terça-feira, 12 de abril de 2016

Opinião do dia – Aécio Neves

O resultado na Comissão Especial de Impeachment, que já era esperado, demonstra a fragilidade da defesa da presidente da República.

Por maiores que tenham sido os esforços dos que a defenderam, é impossível defender o indefensável.

A presidente da República cometeu crime de responsabilidade previsto na Constituição e terá a admissibilidade de seu processo de afastamento aprovado, segundo determina a mesma Constituição.

É preciso muita serenidade de todas as partes nessa hora para enfrentarmos e superarmos esse momento difícil pelo qual passa o país.

Mas estou seguro de que sairemos desse processo mais fortes graças à força de nossas instituições e da nossa democracia.

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Aécio Neves é senador e presidente nacional do PSDB

Com 38 votos, comissão aprova parecer do impeachment

• Grupo contrário à continuidade do governo Dilma Rousseff conseguiu cinco votos a mais do que o mínimo necessário para a denúncia seguir para o plenário da Câmara dos Deputados

Daiene Cardoso, Luciana Nunes Leal, Daniel Carvalho e Gabriela Caesar - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A Comissão Especial do Impeachment aprovou nesta segunda-feira, 11, com 38 votos, o parecer do relator, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), pela admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Os parlamentares contrários ao parecer foram 27 e ninguém se absteve. Eram necessários ao menos 33 votos (maioria simples) dos 65 para referendar o documento.

Com base na decisão da comissão, o plenário da Câmara dos Deputados tem 48 horas para começar a votar o pedido de impeachment, formulado com base nas pedaladas fiscais. A votação deve ocorrer da próxima sexta-feira, 15, ao domingo, 17.

Na sessão desta segunda-feira, dez partidos votaram a favor do parecer de Jovair e 10 contra. Quatro partidos liberaram o voto. PMDB, PP, PHS e PROS liberaram a bancada para a votação. PSDB, DEM, PSB, PRB, PTB, SD, PSC, PPS, PV e PMB orientaram voto a favor do impeachment. Contra o parecer do relator orientaram voto os representantes dos partidos PT, PR, PSD, PDT, PTN, PC do B, PSOL, Rede, PT do B e PEN.

Apesar da recomendação da direção da Rede de apoiar o impeachment, o partido teve seu único titular na comissão, o deputado Aliel Machado (PR), votando contra o afastamento. O PTN, que havia anteriormente liberado a bancada, decidiu de última hora votar contra o impeachment na comissão. Ao final, os oposicionistas cantaram o hino nacional. Os aliados do governo deixaram a comissão gritando “golpistas”.

Quando o painel eletrônico foi aberto para votação, a oposição já começava a comemorar. Gritos contra e a favor do impedimento tomaram conta do plenário.
Com a mudança de posicionamento do deputado e ex-prefeito Paulo Maluf (PP-SP), o Placar do Impeachment do Estado adiantou na quinta-feira, 7, que o colegiado tinha votos suficientes para dar prosseguimento à denúncia contra a petista.

Líder do PSD, o presidente da comissão, deputado Rogério Rosso (DF), foi um dos 38 que votou a favor da admissibilidade do processo de impeachment de Dilma.

O líder da oposição no Congresso, deputado Mendonça Filho (DEM-PE), disse que o voto de Rosso não foi uma novidade. "Já esperava", afirmou. Quando Rosso foi apontado para presidir os trabalhos, sua indicação - que tinha o aval do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - agradou à oposição.

Os oposicionistas afirmam que o resultado da votação na comissão demonstra uma vitória consistente. "Fortalece o processo para o plenário, dá combustível para uma vitória ainda maior", comentou.

Entre os chamados governistas, Rosso foi o único a votar pelo afastamento da petista. Os líderes Leonardo Picciani (PMDB-RJ) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) votaram contra o parecer.

Na votação desta noite, quatro suplentes votaram no lugar de titulares. Os parlamentares Benedita da Silva (PT-RJ) e Orlando Silva (PC do B-SP) votaram contra o parecer, enquanto Bruno Araújo (PSDB-PE) e Laudívio Carvalho (SD-MG) se posicionaram a favor.

A derrota na Comissão Especial já era dada como certa pelo Palácio do Planalto, que concentra seus esforços em convencer os deputados federais do "baixo clero", aqueles menos conhecidos. O governo tem feito negociações avulsas, sob o comando do ex-presidente Lula, mirando PMDB, PP, PR, PSD e partidos nanicos.

Jovair. Relator do parecer pró-impeachment aprovado nesta segunda-feira, Jovair Arantes avaliou que o resultado da votação indica que a oposição conseguirá tranquilamente mais do que os 342 votos mínimos para aprovar a admissibilidade do processo.

O parecer favorável ao impedimento da presidente Dilma Rousseff foi aprovado por volta das 20h30 desta segunda-feira, por 38 votos a favor e 27 contra. Não houve nenhuma abstenção. Dez partidos votaram a favor do parecer de Jovair e 10 contra. Outros quatro partidos liberaram o voto da bancada.

"Foi um placar mais folgado que eu imaginava. (…) O resultado nos deixa tranquilo que no plenário vamos ter mais de 342 votos para aprovar o parecer", afirmou Arantes logo após a votação. O relator, que antes do documento dizia que poderia sair como herói ou como golpista, disse ter saído como "herói" da votação.

Em um dos trechos mais fortes da entrevista, Arantes subiu o tom e rebateu o discurso de governistas de que o impeachment da presidente Dilma Rousseff é um "golpe". "Golpe é não respeitar o povo brasileiro. É destruir os valores do povo", afirmou.

Trâmites. Para o impeachment seguir adiante, é obrigatório que, no mínimo, 2/3 dos deputados federais, ou 342 parlamentares, votem pela admissibilidade do processo. O arquivamento ocorre caso o Planalto consiga, pelo menos, 171 votos, abstenções e faltas.
Se for aprovado na Câmara, o documento segue para o Senado, onde também é formada uma comissão para analisar o processo de impeachment. Após os trabalhos, a Casa vota pela admissibilidade ou não do parecer do colegiado.

Se não houver maioria simples dos senadores (41 ou mais parlamentares) a favor da saída de Dilma, o impeachment é arquivado.

Caso contrário, a presidente fica afastada por até 180 dias e tem 20 dias para apresentar sua defesa. O vice-presidente da República, Michel Temer, assume o cargo interinamente.
O Senado convoca, então, o presidente do Supremo Tribunal Federal para comandar nova sessão no plenário. Neste momento, para o impeachment ser concluído, é preciso receber, ao menos, 2/3 de votos favoráveis (equivalente 54 senadores) ao impeachment.

Se essa marca for alcançada, a presidente Dilma é destituída e fica impedida de assumir cargo público por oito anos.

Sem votos suficientes pelo impeachment, o processo é arquivado, e a petista volta para a Presidência da República.

Comissão aprova relatório pelo impeachment de Dilma

• Placar de 38 votos a 27 mostra que governo terá dificuldade no plenário

- O Globo

Governistas minimizam derrota e ressaltam ter obtido mais de um terço, proporção suficiente para barrar o processo se for repetida domingo, mas Jaques Wagner reconhece que votos obtidos pela presidente eram o piso estimado pelo Planalto Num clima de muita tensão, a comissão do impeachment da Câmara aprovou ontem, por 38 votos a 27, o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) favorável ao afastamento da presidente Dilma. O parecer seguirá agora para o plenário, que iniciará as discussões na sexta-feira e o votará no domingo, segundo calendário divulgado pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB). A oposição obteve novas adesões, conquistou cinco votos a mais do que o necessário para a aprovação do relatório e comemorou o resultado. O PP, que vem sendo assediado pelo Planalto, deu três dos cinco votos a favor do impeachment. Governistas minimizaram com o argumento de que tiveram o apoio de mais de um terço da comissão, proporção que seria suficiente para barrar o processo no plenário. Mas o ministro Jaques Wagner reconheceu, no fim da noite, que os 27 votos eram o piso estimado pelo governo. O dia começou com notícias desfavoráveis para Dilma. Mais um partido, o PSB, decidiu aderir ao impeachment em bloco. Há descontentes também no PP e no PR. O vice Michel Temer se reuniu no Rio com o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani, que lhe garantiu apoio. Em ato contra o impeachment no Rio, o ex-presidente Lula recebeu o apoio de artistas, como Chico Buarque, e minimizou o resultado da votação na comissão, dizendo que domingo é o que importa.

Processo avança

• Comissão aprova pedido de afastamento de Dilma; votação em plenário será no domingo

O placar na comissão e a debandada de aliados tornaram ainda mais imprevisível o desfecho do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, na semana que selará o destino de seu governo. O resultado das mais de dez horas de discussão entre os 65 deputados da comissão confirmou ontem a tendência desfavorável à presidente: 38 foram a favor e 27 contra o impeachment. Não houve abstenções. O processo agora vai a plenário: o impeachment será votado no próximo dia 17, domingo.

Na votação de ontem, a oposição obteve cinco votos a mais do que o que precisava para aprovar o processo. O governo conquistou mais de um terço das adesões, proporção que seria suficiente para impedir o afastamento no plenário. Mas o resultado foi aquém do esperado pelo Palácio do Planalto, que se preocupa com uma tendência de perda de apoio, verificada desde o fim de semana, que põe Dilma em risco.

Em clima de torcida, com cartazes contra e a favor do impedimento e tensão entre parlamentares, de um lado e de outro, os números da votação na comissão foram lidos ao som da “Marcha do adeus” (“Ai, ai, ai, ai, está chegando a hora”), de um lado, e gritos de “golpistas!”, de outro.

Antes mesmo do resultado, os sinais de desembarque deixavam o Planalto em alerta. O PSB anunciou em bloco que apoiará o impeachment. O PP e o PR liberaram seus deputados. O líder do PR, Maurício Quintella, deixou o cargo para se liberar de orientar o voto a favor do governo, no plenário. Ele se posicionou contra.

Maior e mais forte aliado, o PMDB liberou a bancada para votar na comissão. O líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), disse que a posição sobre o impeachment será discutida em uma reunião da bancada, que não estava prevista, nesta semana. O vice-presidente Michel Temer tem se esmerado em negociar voto a voto a posição do partido em favor do impedimento de Dilma.

Um gesto de Temer, ontem, serviu para azedar ainda mais a relação com Dilma. Ele vazou — segundo sua assessoria, sem querer —, para parlamentares do PMDB, áudio de discurso que já preparava para o minuto seguinte de aprovado o impeachment. No áudio, o vice diz que é preciso “um governo de salvação nacional” e o momento exige “pacificação” e “reunificação do país”. A gravação, identificada pela assessoria como “ensaio” para o caso de impeachment, foi vista como gesto “arrogante” e “golpista” pelo governo. Temer classificou o vazamento de “acidental”, mas reafirmou que esta é a sua posição.

No Planalto, cresceu ao longo do dia de ontem a apreensão com o cenário que se avizinha. Um auxiliar próximo à presidente disse que, hoje, o “imponderável é o maior inimigo de Dilma”. Cresce o temor com pareceres do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que na semana apontou indícios de tentativa de obstrução à Justiça na nomeação (depois suspensa) do ex-presidente Lula para o Ministério da Casa Civil.

O clima de decisão também contaminou as ruas. O governo do Distrito Federal afirmou que vai manter o “muro”, instalado no final de semana, que separa os manifestantes pró e contra o impeachment, por questões de segurança. No Rio, o expresidente Lula participou de uma manifestação na Lapa, organizada por artistas.

Ontem à noite, o Supremo Tribunal Federal deixou claro que o papel de regular o rito do impeachment é estrito do Legislativo. O ministro Edson Fachin negou liminar pedida pelo deputado Weverton Rocha (PDT-MA) para que a votação fosse realizada de forma alternada por critério regional. Segundo Fachin, apenas a Câmara pode interpretar o Regimento Interno e definir o método correto para realizar a votação.

Por 38 a 27 votos, comissão aprova relatório pró-impeachment

Ranier Bragon, Isabel Fleck,Rubens Valente,Débora Álvares – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A comissão especial que analisou o pedido de impeachment contra Dilma Rousseff aprovou nesta segunda-feira (11) por 38 votos a 27 o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), favorável à abertura do processo contra a presidente da República sob o argumento de que há graves indícios de cometimento de crime de responsabilidade.

O placar, já esperado pelo governo há alguns dias, eleva em mais um grau a delicadíssima situação do Palácio do Planalto.

O final da votação foi acompanhado por uma desordem generalizada na comissão, com coros dos dois lados e deputados todos em pé. A mesa da comissão foi tomada por partidários e contrários a Dilma, vários com celulares gravando depoimentos.

A votação final na Câmara, no plenário da Casa, deverá acontecer no próximo domingo (17). Para que o Senado seja autorizado a abrir o processo contra Dilma, e afastá-la do cargo, são necessários os votos de pelo menos 342 dos 513 deputados –ou seja, dois terços do total (66,7%). Na comissão, os votos contra Dilma somaram 58% do colegiado.

Integrantes de partidos que negociam nos últimos dias cargos e verbas com o governo deram sete votos a favor de Dilma e cinco contra.

Apesar de o líder da bancada do PR, Maurício Quintella Lessa (AL), ter deixado o cargo e anunciado o voto a favor do impeachment no plenário, os três integrantes da legenda fecharam a favor da petista.

Quintella afirma que, no plenário, a maioria da bancada irá votar contra Dilma. Trabalham a favor da presidente, porém, o ministro Antonio Carlos Rodrigues (Transportes) e o ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no processo do mensalão.

No PP foram três votos a favor do impeachment e dois contra. Já o PSD do ministro Gilberto Kassab (Cidades) deu dois dos seus três votos contra Dilma, entre eles o do presidente da comissão, Rogério Rosso (PSD-DF). O PTN, que tinha apenas 1 voto, seguiu com Dilma.

O líder da bancada do PTN, Aluísio Mendes (PTN-MA) chegou a dizer que até a mulher tem posição contrária a dele –momento em que a oposição interrompeu seu discurso em nome da "sabedoria da mulher"–, mas que sabe que o marido jamais votaria contra sua consciência.

O deputado Silvio Costa (PT do B-PE) tentou reproduzir no plenário o áudio vazado em que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) fala como se o impeachment já tivesse sido aprovado, mas a oposição vaiou e abafou a gravação. Costa chamou o vice de o maior "traidor" e "conspirador" da história, que não merecia ser nem "vereador do pior interior da Venezuela".

A posição anunciada pelos 25 partidos na comissão mostrou o seguinte placar: 11 a favor do impeachment (PSDB, DEM, PRB, PSB, PTB, SD, PSC, PPS, PV, PSL e PMB), 10 contra (PT, PP, PDT, PTN, PC do B, PSOL, Pros, Rede, PT do B e PEN) e 4 divididos (PMDB, PSD, PR e PHS).

Instalada em 17 de março, a Comissão especial do impeachment cumpriu um rito exíguo na Câmara, de 25 dias. Adversário do governo e réu no Supremo Tribunal Federal sob a acusação de integrar o petrolão, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi, nos bastidores, um dos principais condutores da acelerada tramitação.

A partir da próxima sexta-feira (15), quando deve ser aberta a sessão de votação no plenário –a expectativa é a de que ela se estenda até o domingo–, Cunha assumirá abertamente o comando do processo.

Embate
Assim como nas reuniões anteriores, a sessão desta segunda foi marcada por bate-bocas, acusações e gritos de ordem de ambos os lados. Os embates levaram a várias suspensões. A sessão durou mais de nove horas e meia.

Primeiro a falar, o relator, Jovair Arantes, ressaltou o caráter político do processo de impeachment e disse não haver mais clima para a continuidade de Dilma Rousseff no poder. Segundo o deputado do PTB, a presidente comanda um governo "autoritário", "arrogante" e "falido".

O deputado, que é aliado de Cunha, reafirmou ver "sérios indícios de cometimento de crime pela presidente da República" e "graves e sistemáticos atentados" cometidos por ela contra a Constituição na liberação de créditos suplementares sem autorização do Congresso e nas chamadas "pedaladas fiscais", que são empréstimos feitos por bancos federais para cobrir despesas do Tesouro Nacional.

Em seguida, falou o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, para quem o texto de Jovair representa, na verdade, a "peça de absolvição histórica da presidente".

Segundo o ministro, o parecer do petebista demonstra "que não há dolo, que não há crime, demonstra que há apenas a vontade política." Cardozo afirma que se o impeachment vingar, entrará para a história como o "golpe de abril de 2016".

Em seguida, falaram os líderes e integrantes de quase todos os 25 partidos com representação na Câmara. Em linhas gerais, a oposição e os contrários a Dilma defenderam a tese de que houve crime de responsabilidade, além de afirmar que Dilma não tem mais condição política de governar.

Um dos que falaram em nome do PSC, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), filho de Jair Bolsonaro (PP-RJ), chegou a defender o golpe de militar de 1964 afirmando que, assim como hoje, a esquerda tenta reescrever a história para tachar de golpista os defensores do impeachment.

Os defensores da presidente voltaram a bater na tecla do golpe, na acusação de que Cunha está por trás do processo e na afirmação de que eventual governo de Temer não terá legitimidade e irá rever programas sociais.

Silvio Costa protagonizou um dos momentos de barulho da sessão ao afirmar que o presidente do colegiado, Rogério Rosso (PSD-DF), participou de um acordão para salvar Eduardo Cunha da prisão e receber o seu apoio à presidência da República. Rosso riu e teve o nome gritado pela oposição.

Temer antecipa discurso de vitória

Por Murillo Camarotto, Daniel Rittner e Maria Cristina Fernandes - Valor Econômico

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O vice-presidente da República, Michel Temer, enviou ontem mensagem de voz a parlamentares e assessores na qual antecipa promessas e planos de governo que pretendia tornar públicos depois da aceitação, no domingo, do processo de impeachment da presidente Dilma. No áudio, revelado inicialmente pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, ele fala da necessidade de um governo "de salvação nacional".

A assessoria do vice-presidente informou que o objetivo era responder a pedidos de orientação por parte de aliados. No áudio, entretanto, Temer se dirige "ao povo brasileiro". Em entrevista, ele admitiu que a manifestação seria feita após votação do pedido de impeachment.

O Valor apurou que foi o consultor de comunicação Gaudêncio Torquato quem convenceu Temer a gravar uma minuta do pronunciamento, em São Paulo. O áudio, de 13 minutos e 51 segundos, foi gravado no iPhone de Temer pouco antes do meio-dia. Gaudêncio o receberia por e-mail. Mas foi parar no grupo de WhatsApp coordenado pelo ex-ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha e integrado por cerca de 50 parlamentares. Às 13h20, o Valor PRO noticiou o conteúdo do discurso e revelou que o áudio já circulava entre pemedebistas.

O ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, disse que, ao assumir o impeachment de Dilma como fato consumado, Temer admite que está disputando uma eleição indireta. "Ele está disputando votos. Nenhum golpe pode produzir união nacional", declarou.

Na gravação, Temer diz que o Estado é essencial em áreas como segurança, saúde e educação e o resto "tem que ser transferido para a iniciativa privada". Avisa que "serão necessários sacrifícios" e que em três ou quatro meses terá sido possível começar a encaminhar soluções para a crise. Promete reformas política, tributária, trabalhista e previdenciária, sem ferir direitos adquiridos. E garante que programas sociais não acabarão. "É mentira. É fruto da política rasteira que tomou conta do país", diz.

Derrota faz Planalto investir contra vice

• Governo tenta evitar onda pró-afastamento; Wagner chega a pedir renúncia de Temer

Tânia Monteiro Gustavo Porto - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Num dia em que foi derrotado na Comissão Especial do Impeachment e em que o vice Michel Temer deixou vazar um áudio em que se adianta ao afastamento da presidente Dilma Rousseff, o governo passou a tratar abertamente o peemedebista como “conspirador do golpe”, a fim de evitar que ele ganhe apoio até a votação do parecer no fim de semana. Coube ao ministro chefe do Gabinete Pessoal da Presidência, Jaques Wagner, o ataque mais incisivo: ele pediu a renúncia de Temer, caso o impeachment seja derrotado no plenário da Câmara.

“Se Temer for desmentido no domingo, só sobraria a ele a renúncia ao cargo”, declarou Wagner, para quem o vice “assumiu a conspiração” e com quem disse não ver mais qualquer hipótese de diálogo.

Ao comentar o resultado da comissão, que aprovou a continuidade do processo por 38 votos a 27, o ministro reconheceu que o placar “era o esperado”, mas atingiu o mínimo previsto no Palácio do Planalto – a expectativa era obter apoio de 27 a 32 integrantes do colegiado contrários ao parecer do deputado Jovair Arantes (PTB-GO).

Segundo Wagner, Dilma já estava no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, quando a votação no colegiado foi encerrada, ontem à noite. Ela comentou que “infelizmente a derrota era prevista”, conforme o ministro, que procurou demonstrar otimismo para a votação envolvendo todos os 513 deputados: “Vamos lutar pela vitória no plenário até o último instante”.

Os votos obtidos pelo governo, segundo Wagner, representaram 41,5% do total da comissão. Projetando isso para o plenário, de acordo com o ministro, Dilma conseguiria até 213 votos na Câmara, ou seja, 41 votos a mais que o mínimo de 172 necessários para rejeitar o afastamento da presidente– a aprovação do processo no plenário depende necessariamente do apoio de 342 dos 513 deputados. Mas Wagner acredita que o resultado pode ser ainda melhor.

Para justificar, o ministro disse que dois votos certos pró-governo não se concretizaram na comissão: o deputado Washington Reis (PMDB-RJ) não pôde comparecer, por motivos de saúde, e o deputado Bebeto Galvão (PSB-BA) não votou para não contrariar a orientação do partido favorável ao impeachment. Ambos foram substituí- dos por suplentes que votaram contra o governo, mas Bebeto, por exemplo, estará liberado no plenário para apoiar o Planalto.

Indecisos. O governo vai continuar investindo nos deputados que se dizem indecisos. Também haverá uma ofensiva para resgatar parlamentares que eram favoráveis ao governo, mas estão se posicionando pelo afastamento da presidente.

Confiante na vitória do governo no plenário, Wagner falou em “repactuação nacional”, embora reconheça que a Câmara possa abrir um novo processo de impeachment, a partir de um dos nove pedidos protocolados na Casa. “Mas só se quiserem atrapalhar o Brasil.”

Com Temer no ataque, governo sofre derrota maior do que esperava

João Domingos – O Estado de S. Paulo

Foi dupla a derrota do governo na votação do processo de impeachment na comissão especial da Câmara. Em primeiro lugar, o placar de 38 votos a favor e 27 contrários à aprovação do relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) foi bem maior do que o Palácio do Planalto esperava. Em segundo lugar, a votação mostrou que os favoráveis ao afastamento da presidente Dilma Rousseff cresceram exponencialmente. Quando a comissão especial foi formada, eles calculavam ter entre 17 e 20 votos contra mais de 40 do governo.

O relatório favorável ao impeachment segue agora para o plenário da Câmara diante não só de um País marcado pelas crises política, econômica e ética, mas também de certa forma dividido entre os que desejam a saída da presidente Dilma e os que lutam para que ela fique. Por isso mesmo é que, qualquer que seja a decisão da Câmara daqui a uma semana, a crise vai continuar.

Caso o impeachment seja aprovado, é provável que ela passe mais rápido, porque o vice-presidente Michel Temer tem uma proposta de união nacional que pode dar certo. Se o governo vencer a batalha, Dilma Rousseff estará de novo diante de sua realidade: um governo impopular e medíocre, assim reconhecido pelos aliados nos discursos que fizeram durante a votação na comissão especial. Mas, segundo todos eles, pelo menos honesta.

A toda essa constatação, junta-se outra, esta potencialmente alimentadora de crises: não há mais possibilidade de reconciliação entre a presidente da República e seu vice Michel Temer. O vice agora é o alvo de 100% dos petistas e dos aliados da presidente Dilma Rousseff, que lhe atribuem com mais força a marca de golpista desde a tarde desta segunda-feira, 11, quando se tornou pública uma mensagem de cerca de 15 minutos em que Temer se diz pronto a assumir o governo.

Apesar de Temer ter dito que o áudio vazou acidentalmente, difícil acreditar que um político experiente como ele tenha cometido erro tão infantil. O mais certo é que o vazamento tenha sido planejado. Carrega consigo uma mensagem, a de que Temer dará estabilidade ao País, um argumento forte diante da instabilidade diária gerada pelo governo de Dilma Rousseff. Principalmente porque o setor produtivo já se posicionou contra a presidente e está nas ruas a pedir seu impeachment.

Muitos disseram que Temer foi apressado e que quase pôs tudo a perder. O andar da carruagem política parece dizer o contrário. Se impedida de exercer a Presidência, Dilma terá de dar lugar a Temer. Por que não dizer ao Brasil, no dia em que seria votado o parecer a favor do impeachment pela comissão especial da Câmara, que é confiável, que não acabará com os programas sociais, que fará mudanças radicais na economia, como quer o mercado? Trata-se de um recado direto aos que podem, com ele, assumir a proposta de um governo de união nacional.

Temer não tinha nada a perder com a divulgação do áudio em que praticamente expõe seu programa de governo. Se o mandato de Dilma for preservado, ele continuará na cadeira de vice-presidente, da mesma forma sem função na administração pública. Isso já ocorre hoje. Se Dilma for impedida, assume a Presidência e faz a proposta de união nacional.

Exposto, embora chamado de golpista, Temer tem condições de se contrapor à compra de apoio promovida pelo ex-presidente Lula, da qual participam partidos médios e pequenos, todos eles rachados. Se Lula oferece um ministério, um cargo numa estatal, a liberação do dinheiro de uma emenda parlamentar, por que Temer não pode fazer o mesmo, agora que se expôs publicamente? Esse é o raciocínio mais lógico em toda essa disputa de poder.

Que Temer trabalha contra a administração de Dilma Rousseff é sabido de todos, até antes de o PMDB desembarcar do governo. Ele considera a presidente desagregadora e incompetente. Muito antes do começo para valer do processo de impeachment, ele se apresentou como a figura que poderia trabalhar a união nacional. Por que não fazê-lo agora, que o impeachment está aí, precisando só de um empurrãozinho?

Oposição conquista adesões ao afastamento

• PMDB e PP liberaram bancadas, enquanto o PSB orientou formalmente voto pelo impedimento de Dilma

Júnia Gama, Simone Iglesias Maria Lima - O Globo

-BRASÍLIA- Diversos movimentos ocorridos ontem entre os principais partidos da base aliada explicitaram o risco de debandada justamente daqueles sobre os quais o governo deposita as maiores expectativas para salvar a presidente Dilma Rousseff do impeachment. Ontem, dia em que a comissão do impeachment aprovou o relatório favorável ao afastamento, o PMDB liberou os deputados para a votação e decidiu convocar reunião esta semana para definir posição; o líder do PR deixou o cargo para votar pelo impedimento; o PDT se manteve indeciso; e o PP, que semana passada anunciou que ficaria com o governo, liberou a bancada e já admite, reservadamente, que a maioria votará pelo afastamento. O PSB, que já estava próximo à oposição, orientou formalmente o voto pelo impeachment.

No PMDB, que anunciou o desembarque do governo há duas semanas, o líder Leonardo Picciani (RJ) liberou a bancada para votar conforme o desejo de cada um e anunciou que os deputados do partido irão se reunir esta semana para discutir posição sobre o afastamento. A maioria dos deputados da bancada, hoje, é a favor do impeachment, o que pode resultar em posição majoritária oficial contrária ao governo.

— O PMDB tem posições divergentes. Alguns a favor, outros contra e outros indefinidos. E, por esta razão, não emitiremos nenhuma orientação. Estarão livres para votar de acordo com sua consciência — disse Picciani.

No PP, o segundo maior partido da base, o presidente, senador Ciro Nogueira (PI), já admite a interlocutores que será difícil segurar os deputados do partido para que votem a favor de Dilma. Semana passada, Nogueira anunciou que ao menos 40 dos 57 parlamentares, entre deputados e senadores, são contra o impeachment. Mas a conta é vista internamente como “otimista” e “frágil” diante das reuniões dos diretórios estaduais que ocorreram no fim de semana, onde muitos decidiram voto a favor do impeachment.

— No PP, a pressão de Ciro não está tendo resultado. Pelo contrário. Os indefinidos estão aos poucos definindo o voto contra Dilma — disse um parlamentar.

O líder do PR, Maurício Quintella (AL), trouxe mais uma má notícia para o Planalto ontem. Apesar das pressões da Executiva para que os deputados fechem questão a favor de Dilma, Quintella decidiu abdicar da liderança para poder votar pelo impeachment. O deputado disse que a maioria dos 40 deputados tem a mesma opinião que ele e relatou que sua base eleitoral não o perdoaria caso ajudasse Dilma. O deputado não compareceu à sessão da comissão e afirmou que não pode liderar a bancada para uma posição que, diz, levará o país ao colapso.

— Tomei minha decisão e sei que será acompanhada por grande parte da minha bancada, que é a favor do impeachment. Não só tenho absoluta certeza de que a presidente cometeu crime de responsabilidade, que ela atentou contra o Orçamento do país, como, do ponto de vista político, achamos que o governo não tem a menor condição de tirar o país da crise — afirmou.

No PDT, apesar de o presidente da legenda, Carlos Lupi, ter prometido a Dilma apoio integral de sua bancada, de 20 deputados, inclusive tendo fechado questão sobre o tema, parlamentares não querem cumprir a decisão partidária, e só metade da bancada pretende votar contra o afastamento de Dilma. Para pressionar os deputados, Lupi enviou uma carta a todos os parlamentares dizendo que quem não cumprir a decisão partidária poderá até ser expulso da legenda.

“Forças de direita ressurgem aglutinadas promovendo a derrubada política, sem base fática-legal, de um governo legitimamente eleito. Tomo a iniciativa de dirigir-me aos nossos parlamentares para cientificá-los do caráter vinculante da nossa decisão e das severas sanções previstas pelo estatuto para o membro que desatenda aquela deliberação coletiva”, diz trecho da carta.

A Executiva do PSB aprovou ontem documento recomendando suas bancadas a votar pelo impeachment, apesar dos apelos do ex-presidente Lula para que o partido se mantivesse neutro. Apesar de não fechar questão para os votos em plenário, foi feito um pacto para que os membros do partido votassem a favor da admissibilidade na comissão processante. O presidente do PSB, Carlos Siqueira, disse que o partido não tem tradição de fechar questão e, embora considere equivocada, respeita a decisão da minoria que é contra o impeachment.

Rede vai rachada para a votação no plenário

• Dois deputados votarão pelo impeachment e dois serão contrários

Eduardo Bresciani e Evandro Éboli - O Globo

-BRASÍLIA- A Rede Sustentabilidade, partido liderado pela ex-senadora Marina Silva, irá rachada para a votação do processo de impeachment no plenário da Câmara. Apesar de Marina e o partido terem divulgado nos últimos dias posição favorável ao afastamento da presidente Dilma Rousseff, dois deputados do partido votarão a favor e dois contra.

O placar na legenda foi definido ontem com o posicionamento do deputado Aliel Machado (PR), que foi titular do partido na comissão que debateu o tema. Aliel disse que chegou à Câmara ontem ainda em dúvida, mas que decidiu votar contra por entender que uma posse de Michel Temer não seria solução, além de livrar o peemedebista de investigações na Operação Lava-Jato.

— Com muita honradez, eu pago pelo meu voto. Eu não tenho medo de enfrentar quando sei que estou com a razão do meu coração. Eu voto não — disse Aliel.

Também votará contra o impeachment o líder da legenda, Alessandro Molon (RJ). Miro Teixeira (RJ) e João Derly (RS), por sua vez, se posicionaram a favor do afastamento de Dilma.

O posicionamento da Rede a favor do impeachment foi oficializado com a divulgação de uma nota. O partido mantém a defesa de novas eleições e concluiu seu texto com “Nem Dilma — Nem Temer”. A legenda pede celeridade ao processo de cassação da chapa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A legenda ressalta que respeitará opiniões divergentes e cobra também o andamento do processo contra Temer, dizendo ainda ser “intolerável” a permanência de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Câmara e no comando destes processos.

PMDB do Rio declara apoio ao impeachment de Dilma

• O anúncio oficial coube ao presidente regional do partido, Jorge Picciani, após reunião com o vice-presidente da República, Michel Temer

Roberta Pennafort - O Estado de S. Paulo

RIO - O PMDB fluminense anunciou na tarde desta segunda-feira, 11, que irá apoiar a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O tema foi debatido durante o dia em reunião no Rio, no 3º Comando Aéreo Regional, contíguo ao aeroporto Santos Dumont, com a presença do vice-presidente Michel Temer. O anúncio oficial coube ao presidente regional do PMDB, Jorge Picciani.

“Tive o prazer de receber hoje o vice-presidente Michel Temer. Nessa oportunidade, comuniquei que o PMDB do Rio é favorável ao impedimento da presidente Dilma. Esta é a posição amplamente majoritária da bancada federal, que comparecerá à votação com os seus titulares. Da minha parte, na condição de dirigente partidário, vou continuar buscando a unificação das posições da bancada”, publicou o deputado em seu perfil no Facebook, há pouco.

Ele é pai do líder da legenda na Câmara dos Deputados, Leonardo Picciani, que nesta mesma segunda-feira liberou a bancada a votar como quiser na Comissão Especial do Impeachment. Em seu discurso, ele disse que os parlamentares deveriam votar “de acordo com sua consciência”

Temer se antecipa e fala em tempo de 'sacrifício'

Por Murillo Camarotto, Daniel Rittner e Bruno Peres – Valor Econômico

BRASÍLIA - Recolhido nas últimas semanas, o vice-presidente da República, Michel Temer, quebrou involuntariamente o silêncio ontem, em uma mensagem de voz enviada a um grupo de parlamentares e assessores. No áudio, revelado pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, ele fala da necessidade de um governo "de salvação nacional" e menciona um período de "sacrifícios" para tirar o país da crise.

A assessoria do vice-presidente reconheceu a autenticidade da mensagem e informou que o objetivo era responder a pedidos de orientação por parte de aliados. Amigos de Temer que conheceram antes o texto afirmam que ele o gravou para dar uma argumentação ao PMDB. No áudio, entretanto, Temer se dirige "ao povo brasileiro" e faz planos para seu futuro governo, com uma agenda de reformas e a manutenção dos programas sociais implantados nos últimos anos pela administração petista.

Quando o áudio foi divulgado na íntegra e surgiu a versão de que ele se espalhou por causa de um erro do próprio vice-presidente, que o teria distribuído sem querer a um grupo do WhatsApp, Temer convocou jornalistas para uma rápida entrevista. Ele admitiu o envio, por engano, da mensagem pelo celular.

De acordo com Temer, sua fala se refere a uma manifestação que "certa e seguramente" precisaria ser feita, a depender do resultado, após votação no domingo do pedido de impeachment de Dilma. Na visão dele, não há novidades no discurso tornado público, por contemplar teses que disse sempre ter sustentado. Fez questão de dizer ainda que, se Dilma permanecer no cargo, continuará defendendo os mesmos argumentos, sem mudar "um centímetro" do que falou no passado.

Para o vice, a gravação divulgada não influenciará o resultado no plenário da Câmara. Ele se recusou a responder críticas relacionadas a uma espécie de antecipação de vitória, por considerar que "certas afirmações não merecem a honra de sua resposta". "Fiz uma gravação onde ressaltei pontos que tenho defendido ao longo do tempo: a pacificação absoluta do país, a unidade do país, o chamamento de todos os partidos para um governo de salvação nacional, a ideia de que devemos manter os programas sociais e até aprimorá-los ao longo do tempo", afirmou Temer.

A mensagem permite deduzir que o vice-presidente pretendia dar tais declarações após a votação da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff pelo plenário da Câmara. "Fui procurado por muitos que estão aflitos com a situação do nosso país, ainda mais agora quando a Câmara decide, por uma votação significativa, declarar a autorização para a instauração de processo de impedimento da senhora presidente", afirma.

Na sequência, Temer diz não querer "avançar o sinal" e promete aguardar a posição do Senado - que poderá decretar o afastamento de Dilma por 180 dias caso acolha o processo vindo da Câmara. "Quero afirmar que temos um longo processo. Minhas palavras são provisórias, pois temos que aguardar a decisão soberana do Senado", ponderou o vice.

Temer, então, passa a apresentar pontos de um programa de governo. De acordo com ele, a superação da crise atual passa pela pacificação do país, o que só será possível com o comprometimento de todas as forças políticas. "É tristíssimo ver os brasileiros partindo para algo quase físico. É preciso um governo de salvação nacional e, portanto, de união nacional".

O áudio vazou inicialmente durante a comissão especial do impeachment. Ignorando as explicações que eram dadas pelo ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, o deputado Manoel Júnior (PMDB-PB) ouvia atentamente uma mensagem enviada por Temer ao seu celular. O Valor ouviu trechos da gravação e pediu a íntegra do áudio ao parlamentar, mas ele argumentou que já a havia apagado. Outros pemedebistas consultados negaram ter recebido a mensagem.

O vice se compromete ainda a estabelecer uma base parlamentar sólida para encaminhar as reformas necessárias à retomada do crescimento da economia. O restabelecimento da confiança no país pode levar entre três e quatro meses.

Após este período, segundo Temer, poderão aparecer os primeiros sintomas de mudança de postura por parte do empresariado. Para que isso seja possível, contudo, será preciso estabelecer uma agenda de reformas que "incentivem a harmonia entre empregadores". Temer menciona especialmente a reforma tributária, que segundo ele deve passar por uma mudança na fatia de Estados e municípios no bolo da arrecadação de impostos.

"É preciso retomar o crescimento e eu não quero que isso fique em palavras vazias. Tenho absoluta convicção de que a mudança pode gerar esperança e, gerando esperança, isso gerará investimentos nacionais e estrangeiros. Precisamos restabelecer a crença no Estado brasileiro", disse o vice-presidente. "O que aconteceu nos últimos tempos foi o descrédito no Brasil".

Temer chamou de "política rasteira" os boatos de que governos de outros partidos cortariam programas sociais. De acordo com o vice, iniciativas como o Bolsa Família e o Programa Nacional do Ensino Técnico (Pronatec) serão revalorizadas e ampliadas.

No começo da noite, o ministros da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e o ministro da Chefia de Gabinete de Dilma, Jaques Wagner, criticaram as declarações do vice-presidente. De acordo com eles, ao assumir o impeachment de Dilma como um fato consumado, Temer admite que está disputando uma eleição indireta. "Ele está disputando votos", alfinetou Berzoini. "Nenhum golpe pode produzir união nacional", disse Wagner.

Lula diz a militantes que Temer é o primeiro a querer tirar Dilma do governo

• Em ato contra o impeachment no Rio, petista acusa vice e caciques do PMDB de liderarem o movimento pela deposição da presidente

O Estado de S. Paulo

RIO - Em discurso para manifestantes contrários ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, nesta segunda-feira, 11, no Rio de Janeiro, o ex-presidente Lula acusou o vice-presidente Michel Temer e caciques do PMDB de liderarem o movimento pela deposição de Dilma. O ex-presidente lamentou o resultado da votação na Comissão Especial do Impeachment, que aprovou a abertura do processo no início da noite. Lula afirmou ainda que aceitou voltar ao governo para "recuperar" o País e defendeu mudança na política econômica.

"Quem quer tirar a Dilma? Em primeiro lugar, o Temer. Em segundo, o (Eduardo)Cunha, Em terceiro, o Geddel (Vieira Lima). Em quarto, o Henrique Alves, e em quinto, o Moreira Franco", afirmou o ex-presidente no ato realizado na Lapa, na região central do Rio. "Jamais imaginei que veria gente da minha geração, agora golpistas querendo tirar a presidente eleita", completou.

O público vaiou os políticos citados pelo ex-presidente e gritaram 'Fora Cunha'. Durante o discurso, Lula ainda lamentou o resultado da votação na Comissão Especial do Impeachment, mas minimizou o resultado: "Essa comissão foi montada pelo Cunha. O que vale mesmo é no próximo domingo", disse.

Durante o discurso, o ex-presidente lembrou que perdeu quatro eleições e disse que nunca reclamou ou foi à Justiça contra o resultado das eleições. "Vamos dizer aos amigos que querem o golpe: aprendam com o Lula. Ele esperou 12 anos pra ser presidente", provocou.
Lula afirmou ainda que foi convidado a entrar no governo desde agosto, mas que agora atendeu a um apelo da presidente Dilma para "recuperar" o País. Segundo Lula, ao aceitar o convite para o governo, ele pediu à presidente uma mudança de rota.

"Dilma me convidou pra voltar ao governo em agosto e eu não quis. Agora ela me disse: preciso de você pra recuperar o país e nós vamos recuperar o País. Mas eu disse a Dilma que volto, mas a gente tem que ter outra política econômica", afirmou.

Em outro momento do discurso, ele voltou ao tema. "A companheira Dilma aprendeu uma lição. Ela fez uma proposta de ajuste que nenhum companheiro gostou. Era um ajuste para atender ao mercado financeiro. Mas o mercado dela não é o banqueiro, é o povo consumidor", afirmou o ex-presidente, sob fortes aplausos do público.

Lula negou as acusações de corrupção envolvendo o apartamento tríplex no Guarujá e o sítio em Atibaia. Ele voltou a criticar a imprensa e a defender a as marcas de seu governo, como o programa Minha Casa Minha Vida, a política de cotas em universidades e o Bolsa Família.

'Luta de classes'. O ex-presidente afirmou, ainda, que não quer incitar a luta de classes no País ou dividir a sociedade. Segundo ele, defender o governo é defender a "honra das mulheres brasileiras" e criticou os ataques à presidente.

"Acham que quero incitar a luta de classes. Não quero dividir a sociedade. O País não pode ser dividido entre aqueles que se acham mais brasileiros porque usam verde e amarelo. Não se mede o brasileiro pela cor da camisa, mas pela vergonha na cara e pelo trabalho que fazemos", afirmou o ex-presidente. "Vejo que eles têm ódio de mim, vejo como eles me tratam. Mas nesse país ninguém governou o país para todos mais do que eu", completou.

O ex-presidente comparou os movimentos contra a presidente ao Fascismo e ao Nazismo. "Eles não gostam de política, negam a política. Em São Paulo, não deixaram o Alckmin e o Aécio falarem. quem fala por eles é o Bolsonaro. Foi assim que nasceu o Nazismo e o fascismo. Aqui, aprendemos a gostar de democracia, pois somente a democracia permite que um cara como eu chegue a presidência".

Lula ainda afirmou que solicitaram a ele que usasse coletes a prova de balas em manifestações na Av. Paulista. "No dia em que eu tiver medo, eu prefiro não sair de casa. Se quiserem me derrotar, vão ter que aprender que nós não saímos nas ruas apenas aos domingos, mas de segunda a sexta, o ano inteiro", completou.

Ele classificou de "injusta" a campanha contra a presidente Dilma Rousseff. "Eu aguento muita bordoada, mas não é justo eles fazem com a Dilma. A gente não está defendendo apenas o direito de uma mulher ser presidente, estamos defendendo a honra das mulheres brasileiras que sempre foram tratadas como objeto".

Lula também afirmou que a "elite brasileira nunca se preocupou que o pobre estudasse". Segundo ele, os governos do PT mudaram a 'lógica'.

"Para eles, o pobre nasceu pra ser faxineiro, eles que nasceram pra ser engenheiros. Falo com orgulho, só tenho diploma primário e o curso do Senai. Mas vou passar para a história como o presidente que mais fez universidades nesse país. Isso incomoda. Como pode esse peão analfabeto ter mais título de doutor honoris causa que o sociólogo?", alfinetou Lula, sem citar nominalmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Em áudio, Temer fala como se já estivesse certo que vai assumir

O vice-presidente Michel Temer enviou um arquivo de áudio a parlamentares de seu partido, o PMDB, em que fala por 15 minutos como se o impeachment tivesse sido aprovado pelo plenário da Câmara. Na gravação, que ele alega ter vazado por acidente, Temer diz falar na condição de “substituto constitucional” de Dilma e afirma serem “mentirosos” os boatos de que seu eventual governo acabaria com o Bolsa Família. A JORGE BASTOS MORENO, o vice disse que o conteúdo reflete seu pensamento e que acredita que o vazamento não afetará o resultado da votação no plenário. Para o Planalto, o áudio foi distribuído propositalmente e revela uma “trama golpista”.

Áudio de Temer ‘assumindo’ a Presidência vaza para aliados

• Vice disse que cometeu ‘equívoco’, mas que discurso dele não é ‘novidade

Leticia Fernandes - O Globo

-BRASÍLIA- Num áudio vazado ontem, gravado para supostamente ser exibido após a eventual aprovação do impeachment no plenário da Câmara, cuja votação foi marcada para este domingo, o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) fez previsões como se os deputados tivessem decidido, por “votação significativa”, que a presidente Dilma Rousseff seja processada e, portanto, afastada do cargo. No áudio, o peemedebista já fala com a perspectiva de se tornar em breve presidente da República e diz que é preciso um governo de “salvação nacional” para unir o país. Horas depois da gravação vir a público, Temer concedeu entrevista coletiva na qual disse ter cometido um equívoco, mas destacou que não é “novidade” o conteúdo do áudio e que, após a votação em plenário, “certa e seguramente” será exigido dele um posicionamento.

— Eu reitero que aquilo que disse seria exatamente o que fiz no passado e vou continuar a fazer, dependendo do que acontecer no dia 17. Não estou dizendo novidade: são teses que tenho sustentado ao longo do tempo — disse o vice.

Aliados elogiam
Ao longo do dia, alguns de seus principais aliados, como os ex-ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, divulgavam trechos do áudio no Twitter, tecendo elogios. Na gravação, de quase 14 minutos, Michel Temer prega a “pacificação” e “reunificação” das forças do país. Ele diz que são palavras “provisórias” e afirma que se recolheu nos últimos tempos para “não aparentar algum gesto com vistas a ocupar o lugar” de Dilma:

— Quero me dirigir ao povo brasileiro para dizer algumas das matérias que penso devam ser por mim enfrentadas. (...) Aconteça o que acontecer no futuro, é preciso um governo de salvação nacional e de união nacional. É preciso que se reúnam todos os partidos políticos e todos estejam dispostos a dar sua colaboração para tirar o país da crise. O fundamental agora é o diálogo, a compreensão, e, para não enganar ninguém, ideia de que vamos ter muitos sacrifícios pela frente. Sem sacrifícios, não conseguiremos avançar para retomar o crescimento e desenvolvimento que pautaram a atividade do nosso país nos últimos tempos, antes dessa última gestão.

Em outro trecho, que teria sido enviado a parlamentares do PMDB por engano, Temer afirma que a missão pós-impeachment é pacificar o país. Diz que vai manter as conquistas sociais dos últimos governos e comenta que aqueles que fazem “política rasteira” andam dizendo que ele acabaria com programas implementados pelo PT, como o Bolsa Família e o ProUni. O vice nega e diz que poderá, inclusive, ampliá-los. Temer afirma, no entanto, que a existência do Bolsa Família é apenas um “estágio do Estado brasileiro”.

— É preciso manter certas matérias sociais, porque nós todos sabemos que o Brasil ainda é um país pobre. E sei que dizem, de vez em quando, que se outrem assumir, vamos acabar com o Bolsa Família, com Pronatec, com Fies. Isto é falso, é mentiroso e é fruto desta política mais rasteira que tomou conta do país. Deveremos manter esses programas e, até se possível, revalorizá-los e ampliá-los. O que aconteceu nos últimos tempos foi um descrédito no nosso país, eée leque levaàausênci ado crescimento, do desenvolvimento, que faz retomara inflação.

O vice-presidente defendeu Parcerias Público Privadas (PPPs) e a interferência mínima do governo no Estado. O discurso, liberal, é alinhado a oque defende o PSD B evai contra oque o PT e Dilma defendem.

— O Estado brasileiro tem que cuidar de Segurança, da Saúde, Educação, de alguns temas fundamentais que não podem sair da órbita pública, mas os demais têm que ser entregues à iniciativa privada no sentido da conjugação da ação entre trabalhadores e empregadores.

Ao defender essas mudanças, num “governo de transição”, Temer admite que isso se traduzirá em “sacrifícios iniciais” para os brasileiros e que a recuperação do país não virá “em três ou quatro meses”. Afirma, no entanto, não querer gerar “falsas expectativas”.

—Não pense mosque, se houve ruma mudança no governo, em três, quatro meses estará tudo resolvido. Pode começaras er encaminhado, para resolvermos a matéria ao longo do tempo.

O vice defendeu reformas que considera fundamentais para o país — política, tributária e da Previdência —e a revisão do pacto federativo, com autonomia para estados e municípios, com “grande diálogo nacional”. Falou também em anistiar ou perdoar parte das dívidas dos entes federativos. Ressalta, porém, que nenhuma mudança removerá benefícios dos trabalhadores.

— É nesses termos que vamos trabalhar: diálogo de um lado e conjugação de esforços do outro serão os alicerces do nosso trabalho — concluiu Temer. no áudio. (Colaborou Eduardo Barretto)

‘Foi um fato isolado, acidental, mas reflete meu pensamento’, diz Temer

• Em entrevista exclusiva ao Globo, o vice-presidente, Michel Temer, diz que ‘vazamento foi inoportuno’, uma ‘espécie de rascunho’ de discurso

Jorge Bastos Moreno - O Globo

-BRASÍLIA- Em entrevista exclusiva ao GLOBO, depois do vazamento do áudio em que antecipa o resultado da votação do impeachment pelo plenário da Câmara, o vice-presidente Michel Temer reafirmou tudo o que disse na gravação, embora lamentasse o que chamou de “inoportuno acidente”. E disse que essa sua pregação continuará, independentemente do que decidirem a Câmara e o Senado sobre o afastamento da presidente Dilma Roussef. “Há muito que venho pregando a necessidade de um entendimento nacional. Inclusive, se você está lembrado, cheguei a ser mal interpretado quando disse que o país precisava de alguém para promover isso. Essa é a minha pregação. Isso é que está no áudio. E continuarei fazendo isso, independentemente do resultado da votação do impeachment, coisa que, aliás, se o governo tivesse feito antes, não chegaríamos aonde chegamos hoje”, disse Temer.

• Como que um homem tão cauteloso como o senhor comete um acidente desses?

Qualquer vazamento é sempre inoportuno, não vamos negar. Foi um acidente. Eu gravei no meu próprio celular algumas palavras e mandei para a avaliação de um amigo e, acidentalmente, acabei mandando para um grupo do WhatsApp.

• Por que o senhor gravou essa mensagem a uma semana da votação, quando ninguém ainda sabe sequer prever o resultado?

É explicável. Hoje (ontem) pela manhã comecei a ser questionado por amigos: “Temer, você já se preparou para o momento?”; “Você precisa já ter em mente o que vai falar, depois da votação”. Argumentaram também que, chegando em Brasília, nesses cinco ou seis dias que faltam para a votação, eu não teria tempo de refletir sobre o que dizer ao país. Alegaram também que eu estava há dois meses sem falar e que o país precisava ouvir uma palavra tranquilizadora da minha parte, com a responsabilidade que pesa sobre mim, sobretudo neste momento. Resolvi então gravar uma fala, para posterior elaboração mais apurada da mesma, uma espécie de rascunho. E parti da suposição de que a Câmara já havia votado e me dirigi, nessa mensagem, também ao Senado.

• Mas não foi um discurso precipitado?

Tudo o que está dito ali é o meu pensamento, é o que tenho dito. É só acompanhar os meus pronunciamentos. A única coisa que acrescentei de novo foi uma resposta a essa tentativa rasteira, que começou a surgir em São Bernardo do Campo e Santo André, principalmente, de que, se eu assumisse o governo, iria acabar com o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Pronatec e outros programas do governo. Eu eu disse que, pelo contrário, vamos aprimorá-los.

• Esse vazamento não pode, de certa formar, influenciar no resultado da votação do próximo domingo?

Esse foi um fato isolado, acidental, mas que reflete o meu pensamento. A votação do impeachment é algo mais importante e vital para os interesses do país. A esta altura, creio que a maioria dos deputados já tem convicções firmes para tomar uma decisão tão importante.

• E as reações a esse vazamento, como estão sendo?

Tenho recebido manifestações de que, ainda que acidental, de certa forma, o fato teve o efeito positivo de esclarecer que eu tenho uma palavra a dar ao país, depois dessa votação. Repito, esse meu discurso vale para qualquer situação. Chegou o momento da união nacional. Nós, com as nossas responsabilidades, temos que buscar caminhos, e, dando uma palavra tranquilizadora para todos os segmentos, do trabalhador ao empresariado, de que temos que resolver as crises social, econômica e política.

Áudio de Temer surpreende Dilma, e Planalto chama vice de 'golpista'

Marina Dias, Gustavo Uribe, Isabel Fleck, Ranier Bragon, Rubens Valente – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O vazamento do discurso em que Michel Temer fala como se o impeachment já tivesse sido aprovado pela Câmara pegou a presidente Dilma Rousseff de surpresa e fez com que ela ordenasse uma resposta enfática do governo, colando ao vice-presidente a imagem de "golpista".

Minutos após a divulgação do áudio, o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) afirmou àFolha que a fala de Temer "revela a trama golpista que o vice e sua turma vêm demonstrando há semanas".

"Estou estupefato. Ele está confundindo a apuração de eventual crime de responsabilidade da presidente Dilma com eleição indireta. Está disputando votos e transformou o processo numa eleição indireta para conseguir votos em favor do impeachment. Esse áudio demonstra as características golpistas do vice", declarou Berzoini.

Segundo relatos, ao ser informada do áudio, a presidente repetiu a assessores e a auxiliares que "caiu a máscara do conspirador", em referência ao vice-presidente.

Para o Palácio do Planalto, a divulgação foi proposital e faz parte de estratégia de Temer para consolidar os votos a favor do impeachment e conquistar o apoio de parlamentares ainda indecisos no momento em que ele se apresenta como uma alternativa de poder.

O governo pondera, contudo, que, ao se antecipar à votação no plenário, Temer acabou dando um "tiro no pé" e cometeu o mesmo erro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nas eleições municipais de 1985, em São Paulo.

Na época, dias antes das eleições, o tucano, que era o favorito nas pesquisas de opinião, fez uma foto para uma revista sentado na cadeira de prefeito, fator que teria influenciado em sua derrota.

Nas palavras de um assessor presidencial, o áudio de Temer reforça estratégia do Planalto adotada desde o fim do mês passado, de associar a imagem do vice à de "capitão do golpe".

A ordem no governo agora é utilizar a fala do peemedebista para reforçar a munição contra ele também nas redes sociais.

Mesmo tom
Parlamentares e dirigentes do PT também foram surpreendidos pelo vazamento do áudio e adotaram o mesmo tom do Planalto.

À Folha, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que o vice-presidente Michel Temer "menosprezou" os parlamentares e confirmou "sua condição de conspirador geral da República" ao divulgar um áudio em que fala como se o impeachment já tivesse sido aprovado pela Câmara.

"O áudio de Temer confirma sua condição de conspirador geral da República e revela um traço até então desconhecido de um extrema arrogância e, ao mesmo tempo, de menosprezo aos parlamentares ao antecipar uma votação que lhe permitiria se sentar na cadeira antes da hora", disse Falcão.

Minutos após o vazamento do discurso do peemedebista, o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) afirmou que a fala do vice "revela a trama golpista que Temer e sua turma vêm demonstrando há semanas".

Segundo o ministro, Temer "transformou o processo em eleição indireta', quando tenta "conseguir votos em favor do impeachment".

O coordenador do setorial jurídico do PT, Marco Aurélio Carvalho, também classificou Temer como golpista.

"No momento em que Temer se revela como o golpista que sempre foi, e se apresenta como alternativa de poder, potencializa as nossas chances de vencer a votação no plenário da Casa", afirma Carvalho.

Em sua fala na sessão da comissão especial do impeachment, o líder da bancada do PT, Afonso Florence (BA), afirmou que Temer cometeu alta traição em relação a Dilma Rousseff e que, se assumir o poder, irá acabar com programas sociais.

Dizendo ter chegado a essas conclusões por meio de entrevistas e manifestações que ouviu, Florence afirmou ainda que o PMDB e a oposição não vão ter "sossego" caso o Congresso aprove o impeachment de Dilma.

O discurso de Florence tem sido repetido por outros petistas na comissão, em um indicativo de que houve combinação prévia.

"Eles não vão ter sossego se fizerem isso [aprovar o impeachment]. O povo mobilizado vai lutar por suas conquistas. Se aprovarem o golpe, Vossas Excelências vão entrar na história para a lata do lixo", disse Florence.

De acordo com o petista, a "chapa do golpe", liderada por Temer, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o tucano Aécio Neves (PSDB-MG), representa "um ataque à democracia e a retirada de conquistas sociais", além de ser uma ameaça, acrescenta Florence, às investigações da Lava Jato.

O líder do PT destinou críticas especiais a Temer, que segundo ele cometeu "traição alta ao ser nomeado articulador político [função que ele ocupou no ano passado] e conspirar contra a presidente".

Por várias vezes Florence foi interrompido por protestos da oposição, que o acusou de mentir.

O líder da bancada do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), rebateu: "Queria tranquilizar os brasileiros de que alguns pronunciamentos, eivado de coisas que não correspondem à realidade, são mais do que reprováveis, são deploráveis. [...] Revelam o temor de uma derrota iminente."

PMDB
Em sua fala, o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), liberou a bancada do partido a votar de acordo com a consciência de cada um.

O PMDB rompeu com o governo, mas Picciani faz parte da ala minoritária que se mantém leal a Dilma.

Ele repetiu a avaliação de que o governo Dilma não soube fazer um governo de união nacional e que a oposição nunca aceitou o legítimo resultado das urnas. O peemedebista afirmou que a bancada se reunirá nesta semana e irá aferir a posição majoritária. Ele disse que defenderá essa posição na votação do plenário, prevista para o domingo (17).

PSB e Rede se posicionam a favor do impeachment de Dilma Rousseff

Débora Álvares, Isabel Fleck, Ranier Bragon, Rubens Valente, Thais Arbex – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, SÃO PAULO - O PSB e a Rede divulgaram nesta segunda-feira (11) posições oficiais favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Com 31 deputados federais, a sigla reuniu sua executiva nacional em Brasília e elencou em nota o que chamou de equívocos do governo afim de justificar o posicionamento pró-afastamento da petista.

Além dos atuais 31 deputados, o PSB tem dois secretários em cargos no governo de Pernambuco que devem se licenciar para voltar à Câmara e votar pelo impeachment.

"A atual presidente perdeu a legitimidade com uma rapidez extraordinária. Legitimidade não é só na eleição, mas é no exercício do cargo", afirmou o presidente do PSB, Carlos Siqueira.

Segundo ele, as manifestações contrárias ao impeachment foram minoria e partiram dos senadores Lídice da Mata (BA) e João Capiberibe (AP), do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, e do ex-governador do Amapá Camilo Capiberibe.

Nos bastidores, dirigentes do partido já conversam com o vice Michel Temer sobre a composição de um eventual novo governo.

No caso da Rede, embora a ex-senadora Marina Silva continue defendendoque a cassação da chapa que elegeu Dilma e Temer pelo TSE seria a melhor solução, em nota divulgada nesta segunda o partido diz que, após debates internos, a maioria dos integrantes entende que existem elementos para o impeachment.

No texto, o partido indica que não obrigará seus quatros deputados a votarem a favor da saída da petista.

Liderança do PR
Favorável ao impeachment, o deputado Maurício Quintela Lessa (PR-AL) entregou nesta segunda a liderança do partido na Câmara, cargo que ocupava desde o início do segundo mandato da petista. A Executiva do PR é contrária à saída de Dilma, mas a maioria dos 40 deputados do partido na Câmara é favorável ao impeachment.

A falta de consenso entre as partes foi a justificativa de Lessa para deixar o cargo. Os deputados da sigla estão liberados para votar como quiserem, mas Quintela calcula que entre 25 e 30 votos devem ser pelo impeachment.

Apesar do movimento que, no fim de semana, fixou a posição de pelo menos nove diretórios estaduais do PP a favor do impeachment, o líder do partido na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB) reafirmou nesta segunda seu voto contra o afastamento da presidente. O PP tem 47 deputados.

O impeachment avança - Merval Pereira

- O Globo

Impeachment avança e dificilmente haverá mudança de voto. A mancada do vice Michel Temer, deixando vazar um discurso que preparara para a noite de domingo próximo caso o impeachment seja aprovado no plenário da Câmara, não teve consequência nenhuma na votação de ontem na comissão, que deu uma vitória folgada à oposição, e provavelmente não terá influência na decisão final dos partidos.

O fato de a oposição não ter alcançado os 2/3 dos votos necessários no plenário não é sintoma de que o número mágico de 342 votos não será atingido. É bom não esquecer que a comissão foi montada de acordo com a indicação dos líderes, que naquela ocasião eram majoritariamente governistas. O que aconteceu de lá para cá é que o governo foi perdendo apoios, o que se refletiu na vitória folgada da oposição.

Duvido que algum deles mude de posição revoltado com a antecipação de Temer, mesmo porque não há nenhum motivo no discurso que justifique uma reação dessas. A fala de Temer, ponderada e conciliadora, deve, ao contrário, ter dado a algum indeciso a garantia de que um eventual novo governo não perseguirá nenhum partido e, mais importante, não exterminará os programas sociais, como dizem os governistas.

Ninguém tem dúvida de que Temer há muito negocia nos bastidores apoios ao impeachment da presidente Dilma, assim como todo mundo sabia, na ocasião, que o PT, com o apoio da própria presidente Dilma e do expresidente Lula, boicotou a tarefa de negociação política que o vice fazia como ministro-coordenador da política.

Essa disputa entre o PT e o PMDB já vem acirrada desde o início, e não há em Brasília quem não soubesse que Temer trabalhava nos bastidores, o mesmo fazendo Lula. O ex-presidente, aliás, fez gozações com Temer em diversos comícios, dizendo, entre outras coisas, que se ele quisesse ser presidente deveria disputar eleição no voto. Como se a chapa Dilma-Temer tivesse recebido 54 milhões de votos apenas de petistas. É claro que o PMDB foi chamado para compor a chapa porque o partido é o maior do país e tem capilaridade muito maior que o PT, sendo extremamente útil na captação de votos.

Querer transformar Temer em um reles traidor, que mereceria a rejeição da população, é criar artificialmente uma crise que já se desenrola há muito tempo. Nem é provável que alguém se desencante com o vice ao ouvi-lo pronunciar um discurso que, claramente, era uma preparação para o caso de vitória no domingo.

O Planalto também quis dar ao gesto a categoria de arrogância, quando está claro que houve mesmo foi uma boa trapalhada com a nova tecnologia, o que só demonstra um amadorismo surpreendente no PMDB. Se Temer não é ágil no manejo de tecnologias como o Whatsapp, melhor seria que houvesse algum assessor com mais familiaridade para mandar mensagens.

Uma trapalhada desse tipo pode marcar a imagem de Temer como um político antiquado, mas não como um traidor, pois os dois lados estavam em guerra aberta e de conhecimento público. Ou ninguém ouviu dizer que Lula atraía seus interlocutores ameaçando-os de que Temer estava preparando um ministério de notáveis, e que o baixo clero não teria vez?

Nesse enredo novelístico que se desenrola em Brasília acontece de tudo. E essa gafe do vice é apenas mais um toque inusitado. Comparar a atitude de Temer com a de Fernando Henrique, que sentou na cadeira de prefeito de São Paulo como se já estivesse eleito e perdeu a eleição, não é acurado. A atitude de Fernando Henrique pode ter sido considerada arrogante por muitos, mas duvido que os deputados que são os eleitores da eleição do próximo domingo se surpreendam ou se indignem com o vazamento do discurso de Temer. Primeiro porque está claro que foi um erro, não uma atitude arrogante. E o texto é absolutamente conciliatório, humilde até. A indignação dos adeptos de Dilma tem sua razão de ser, faz parte da luta política, e eles têm mesmo que exacerbar a reação para tentar reverter a situação que parece tender ao impeachment.


Mas não creio que essa seja uma razão suficiente para mudar alguma posição partidária. O melhor para Temer é que não tivesse acontecido o imprevisto, e não creio na versão de que foi um vazamento proposital para tranquilizar certas áreas. O governo pode até conseguir conter essa tendência, ou até mesmo revertê-la, mas não será por causa dessa mancada.

Salve-se quem puder - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Digam o que disserem Michel Temer e seus principais articuladores, o fato, nu e cru, é que a gravação com o vice já assumindo de véspera a Presidência é um vexame e um erro grave, que tende a ter efeitos negativos para ele exatamente quando Dilma Rousseff perde na Comissão de Impeachment. O problema não é um voto a mais ou a menos no plenário, mas é o impacto deletério na imagem de Temer junto à opinião pública (que, diga-se, já não é a melhor do mundo).

Sempre tão econômico em gestos e sorrisos, medindo cada palavra, o professor de Direito Constitucional Michel Temer vem dando mostras de que está inebriado pela perspectiva de assumir o poder, louco para enxotar Dilma e pular na cadeira. Ora é aquela carta absurda para Dilma, ora é a articulação à luz do dia para captar votos pró-impeachment. E, agora, esse áudio inacreditável.

Para os mais próximos de Temer, como os ex-ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, é possível “fazer desse limão uma limonada”: já que o áudio vazou, usá-lo para reforçar a ideia de Temer como um homem do diálogo, responsável e capaz de capitanear um processo de união nacional, que acena a todos os partidos para tirar o País da crise e vai tomar medidas duras, mas manter o Bolsa Família, o Pronatec e o Fies.

O primeiro resultado do áudio, porém, foi reforçar o discurso do PT e de seus aliados de que há “um golpe” em curso e “um golpista-mór” pronto a derrubar Dilma para tomar de assalto o poder. Isso ficou claro, ontem, no tom governista na Comissão do Impeachment.

No discurso mais inflamado e mais teatral da longa sessão, o deputado Silvio Costa (PT do B-PE) – que vem da direita, mas se tornou mais petista que a maioria dos petistas – acusou que Temer “trama um golpe” e definiu o vice para uma opinião pública ávida para entender quem é “esse Michel Temer” que pode vir aí. “Sempre foi um grande dissimulado. Ele e Eduardo Cunha se merecem!”, disse, tentando, sem sucesso, transmitir a fala de Temer pelo microfone. E acabou gritando contra a própria comissão: “Isso aqui é um golpe, uma afronta, uma pouca vergonha!”.

Temer poderia passar sem essa, até porque não está com essa bola toda e acaba de levar mais um tranco com a pesquisa Datafolha: se 61% defendem o impeachment da presidente, 58% também pregam o do vice. A maioria da opinião pública quer tirar Dilma e o PT, mas não para por Temer e o PMDB no lugar, como determina a Constituição.

Com a fita de Temer, todo pomposo no papel de “estadista”, antes mesmo do impeachment, o mais provável é que essa diferença já mínima entre os defensores do “Fora Dilma” e do “Fora Temer” simplesmente evapore. E justamente no momento mais crítico do processo de impeachment.

Na semana que começou com a comissão e vai terminar com a votação no plenário da Câmara, a onda pró-impeachment vem aumentando, encorpando. PV, PSB, SD, boa parte do PP e do PSD, a bancada ruralista, a bancada evangélica e a sempre cautelosa Marina Silva, da Rede, vêm assumindo o voto pró-impeachment. O áudio de Temer não ajuda em nada essa onda.

Não é original, mas se torna obrigatório, comparar com o gesto amador de Fernando Henrique Cardoso, que se sentou na cadeira de prefeito de São Paulo e no dia seguinte não apenas amargou a derrota como sofreu o constrangimento de ver Jânio Quadros “desinfetando” a cadeira da qual comandaria a maior Prefeitura do País.

Haverá mil e uma versões para o vazamento, a partir do envio do áudio pelo celular, mas, qualquer que seja a real, só aumenta a interrogação sobre a capacidade de Michel Temer de comandar a transição. Na gravação, o vice acena com um governo de “salvação nacional”. Tudo o que conseguiu foi piorar a sensação do “salve-se quem puder”.

Constituinte e sanidade - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Para os partidários da presidente Dilma Rousseff, o impeachment sem um crime de responsabilidade cabalmente demonstrado é golpe. Para os que querem vê-la longe do poder, os delitos e as provas estão aí para quem quiser ver.

Parte da polêmica tem origem numa confusão semântica. Embora o impeachment assuma a aparência de procedimento judicial, ele tem pouco a ver com a ideia de fazer justiça. É verdade que, nos estágios iniciais da tramitação, o impeachment precisa estar calcado em razões jurídicas. Mas, depois que a peça acusatória foi aceita e avança, o processo deixa de ser jurídico para tornar-se essencialmente político. Meu ponto é que é isso que o constituinte queria.

A Carta determina que a autoridade submetida ao impeachment por crime de responsabilidade não será julgada por magistrados de carreira, mas por congressistas, que, ao contrário de juízes, não precisam dar uma justificativa jurídica para seus votos. Também ao contrário dos juízes, nada obriga os parlamentares a basear seu julgamento apenas na peça que originou o processo. Ao formar sua convicção, podem usar qualquer elemento que desejarem, inclusive simpatias pessoais, novas acusações, promessas de cargos.

Só um louco criaria um júri de políticos e esperaria colher julgamentos técnicos. Para conciliar o constituinte com a sanidade, é preciso concluir que o impeachment foi concebido para ser utilizado como um instrumento eminentemente político.

Ele não se torna carta branca para remover qualquer governo impopular, como acusam petistas, porque o presidente está protegido pela maioria ultraqualificada de 2/3 dos congressistas. É mais fácil transformar o Brasil numa monarquia ou aprovar qualquer outra alucinação constitucional -para o que são necessários 3/5 dos parlamentares- do que tirar um presidente. Se o governo cair, não assistiremos a um golpe, mas ao sepultamento de um cadáver político.

Quem governa o Brasil? - Luiz Carlos Azedo

• A presidente Dilma Rousseff já não governa: há meses dedica-se à agitação política, na qual repete o mantra de que está sendo vítima de um golpe, que é falso

- Correio Braziliense

O país vive o lusco-fusco entre a aprovação da admissibilidade do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff pela comissão especial da Câmara, na qual a oposição teve maioria folgada, e a votação do mesmo no plenário da Casa, que somente deve ser concluída no domingo, no qual serão necessários 342 votos favoráveis para aprovação. O Palácio do Planalto precisa mobilizar apenas 172 deputados em seu apoio, para votar contra, se abster na votação ou se ausentar do plenário. Nesse período, o país estará à matroca, desgovernado.

A presidente Dilma Rousseff há meses dedica-se à agitação política, na qual repete o mantra de que está sendo vítima de um golpe de estado, o que não é verdade; se o fosse, já teria decretado estado de sítio, censurado a imprensa e convocado as Forças Armadas. Quanto mais radicaliza o discurso, mais ela se isola politicamente. Na verdade, já não governa. Essa tarefa foi delegada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi nomeado ministro da Casa Civil, mas não tomou posse porque está enrolado na Operação Lava-Jato. Lula articula uma reforma ministerial para evitar a deposição de Dilma.

Uma reforma ministerial faz todo o sentido, uma vez que a crise econômica se agrava, seus efeitos sociais aumentam e as demandas da população em relação a administração crescem, sem serem atendidas, em todos os setores. Saúde, educação, transportes de massa, segurança pública, falta de moradia, uma ciranda de problemas faz com que a recessão, o desemprego e a inflação atinjam ainda mais a população pobre. O gabinete que está sendo montado por Lula, porém, não tem nada a ver com isso, é um leilão fisiológico e patrimonialista de cargos e ministérios.

Quem governa Brasil? O governo é a forma mais concentrada de poder, mesmo quando mergulha rumo ao fundo do poço, arrecada, normatiza e exerce enorme poder de coerção, como já se disse aqui. Lula move mundos e fundos para montar uma espécie de gabinete de sobrevivência. Ninguém sabe o que vai acontecer no domingo. O muro instalado na Esplanada dos Ministérios, porém, é uma imagem que entristece. Qualquer que seja o resultado da votação, mesmo que as grades e o muro sejam retirados, o país estará irremediavelmente dividido entre o vermelho e o verde-amarelo. Essas são as cores da crise.

O ato falho
Uma gravação feita pelo vice-presidente Michel Temer, enviada por engano a um grupo de parlamentares pró-impeachment, deixou-o na maior saia justa. Temer fala como se estivesse na iminência de assumir a Presidência, em razão da hipotética aprovação do pedido de impeachment pela Câmara no domingo. É um discurso dirigido ao Senado, às elites econômicas e à opinião pública, que deveria ser divulgado somente depois da votação, caso a oposição seja vitoriosa. A gravação tem tudo para ser um grande mico, mas acontece que o mandato de Dilma Rousseff subiu no telhado. Quando um governo se desmancha no ar, surgem alternativas de poder
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Quando acusavam o impeachment de ser um golpe de estado, os governistas invocaram a deposição de João Goulart pelos militares em 1964. Mas essa é uma falsa comparação histórica, porque a situação é completamente diferente: a guerra fria acabou, não existe interferência dos Estados Unidos nessa crise, os militares já avisaram que vão cumprir a Constituição e a Operação Lava-Jato não é um inquérito policial militar no Galeão. A transformação da presidente Dilma numa rainha da Inglaterra, com entrega das rédeas do governo ao ex-presidente Lula e a montagem de uma base parlamentar minoritária no Congresso, também poderia ser chamada de um golpe parlamentarista com sinal trocado. Normalmente, governos parlamentaristas têm maioria congressual.

Mas voltemos ao ato falho de Temer. “A grande missão, a partir deste momento, é a pacificação do país, a reunificação do país, é o que eu repito, o que venho pregando, como responsável por uma parcela da vida pública nacional. Devo dizer também que isso fica para — aconteça o que acontecer no futuro — um governo de salvação nacional e união nacional”, disse Temer. Na avaliação do vice-presidente, sem a “unidade nacional” será “difícil” enfrentar a crise. Ao defender “diálogo” entre os partidos, Temer conclama “à pacificação do país, à unificação do país, porque é chocante — para não dizer tristíssimo — verificar brasileiros controvertendo entre si, disputando ideias e espaços. E quando parte para uma coisa quase física, isto não pode acontecer no nosso país”. De bobo, Temer não tem nada.