quarta-feira, 13 de abril de 2016

Opinião do dia – Roberto Freire

Na histórica votação que deve ocorrer no próximo domingo, a esquerda democrática caminhará unida pelo fim de um governo que desmoralizou as forças progressistas por todo o desmantelo, a desesperança e a irresponsabilidade. Existe uma esquerda decente, digna, honrada e genuinamente preocupada com os rumos do Brasil. Norteados pelos mesmos princípios que nos uniram em tantos momentos, votaremos em consonância com o desejo da sociedade, seguindo a Constituição e respeitando a democracia, e escreveremos mais uma bela página de nossa história de lutas em comum. Impeachment já!

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS. ‘Esquerdas pelo impeachment’ Blog do Noblat, O Globo, 13/4/2016

Maioria do PP anuncia voto pró-impeachment

• Partidos ampliam isolamento de Dilma, que ataca Temer e Cunha

Previsão no PMDB é que apenas oito dos 68 deputados da bancada votem com o Planalto no domingo; entre os 47 parlamentares do PP na Câmara, a maior parte se declara favorável ao afastamento

A cinco dias da votação do impeachment no plenário da Câmara, a debandada da base aliada foi acelerada ontem, após a derrota do governo na comissão especial. Num duro revés para a presidente Dilma, o PP anunciou que a grande maioria dos seus 47 deputados votará pelo impeachment. O presidente do PP, Ciro Nogueira, afirmou que o partido deixará o governo e entregará o Ministério da Integração. O PRB, com 22, formalizou decisão pró-impeachment. A bancada do PMDB já teria, segundo governistas, 60 dos 68 votos a favor do impedimento. Em mais uma cerimônia com aliados no Planalto, Dilma acusou o vice Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de traição e conspiração.

O desmanche se acelera

• PP deixa governo Dilma e causa efeito cascata; PMDB deve votar em peso por afastamento

Júnia Gama, Isabel Braga, Eduardo Bresciani, Manoel Ventura* - - O Globo

BRASÍLIA - A debandada de partidos da base aliada, que terá peso decisivo na votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff no próximo domingo, ganhou nova dimensão ontem com o desembarque do PP, que tem 47 deputados e havia se tornado a maior legenda aliada desde que o PMDB rompeu com o Palácio do Planalto. A decisão já começou a influenciar outros partidos que se encontravam divididos a respeito do impeachment, provocando um “efeito cascata”: o PRB, com bancada de 22 deputados, fechou posição a favor do afastamento da presidente; e o PR deve liberar a bancada de 40 deputados para votarem como quiserem.

A tendência é que haja impacto também sobre votos no PMDB, que até ontem contabilizava 26 indecisos entre os 66 deputados da bancada. Mesmo os peemedebistas mais alinhados ao governo passaram a admitir que, com a decisão do PP, parte desses votos deve se transformar, nos próximos dias, em apoio ao impeachment. Nas contas de um peemedebista desta ala, os votos pró-impeachment podem chegar a 60.

No Palácio do Planalto, a notícia do desembarque do PP e do PRB provocou desânimo. A ordem é continuar investindo no corpo a corpo com os deputados para conseguir votos individuais e evitar que a oposição alcance os 342 necessários para aprovar o processo. Segundo um integrante do governo, no entanto, a presidente ainda conta com votos de um núcleo duro em alguns partidos aliados. Essa conta é feita com base num cruzamento do mapa de votações, fluxo de demandas atendidas e uma análise de comportamento de cada parlamentar.

Na contabilidade do Planalto, segundo um assessor, Dilma teria, após os anúncios do PP e do PRB, cerca de 185 votos, uma vantagem de apenas 13 apoios. Há poucos dias, o governo dizia ter entre 200 e 215 apoios. No levantamento feito pelo GLOBO, o governo tem 110 votos declarados. Outros 304 são favoráveis ao impeachment, e 99 permanecem indecisos ou não opinaram (veja a enquete nas páginas 10 e 11).

Coube ao presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PP-PI), anunciar que o partido deixará o governo formalmente, entregando imediatamente o Ministério da Integração Nacional, comandado por Gilberto Occhi, e a presidência da Companhia de Desenvolvimentos dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf ).

Nogueira trabalhou para que o partido permanecesse na base aliada e chegou a anunciar, semana passada, que o PP estaria ao lado do governo. Mas, diante da reunião da bancada do partido na Câmara, em que a maioria se manifestou a favor do impeachment, o senador se viu sem alternativa e formalizou o desembarque. A maioria ampla dos presentes à reunião defendeu a saída de Dilma.

— Eu defendia até o momento de hoje a permanência na base da presidente. Mas não me cabe alternativa, como seu presidente, a não ser acatar a decisão. Então, hoje, o partido solicita aos seus quadros que pertencem ao governo da presidente Dilma a carta de renúncia — afirmou Ciro Nogueira.

O senador disse que agora buscará a unidade da bancada em apoio ao impeachment, mas que não haverá sanções a quem votar contra:

— Eu não vejo como, se o partido está tomando hoje a decisão de romper com a presidente, nós permanecermos com cargos. A decisão da bancada é que haja a entrega dos cargos, o desembarque do governo. Mas o partido não vai perseguir ou penalizar qualquer pessoa que, por ventura, divirja — pontuou.

Reservadamente, integrantes da bancada afirmam que devem restar no PP apenas quatro votos contra o afastamento. Tanto o líder do partido, Aguinaldo Ribeiro (PB), que é ex-ministro de Dilma, quanto Ricardo Barros (PR), vice-líder do governo, sinalizaram ontem que votarão a favor do impeachment. Há relatos de que, em conversas com a cúpula peemedebista, teria sido oferecido ao PP ter o Ministério das Cidades e uma segunda pasta num eventual governo Temer.

O PR teve um dia de divisões. Pela manhã, houve um anúncio da indicação do deputado Aelton Freitas (MG) para a liderança do partido, reafirmando a posição da legenda contra o impeachment, mas ressaltando que não há necessidade de fechamento de questão para a votação. No final do dia, interlocutores do ex-deputado Valdemar Costa Neto, que cumpre prisão domiciliar pela condenação no mensalão e tem atuado em defesa de Dilma, afirmaram que a tendência era que a bancada fosse liberada para votar conforme cada um quisesse.

O partido ocupa o Ministério dos Transportes com Antonio Carlos Rodrigues e está sendo cortejado pelo PMDB para ter um “superministério” caso embarque no impeachment. A bancada contabiliza, pelo menos, 28 votos a favor do impeachment. No dia anterior, o então líder Maurício Quintella (AL) renunciou ao cargo e anunciou que votará contra o governo. O movimento do deputado contrariou a Executiva do PR, que defende o apoio à presidente, e agitou outros parlamentares a se rebelarem contra a orientação partidária.

A nota do PR foi distribuída pela assessoria em meio à reunião convocada por Quintella para “dar conforto” aos seus ex-liderados que “queriam votar conforme suas consciências”.

— Vim agradecer à bancada, explicar minha posição e dar o máximo de conforto, e dizer para ir em frente e votar de acordo com o que manda a consciência. Neste momento histórico, não tem que pesar a decisão partidária. Acredito que, na bancada, a maioria é a favor do impeachment, e vou trabalhar para que ela seja respeitada, para que não se feche questão. Eu já avisei à direção que uma ordem de cima para baixo racharia o partido — disse Quintella.

No fim da tarde, o PRB, que também integrava a base de Dilma até meses atrás, inclusive com o comando do Ministério do Esporte, fechou questão a favor do impeachment. Segundo o presidente do partido, Marcos Pereira, todos os 22 deputados da legenda votarão pelo afastamento de Dilma:

— A bancada decidiu por unanimidade apoiar o impeachment. Nós fechamos questão. A decisão é devido à análise do processo, da defesa, das provas. Nós entendemos que o processo tem viabilidade jurídica; política, nem se fala.

A bancada do PSD se reúne hoje. O líder Rogério Rosso (DF) afirmou que é uma reunião para a análise do ambiente político. Segundo ele, o partido liberou os votos dos deputados.

Assim como os demais partidos da base, no entanto, cresce no PSD o número de deputados favoráveis ao impeachment. A bancada hoje tem 36 deputados. Cálculos iniciais mostravam que haveria pelo menos 12 dispostos a votar como governo Dilma, mas muitos já reduziam o apoio a oito deputados. Temer recebeu grupos de deputados, levados por parlamentares do PSD, na Vice-Presidência para conversas. (Colaboraram Catarina Alencastro, Jeferson Ribeiro e Simone Iglesias)

PP decide apoiar impeachment e amplia isolamento do Planalto

• PRB também anunciou que votará pela saída da presidente; temor no governo é de que haja debandada de aliados até domingo

Desembarque do PP do governo deixa clima de pessimismo entre petistas

• Maior preocupação do Palácio do Planalto passa a ser manter aliados no PSD e no PR

Vera Rosa, Pedro Venceslau, Julia Lindner - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A decisão do PP de deixar o governo levou pessimismo ao Palácio do Planalto e fez crescer a importância para a presidente Dilma Rousseff em preservar aliados em outros dois partidos do chamado centrão: PR e PSD. A tática será dar prioridade a negociações individuais de cargos com os próprios deputados dessas legendas, a fim de evitar que a oposição consiga apoio de 342 parlamentares na votação em plenário deste domingo.

O pessimismo no Planalto tem explicação. Nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu segurar o PP, que hoje comanda o Ministério da Integração Nacional. Em almoço, nesta terça-feira, com os ministros Jaques Wagner (Gabinete Pessoal da Presidência) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), Lula disse que é preciso reforçar a ofensiva sobre os indecisos e atender com urgência as reivindicações dos outros partidos aliados. Daí a estratégia de apostar tudo no varejo individual com deputados, em vez de buscar adesão das cúpulas dessas siglas. Interlocutores do governo no Congresso dizem que o governo intensificou a “marcação homem a homem” em detrimento dos contatos com líderes partidários, estratégia que não surtiu o efeito desejado.

A avaliação do governo é que a decisão final vai ocorrer por uma grande diferença de votos para um lado ou para o outro.

Racha. A maior preocupação do Planalto agora passa a ser com o PSD, que tem 40 deputados e controla o Ministério das Cidades, e o PR, com 36 e a pasta dos Transportes. O PSD, que já havia liberado a bancada para votar como bem entendessem, se reunirá no final da tarde para discutir a situação.

Cálculos do próprio partido criado pelo ministro Gilberto Kassab apontam que entre 60% e 70% dos deputados são favoráveis ao impeachment. Na segunda-feira, dois dos três parlamentares que votaram na Comissão Especial foram favoráveis ao parecer pró-impedimento de Dilma, inclusive o líder da sigla, Rogério Rosso (DF), que presidiu o colegiado.

A bancada do PR na Câmara ainda está rachada. De um lado, o grupo do ex-deputado Valdemar Costa Neto, cacique da legenda e condenado no escândalo do mensalão, quer a permanência na base aliada e o apoio à presidente no cargo. Do outro, oposicionistas defendem o impeachment.

O impasse levou o deputado Maurício Quintella Lessa (AL), contrário ao governo, a renunciar à liderança da sigla. Com a saída, a ala oposicionista tentou garantir que o vice-líder Wellington Roberto (PB), assumisse o comando da bancada provisoriamente. A sugestão foi negada por Valdemar, que indicou o governista Aelton Freitas (MG), eleito nesta terça-feira por aclamação. Nos bastidores, Valdemar negocia com o Planalto o Ministério da Agricultura. O partido tem Antonio Carlos Rodrigues nos Transportes.

Na última semana, Quintella reuniu-se com o vice-presidente Michel Temer para dar continuidade às negociações que haviam sido iniciadas no final de março para uma eventual gestão Temer. Valdemar, no entanto, não aceitou dar sequência às conversas. Oposicionistas dizem que é ele “quem manda” no partido, mas querem convencê-lo de que, neste caso, está equivocado. Para eles, o governo já acabou.

Nas contas dos oposicionistas, ao menos 24 parlamentares são favoráveis ao impedimento de Dilma, 12 são contrários e quatro estão indecisos por pressão do Diretório Nacional. Já nas contas dos governistas, a estimativa é de que metade dos 40 membros votará contra o impeachment. / Colaboraram Tania Monteiro e Daniel Carvalho

PP e PRB apoiam impeachment; Temer é conspirador, diz Dilma

PP coloca cargos à disposição após maioria apoiar impeachment

• PRB também se posicionou contra Dilma; PR e PSD dão sinais de afastamento

Marina Dias, Débora Álvares – Folha de S. Paulo

Após a bancada do PP decidir por ampla maioria apoiar o impeachment da presidente Dilma Rousseff na noite desta terça-feira (12), o presidente da sigla, senador Ciro Nogueira (PI), colocou os cargos que o partido tem no governo à disposição.

A decisão ocorreu após um dia tenso, durante o qual Ciro se viu derrotado em suas articulações com a bancada da Câmara e se viu obrigado a optar pela unidade do partido.

"É uma decisão que eu não defendia, não vou negar. Mas não vejo outra alternativa do que acatar a decisão da bancada. O partido solicita a carta de renúncia de quem está no governo. Já falei com o ministro da Interação Nacional, Gilberto Occhi e com presidente da Codevasf que fizessem as cartas de renúncia como gesto de grandeza e lealdade", afirmou.

Em uma bancada de 47 deputados, 44 compareceram à reunião que definiu os rumos do partido. Apenas nove declararam votar pela continuidade da petista no cargo, quatro se declararam indecisos e os outros 31 já manifestaram apoio ao impeachment de Dilma.

Questionado se o partido passa a apoiar formalmente o impeachment, Ciro Nogueira respondeu que sim. Deixou claro, contudo, que não haverá punição para aqueles parlamentares não seguirem a orientação da sigla.

Junto com o presidente do partido, um dos que se mantinha contrário ao impeachment, o líder da bancada na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), se negou a dizer se vai mudar seu voto no plenário no próximo domingo (17), quando o processo de Dilma será analisado pelos deputados.

Afirmou contudo, o que tem mantido como discurso. "A maioria da bancada vai votar pelo impeachment. Como líder, tenho compromisso com minha bancada". Nos bastidores, Ribeiro temia perder as condições de liderança, uma vez que foi eleito com apoio de boa parte dos deputados que apoiam o impeachment de Dilma.

No fim do dia, o entorno do ex-presidente Lula, contabilizava 14 votos de deputados do PP contra o impeachment. O governo ainda vai batalhar pelos votos dos quatro indecisos.

O Planalto ofereceu o Ministério da Saúde, maior orçamento da Esplanada, e a presidência da Caixa Econômica Federal para a legenda. Com isso, o governo esperava segurar os votos da maioria do PP contra o impeachment.

O partido tem a quarta maior bancada da Câmara, com 47 dos 513 deputados. Para o impeachment de Dilma ser aprovado e seguir para o Senado, são necessários os votos de 342 deputados.

Deserções aumentam as chances de impeachment

Por Raphael Di Cunto e Thiago Resende – Valor Econômico

BRASÍLIA - Ontem foi mais um dia crítico para o governo. O PP rompeu com a presidente Dilma Rousseff após a bancada na Câmara decidir, por maioria, votar a favor do impeachment da petista. O partido vinha sendo tratado pelos governistas como o potencial aliado para substituir o PMDB e negociava junto com PSD e PR a formação de um novo bloco de apoio a Dilma.

Também ontem, o PRB, do qual o governo esperava obter quatro votos de seus 22 deputados, decidiu fechar questão a favor do impeachment. E o nanico PTN, que receberia o Ministério dos Esportes ou do Turismo em troca de nove votos, agora já tem maioria pela destituição de Dilma. Os 31 deputados do PSD se reúnem hoje para decidir uma posição - pelo menos 16 já defendem o afastamento de Dilma.

O Palácio do Planalto viu confirmar-se seu maior receio na batalha do impeachment: um desembarque em massa dos partidos médios. A estratégia traçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de atrair esses partidos em troca de cargos e verbas, parecia ruir ontem. No Palácio do Planalto, não havia como esconder o desânimo. Assessores da presidente cumpriam a função protocolar de dizer que o governo não desistiu e que vai brigar até o fim, apenas para imediatamente depois reconhecer que a situação estava "muito complicada" ou que o dia "foi um horror".

O aumento das chances de impeachment abriu espaço para um novo rali nos mercados financeiros. O Ibovespa subiu 3,66% e retomou os 52.002 pontos, maior nível desde 17 de julho do ano passado. Chamou a atenção o forte giro financeiro, de R$ 7,5 bilhões. O dólar encerrou a sessão valendo R$ 3,4896, queda de 0,11%, menor patamar desde 20 de agosto, apesar da intervenção do Banco Central para segurar a baixa com a venda de US$ 8 bilhões em cinco leilões de swap reverso. O ambiente internacional, mais favorável a ativos de risco, também contribuiu para o desempenho positivo.

PP implode estratégia contra impeachment

Por Raphael Di Cunto, Thiago Resende, Leandra Peres e Bruno Peres - Valor Econômico

BRASÍLIA - Em dia crítico para o governo, o PP rompeu ontem com a presidente Dilma Rousseff após a bancada na Câmara dos Deputados decidir, por maioria, votar a favor do impeachment da petista. O partido negociava junto com PSD e PR a formação de um novo bloco de apoio ao governo caso Dilma saísse vitoriosa no domingo, tendência que agora pode reverter para a adesão do vice-presidente Michel Temer.

Ainda ontem, o PRB, de onde o governo esperava tirar quatro votos dos 22 deputados, decidiu fechar questão a favor do impeachment - a decisão foi comunicada antes ao presidente em exercício do PMDB, senador Romero Jucá (RR). E o nanico PTN, que receberia o Ministério dos Esportes ou o Turismo em troca de nove votos, agora já tem maioria pela destituição de Dilma.

O Palácio do Planalto viu confirmar-se o maior receio na batalha do impeachment: um desembarque em massa dos partidos médios. A estratégia montada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a saída de parte do PMDB da base foi garantir apoio de partidos como o PP, PR e PSD numa tentativa de formar um núcleo mínimo de aliados que seria então complementado por partidos nanicos e dissidências negociadas caso a caso.

A troca de votos por cargos e verbas, no entanto, parecia ruir ontem. E no Palácio do Planalto não havia como esconder o desânimo. Assessores da presidente cumpriam a função protocolar de dizer que o governo não desistiu e que vai brigar até o final, apenas para imediatamente depois reconhecer que a situação estava "muito complicada" ou que o dia foi "um horror".

O governo recebia sinais desde o fim de semana de que o apoio do PP não era tão garantido como parecia, mas não esperava um movimento de debandada. Segundo uma autoridade, o problema criado com a saída do PP é que o partido desmonta toda a lógica do "centrinho" e arrasta junto o PR e PSD, enfraquecendo a posição negociadora do governo, que teria como única alternativa recorrer mais intensamente ao varejão, de resultados muito menos previsíveis e mais sujeito a traições.

Um exemplo é o apoio do PTN. Um grupo de 8 dos 13 deputados da sigla negociou, à revelia da direção nacional, um bloco com Pros e PEN que daria 11 votos ao governo no plenário. Em troca, receberam os orçamentos bilionários da Funasa e Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e a promessa de um futuro ministério. Três deputados que sinalizavam essa negociação, porém, inverteram os votos após pressão de suas bases, famílias, da cúpula da legenda ou acordos com o PMDB.

A debandada do PP deve provocar novos ruídos. Os deputados do PSD se reúnem hoje, às 17h, para decidir uma posição sobre a votação de domingo - pelo menos 16 já defendem abertamente o afastamento de Dilma, incluindo o líder da bancada, Rogério Rosso (PSD-DF), que foi o presidente da comissão do impeachment. A tendência é liberar os parlamentares, mas um grupo passou a defende que o PSD acompanhe a decisão do PP.

O vice-presidente Michel Temer foi informado ontem que cerca de 80% de votos em plenário do PSD seriam favoráveis ao impeachment. A estimativa mais atual apresentada a Temer - cerca de 30 votos de um total de 36 integrantes - está acima dos cálculos feitos até então, de 25 votos contra o PT.

No PR, o então líder da bancada Maurício Quintella (AL) pediu para deixar o cargo na segunda-feira para votar a favor do impeachment e afirmou que, dos 40 integrantes do partido, 28 estão "cristalizados" nesta posição e 12 que são contra ou estão indecisos. Quintella tentava convencer o ex-deputado Valdemar Costa Neto, principal líder da legenda, a liberar a bancada, mas o dirigente afirmou que não pode romper uma aliança de 14 anos desse jeito - o então PL foi vice de Lula em 2002.

Ontem o deputado Aelton Freitas (MG) foi eleito novo líder do PR e divulgou nota em que disse não haver necessidade de fechamento de questão "para a legenda confirmar a ampla maioria de sua bancada contra o impeachment no domingo".

No PP, o rompimento ocorreu após pressão contra o presidente nacional do partido, senador Ciro Nogueira (PI), que na semana passada disse que a orientação seria contra o impeachment - a legenda negociou, além de ocupar todos os cargos do Ministério da Integração Nacional, a Saúde e a presidência da Caixa Econômica Federal. A bancada decidiu por maioria - os números variam de quem conta, mas estão na ordem de 31 a 13 - votar pela saída de Dilma, mas sem punir os dissidentes.

Nas contas do Planalto, ainda é possível garantir 16 votos no partido. O grupo de oposição garante que não passarão de quatro - alguns que discursaram contra o impeachment disseram que seguiriam a orientação partidária. Nogueira, que se reuniu com Temer esta semana, disse que era um gesto de "grandeza e lealdade" não permanecer nos cargos.

No PMDB é cada vez menor o apoio ao PT desde que Temer e Jucá passaram a articular pessoalmente os votos pró-impeachment. O grupo de oposição recolhe assinaturas para reunir a Executiva nacional e "fechar questão" a favor da destituição de Dilma, mas os aliados do líder na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), tentam uma postura mais branda: a orientação favorável, mas sem punir os dissidentes. Picciani estava reunido com o vice-presidente na noite de ontem em busca de um acordo.

Dilma chama Temer e Cunha de chefes do ‘golpe’ e da ‘traição’

• Presidente diz que vice ‘despreza o povo’ e acabará com conquistas sociais

Catarina Alencastro, Eduardo Barretto, Jeferson Ribeiro - O Globo

-BRASÍLIA- A presidente Dilma Rousseff rompeu de vez com seu vice Michel Temer em um novo evento em defesa de seu mandato — o sétimo em três semanas — no Palácio do Planalto. Sem citar nomes, Dilma disse que Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, são conspiradores e ocupam respectivamente os postos de chefe e vice-chefe do golpe. Para a presidente, o vazamento do áudio do vice, prometendo arrumar o país pós-impeachment, foi uma “farsa premeditada”, e o gesto significa traição a ela e à democracia.

— Se ainda havia alguma dúvida sobre o golpe, a farsa e a traição em curso, não há mais. Se havia alguma dúvida sobre a minha denúncia de que há um golpe de Estado em andamento, não pode haver mais. Os golpistas podem ter chefe e vice-chefe assumidos. Não sei direito qual é o chefe e qual é o vice-chefe. Um deles é a mão, não tão invisível assim, que conduz, com desvio de poder e abusos inimagináveis, o processo de impeachment. O outro esfrega as mãos e ensaia a farsa do vazamento de um pretenso discurso de posse — discursou, para delírio da plateia repleta de estudantes e professores no salão nobre do Palácio do Planalto.

Dilma disse que a turma de Temer faz leilão de cargos num eventual futuro governo do PMDB e avisou à plateia que o vice sinalizou que se vier a ser presidente tirará conquistas sociais.

— Caluniam, enquanto leiloam posições no gabinete do golpe, no governo dos sem-voto — disse, completando que no áudio o vice manifesta hesitação sobre a continuidade dos programas sociais do governo petista. Nesse momento, a presidente, adotou um tom de ironia:

— Diz que é capaz de anunciar que está pensando em manter as conquistas dos últimos anos. Como se precisasse pensar se vai ou não manter conquistas sociais, e avisa que será obrigado a impor sacrifícios à população. Pergunto eu, que legitimidade há nisso? É uma atitude de arrogância e desprezo pelo povo, do qual certamente tentará retirar direitos.

Alerta sobre vazamentos
Em um recado a seus apoiadores, Dilma pediu “vigilância” nos próximos dias, quando os “golpistas” usarão “todos os artifícios possíveis” e a democracia estará mais ameaçada, de acordo com a presidente. Dilma disse que possivelmente “sofrerá” novos vazamentos, acusações, “calúnias e ataques desesperados”. A presidente fez um apelo por calma a seus simpatizantes.

— Estejamos atentos e vigilantes nos próximos dias. Os golpistas tentarão de tudo, tentando nos intimidar, tentando nos tirar das ruas. Usarão todos os artifícios possíveis. Muito possivelmente sofrerei novas calúnias e novos ataques desesperados. Fiquem atentos. Mantenham a unidade, não aceitem provocação. Nós não somos do ódio. Nós somos da paz — declarou.

Uma das mais aplaudidas oradoras do evento Encontro da Educação pela Democracia foi a estudante de Medicina do Prouni (programa de bolsas de estudo para estudantes de baixa renda) Suzane da Silva, que fez um discurso inflamado, no qual disse que está cansada de lutar contra os retrocessos. Negra, a estudante reclamou que já foi criticada por volumoso cabelo:

— Perguntaram se eu entraria no hospital com esse cabelo. Eu estou aqui pra dizer que eu não entro só no hospital, não, que eu entro no avião e entro no Palácio do Planalto.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, — já apontado como “pau mandado” de Eduardo Cunha e hoje fiel a Dilma — afirmou que ministros do PMDB — além dele, Marcelo Castro (Saúde) e Mauro Lopes (Aviação) voltarão a ocupar suas cadeira na Câmara dos Deputados para votar contra o impeachment.

— Eu votei numa presidente, e não num vice. Se não há fato determinado por que o impeachment, se não a disputa política? — questionou Pansera.

Hoje, Dilma dará entrevista aos principais jornais do país.

‘O que faço hoje não é guerrear, é me defender’, afirma vice

• Presidente do PMDB, Jucá diz que Dilma está ‘perdendo o equilíbrio’

Tiago Dantas, Cristiane Jungblut, Simone Iglesias - O Globo

-BRASÍLIA- Um dia após o vazamento de um pronunciamento em que fala como se já fosse o novo chefe do Executivo, o vice-presidente Michel Temer negou o rótulo de golpista e declarou que a palavra golpe tem sido utilizada de forma indevida ultimamente. Em entrevista exclusiva à Globo News, ontem, Temer disse que considera uma “ruptura constitucional” a proposta de convocação de novas eleições gerais.

O vice disse estar preparado para assumir a vaga de Dilma Rousseff, caso ela seja impedida, e pregou diálogo com todos os partidos e setores da sociedade:

— Muitos me procuram, embora seja apodado das variadas denominações, como golpista. Passei praticamente três semanas em São Paulo precisamente para que não me acusassem de nenhuma articulação. No Parlamento começou uma guerra contra minha figura. Então, fui obrigado a me defender. O que faço hoje não é guerrear, é me defender.

Questionado se considera um golpe a proposta de novas eleições gerais, Temer respondeu:

— É uma ruptura usando a Constituição. Não gosto de usar a palavra golpe porque ela está muito indevidamente utilizada.

Caso o impeachment de Dilma não passe, Temer acredita que manterá uma relação “institucional” com a presidente. Ele afirmou que não renunciaria, em resposta à sugestão do ministrochefe do Gabinete da presidente, Jaques Wagner, que pediu sua saída caso Dilma permaneça:

— Estarei tranquilo em relação a isso. Ao longo desse período em que fui vice-presidente nunca tive um chamamento efetivo para participar das questões do governo, de modo que se nada acontecer tudo continuará como dantes — ironizou.

Em carta que enviou a Dilma em dezembro, Temer escreveu que passou “os quatro primeiros anos como vice decorativo”.

Dentro da estratégia de preservar Temer, coube ao senador Romero Jucá (RR),
presidente do PMDB, rebater abertamente o discurso de Dilma. Jucá qualificou de “apelação” e de “perda de equilíbrio e serenidade” a fala presidencial na qual Dilma disse que havia “dois chefes do golpe, da farsa e da traição”, num ataque a Temer e ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Em defesa, Jucá comparou a presidente Dilma ao ex-presidente Fernando Collor, que sofreu processo de impeachment em 1992.

— Lamento que a presidente Dilma esteja perdendo o equilíbrio, colocando culpa em outras pessoas pelos erros do governo. E, mais do que isso, apelando para um enredo já ultrapassado: porque falar em golpe é o que falou o presidente Fernando Collor há muitos anos. Esse é um enredo batido, copiado e que não deu certo. Era melhor que a presidente tivesse um pouco mais de equilíbrio e análise das suas próprias limitações.

Reunião com Armínio Fraga
No domingo, Temer acompanhará a votação do impeachment em sua casa, em São Paulo. E, às vésperas da sessão, o vice já articula encontro com possíveis nomes que poderiam fazer parte de um eventual mandato presidencial comandado pelo PMDB. Ele já teria marcado um jantar com o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique. Perguntado sobre o encontro após participar de evento em São Paulo, Fraga disse que “esse assunto de agenda vocês têm de falar com ele (Temer)”:

— Eu gastei muito tempo pensando o que fazer (com a economia), durante minha vida inteira. Tenho sugestões de quem estava próximo de assumir.

Já Cunha, ao contrário de Temer, reagiu a Dilma.

— Eu só posso dizer o seguinte: se alguma conspiração existe, ela só pode ser do povo. Não será nunca da nossa parte — afirmou ele na tarde de ontem.

Rompido com Dilma, ele conduz o processo do impeachment na Câmara. (Com G1)

Já temos os votos para o impeachment, diz líder do Vem Pra Rua

Folha de S. Paulo

Os movimentos favoráveis ao impeachment da presidente Dilma já têm a quantidade de votos necessários para que o processo vá ao Senado, de acordo com Rogério Chequer, líder do Vem Pra Rua -um dos mais expressivos grupos com essa reivindicação.

Para a ação seguir adiante, 342 dos 513 deputados precisam votar pelo impedimento.

"A gente já tem informações de que o número de deputados, mesmo contado aqueles que ainda não se declararam publicamente, já tem passado do necessário", disse Chequer em entrevista à Folha nesta terça (12).

"Então, as indicações são muito positivas de que o processo está se encaminhando de uma forma definitiva para a aprovação do impeachment na Câmara", acrescentou.

Chequer afirmou que os deputados não estão acostumados a serem cobrados pela população. "Os parlamentares brasileiros estão acostumados a estarem isolados em Brasília, tomando suas decisões em direção aos seus interesses mais próprios. Agora, alguns perceberam que o jogo político tem que mudar no Brasil."

De acordo com seu líder, o Vem Pra Rua tem metas de longo prazo, como a realização de uma reforma política.

Dois dos principais pontos defendidos pelo grupo são a implantação do voto distrital -em que os Estados são divididos em distritos e o eleitor precisa escolher um candidato de sua região- e o "recall", revogação de mandato mediante consulta popular.

Clima entre os petistas agora é de pessimismo

• Maior preocupação do Palácio do Planalto passa a ser manter aliados no PSD e no PR

Vera Rosa, Pedro Venceslau, Julia Lindner - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A decisão do PP de deixar o governo levou pessimismo ao Palácio do Planalto e fez crescer a importância para a presidente Dilma Rousseff em preservar aliados em outros dois partidos do chamado centrão: PR e PSD. A tática será dar prioridade a negociações individuais de cargos com os próprios deputados dessas legendas, a fim de evitar que a oposição consiga apoio de 342 parlamentares na votação em plenário deste domingo.

O pessimismo no Planalto tem explicação. Nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu segurar o PP, que hoje comanda o Ministério da Integração Nacional. Em almoço, nesta terça-feira, com os ministros Jaques Wagner (Gabinete Pessoal da Presidência) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), Lula disse que é preciso reforçar a ofensiva sobre os indecisos e atender com urgência as reivindicações dos outros partidos aliados. Daí a estratégia de apostar tudo no varejo individual com deputados, em vez de buscar adesão das cúpulas dessas siglas. Interlocutores do governo no Congresso dizem que o governo intensificou a “marcação homem a homem” em detrimento dos contatos com líderes partidários, estratégia que não surtiu o efeito desejado.

A avaliação do governo é que a decisão final vai ocorrer por uma grande diferença de votos para um lado ou para o outro.

Racha. A maior preocupação do Planalto agora passa a ser com o PSD, que tem 40 deputados e controla o Ministério das Cidades, e o PR, com 36 e a pasta dos Transportes. O PSD, que já havia liberado a bancada para votar como bem entendessem, se reunirá no final da tarde para discutir a situação.

Cálculos do próprio partido criado pelo ministro Gilberto Kassab apontam que entre 60% e 70% dos deputados são favoráveis ao impeachment. Na segunda-feira, dois dos três parlamentares que votaram na Comissão Especial foram favoráveis ao parecer pró-impedimento de Dilma, inclusive o líder da sigla, Rogério Rosso (DF), que presidiu o colegiado.

A bancada do PR na Câmara ainda está rachada. De um lado, o grupo do ex-deputado Valdemar Costa Neto, cacique da legenda e condenado no escândalo do mensalão, quer a permanência na base aliada e o apoio à presidente no cargo. Do outro, oposicionistas defendem o impeachment.

O impasse levou o deputado Maurício Quintella Lessa (AL), contrário ao governo, a renunciar à liderança da sigla. Com a saída, a ala oposicionista tentou garantir que o vice-líder Wellington Roberto (PB), assumisse o comando da bancada provisoriamente. A sugestão foi negada por Valdemar, que indicou o governista Aelton Freitas (MG), eleito nesta terça-feira por aclamação. Nos bastidores, Valdemar negocia com o Planalto o Ministério da Agricultura. O partido tem Antonio Carlos Rodrigues nos Transportes.

Na última semana, Quintella reuniu-se com o vice-presidente Michel Temer para dar continuidade às negociações que haviam sido iniciadas no final de março para uma eventual gestão Temer. Valdemar, no entanto, não aceitou dar sequência às conversas. Oposicionistas dizem que é ele “quem manda” no partido, mas querem convencê-lo de que, neste caso, está equivocado. Para eles, o governo já acabou.

Nas contas dos oposicionistas, ao menos 24 parlamentares são favoráveis ao impedimento de Dilma, 12 são contrários e quatro estão indecisos por pressão do Diretório Nacional. Já nas contas dos governistas, a estimativa é de que metade dos 40 membros votará contra o impeachment. / Colaboraram Tania Monteiro e Daniel Carvalho

Ministros avaliam que batalha do impeachment está virtualmente perdida

Mônica Bergamo – Folha de S. Paulo

Ministros do núcleo mais próximo de Dilma Rousseff avaliavam nesta terça-feira (12) que a batalha do impeachment está virtualmente perdida. Nem todos jogaram definitivamente a toalha, mas há consenso de que o governo passa por seu pior momento.

Pênalti
Uma das comparações feitas numa conversa entre um dos ministros e um integrante do PT era a de que o governo está perdendo o jogo nos últimos minutos do segundo tempo. Resta apostar num milagre nos segundos finais.

Tabela
Na contabilidade que o governo e cientistas políticos que ajudam Dilma faziam ontem, ela contaria agora com no máximo 148 votos (8 do PSD, 3 do PSB, 17 do PR, 9 do PP, 5 do PTB, um do PFL, um do PEN, um do PT do B, dois da Rede, um do Pros, 6 do PTN, 2 do PHS, 10 do PC do B, 61 do PT, 6 do Psol e 15 do PDT). Faltariam 23 para barrar o impedimento.

Milho
Depois da debandada do PP, do PR e da maior parte do PSD, restaria ao governo fazer um corpo a corpo, deputado por deputado, no varejo do Congresso para conseguir os 23 votos que derrotariam o impeachment.

Balança
Os aliados de Dilma no PMDB diziam o seguinte: se o governo conseguir mostrar, até o domingo, que tem alguma chance de ganhar, seria possível angariar 20 votos para ela dentro da legenda. Caso contrário, só dez, estourando.

Cesto vazio
Na contabilidade do governo, nenhum deputado do PSD ligado ao ministro Gilberto Kassab votará a favor de Dilma. Os parlamentares da legenda que ainda podem apoiá-la são, em sua maioria, da Bahia e do Ceará, cujos governadores são contra o impeachment.

Memória
No começo do governo, Dilma e o então ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, decidiram ceder amplo espaço a Kassab no governo pensando que ele seria um aliado eficiente e fiel à presidente. A ideia era fazer um contraponto ao PMDB.
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Na cara
A decisão do deputado Maurício Quintella (PR-AL) de sair da liderança de seu partido e declarar apoio ao impeachment foi a senha para que o governo entendesse que estava aberta a porteira para a debandada das legendas que tinham prometido apoiá-la. Quintella é um dos melhores amigos de Ciro Nogueira, presidente do PP, que um dia depois seguiu o mesmo caminho.

No papo
Tanto Quintella quanto Ciro Nogueira conversaram com o vice-presidente Michel Temer antes do abandonar o barco de Dilma.

Governo avalia que contagem de votos pelo impeachment não está favorável

• Clima é considerado negativo principalmente porque, apesar do enorme esforço e mobilização para convencer os deputados, nem mesmo o ex-presidente Lula está conseguindo reverter os votos perdidos e nem convencer os indecisos

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Na guerra pelos votos para tentar barrar o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em Brasília nesta terça-feira, 12, e almoçou com os ministros Jaques Wagner, do Gabinete Pessoal da Presidência, e Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo. A contagem de votos não está favorável ao governo, apesar do discurso oficial ser de que há garantia de que possuem pelo menos os 172 votos para impedir o afastamento da presidente. “A situação está mais complicada”, comentou um fonte no Planalto, ao reconhecer que “o clima é contra nós”.

O clima está sendo considerado negativo principalmente porque, apesar do enorme esforço e mobilização para convencer os deputados, nem mesmo o ex-presidente Lula está conseguindo reverter os votos perdidos e nem convencer os indecisos. Embora o discurso entre os mais realistas seja de que o governo não tem os 172 votos, os ministros governistas destacam que também, para a oposição, a situação não está resolvida porque eles não têm os 342 votos que precisam para garantir o impeachment. A avaliação é que, atualmente, há incerteza sobre se o afastamento de Dilma se concretizará.

Os 44 indecisos, contabilizados até às 21h45 pelo Placar do Impeachment doEstado, estão na mira do governo. Mas o Planalto diz que destes 44 que aparecem como indecisos ou mesmo dos outros 42 que não responderam à pesquisa, vários apoiam a presidente, mas preferem não declarar seu voto para não se expor. O fato é que há um grupo entre 50 a 60 parlamentares que atende os apelos para conversar e negociar tanto do governo, quanto com a oposição e é sabido que este número poderá desequilibrar o jogo e levar a balança para um lado ou outro.

Mesmo no mar de notícias ruins, como a do PP, que anunciou voto pelo impeachment e desembarque do governo, o Planalto sinaliza que teve notícias boas ao longo do dia.

Assessores da presidente destacam, no entanto, que ainda há deputados do partido fiéis ao Planalto e asseguram que estes - que não se sabe exatamente quantos são, mas que se estima que serão pelo menos 14 dos 49 - serão recompensados. “Esta minoria será prestigiada”, garante um assessor palaciano. A boa notícia, segundo um dos interlocutores do governo, é que o PMDB liberou sua bancada. Os três ministros do partido anunciaram também que retornarão à Câmara para que não haja dúvidas em relação a estes votos.

Na noite desta terça-feira, mais reuniões aconteceram no Palácio da Alvorada para que se continue a fazer as contas do impeachment. O governo acredita que a postura do vice-presidente Michel Temer, que divulgou uma gravação do que seria o seu discurso após a aprovação do impeachment no plenário, serviu de reforço para o Planalto. “Tivemos um reforço no discurso para os parlamentares. Ficou claro que há mesmo um golpe em curso e que o importante é impedir o golpe se concretize, com o afastamento da presidente eleita com 54 milhões de votos”, comentou outra fonte. O governo já tem até discurso pronto, para o caso de alegarem que 172 ou 180 votos não garantem sustentação política ao Planalto. “Agora, não precisa mostrar que tem pouco ou muito voto. O importante é impedir o golpe. Depois, se reconstrói a base parlamentar”, observou.

Em meio a esta confusão, uma juíza de Brasília decidiu pelo afastamento do ministro da Justiça, Eugênio Aragão. Este assunto, embora tenha sido tratado pela presidente Dilma com o ministro da Advocacia Geral da União, José Eduardo Cardozo, está sendo considerado “café pequeno” no meio do imbróglio da disputa pelo impeachment.

De acordo com as projeções do governo, com base no placar da Comissão Especial que aprovou o relatório defendendo o impeachment, o governo poderá chegar a 213 votos. As contas mais reais, contudo, não chegam a 180, o que significa uma arriscada e estreita margem de segurança em uma votação tão importante. O voto aberto, em microfone, no plenário da Câmara, trabalha contra a presidente Dilma.

'É melhor Jaques Wagner propor a renúncia da Dilma', diz presidente do PMDB

• Romero Jucá rebateu críticas que a presidente e o ministro-chefe do Gabinete Pessoal da Presidência fizeram ao vice-presidente Michel Temer

Isabela Bonfim, Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente do PMDB, Romero Jucá (RR), rebateu críticas que a presidente Dilma Rousseff e o ministro-chefe do Gabinete Pessoal da Presidência, Jaques Wagner, fizeram ao vice-presidente Michel Temer. Segundo o senador, a atitude dos governistas é "apelação" e "perda de equilíbrio".

"Se o ministro Wagner tiver que propor a renúncia de alguém, o melhor para o Brasil seria que ele propusesse a renúncia da presidente Dilma. Não sei se ele vai conseguir convencê-la", ironizou Jucá sobre a proposta do ministro de que Temer renunciasse à vice-presidência após a votação do impeachment no domingo, caso o governo consiga conter o afastamento da presidente.

O presidente do PMDB também rebateu as críticas da presidente, que acusou Michel Temer de traição e de tramar uma farsa. "Os erros e crimes do governo, que levaram ao processo de impeachment, não foram feitos por ninguém de fora do governo. Ninguém fez com que o governo fizesse tudo que fez", alegou. Segundo ele, a presidente deve procurar pessoas que atrapalharam o governo dentro do seu próprio governo.

Para Jucá, a presidente está tentando reduzir o processo de impeachment a um golpe, mas deveria fazer uma análise das próprias limitações do governo.

Temer e Cunha são 'chefe e vice-chefe' do golpe, diz Dilma

Por Bruno Peres – Valor Econômico

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff disse ontem que o vice-presidente Michel Temer e o correligionário e presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atuam como "chefe e vice-chefe" da conspiração por um golpe à democracia no país. Ao fazer referência a Cunha, Dilma afirmou se tratar de "uma mão, não tão invisível assim, que conduz com desvio de poder e abusos inimagináveis o processo de impeachment". Já Temer foi mencionado como "o outro que esfrega as mãos e ensaia o vazamento de pretenso discurso de posse".

Ao dedicar parte de seu discurso a críticas ao vice-presidente, Dilma foi interrompida por gritos de "fora Temer", durante ato com representantes de movimentos ligados à educação, no Palácio do Planalto. A presidente fez menção ao esboço de discurso do vice-presidente, vazado pela imprensa na segunda-feira em sua avaliação de forma premeditada, evidenciando uma conspiração feita abertamente para desestabilizar seu governo. Dilma classificou o vazamento como "farsa" e afirmou que o momento é estranho, preocupante, de golpe e traição.

Dilma disse ter sido vítima nos últimos dias de acusações feitas pelos adversários, como se valer de expedientes escusos para tentar recompor sua base de apoio no Congresso, para evitar a aprovação do pedido de impeachment. Na avaliação da presidente, os adversários a julgaram pelo próprio espelho, propagando calúnias enquanto "leiloam posições no gabinete do golpe, no governo do sem voto". Dilma disse ter ficado "chocada com a desfaçatez da farsa do vazamento".

Dilma disse que a divulgação foi feita "para eles mesmos", em referência ao grupo de deputados do PMDB que recebeu a mensagem, o que é estranho, em sua avaliação. "Tentaram disfarçar o anúncio de posse antecipada subestimando a inteligência de brasileiros", disse a presidente, destacando estar no pleno exercício do cargo para o qual foi eleita, o que a levou a questionar a base legal para o discurso ensaiado pelo vice. Dilma afirmou ainda que os próximos dias vão mostrar "com clareza", em sua avaliação, quem honra e respeita a democracia e quem, segundo disse, não se importa em destruir o regime democrático por meio da ilegítima destituição de uma presidente eleita. De acordo com a presidente, a "verdade prevalecerá, o impeachment não há de passar e o golpe será derrotado".

A presidente voltou a externar a expectativa de revelação do que define como "vazamentos seletivos", afirmou que possivelmente sofrerá "ataques desesperados" e acusações sem prova. Dilma pediu que os eleitores fiquem atentos, mantendo-se unidos, sem aceitar provocações nem se deixar enganar por "manobras mentirosas".

No mesmo evento, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Celso Pansera, disse que os três ministros do PMDB licenciados de mandato na Câmara deixarão temporariamente os respectivos cargos nos próximos dias para votar contra o pedido de impeachment da presidente no domingo. "Vamos voltar para fazer a luta contra o impeachment na Câmara. E vamos encerrar o terceiro turno das eleições de 2014", disse o ministro, fazendo referência aos ministros da Saúde, Marcelo Castro (PI), e da Aviação Civil, Mauro Lopes (MG).

Já o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, aproveitou para rebater a campanha promovida pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) contrária ao aumento de impostos no país, denominada "Não vou pagar o pato". A entidade paulista apoia o pedido de impeachment da presidente. Mercadante avaliou que a prática das chamadas "pedaladas fiscais" não poderia justificar o pedido de impeachment e afirmou que o processo político em curso está longe de construir estabilidade democrática.

"Quando os de cima não querem pagar o pato, quem paga são aqueles que sempre pagaram o pato na história desse país: os trabalhadores e o povo", disse.

Golpe é romper com a Constituição, diz Temer

Entrevista. Michel Temer

• Vice-presidente evita falar em golpe e diz que, se impeachment não passar, 'nada mudará'
‘Golpe é romper com o que está na Constituição’

Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo

Sereno e irônico, o vice-presidente, Michel Temer, reiterou ao Estado o que disse na gravação enviada – segundo ele por engano – a alguns parlamentares por Whatsapp esta semana: está preparado para assumir a Presidência da República, “se o destino me levar a essa função”.

Na entrevista exclusiva, mesmo ressaltando que falava em tese, em um ato falho, referiu-se ao cargo atual no passado. “Ao longo desse período em que fui vice-presidente, e você sabe que estou completando cinco anos e pouco”, comentou ao falar de sua experiência pública.

O peemedebista disse que, se chegar ao cargo, pretende governar com diálogo com todos os partidos e voltou a dizer que manterá os programas sociais do governo. Sobre a possibilidade de permanecer no cargo, em caso de rejeição do impeachment, mais uma vez usou de ironia: “Se nada acontecer, tudo continuará como dantes, não é? Nada mudará”.

E em clara provocação à presidente Dilma Rousseff, evitou falar em golpe. “Não gosto de usar a palavra golpe, que está sendo muito indevidamente utilizada, politicamente utilizada”.

• O senhor está preparado para ser presidente da República se o plenário da Câmara e depois o Senado Federal decidirem pelo impeachment da presidente Dilma?

Em primeiro lugar quero reiterar a preliminar da sua pergunta. Cautelosamente, tenho que aguardar aquilo que a Câmara decidir e o Senado vier a decidir depois. Agora, evidentemente que, sem ser pretensioso, mas muito modestamente, devo dizer que tenho uma vida pública já com muita experiência. Não falarei aqui do meu currículo. As pessoas sabem o quanto fiz ao longo da vida. 

Tantas vezes secretário de segurança, três vezes presidente da Câmara dos Deputados, duas vezes procurador-geral do Estado e agora vice-presidente, conhecendo razoavelmente os problemas do País. 
Se o destino me levar para essa função, e mais uma vez eu digo que eu devo aguardar os acontecimentos, é claro que estarei preparado porque o que pauta a minha atividade é exatamente o diálogo. Não que eu seja capaz de, individualmente, resolver os problemas. Mas eu sei que por força do diálogo e, portanto, coletivamente, com todos os partidos, com os vários setores da sociedade, nós tiraremos o País da crise.

• E na hipótese contrária? O senhor está preparado para o caso de o impeachment não passar e o senhor ficar compelido a essa convivência difícil com a presidente Dilma e com o governo do PT?

A minha convivência será institucional, como sempre foi. E sendo institucional eu não tenho nada a temer, né? Na verdade, estarei tranquilo, aconteça o que acontecer.

• Serão dois anos bastante atípicos na história brasileira, não?

É, mas ao longo desse período em que fui vice-presidente, e você sabe que estou completando cinco anos e pouco, nunca tive um chamamento efetivo para participar das questões de governo. De modo que, digamos assim, se nada acontecer, tudo continuará como dantes, não é? Nada mudará (risos).

• O senhor ouviu o ministro Jaques Wagner dizer que se o impeachment não passar, o senhor deve renunciar ao cargo. O que o senhor responde a ele?

Eu respondo que é o entusiasmo momentâneo do Jaques Wagner, que é uma figura delicada e educada. Naturalmente há um arroubo, digamos assim, que muitas vezes toma conta das pessoas, por mais educadas e delicadas que sejam, como é o caso do nosso ministro Jaques Wagner.

• Então, renunciar não?

Por favor, né... (risos)

• No caso de o senhor renunciar, aliás, quem assumiria seria o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ.

Sim, mas não há essa hipótese.

• Está havendo romaria de políticos ao Palácio do Jaburu?

Olha, muitos me procuram, você sabe que eu mantenho uma discrição absoluta, embora seja apodado das mais variadas denominações, como por exemplo golpista. Mas, você sabe, e eu tenho anunciado isso, eu passei praticamente três semanas em São Paulo precisamente para que não me acusassem de nenhuma articulação. Agora, evidentemente, num dado momento, começou uma tal, digamos assim, uma guerra contra minha figura, tanto no plano político como no plano pessoal, e eu fui obrigado a me defender. Então o que eu faço hoje não é guerrear, é defender.

• O senhor acha que essa guerra vai continuar em qualquer caso, passe ou não o impeachment?

Não creio, não creio. Essas coisas são passageiras. Logo as pessoas terão compreensão de tudo que é importante para o País.

• Essas pessoas que vêm aqui são de todos os partidos, do PP, PSD, PTB? O que eles vêm fazer?

Todos os partidos, até porque eles sabem, pela intensa convivência que tive ao longo dos 24 anos no Parlamento, que sempre convivi muito harmoniosamente com todos os partidos políticos.

• No caso de o senhor tomar posse, o que o senhor dirá aos partidos políticos?

Olha, eu prefiro nem, digamos, não mencionar isso, porque estaríamos todos supondo que vou tomar posse. O que eu devo neste momento é aguardar a decisão da Câmara e a decisão do Senado. Se você me disser, "mas você não precisa se preparar para uma eventualidade?", é claro que eu tenho na minha cabeça as questões que eu trataria nessa eventualidade, mas eu prefiro primeiro aguardar o evento.

• Mas o senhor já distribuiu aquela gravação em que o senhor praticamente toma posse. O senhor sentou na cadeira?

(Risos) Eu não sentei na cadeira, não. Você sabe que, instado por amigos meus, que me disseram "você precisa se preparar, não é, por que afinal, daqui a alguns dias, se de repente acontecer alguma coisa, o que é que você vai dizer?". E daí, me explico mais uma vez, eu disse, "olha, eu vou fazer o seguinte, eu vou gravar uma coisa que, em tese, eu falarei, se, em tese, acontecer alguma coisa, e até peço que depois nós possamos burilar essas sentenças e essas palavras". E fiz uma gravação, e em vez de mandar para um amigo meu (risos), equivocadamente, eu mandei para um grupo de deputados e naturalmente vazou alguma coisa, que não tem importância nenhuma, porque o mérito, digamos assim, o conteúdo daquilo que eu disse eu já havia dito no passado e continuarei dizendo em qualquer momento, porque acho que é disso que o País precisa.

• Disso o quê?

Exatamente da conciliação, da pacificação, do diálogo, da interação dos trabalhadores com os empregadores, da integração de todos os setores da nacionalidade, do prestigiamento da iniciativa privada, porque quando você prestigia a iniciativa privada, você gera emprego e evidentemente isso deriva ou faz acontecer exatamente aquela integração entre os setores produtivos do País, empregadores e empregados. A manutenção dos programas sociais e até com a sua revalorização, é isso que nós vamos fazer ao longo do tempo.

• O senhor teme que a militância, o MST, a CUT e a UNE infernizem nas ruas o seu eventual governo?

Não acredito, porque todos eles têm certa e seguramente um sentimento patriótico, né. Quando nós vamos pregar a unidade do País, a pacificação do País, aqueles que não quiserem a pacificação estarão contra o desejo de todo o povo brasileiro e tenho certeza de que essas entidades mencionadas também têm o mesmo desejo.

• E caso contrário, a presidente Dilma tem condições de pedir a pacificação do País e uma união nacional?

Acho que em qualquer momento, aconteça o que acontecer, pregarei as mesmas coisas. E espero que quem me ouça tenha condições suficientes para, ouvindo, reproduzir em execução.

• O presidente do Senado, Renan Calheiros, e Valdir Raupp, que é um importante líder do seu partido, já defenderam publicamente a antecipação das eleições. Como o senhor vê isso?

Acho muito útil. Num estado democrático as pessoas têm que ter liberdade de manifestação. Eu pessoalmente sou contra por uma razão: sou muito apegado ao texto constitucional. Toda vez que se quiser sair do texto constitucional está se propondo uma ruptura com a Constituição. E toda e qualquer ruptura com a Constituição é indesejável para o País. A estabilidade do País e das instituições depende basicamente do que está na Constituição e nela não há hipótese de eleições gerais.

• Eleição geral seria um golpe?

Seria algo que rompe com a Constituição. Não gosto de usar a palavra golpe, que está sendo muito indevidamente utilizada, politicamente utilizada. Quando golpe, na verdade, é só quando se rompe com a Constituição.

Aécio coloca condicionantes para apoiar Temer

• "O PSDB não é beneficiário do impeachment, ao contrário. O PSDB sabe que o apoio ao governo de transição trará desgaste"

• "Eu não cobraria de um governo transitório aquilo que deve ser feito por um governo legitimamente eleito"

Por César Felício – Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), deixa claro as condicionantes que o partido colocará para apoiar um eventual governo do vice-presidente Michel Temer, caso avance o processo de impeachment que a presidente Dilma Rousseff enfrenta na Câmara. Na visão do tucano, Temer assumirá com um déficit de legitimidade, por substituir um governo eleito pelo voto. E neste sentido, ganha sustentabilidade caso se comprometa com uma agenda de reformas que envolva tanto a oposição como o empresariado.

O PSDB não impedirá a participação no governo de filiados à sigla, o que pode abrir caminho para a presença do senador José Serra (SP) na Esplanada dos Ministérios, mas, se o correligionário e potencial rival nas eleições presidenciais for escolhido, não estará junto a Temer em representação do partido, mas em caráter individual.

Outra condicionante estará no comando do Legislativo. Incomoda ao PSDB a concentração de poder que o PMDB terá, na hipótese de acumular a Presidência da República com a das duas Casas legislativas. Neste sentido, sugere que o substituto do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), seja de outra legenda.

Em caso de vitória de Dilma na votação do impeachment, o senador crê que o processo pela cassação da chapa eleitoral Dilma/Temer no TSE ganhará impulso, alimentado por fatos novos trazidos pelas delações premiadas em curso e pelo agravamento da crise econômica.

O senador, que é citado em duas delações como envolvido em irregularidades, demonstra tranquilidade em relação a uma possível abertura de inquérito contra si no âmbito da Operação Lava-Jato. E atribui a queda nas intenções de voto que teve nas últimas pesquisas para eleições presidenciais ao ambiente radicalizado das manifestações que estaria fomentando candidaturas da "antipolítica". É um clima, na opinião do senador, que tende a refluir naturalmente. A seguir, trechos da entrevista:

• Valor: Esta nova fase da Operação Lava-Jato, com a prisão do ex-senador Gim Argello, afeta de que maneira o processo do impeachment?

Aécio Neves: Eu acho que esta é uma questão lateral. O que está alimentando o impeachment é o próprio governo e os seus equívocos. Ouço muito líderes do PT, gente da base da presidente, culpando a oposição e as manifestações pelo clima de instabilidade, mas se hoje a presidente corre risco é por responsabilidade exclusiva dela. Ela está empenhada em preservar um único emprego no país, o seu. Ela sozinha jogou pela janela o ativo essencial, insubstituível, que é a credibilidade. Eu não sou dos mais radicais oposicionistas e concedo que um terço da crise que estamos vivendo provém do desaquecimento externo. Mas a grande parte se deve ao que passamos no país. Uma queda do PIB de 10% em três anos é cenário de país em guerra. É claro que toda esta instabilidade, acrescida da Operação Lava-Jato, afeta muito mais o governo do que afetaria em um cenário de razoável instabilidade econômica.

• Valor: O senhor acha que o processo de impeachment será aprovado?

Aécio: Acho. Nos últimos dois meses se formou um consenso, entre setores que vinham anteriormente apoiando em parte ao governo. Grandes empresários beneficiados por um conjunto de ações do governo nos últimos tempos e grandes grupos de comunicação que preferiam uma solução menos conflituosa e radicalizada confluíram para a sensação de que Dilma não tem mais condições de liderar. A permanência dela será mais danosa do que sua saída, com todas as implicações que isto envolve.

• Valor: O que acontece em um cenário de vitória do governo no domingo?

Aécio: Com os métodos que o governo está utilizando, pode significar a maior das derrotas dela até aqui. Ela não readquirirá confiança. Governo sem credibilidade não é governo. Haverá um vácuo que precisará ser preenchido de alguma forma.

• Valor: De que forma?

Aécio: Haverá um holofote muito grande sobre o TSE, sobretudo pelas denúncias que vem chegando e que ainda vão chegar. Nós do PSDB sempre acreditamos que uma nova eleição seria o melhor caminho, mas não tem saída sem traumas. Uma nova eleição daria legitimidade, mas o problema é que não dominamos o tempo desta solução. Esta solução tanto pode ocorrer em 6 meses quanto em 18 meses. E o Brasil requer urgência.

• Valor: E nessa hipótese, de seis meses a um ano e meio, o mais provável é que a eleição presidencial em caso de vacância do vice se desse em 2017, por meio de votação indireta do Congresso.

Aécio: É o que nos parece. Esta é uma das razões claras pelas quais nós, do PSDB, estamos fazendo a opção por outra saída. O PSDB não é beneficiário do impeachment, ao contrário. O PSDB sabe que o apoio ao governo de transição trará desgaste ao partido. Mas uma mudança do governo é uma necessidade do Brasil. Dilma não garante as condições de continuar o mandato, porque a economia vai continuar paralisada e ninguém vai botar um real no país. A qualificação do governo tende a piorar. E a saída constitucional que se coloca no horizonte é o TSE. Será uma decorrência natural.

• Valor: E o cenário com Temer? Ele não tem problemas graves de legitimidade?

Aécio: Um cenário com Michel será um cenário com dificuldades, porque será um governo que não tem a legitimidade do voto, mas com condições de conseguir apoio para uma agenda. Ele deverá ser apoiado para se fazer uma transição e terá as mínimas condições para uma distensão. Veja bem, todas as saídas são muito difíceis. Vai depender muito dele ser alguém com compromisso com uma agenda. 

Acho que a gente pode construir um apoio para um governo de aspecto transitório. Uma agenda capitaneada pelo Temer vai depender da coragem que ele tenha de encabeçar esta agenda, mas não tira do PSDB o seu compromisso de apresentar para o país uma proposta eleitoral. Não abdicamos do nosso projeto de poder. Vamos dar sustentação política para o governo Temer desde que refaça o que precisa ser feito, construa essa linha. Temer já mostrou disposição de colher inspiração no que já apresentamos ao país.

• Valor: E de que agenda mínima necessária para o país estamos falando?

Aécio: Uma reforma política que recria cláusula de barreira, estabeleça voto distrital misto e proíba coligações proporcionais. Até para que no futuro possamos falar de parlamentarismo. Hoje, com as regras atuais, falar disso é uma bobagem. Temos que ter coragem de modernizar a legislação trabalhista, para garantir emprego. Temos que investir fortemente na profissionalização das agências reguladoras, dos fundos de pensão e das estatais. E a simplificação do sistema tributária e a discussão da questão previdenciária. Isto é o que tem que estar dentro da moldura.

• Valor: E mudar a regra para o salário mínimo, tanto do reajuste quanto da vinculação com o piso da Previdência?

Aécio: Este não é um tema que devamos discutir agora. Temos que sinalizar para uma virada de página, para mudar as expectativas. Agora, eu não cobraria de um governo transitório aquilo que deve ser feito por um governo legitimamente eleito. Nestes dois anos e pouco, temos que utilizar os nossos esforços em quatro ou cinco questões. Temos que compreender o Michel como uma transitoriedade e ele tem que deixar claro isso desde o início e se dispor a conduzir essa agenda, porque se não, não tem sentido o apoio do PSDB.

• Valor: E a questão eleitoral em 2018? Temer não pode concorrer?

Aécio: Ele é elegível, mas estabeleceu que ele próprio se disporia a apresentar uma emenda encerrando a reeleição. Ele não tem a intenção de concorrer, mas apresentar esta emenda seria uma sinalização que ele daria. Porque acabar com a reeleição não pode ser o projeto de um partido. O primeiro item da conversa dele comigo foi esse. Ele sabe que está tendo uma oportunidade, ou terá eventualmente, se não continuar vazando muitos discursos daqui até o dia da votação... ele terá uma oportunidade que a história está lhe dando.

• Valor: E se ele continuar vazando gravações e escrevendo cartas?

Aécio: Não foi bom o que aconteceu, acho que foi uma bobagem, algo que não contribui em nada para a própria imagem, mas acho que isso não tem alteração significativa na contabilidade dos votos. O estilo Itamar Franco de cautela seria melhor.

• Valor: A presença de Eduardo Cunha na presidência da Câmara, provavelmente até o fim do ano, não colocaria um problema para 2017? teríamos o PMDB na Presidência da República e das duas casas legislativas...

Aécio: Olha, se eu conheço Temer, digo que ele fará questão de não interferir no processo sucessório da Câmara, não vai incorrer no erro primário de Dilma de tentar construir uma candidatura lá. Eu acho que é possível ter uma candidatura fora dos grandes partidos, para que tenhamos uma situação que não interessa ao Temer. Não interessa a ele transformar sua Presidência em um instrumento de fortalecimento do PMDB em detrimento das outras forças políticas. Pode interessar a alguém no PMDB, mas não interessará a ele, porque ele não governa sem o apoio das outras forças. O PSDB não dará a ele apenas votos para os projetos, dará a ele credibilidade, o PSDB dialoga com vários segmentos da sociedade. Ele, pelo que conheço, terá toda cautela para entender que a própria Presidência dele será um fator de força do partido. Eu não acho que ele se esforçará para criar um desequilíbrio com os outros partidos aliados.

• Valor: E como está a discussão sobre o apoio a um governo Temer no PSDB? O PSDB, além de não pleitear cargos, pode proibir seus integrantes de ocupar cargos?

Aécio: Falo como presidente do partido. O governo Temer não deve ser compartimentado entre partidos políticos e a contribuição que o PSDB pode dar a ele é deixa-lo livre e ajuda-lo a aprovar uma agenda. Se eventualmente algum quadro do PSDB for chamado, isto se dará em caráter individual.

• Valor: O senhor foi citado no contexto da Operação Lava-Jato por mais de um delator. O senhor vê excessos na operação?

Aécio: As alegações contra mim beiram o ridículo. No caso do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) se trata de uma vingançazinha pessoal pelo meu comportamento no momento da prisão dele. Ninguém teve a vida pessoal virada pelo avesso como eu tive, na campanha eleitoral, com acusações semanais. Estou preparado para isso.

• Valor: Mas o arcabouço legal da operação deve ser mudado? Há projetos neste sentido...

Aécio: Não sou especialista na matéria. Tudo que se faz no calor da hora terá sempre uma leitura tendenciosa. Eu acho que alguns cuidados precisam ocorrer. Há uma tentação de misturar coisas que não são iguais. Penso que as delações devem vir acompanhadas de um mínimo de indícios que as comprovem. O nosso papel, contudo, é o de apoiar as instituições. Equívocos e exageros serão corrigidos naturalmente.

• Valor: As pesquisas de intenção de voto de dezembro para cá mostram uma queda forte do senhor, da ordem de dez pontos percentuais de intenção de voto para presidente, e uma subida muito forte do Jair Bolsonaro (PSC-RJ). De que forma o senhor lê estes movimentos?

Aécio: Olha, as pesquisas são divergentes e estamos discutindo índices de candidatos de uma eleição que ninguém sabe quando ocorrerá. Mas está claro que há uma perda da política tradicional, com tudo isso que está acontecendo no Brasil. A própria Marina Silva (Rede) está sendo afetada. O Bolsonaro representa agora, de forma clara, um espectro mais à direita da sociedade que não estava representado. Mas não tenha dúvidas: o PSDB, no momento em que as eleições se apresentarem, é que terá condições de polarizar com o PT, como aconteceu nas outras eleições.

• Valor: Ou seja, a antipolítica ficará restrita?

Aécio: O espaço maior será sempre da política. Estamos vivendo uma quadra de muito radicalismo, contaminado pela Operação Lava-Jato, e estes fatores tenderão a ser superados no futuro. A questão essencial é quem tem proposta para a crise. Quem tem solução. Não é uma pessoa que tem isso, é um partido. O radicalismo está exacerbado e tende a arrefecer.

É falso o argumento do PT de que Temer é um sem-voto

• O ex-presidente Lula, o PT, a presidente Dilma Rousseff e todos os que se posicionaram contra o impeachment afirmam e reafirmam que o vice Michel Temer busca assumir o poder por intermédio de um suposto golpe

João Domingos – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ex-presidente Lula, o PT, a presidente Dilma Rousseff e todos os que se posicionaram contra o impeachment afirmam e reafirmam que o vice Michel Temer busca assumir o poder por intermédio de um suposto golpe porque, entre outras coisas, ele não teve votos na eleição de 2014. Ao contrário de Dilma, que obteve quase 54,5 milhões de votos.

Com isso, tentam tirar a legitimidade de Temer para assumir a Presidência da República, caso o impeachment seja aprovado. Nesse contexto, raciocinam, está configurado o golpe de alguém que não passou pelo teste das urnas contra outro que por elas foi aprovado.

Trata-se de mais um argumento para sustentar o discurso dos que ainda tentam garantir a qualquer custo o projeto de poder do PT. Apenas discurso.

Desde a Constituição de 1988 o vice é eleito junto com o presidente numa chapa única. Portanto, por imperativo constitucional, os votos dados no candidato a presidente são dados também no vice. Tanto é que nos cartazes de propaganda da chapa aparecem sempre os dois candidatos. Também é a Constituição que garante a posse do vice em caso de impedimento do titular.

É claro que o candidato a presidente é quem mais se expõe, seja nos debates entre os que disputam a eleição, seja nos comícios e nas campanhas. Mas há exemplos numerosos de debates também entre os que disputam a vice, sempre falando em nome da chapa, sempre pedindo voto para a dupla e não para um só.

O PT só conseguiu chegar ao poder depois de fazer alianças ao centro. Primeiro, com o PL de Valdemar Costa Neto (um dos presos no processo do mensalão do PT), que cedeu o empresário José Alencar para a vice de Lula em 2002. Alencar foi o responsável por buscar o voto a Lula no setor produtivo, mais do que importante para a vitória.

Em 2010 o PT aprovou em convenção nacional a aliança com o PMDB, que indicou Michel Temer para vice de Dilma Rousseff, e repetiu a indicação em 2014.

Não é exagero dizer que o PMDB foi fundamental para dar os votos que elegeram Dilma tanto em 2010 quanto em 2014. O partido tem mais de 1 mil prefeituras, está presente em todos os cantos do Brasil e em muitos locais fez a campanha sozinho, pediu votos para Dilma, lembrando sempre que o vice era Michel Temer, e sem a presença do parceiro petista.

O que ocorre agora com Temer, que é chamado de sem-voto, é o que ocorre sempre com tudo o que tem o PT no meio. Nunca o partido aceitou abrir mão de sua hegemonia sobre os outros. No mundo político sempre se fala que o PT não tem aliados, tem servos.

Temer, por exemplo, é um político de muita experiência, uma raposa, como dizem por aí. Foi líder do PMDB e presidente da Câmara dos Deputados por três vezes.

Poderia ter auxiliado a presidente Dilma Rousseff nas negociações com o Congresso desde o primeiro governo. Mas foi, como ele mesmo diz, transformado numa figura decorativa. É claro que isso ocorreu porque o PT não divide o poder.

O apego à hegemonia que o PT sempre teve foi também responsável por levar o partido à ruína. Hoje, ao perceber que o governo caminha rapidamente para o fim, os partidos que fizeram parte da base aliada estão todos desembarcando do governo, como já ocorrera com o PMDB. É a hora da vingança, afirmam entre risos os deputados que dão adeus.

Esquerdas pelo impeachment - Roberto Freire

- Blog do Noblat / O Globo

Tão desonesta e falaciosa quanto a tese de que o processo de impeachment contra Dilma Rousseff configuraria um “golpe” é a afirmação de que todos os grupos que se opõem ao desgoverno lulopetista seriam conservadores, reacionários e representariam correntes de pensamento situadas mais à direita no espectro político-ideológico.

É natural que, em um universo no qual nove de cada dez brasileiros rejeitam o atual governo e mais de 70% da população deseja o afastamento da presidente da República, se façam presentes forças políticas mais conservadoras, o que é legítimo e próprio da democracia. Entretanto, ao contrário do que quer fazer crer o PT em mais uma tentativa de confundir a opinião pública, a luta democrática e constitucional pelo impeachment abrange também uma parcela significativa da esquerda que jamais se enxovalhou com a corrupção deslavada dos governos de Lula e Dilma.

Os dois mais tradicionais partidos da esquerda brasileira, o PPS (legítimo sucessor do Partido Comunista Brasileiro) e o PSB, são os principais exemplos de que grande parte do campo progressista defende o impedimento de Dilma como condição essencial para o país superar a crise e retomar o caminho do desenvolvimento. O alinhamento entre PSB e PPS em torno do impeachment nos remete a inúmeros capítulos marcantes da história brasileira em que as duas legendas estiveram lado a lado. A “Frente do Recife”, movimento que uniu socialistas e comunistas e serviu como grande inspiração no início de nossas vidas políticas, foi hegemônica em Pernambuco da redemocratização de 1946 até o golpe militar de 1964, repercutindo nacionalmente entre as forças democráticas de esquerda.

Após o golpe, os dois grupos se integraram às trincheiras do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em oposição à ditadura militar que perduraria por mais de 20 anos. A parceria se repetiu em outros momentos fundamentais como a luta pela anistia, a campanha das Diretas Já, a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, o voto favorável à Constituinte, o impeachment de Fernando Collor e, especialmente, o apoio ao governo do presidente Itamar Franco. Nas eleições de 2014, PSB e PPS estiveram juntos novamente defendendo a candidatura do saudoso Eduardo Campos à Presidência da República.

Além da emblemática união entre os dois partidos, o impeachment de Dilma é abraçado por nomes importantes da esquerda democrática e da social-democracia, entre os quais Fernando Gabeira, Cristovam Buarque, Ferreira Gullar, José Serra, Fernando Henrique Cardoso, Marina Silva e seu partido, a Rede Sustentabilidade, e também o PV, com toda a sua representatividade no campo progressista. Registro ainda o meu reconhecimento pessoal a duas jovens e promissoras lideranças do PSB que vêm se manifestando de forma firme e corajosa em defesa do impedimento: o prefeito do Recife, Geraldo Julio, e o governador de Pernambuco, Paulo Câmara.

Ressalte-se, por fim, o posicionamento de setores cada vez mais expressivos do PMDB que votarão pelo impeachment – honrando a tradição democrática e de independência do velho MBD de Ulysses Guimarães –, simbolizados na figura exemplar do deputado Jarbas Vasconcelos.

É importante ter a consciência de que caberá a esse conjunto de forças políticas dar sustentação e apoio ao governo que emergirá após o provável impeachment de Dilma, assim como ocorreu em 1992. Não podemos repetir o equívoco histórico do PT, que participou ativamente do impedimento de Collor, mas se recusou a integrar o governo de transição conduzido por Itamar. Uma eventual nova gestão terá o desafio de levar a cabo uma série de reformas estruturantes que não podem mais ser adiadas e, para tanto, precisará da contribuição de todos aqueles verdadeiramente comprometidos com o país.

Na histórica votação que deve ocorrer no próximo domingo, a esquerda democrática caminhará unida pelo fim de um governo que desmoralizou as forças progressistas por todo o desmantelo, a desesperança e a irresponsabilidade. Existe uma esquerda decente, digna, honrada e genuinamente preocupada com os rumos do Brasil. Norteados pelos mesmos princípios que nos uniram em tantos momentos, votaremos em consonância com o desejo da sociedade, seguindo a Constituição e respeitando a democracia, e escreveremos mais uma bela página de nossa história de lutas em comum. Impeachment já!

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS