. Ela perdeu as condições mínimas de sinalizar para a retomada do crescimento, do emprego, de uma agenda nova para o Brasil.

MPs agravam contas de Dilma

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) classificou como “grave irregularidade” a edição de quatro medidas provisórias, em 2015, que criaram gastos extras de R$ 49,6 bilhões. As MPs não teriam sido editadas com critérios de urgência, imprevisibilidade ou calamidade. O parecer integra o processo no TCU que analisa as contas da presidente afastada, Dilma Rousseff. O julgamento no plenário da corte de contas ocorre na quarta-feira.

Urgência em xeque

• Ministério Público aponta ‘grave irregularidade’ na edição de MPs que criaram despesas

Vinicius Sassine - O Globo

-BRASÍLIA- Um parecer do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) aponta como “grave irregularidade” a edição de quatro medidas provisórias em 2015 que criaram gastos extras de R$ 49,6 bilhões, sem levar em conta critérios de urgência, imprevisibilidade ou calamidade, necessários à proposição de MPs pelo presidente da República. O parecer integra o processo no TCU que analisa as contas de 2015 da presidente afastada Dilma Rousseff, e foi encaminhado aos gabinetes dos ministros na última sexta-feira pelo relator do processo, ministro José Múcio Monteiro.

Governo Dilma antecipou indicação ao STJ, dizem executivos

Wálter Nunes, Bela Megale – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Os investigados da Odebrecht que negociam acordo de delação premiada com os procuradores da Lava Jato relatarão que advogados e executivos do grupo ouviram de integrantes do governo que a presidente afastada, Dilma Rousseff, nomearia um ministro garantista para o Superior Tribunal de Justiça.

A medida favoreceria a soltura do ex-presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, preso desde junho de 2015.

São considerados garantistas os juízes que tendem a analisar os processos do ponto de vista dos direitos individuais do acusado.

A história que será contada pelos delatores é a de que executivos da Odebrecht, inclusive Marcelo, vinham pressionando integrantes do governo a frear as investigações com o argumento de que a derrocada da empreiteira atingiria a gestão Dilma.

Entre os alvos da pressão estavam a própria presidente e o então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Presos, Dirceu e Vaccari propõem 'leniência partidária' a PT

Bela Megale – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Presos pela Lava Jato desde o ano passado, os petistas José Dirceu e João Vaccari Neto sugeriram a correligionários que a sigla faça um acordo de "leniência partidária".

Segundo relatos de pessoas que estiveram com o ex-ministro e o ex-tesoureiro do PT no último mês, a ideia teria surgido do próprio Dirceu e foi apresentada a ao menos a dois deputados do partido e a dois advogados que confirmaram à Folha terem abordado o tema com os petistas.

"Não sei se foi o Dirceu que pensou nisso, mas ele defende. Pensamos nessa possibilidade e em outras. A ideia é passar uma régua na história do PT, assumir a culpa e fazer com que isso se reflita nas pessoas físicas", disse Roberto Podval, advogado do ex-ministro na Lava Jato.

Aceno de Dilma a consulta popular mobiliza Planalto

Por Andrea Jubé – Valor Econômico

BRASÍLIA - A dois meses do julgamento definitivo do impeachment no Senado, o Palácio do Planalto acredita que possui os votos necessários para tornar permanente a gestão do presidente interino Michel Temer. Contudo, os acenos da presidente afastada Dilma Rousseff com a realização de consulta popular sobre sua volta ao cargo ou novas eleições, mais a promessa de melhores espaços em seu eventual novo governo aos senadores que recusarem o impeachment, deixam os auxiliares de Temer em alerta.

Somada a esses fatores, a perspectiva de cassação do presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), reforça os argumentos de Dilma de que, se for reconduzida ao cargo, terá condições de reconstruir uma base na Câmara que lhe assegure alguma governabilidade no Congresso Nacional. Uma argumentação integralmente política, que exige a plena confiança dos interlocutores nas negociações em curso, que também envolve a distribuição de cargos.

Dilma é agora "gato escaldado", porque foi vítima de traições na votação do impeachment na Câmara. O entorno de Dilma no Alvorada sabe, por exemplo, que o senador Romário (PSB-RJ) dialoga com os dois lados. Com Dilma, pode garantir a indicação do futuro ministro do Esporte, e com Temer, uma diretoria de Furnas.

Possibilidade de nova eleição divide especialistas

Por Cristian Klein – Valor Econômico

RIO - Em encontro recente que teve com a presidente afastada Dilma Rousseff, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) conta que os dois conversaram, por mais de uma hora, sobre o Papa Francisco e a ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner, sobre o fracasso das esquerdas e até sobre a crise de imigrantes na Europa. Mas nada sobre impeachment. Nem sobre a realização de novas eleições presidenciais, bandeira da qual o senador se tornou defensor empedernido e que, aos poucos, vai conquistando adeptos. Entre eles, a própria Dilma, que pela primeira vez admitiu publicamente uma consulta popular, caso sobreviva ao processo de cassação. A declaração veio um dia depois de pesquisa CNT/MDA apontar, na quarta-feira, que 50,3% dos brasileiros são favoráveis à antecipação da disputa presidencial.

Para Cristovam Buarque, novas eleições são a melhor saída para o atoleiro político em que o país se encontra. O senador votou pela admissibilidade do processo de impeachment mas diz que, no julgamento do mérito, seu voto pode mudar. Se a petista amealhar mais seis senadores, além dos 22 que votaram a seu favor, ela escapa da cassação, lembra Buarque. "Nas próximas pesquisas, a popularidade de Dilma não dará um salto, mas vai aumentar", prevê.

Planalto e Centrão tiram apoio a mandato de Cunha

• Presidente afastado da Câmara descarta renúncia apesar de antigos aliados verem situação como insustentável; Conselho de Ética vota parecer pela cassação amanhã

Alberto Bombig e Igor Gadelha - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) perdeu apoio do Palácio do Planalto, do PMDB e do Centrão (maior bloco parlamentar informal do Congresso) na luta para manter o mandato. Antes poderoso, o presidente afastado da Câmara está acuado por antigos aliados, que o pressionam para que renuncie ao cargo na direção da Casa, e pela Operação Lava Jato. Cunha vê a preservação do mandato como única forma de não ser preso – ele teme que seus processos sejam remetidos a primeira instância e fiquem sob cuidados do juiz Sérgio Moro.

Na semana passada, Cunha foi procurado por dois parlamentares do Centrão, grupo que ajudou a criar. Ambos o aconselharam a renunciar, pelo bem do governo do presidente em exercício Michel Temer. Cunha se descontrolou e, aos gritos, disse que jamais tomará essa atitude. A medida seria vista como sinal de enfraquecimento, e isso poderia tornar inevitável a cassação em plenário.

Na quinta-feira, dia em que a mulher dele, a jornalista Cláudia Cruz, virou ré na Lava Jato por decisão de Moro, o deputado mandou mensagens a integrantes do Centrão dizendo que não pode abrir mão do mandato porque o juiz federal promoveria um “cerco” a ele e a sua família.

Teto de gastos públicos será novo teste para Temer no Congresso

• Presidente interino entregará PEC pessoalmente na quarta-feira

Cristiane Jungblut, Martha Beck - O Globo

-BRASÍLIA- Completados 30 dias de governo provisório, o presidente interino Michel Temer vai pôr novamente seu prestígio à prova no Congresso. Ele pretende ir pessoalmente ao Legislativo para entregar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que vai criar um teto para os gastos públicos. Seu maior problema, no entanto, está dentro da própria equipe, que diverge sobre o texto final.

O teto fixaria que as despesas do governo durante o ano seriam iguais ao orçamento do ano anterior, mais a inflação. O impasse no governo provisório se dá devido ao prazo de duração do teto. De um lado, os ministros políticos defendem um prazo mais curto para facilitar a aprovação. Do outro, está a área econômica, que quer um prazo de pelo menos dez anos para mostrar ao mercado um compromisso de longo prazo com o reequilíbrio fiscal.

Marina e Guilherme Leal afirmam não ter usado dinheiro ilícito em 2010

- Valor Econômico

RIO - A ex-senadora Marina Silva (Rede) e o presidente da Natura e ex-candidato da vice-presidente na chapa de Marina Silva, Guilherme Leal, negaram que a campanha de 2010 tenha recebido recursos ilícitos, conforme relato do ex-presidente da construtora OAS, Adelmário Pinheiro, mais conhecido como Léo Pinheiro, durante negociação para acordo de delação premiada.

Segundo informação publicada pelo colunista de “O Globo” Lauro Jardim, Pinheiro prometeu aos procuradores da Lava-Jato falar sobre um pedido de contribuição para a campanha de Marina em 2010, que teria sido feito por Leal e pago fora da contabilidade oficial apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com a coluna, não há registro de doação oficial da OAS para a campanha de Marina naquele ano.

Na nota divulgada no sábado, Leal afirma que se encontrou com Pinheiro, ocasião em que foram apresentadas “as propostas da candidatura”. Ele nega ter discutido pagamento de caixa 2 para a campanha. “Houve sinalização da OAS em apoiar a campanha presidencial por meio do Partido Verde, certamente dentro dos termos da lei, com o devido registro perante a Justiça Eleitoral", disse o executivo, segundo o qual “qualquer outra insinuação é uma inverdade".

Sirkis admite reunião, mas nega caixa 2

• PSDB vê acusação com cautela; para líder do DEM, ‘ela agora caiu na rede’

Thiago Herdy, Cristiane Jungblut - O Globo

-SÃO PAULO E BRASÍLIA- Um dos coordenadores da campanha de Marina Silva em 2010, o ex-deputado federal do PV pelo Rio de Janeiro Alfredo Sirkis negou ontem ter havido caixa 2 para a candidata na disputa daquele ano. Ele confirma, porém, ter se reunido com o então presidente da OAS, Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, e o candidato a vice-presidente de Marina, Guilherme Leal, para pedir uma colaboração para a campanha.

Segundo informação publicada pelo colunista Lauro Jardim, na edição do GLOBO de ontem, Pinheiro prometeu aos procuradores da Lava-Jato falar sobre um pedido de contribuição para a disputa de 2010, que teria sido feito por Leal e paga fora da contabilidade oficial apresentada à Justiça Eleitoral. Pinheiro tenta fechar um acordo de delação premiada.

Sirkis afirma que, depois do encontro, Pinheiro fez duas doações, a seu pedido, de R$ 200 mil — a primeira em agosto e a segunda em setembro de 2010, totalizando R$ 400 mil. Os repasses foram registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como contribuições para o Comitê Financeiro Único do PV no Rio de Janeiro, em vez do comitê da campanha nacional.

Empresários veem saída da crise, mas esperam medidas

Por Marta Watanabe, Ligia Guimarães e Marina Falcão - Valor Econômico

SÃO PAULO E RECIFE - A economia brasileira, em recessão há dois anos, pode ter chegado ao "fundo do poço". Relatos de empresários e associações do setor produtivo ouvidos pelo Valormostram que boa parte das empresas já se ajustou e há sinais de melhora da confiança, o que pode levar ao início de um ciclo de recuperação econômica a partir do segundo semestre.

Os empresários, porém, ainda demonstram cautela para retomar os investimentos e esperam medidas mais concretas do governo. Aguarda-se uma definição melhor do cenário político, além de estabilidade cambial, redução dos juros e maior disposição dos bancos para emprestar. Quase todos os segmentos reclamam de problemas de crédito, seja pelo custo ou pela escassez.

"A confiança só não melhorou mais por causa das incertezas na esfera política", diz Flávio Rocha, presidente da rede de lojas Riachuelo. Para ele, houve 100% de acerto na escolha da equipe econômica. "É a volta do protagonismo da livre iniciativa, superando o protagonismo do Estado. É uma mudança ideológica", afirmou o empresário.

Rocha acredita que o "fundo do poço" foi em abril, quando uma sondagem com 600 executivos de compras apontou queda de 10,8% das vendas na comparação anual. Em maio, a retração caiu para 7%, em junho para 6% e tudo indica, pelo levantamento preliminar, que o número voltará a ficar positivo em agosto.

Indicadores de confiança dos empresários começam também a melhorar. "Após acomodar em torno de 70 pontos desde setembro passado, o Índice de Confiança Empresarial (ICE) dá sinais de descolamento. Por enquanto, a melhora é concentrada nas expectativas", diz Aloisio Campelo, superintendente Adjunto de Ciclos Econômicos do Ibre/FGV.

No caso do consumidor, explica Campelo, os resultados ainda são dúbios. "Claro que a melhora na ponta abre uma brecha para a interpretação de 'recuperação'. Mas uma leitura honesta do gráfico não permite muito otimismo por enquanto", observa.

Eleições municipais 2016

Por Maria Fernanda Pessatti de Toledo e Marino Pazzaglini Filho* - O Estado de S. Paulo

Em face do turbilhão social e político instalado no Brasil, nos primórdios de 2015 até os dias de hoje, a expectativa é que as eleições municipais deste ano seja o momento oportuno para promover a renovação nos quadros políticos dos Municípios. Em consequência, a disputa ficará exasperada e a Justiça Eleitoral vem redobrando a atenção para o cumprimento da legislação.

Nessa conjectura, dar-se-ão as eleições municipais de 2016 permeadas de novas regras, tais como a redução do tempo de campanha eleitoral, a proibição de doação de pessoas jurídicas e a limitação de gastos eleitorais em percentual bem menor dos gastos declarados no pleito de 2012.

O momento capital da primeira fase do processo eleitoral é o registro de candidatos a Prefeito e Vereadores, que acontecerá após as convenções partidárias, que serão realizadas no período de 20 de julho a 5 de agosto.

Nova governança – Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

A notícia impressiona: sem condições de manter suas operações de rotina e trabalhando no vermelho, os Correios podem recorrer a empréstimos para pagar até os salários dos empregados. O que acontece com uma empresa, até pouco tempo uma das mais admiradas pelos brasileiros, em função de um histórico de confiabilidade, é o retrato sem retoque do avanço predatório de um governo sobre a riqueza pública.

São muitas as companhias em risco. Gestões ineptas e políticas agressivas de apadrinhamento, sem compromisso com a qualidade dos serviços e a obtenção de resultados para a sociedade, tornaram-nas epicentro de corrupção e de prejuízos milionários.

Os números são assustadores. A Eletrobras registrou R$ 3,9 bilhões negativos no primeiro trimestre; a Petrobras R$ 35 bilhões, em 2015, e mais R$ 1,2 bilhão no primeiro trimestre.

Querida, deu errado! - Ricardo Noblat

- O Globo

“É uma guerra, tem sido uma guerra.” Michel Temer, presidente interino da República, sobre o primeiro mês do seu governo.

Primeiramente... Se Dilma tivesse chances de voltar ao cargo do qual foi afastada, ela não acenaria, como o fez em entrevista à TV Brasil, com a proposta de convocação de um plebiscito para que os brasileiros digam se são favoráveis a uma eleição presidencial antecipada. Caso ocorresse, a eleição serviria à escolha de um presidente para completar o mandato de Dilma. O que significa...

QUE DILMA TEM plena consciência de sua impossibilidade de governar até o dia 31 de dezembro de 2018, como deveria. O impeachment passou na Câmara com os votos de 71,5% dos 513 deputados, obrigando-a a se afastar do cargo. Foi admitido no Senado com os votos de 67,9% dos 81 senadores. Esse percentual tem tudo para ser maior no ato final do julgamento dela.

Temer deixa para depois - José Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

Está cada vez mais claro que o único “rumo certo” do governo Temer é deixar de ser interino. Nada além do simbólico deve ser votado pelo Congresso Nacional até que o Senado julgue e impeça definitivamente Dilma Rousseff, o que não vai ocorrer antes de agosto. Até lá, nenhuma reforma importante ou decisão com impacto imediato sobre o equilíbrio das contas públicas deve acontecer – descontados os arroubos retóricos e promessas vãs.

O propalado corte de cargos em comissão das administrações direta e indireta ficou só na garganta, por enquanto. Em vez de eliminar 4 mil posições, o governo endossou a criação de três vezes mais do que isso, para depois dizer que não iria preenchê-las. Disse também que iria nomear apenas pessoas com preparo e experiência técnica para as empresas estatais, mas acabou se desdizendo logo em seguida. Os novos limites para o gasto público nem foram implementados e já têm prazo para acabar.

Falando sério - Valdo Cruz

- Folha de S. Paulo

Michel Temer disse que falava em tom de brincadeira, mas, no fundo, o recado era bem sério e deveria ser assumido por todos que desejam que o país saia da crise.

Em discurso na semana passada, o presidente comentou que, caso algo aconteça e ele não permaneça à frente do Palácio do Planalto, o país estará salvo da atual crise se a sua equipe econômica for mantida.

Presidente interino, Temer conta com o "time de primeira grandeza" que escalou na área econômica como um dos trunfos para virar definitivo até o final do atual mandato.

Mentalidades - Denis Lerrer Rosenfield

• Corrupção petista, de caráter político revolucionário, inscreve-se na tradição patrimonialista para dela tirar proveito

- O Globo

O Brasil vive um processo particularmente complexo de transição de uma mentalidade patrimonialista, “aprimorada” em seu caráter bolchevique graças aos governos petistas, para uma mentalidade moderna, própria de um Estado em que começa a vigorar o império da lei. Ou seja, estamos presenciando uma difícil transição do governo de uma classe política acostumada a manipular leis e instituições, como se estas devessem estar a seu serviço e proveito, para um governo ancorado em instituições, cujo validade transcende à ação direta dos políticos.

As gravações do ex-senador Sérgio Machado com os senadores Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney são, neste sentido, particularmente ilustrativas. Com efeito, elas exibem intenções e tentativas de manipulação das leis e instituições, como se ações junto a ministros e juízes fossem de natureza, por si sós, a alterarem todo um processo judicial. De fato, estavam e estão acostumados a um tipo de comportamento que se espelha em uma concepção patrimonialista, como se a coisa pública não estivesse a serviço da coletividade, mas de seu proveito próprio e pessoal.

Caiu a ficha: Lava-Jato não vai parar - Marcos Nobre

• Começou a trégua para o governo interino

- Valor Econômico

Era mais ou menos consensual nas análises políticas que, ao assumir, o governo interino teria uma trégua de algo como três meses para dizer a que veio. Não foi o que aconteceu. Antes de qualquer outra coisa, porque o primeiro movimento da Lava-Jato foi de voltar suas baterias contra o novo governo. Sérgio Machado vazou seus grampos de José Sarney e companhia para conseguir homologar sua delação. Mas não faria isso sem algum tipo de combinação com a turma da Lava-Jato. Ainda que muita coisa já esteja sob jurisdição do STF, os vazamentos de material tóxico continuam bem controlados e focados: miram qualquer tentativa de estabilização do sistema político que pretenda colocar areia na engrenagem da Operação.

Atual crise repõe a discussão da reforma política - Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

Vivenciamos um longo e extenuante processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a ser concluído em agosto. No interregno, temos um governo provisório liderado por Michel Temer, que encontra, por isso, limites para aprofundar a mudança de rumo necessária. Infelizmente, parcela das lideranças políticas, menos consistente do ponto de vista político-ideológico e afeita às práticas clientelistas, aproveita fragilidades inerentes a uma transição para produzir um leilão nada republicano.

Por seu lado, o Congresso passa pela mais profunda crise de sua história, com sua credibilidade gravemente abalada. Justo agora que o Brasil tinha urgência em aprovar medidas complexas para superar a grave situação de pré-insolvência fiscal. A Lava Jato, que desvenda o maior escândalo brasileiro patrocinado pelos governos do PT, tem um impacto devastador.

Sinais de reação – Editorial / O Estado de S. Paulo

A indústria faturou US$ 2,39 bilhões com exportações de produtos elétricos e eletrônicos entre janeiro e maio – valor 1,9% maior que o de um ano antes. Todo aumento das vendas externas de manufaturados é uma novidade importante, depois de anos de retração das vendas e de perda de participação no mercado global. Cinco montadoras contrataram 1.230 empregados temporários, em abril e maio, para a produção de veículos destinados ao mercado exterior. Qualquer espaço conquistado ou reconquistado no comércio exterior pode ser precioso para a reativação do enfraquecido setor automobilístico. Os desafios são enormes, nesse e na maior parte dos segmentos industriais. Apesar disso, para os mais otimistas a economia bateu no fundo do poço ou está quase batendo. Essa afirmação é ainda muito arriscada. De toda forma, começam a surgir alguns sinais positivos, ainda fracos e insuficientes para indicar a estabilização, mas nem por isso desprezíveis.

Fora de hora – Editorial / Folha de S. Paulo

Tiveram alguma expressão as manifestações contra o presidente interino, Michel Temer (PMDB), realizadas na sexta-feira (10) em pelo menos 34 cidades do país.

Com o conhecido mote da resistência ao "golpe", entretanto, terão reunido os estratos mais renitentes dos que, desde sempre, se alinham partidária e ideologicamente aos círculos do PT, de seus sindicatos e seus movimentos sociais.

A grande maioria da população, que não se deixa conduzir pelas organizações que quiseram sustentar o mandato de Dilma Rousseff (PT), mantém-se num estado de expectativa —o qual não se confunde com qualquer sentimento de apoio autêntico ao governo Temer.

Temer avança na economia, mas oscila na questão ética – Editorial / Valor Econômico

Em 30 dias de governo, o saldo de Michel Temer é positivo em relação às reformas da economia, mas deixa a desejar na política. O que se configura uma contradição, porque o avanço da agenda do ministro Henrique Meirelles somente foi possível graças ao acerto da articulação política do governo no Congresso. Paradoxos de uma crise sem fim. Na prática, a ética na política desafia o governo do presidente interino, tanto quanto desafiou o da presidente afastada, Dilma Rousseff, em seus quatro anos e oito meses de mandato.

Em menos de um mês, avançaram no Congresso propostas que, no governo anterior, nem sequer foram consideradas. Caso do projeto que desvincula 30% das receitas da União, já aprovado em segundo turno de votação na Câmara, e da mudança da meta fiscal. Sem falar da aprovação do nome do economista Ilan Goldfajn para presidente do Banco Central. Todas por ampla maioria. À exceção do nome de Ilan, eram propostas que já tramitavam no Congresso, que não mudou. É exatamente o mesmo. A diferença é o novo governo.

Ideia delirante – Editorial / O Estado de S. Paulo

Dilma Rousseff está cada vez mais perdida em seus devaneios. Percebendo que a versão de que é vítima de um “golpe” não colou, a presidente afastada investe agora numa tentativa desesperada de reverter no Senado a clara tendência pela decretação de seu impeachment. Está propondo uma ideia estapafúrdia: se for reconduzida ao Planalto, convocará um plebiscito sobre a antecipação da eleição presidencial. Aprovada nas urnas a tese da eleição, renunciará. E um novo presidente da República – ou uma nova presidente, sabe-se lá – se encarregará, com a legitimidade que ela acusa Michel Temer de não ter, de concluir o mandato.

A ideia de promover eleições, especialmente quando o País está mergulhado numa crise geral, tem algum apelo popular. Principalmente se for apresentada como um ato de generoso desprendimento por parte de uma mulher que se apresenta como injustiçada por seus inimigos, mas disposta a entregar nas mãos do povo os destinos do País.

A descoberta de um Pessoa

• Autoria do manuscrito foi identificada por especialistas a partir da caligrafia do poeta

Redação – O Tempo (MG)

Um poema inédito de Fernando Pessoa (1888- 1935) foi encontrado pelo bibliófilo brasileiro José Paulo Cavalcanti Filho num “livro de autógrafos” vendido por um alfarrabista português. Ninguém havia notado ainda que o manuscrito na última página era versão inédita de um rascunho conhecido do poeta.

Leia o poema: “Cada palavra dita é a voz de um morto./ Aniquilou-se quem se não velou/ Quem na voz, não em si, viveu absorto./ Se ser Homem é pouco, e grande só/ Em dar voz ao valor das nossas penas/ E ao que de sonho e nosso fica em nós/ Do universo que por nós roçou/ Se é maior ser um Deus, que diz apenas/ Com a vida o que o Homem com a voz:/ Maior ainda é ser como o Destino/ Que tem o silêncio por seu hino/ E cuja face nunca se mostrou.

Presságio – Fernando Pessoa

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…

Raphael Rabello & João Bosco & Paulo Moura - A Mesma Rosa Amarela (Carlos Pena Filho e Capiba)