quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Opinião do dia: Cristovam Buarque

A academia foi cooptada pelo PT. Na eleição passada, 54 reitores assinaram um manifesto de apoio à candidatura da presidente Dilma. Reitor não assina manifesto de apoio partidário. Ele pode até dizer em quem vota, porque representa uma comunidade, mas por que os reitores votaram? Porque teriam mais recursos para a universidade. Além disso, a academia está fragilizada por causa da má educação de base dos acadêmicos e do corporativismo. A universidade desconectou-se da realidade brasileira. Está subordinada aos sindicatos, fragmentada pelo corporativismo e pelo despreparo dos acadêmicos.
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Cristovam Buarque, senador (PDT-DF), Páginas Amarelas da Revista Veja, edição nº 2.461 – ano 49 – 20 de janeiro de 2016

Dirceu atribuirá indicação de Duque ao PT, que reage

• Delator diz que ex-ministro fez 113 voos em seus jatos como parte de propina

• Petista será interrogado pela primeira vez pelo juiz da Lava- Jato, Sérgio Moro, na sexta-feira, e, segundo seu advogado, poderá revelar nomes para se defender de acusações que pesam contra ele

Preso há seis meses pela Lava- Jato, o ex-ministro José Dirceu será ouvido pela primeira vez pelo juiz Sérgio Moro na sexta- feira, quando pretende “se defender e contestar” as acusações que pesam contra ele, segundo seu advogado Odel Antun. “O que pode acontecer é surgirem nomes”, diz o advogado, afirmando que Dirceu vai confirmar declaração do delator Fernando Moura de que foi o diretório do PT de São Paulo, e não ele, quem indicou o ex-diretor da Petrobras Renato Duque para o cargo. O presidente do PT- SP na época, Paulo Frateschi, reagiu e disse desconhecer Duque. Outro delator, Júlio Camargo, contou que Dirceu usou seus jatinhos 113 vezes, em 2010 e 2011, como pagamento de propina por desvios na Petrobras.

PT na mira de Dirceu

• Estratégia do ex-ministro é atribuir ao partido, e não a ele, indicação para direção da Petrobras

Cleide Carvalho – O Globo

- CURITIBA, SÃO PAULO e BRASÍLIA- O ex- ministro José Dirceu decidiu se defender abertamente das acusações contra ele na Operação Lava- Jato, estratégia que poderá atingir o PT. Segundo sua defesa, ele deverá confirmar ao juiz Sérgio Moro, em audiência marcada para sexta- feira, que a indicação de Renato Duque para a Diretoria de Serviços da Petrobras partiu do diretório estadual do PT de São Paulo, e não dele. Essa versão, que compromete a cúpula petista, foi dada pelo lobista Fernando Moura em depoimento a Moro semana passada.

Quem teria articulado a nomeação de Duque teria sido o então secretário-geral do partido, Sílvio Pereira. Em depoimento à Justiça na última sexta-feira, Moura disse que Dirceu só foi chamado à reunião onde foram decididos os nomes que comandariam a Petrobras para desempatar a disputa entre Duque e Irani Varella, que já era diretor de Serviços da Petrobras no governo Fernando Henrique.

— Ele não vai denunciar ninguém. Vai se defender e contestar. O que pode acontecer é surgirem nomes. Milton Pascowitch mentiu. Ele usava o nome do Zé (José Dirceu). Quem estava com milhões e teve de devolver foi ele. Com o Zé não foi encontrado dinheiro nenhum. Se o Dirceu não tinha dinheiro, onde está o dinheiro que dizem que foi para ele? Ele prestou serviços de consultoria e recebeu. O resto foi ajuda dada pelo Milton, que nunca falou que era dinheiro de propina — disse Odel Antun, advogado do ex-ministro.

Defesa diz que Milton Pascowitch mentiu
Segundo o advogado, ao contrário de outros acusados na Lava- Jato, Dirceu se defenderá de todas as acusações que lhe são feitas, principalmente pelo delator Milton Pascowitch. O advogado afirmou que há contradições nos depoimentos dos delatores que envolvem o ex-ministro nas irregularidades da Petrobras e que a defesa usará o depoimento de Moura, que, segundo ele, “mostra claramente que Dirceu não participou da indicação”.

— Toda a denúncia é fundada na informação de que Dirceu indicou Duque para o cargo, e que isso permitiu que fosse feito o gerenciamento de propina. Mas o depoimento do Fernando Moura, um dos delatores, mostra que não foi ele quem indicou. Ele não conhecia nenhum dos indicados, todos lhe eram desconhecidos. Foi o diretório do PT de São Paulo que indicou — afirmou Antun.

Na última sexta-feira, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, Moura afirmou que Sílvio Pereira e Delúbio Soares, então tesoureiro do PT, sonhavam com cargos altos. Sílvio, com a presidência dos Correios; Delúbio, com a do BNDES.

Ao juiz, Moura disse que no final de 2002, após a vitória do PT nas eleições presidenciais, havia dois indicados à Diretoria de Serviços da Petrobras. Duque, levado por Silvio, por sugestão do empresário Licínio de Oliveira Machado Filho, da Etesco; e Varella, indicado por Delúbio, por recomendação de Dimas Toledo, que foi diretor de Furnas no governo FH e seria ligado ao senador Aécio Neves (PSDB- MG).

Nas escolhas dos nomes, segundo teria relatado Sílvio a Moura, estavam presentes o próprio Sílvio; Delúbio; José Eduardo Dutra (falecido em 2014), que assumiu a presidência da Petrobras em 2003; Luiz Gushiken, ex-secretário de Comunicação (também já falecido); e a presidente Dilma Rousseff, na época integrante da equipe de transição.

O lobista disse que o impasse só foi resolvido após Dirceu saber quem indicara Duque e Varella. Moura contou que Delúbio não queria dizer que a indicação de Varella era dele e a atribuiu a Aécio Neves. Chamado a opinar entre os dois e a desempatar a decisão, Dirceu teria decidido por Duque, argumentado que Aécio já havia sido favorecido: “O Aécio já foi contemplado com a indicação do Dimas. Então, fica o Duque”, teria dito Dirceu segundo depoimento do lobista.

Dimas Toledo havia sido mantido no cargo pelo PT e só deixou Furnas no governo Lula, envolvido no escândalo conhecido como “a lista de Furnas”, pagamento de propina para beneficiar políticos.

Perguntado se Dirceu está disposto a denunciar outros nomes do PT e quem no diretório de São Paulo estaria aliado a Sílvio Pereira, o advogado afirmou que não conversou com seu cliente após o depoimento de Moura. Por isso, afirmou, não sabe dizer se Dirceu citará outros nomes

Paulo Frateschi, que presidia o Diretório do PT em São Paulo em 2002, negou ter participado da escolha de Duque:

— Nem conheço o Duque, nunca vi. Não fui eu, não participei de nada disso — disse.
Segundo o petista, a direção paulista indicou, na época, nomes apenas para cargos de representação do governo federal no estado.

— Tinha alguns cargos que eram do governo federal em São Paulo. Fazíamos sugestões para esses cargos. Algumas foram acatadas, outras não. (Colaboraram Letícia Fernandes e Sérgio Roxo)

Dilma vai defender união contra crise na reunião do Conselhão

• Ministro da Fazenda anunciará medidas de curto prazo para tentar ‘ dividir responsabilidades’

Simone Iglesias, Júnia Gama e Martha Beck - O Globo

- BRASÍLIA- Antes de embarcar ontem para Quito, onde participaria da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, a presidente Dilma Rousseff reuniu em seu gabinete oito ministros para discutir como será a reunião de retomada do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o chamado Conselhão, amanhã à tarde. Dilma está preparando um discurso pró-diálogo, com convocação à unidade nacional como forma de superar a crise. Ela deverá fazer uma referência à necessidade de os interesses do país estarem acima das questões pessoais e vai reforçar a importância do ajuste fiscal e de medidas para recuperar a economia.

— Queremos discutir a realidade sem ufanismo. Vivemos uma realidade difícil e desafiadora. A presidente tem que fazer uma fala harmoniosa e de chamamento caloroso a pontos de convergência. Será uma reunião de debate, sem censura — disse ao GLOBO um ministro que está participando da elaboração da reunião.

Segundo um dos elaboradores do encontro, a ideia é proporcionar um ambiente de maior interação do governo com os vários setores da economia e “dividir a responsabilidade” pela recuperação do país. Há uma constatação de que o governo, sozinho, não tem fôlego para sair da crise e, por isso, é preciso estimular as parcerias entre o setor público e o privado, tanto na formulação de soluções, quanto na execução de medidas.

Entre os auxiliares presidenciais, a expectativa é que Dilma esteja, de fato, aberta a ouvir opiniões e críticas dos 90 integrantes do Conselho. A presidente tem acenado sistematicamente com o diálogo, mas isso acaba não se concretizando. Há otimismo em relação ao formato do encontro porque os discursos dos integrantes do governo serão abreviados para garantir a palavra a representantes dos empresários, trabalhadores e da sociedade civil.

Entre os ministros que falarão estão Nelson Barbosa (Fazenda), Kátia Abreu (Agricultura), Armando Monteiro ( Indústria e Comércio), Valdir Simão ( Planejamento) e Alexandre Tombini ( Banco Central). Os discursos irão variar de cinco a 20 minutos para a reunião não se transformar num monólogo governamental.

— Não queremos passar a mensagem de que o governo só quer falar. Temos que passar a mensagem de que o governo quer ouvir a sociedade para poder recuperar o instinto animal dos empresários — disse um integrante da equipe econômica.

Reforma da previdência em pauta
A ideia do governo é que o Conselhão se reúna quatro vezes neste ano, e que ocorram ainda outros encontros de grupos de trabalhos divididos por setores da economia. A intenção do Planalto é fazer com que todas as principais medidas econômicas a serem adotadas daqui para a frente passem pelo colegiado, rompendo com o receituário de Dilma de anunciar medidas sem discussão prévia, o que só ampliou seu desgaste e a crise que seu governo enfrenta.

A reunião deverá ser dividida em dois momentos: no primeiro, Barbosa anunciará medidas de curto prazo para tentar aquecer a economia, entre elas, novas linhas de crédito a microempresários e exportadores pelos bancos públicos, e a agilização da liberação do uso do FIFGTS por empresas para obras. Entre as linhas de crédito, haverá uma específica para o embarque de produtos que serão exportados.

Na segunda etapa, alguns dos 90 conselheiros convidados, entre eles os empresários Luiz Trabuco, Abílio Diniz, Josué Gomes e Jorge Paulo Lemann, deverão ser ouvidos sobre os rumos do país. Apesar dos anúncios de Barbosa, o governo quer evitar a percepção de que chegará ao encontro com um “prato pronto” de medidas.

Ideias mais complexas, como a Reforma da Previdência e a recriação da CPMF, por exemplo, serão colocadas para debate. Segundo interlocutores da presidente, há uma percepção de que os empresários estão preocupados com os rumos do país e que melhor do que assistir passivamente à ampliação da crise, os que aceitaram integrar o Conselhão buscarão ajudar na adoção de medidas que melhorem as perspectivas.

A fala de Barbosa está sendo costurada para que o ministro faça uma análise do quadro econômico atual, ressaltando seus desafios, mas passando a mensagem de que o crescimento pode ser retomado no último trimestre de 2016. O ministro também voltará a falar na reforma fiscal de longo prazo e na importância de avanços na reforma da Previdência.

Na mesma linha de ampliação do diálogo, ministros próximos a Dilma estão defendendo que a presidente vá ao Congresso para a abertura dos trabalhos na próxima semana. Dilma, porém, ainda não decidiu se irá comparecer. Mais que levar um pacote fechado de medidas que o governo gostaria de ver aprovadas, a presidente deveria, na avaliação de seus auxiliares, aumentar sua exposição para reforçar a imagem de que está empenhada no enfrentamento da crise.

— Neste momento, a presidente Dilma tem que ser expor ao máximo. Não adianta levar propostas fechadas, como uma reforma da Previdência, sem negociar antes. E ela deve mostrar que está aberta ao diálogo — afirma um assessor presidencial.

O núcleo do Palácio também defende que Dilma faça acenos mais significativos à oposição. Há uma série de nomes citados por pessoas próximas à presidente com quem ela poderia iniciar esse diálogo. Entre eles, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os governadores tucanos Beto Richa (PR) e Geraldo Alckmin ( SP).

Conselheiros oscilam entre a desconfiança e a conciliação

• Membros temem que a presidente Dilma não escute as propostas

João Sorima Neto, Letícia Fernandes, Fernanda Krakovics, Maria Lima, Roberta Scrivano, Ruben Berta e Silvia Amorim - O Globo


- RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO - Com 90 nomes que vão de empresários a sindicalistas, passando por estudantes, acadêmicos e uma ampla gama de representantes da sociedade civil, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, deve iniciar suas atividades amanhã entre dois sentimentos. Ao mesmo tempo em que prometem deixar de lado as desavenças para buscar respostas conjuntas que ajudem o país a sair da crise, membros ouvidos pelo GLOBO desconfiam que, na prática, as propostas possam ser pouco ouvidas pela presidente Dilma Rousseff. O clima de conciliação se reflete até em temas mais polêmicos, como a recriação da CPMF, que não chega a ser abertamente repudiada.

— Se ficarmos discutindo quem é o culpado das coisas, ou apenas os problemas do setor automotivo ou de brinquedos, o país continua no buraco. Sou contra o aumento de tributos, mas se é preciso ter a CPMF para cobrir o rombo fiscal, e se o Congresso aprovar, o que vou fazer? É preciso destravar o Brasil, porque enquanto isso não acontece os estrangeiros ocupam o nosso lugar aqui dentro e lá fora do ponto de vista comercial — afirmou o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos ( Abrinq), Synésio Batista da Costa.

Entre os sindicalistas que já acumulam um passado de participações no conselho, há um temor de que as discussões sejam improdutivas pela fama de a presidente de não ser uma boa ouvinte. O presidente da CUT, Vagner Freitas, espera que agora Dilma tenha uma participação efetiva nas discussões:

— A minha expectativa é que ela esteja presente e não que mande representantes. No primeiro governo dela, os resultados não foram a contento. Espero que ao rearticular o conselho, o governo também rearticule o papel dele, porque não adianta ter discussão e pouco ser implementado pelo Executivo — reclamou Freitas.

Citando a suspensão das atividades do conselho durante cerca de um ano, o presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Ricardo Patah, ressalta que esse instrumento de diálogo poderia ter sido mais valorizado, principalmente num momento de crise econômica profunda.

— É justamente nas épocas mais difíceis que uma postura de diálogo e humildade é ainda mais importante. Não adianta ter um conselho que fale só para o próprio conselho ficar escutando — disse Patah, que acrescentou: — A economia deve ser o principal tema. Precisamos sair desse poço em que estamos, fazer uma ponte factível do plano econômico para pressionar o plano político. Mas não somos congressistas para discutir temas políticos.

Na linha da conciliação para buscar soluções, o presidente executivo da Amil, Edson Bueno, afirmou que a formação do conselho vai criar uma “sinergia entre pessoas que querem auxiliar o país”. Para ele, os nomes até agora apresentados para compor o grupo “têm experiência e capacidade” e ajudarão, com sugestões, o Brasil a passar pela crise e encontrar o rumo do crescimento.

— O importante é que teremos um espaço democrático para debater e buscar soluções inovadoras.

Há também quem já busque aliados para as suas ideias, como o escritor Fernando Morais, que pretende fazer uma reunião prévia com os integrantes “progressistas” do Conselhão, como o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, para que o grupo apresente uma proposta comum:

— O conselho é muito heterogêneo, é um mosaico da sociedade. Seria importante trabalharmos em conjunto para consolidar propostas concretas, senão cada um faz um discurso.

Entre os novatos, ainda há os que estão em compasso de espera, como a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral:

— É importante que o governo tenha uma agenda positiva para apresentar. E, a partir daí, seja montada uma pauta de discussão. Nos últimos tempos, o que vemos é só um governo acuado, na defensiva, diante de uma agenda política.

Já a presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas ( Fenatrad), Creuza Oliveira, admite que primeiro terá que entender exatamente o papel do conselho para depois poder colaborar com propostas:

—É a primeira vez que participo. Então, primeiro temos que conhecer, saber até onde podemos ir.

PMDB cobra manutenção de Castro na Saúde e acusa PT de ‘fritar’ ministro

Isadora Peron, Daniel Carvalho, Carla Araujo e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

O PMDB saiu ontem em defesa do ministro da Saúde, Marcelo Castro, cujo desgaste tem se ampliado por causa das declarações polêmicas e do avanço das epidemias de dengue e de zika no País. O presidente da República em exercício, Michel Temer, que assumiu ontem o cargo após viagem da presidente Dilma Rousseff ao Equador, disse em breve entrevista que Castro “merece” continuar no comando da pasta.

Questionado se Castro continuava firme e forte no cargo, ele respondeu: “Eu acho que ele merece (continuar)”. O vice, entretanto, evitou comentar as recentes declarações do ministro. Anteontem, Castro disse que o governo estava “perdendo feio” a guerra contra o Aedes aegypti. “Isso é uma questão da Saúde”, afirmou Temer.

Durante todo o dia de ontem, a avaliação dentro do partido foi de que Castro está sendo alvo de setores do PT, que, para eles, não aceitaram a perda do comando da pasta e tentam “fritar” o ministro e jogar a responsabilidade da epidemia de dengue e de zika no colo do PMDB.

Até o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desafeto do governo, do próprio Castro e defensor da saída do PMDB da gestão Dilma Rousseff, saiu em apoio ao atual ministro. “Eles sempre querem jogar no colo dos outros seus problemas. Esse mosquito está aí há muito tempo e não fizeram nada contra ele”, afirmou.

Deputados antigoverno reforçaram as acusações. “Querem que em 30, 60 dias ele já tenha condições de mostrar resultado. Acredito no trabalho dele mais para frente. Não é simplesmente ligar ou desligar uma tomada. O PT não aceitou até agora perder o ministério e avança neste sentido de exigir a resolução em tão pouco tempo”, disse Carlos Marun (PMDB-MS).

“Já tem mais de uma década que o PT comanda a Saúde. O mosquito é petista. E, se Marcelo tiver que sair porque não é um grande frasista, é mais um motivo para a presidente Dilma sofrer impeachment”, afirmou Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), comparando as polêmicas frases de Marcelo Castro a declarações da presidente Dilma.

Congresso. O desgaste de Castro avançou até mesmo sobre a acirrada disputa pela liderança da sigla na Câmara. Hugo Motta (PB), candidato de Cunha, manifestou-se logo cedo pelo Twitter. “Bom dia amigos, quero registrar o nosso apoio e confiança no trabalho do ministro Marcelo Castro a frente do Ministério da Saúde”, afirmou.

Já o atual líder e responsável pela indicação de Castro, Leonardo Picciani (RJ), foi pessoalmente ao Ministério da Saúde conversar com seu correligionário. “São setores que trabalham contra a aliança do PMDB e do governo que tentam instalar uma crise que não existe”, afirmou Picciani, aliado do governo.

Aliados do ministro afirmam que ele pretende evitar dar declarações polêmicas para se manter na pasta. A avaliação é de que o ministro, chamado por correligionários de “frasista” e “folclórico”, precisa se preservar para evitar que Dilma decida trocá-lo em meio à crise provocada pelo aumento do número de casos de dengue e zika no País. Ao deixar o ministério no fim da manhã, Castro disse em tom de brincadeira que havia sido proibido de dar declarações por sua assessoria de imprensa.

‘Hibernação’. A situação do ministro se agravou depois que, anteontem, ele repetiu que o governo estava “perdendo feio” a guerra contra o mosquito da dengue. O ministro, segundo aliados, deve entrar numa fase de “hibernação” para impedir que saia da pasta, para a qual foi designado em outubro. Desde a posse ele coleciona declarações polêmicas – na ocasião, defendeu a cobrança da CPMF “no crédito e no débito”.

Apesar de reconhecer que as recentes declarações do ministro da Saúde foram “infelizes”, a presidente Dilma Rousseff decidiu dar mais prazo para Castro mostrar serviço. O Planalto teme uma nova e mais intensa crise com Temer e o PMDB.

A avaliação inicial é de que a costura política para que ele chegasse ao cargo foi difícil e ainda não houve tempo hábil para que o peemedebista faça seu trabalho no ministério.

Planalto avalia que oposição estámais forte em disputa do partido

• Para o governo, Hugo Motta, nome de Cunha na briga pelo cargo de líder do PMDB, ganhou adesões à candidatura

Daiene Cardoso e R.B.- O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto já admite uma eventual vitória do deputado Hugo Motta (PMDB-PB), aliado do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para a eleição da liderança do PMDB na Casa este ano. Mas, adotando uma estratégia diferente de articulações anteriores no trato com a base aliada, o Executivo não vai intervir em disputas a fim de buscar a pacificação na bancada peemedebista qualquer que seja o vencedor.

O Planalto não quer melindrar o lado derrotado na disputa e, como consequência, reavivar a tensão no importante partido aliado às vésperas de uma definição na Câmara sobre a admissão do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Embora o núcleo duro do governo considere que a possibilidade de afastamento da petista perdeu força, o PMDB terá papel decisivo no desenlace do processo: oito das 65 cadeiras da Comissão Especial do impeachment. A posição da legenda tende a ter seguida por outras da base aliada.

Os ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Edinho Silva (Comunicação Social) conversaram com Motta e Jaques Wagner (Casa Civil) deve fazer o mesmo em breve. A ideia, no caso de vitória do deputado aliado de Cunha vencer, é garantir desde logo o acesso ao peemedebista. A avaliação é a de que a eleição de Motta não seria “o fim do mundo”, segundo um assessor da presidente Dilma Rousseff.

Após as dificuldades da crise política de 2015, o governo pretende alcançar uma estabilidade mínima dentro da coalizão na Câmara para barrar o impeachment e tentar aprovar em 2016 propostas impopulares como a CPMF e uma reforma da Previdência.

A avaliação é que a eleição para líder da bancada peemedebista, a maior da Casa, com 67 deputados, será fundamental nessa estratégia. Por isso, o discurso é de não apoiar, seja em público ou nos bastidores, qualquer uma das candidaturas, a de Hugo Motta ou a do atual líder e candidato à reeleição, o governista Leonardo Picciani (RJ). “Não há nenhum sinal de intromissão do governo no processo”, disse Motta.

O grupo de Picciani avalia que o governo vem, de fato, se mantendo oficialmente neutro na eleição da bancada. No entanto, ao conservá-lo na interlocução das demandas dos peemedebistas da Câmara, o Planalto tem ajudado indiretamente Picciani a se cacifar como elo confiável entre o Executivo e os parlamentares, fazendo com que ele conquiste votos para sua recondução à liderança.

Picciani diz entender a posição do governo e não considera a postura oficial como sinal de abandono. “O governo não fará nenhum movimento brusco”, concluiu. /

STF sinaliza a governo não haver elementos para afastar Cunha

Marina Dias – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O governo da presidente Dilma Rousseff recebeu sinalização do STF (Supremo Tribunal Federal) de que hoje não há elementos para afastar o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara.

Segundo a Folha apurou, o portador da mensagem foi o próprio presidente da corte, Ricardo Lewandowski, que conversou com integrantes do governo e com colegas do Judiciário sobre a decisão que deve ser tomada pelo plenário do STF em fevereiro.

O Palácio do Planalto, porém, não entendeu a fala de Lewandowski como um veredito. Aliados de Dilma dizem que, apesar de o ministro ter dado a entender que falava com base em uma avaliação "ampliada", como se apontasse a tendência da maioria dos ministros da corte, ainda não há consenso entre eles.

Aliados de Lewandowski, por sua vez, dizem que ele reflete uma "visão geral" dos colegas, mas que as discussões sobre o tema se mantêm restritas aos ministros.

Dos 11 integrantes da corte, seis precisam votar a favor do afastamento de Cunha para que ele deixe o cargo de presidente da Câmara.

Nos bastidores, o Planalto faz as contas para justificar que não é hora de bater o martelo: os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli podem seguir a tese de Lewandowski e votar pelo não afastamento de Eduardo Cunha.

Enquanto isso, Marco Aurélio Mello, Luís Roberto Barroso e o relator do caso, Teori Zavascki, devem ser favoráveis a afastar o peemedebista. Já os votos dos ministros Edson Fachin, Rosa Weber e Cármen Lúcia são considerados incógnitas até este momento.

Em 16 de dezembro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao STF o afastamento cautelar de Cunha, sob argumento de que o presidente da Câmara faz uso do cargo para atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato e as apurações do Conselho de Ética da Casa, que analisa o pedido de cassação de seu mandato.

Segundo o documento que chegou a Teori, relator do caso, o afastamento de Cunha visa impedir que ele possa "destruir provas, pressionar testemunhas, intimidar vítimas ou obstruir as investigações de qualquer modo".

Cunha é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro e é suspeito de ocultar contas na Suíça irrigadas com dinheiro desviado do esquema da Petrobras.

O que tem ecoado nos bastidores do Supremo é que a peça de Janot é um "somatório de tudo" o que Cunha foi acusado, mas ainda não há denúncia, o que poderia contar a favor do peemedebista.

Divisão no governo
No núcleo político do governo ainda há divergência sobre qual desfecho do caso Cunha seria melhor para a presidente Dilma.

Há quem defenda que a saída dele do cargo seria um importante ativo para que o governo supere a crise política e, consequentemente, econômica.

A tese é defendida inclusive por Dilma, que tem dito a aliados que o peemedebista dificulta a aprovação de projetos importantes para o governo e não quer mais viver "sob chantagem".

Alguns auxiliares, no entanto, ainda preferem que Eduardo Cunha permaneça no cargo.

Segundo eles, caso o peemedebista perca o protagonismo no Legislativo, Dilma também perde seu antagonista e, assim, os holofotes da crise voltam-se mais uma vez somente ao Planalto.

Hoje, para esse grupo, Cunha funciona como uma espécie de anteparo para a presidente.

Janot suspeitava que doações a Renan Calheiros disfarçavam propina

Aguirre Talento – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O procurador-geral da República Rodrigo Janot suspeitava que doações eleitorais feitas ao PMDB de Alagoas e ao presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) foram propina "sob a roupagem de doação oficial" ao pedir busca e apreensão na casa do peemedebista em dezembro, o que acabou sendo negado pelo ministro do STF Teori Zavascki.

A argumentação de Janot, apresentada no pedido de busca e apreensão na residência oficial de Renan, é baseada na suspeita defraude em uma licitação da Transpetro, alvo de uma ação movida pelo Ministério Público Federal de São Paulo em 2014.

Segundo o procurador-geral, "entre o início do processo licitatório e a divulgação do resultado", a empresa Rio Maguari Serviços e Transportes e outra ligada a ela fizeram doações de R$ 650 mil ao diretório do PMDB em Alagoas em julho de 2010. Na mesma data dessas doações, a campanha de Renan ao Senado recebeu do diretório estadual R$ 400 mil.

"Tem-se por certo que boa parte do dinheiro da propina era desviado no interesse dos parlamentares sob a roupagem de doação oficial", escreveu Janot.

Posteriormente à ação da Procuradoria em São Paulo, o ex-diretor Paulo Roberto Costa afirmou em sua delação premiada que o representante da empresa Estre Petróleo, Wilson Quintella Filho, teria lhe prometido o pagamento de uma comissão referente a esse contrato da Transpetro.

Tanto a Estre como a Rio Maguari fazem parte do consórcio que venceu a licitação para compra e venda condicionada de 20 comboios.

O Ministério Público Federal de São Paulo sustentou na ação que o resultado já estava combinado antes da licitação, realizada pela modalidade convite internacional.

Negativa
As buscas na residência de Renan foram negadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki em decisão de 9 de dezembro do ano passado.

Teori escreveu que Janot não conseguiu demonstrar a relação entre Renan e desvios de recursos na Transpetro.

O ministro liberou as buscas em outros alvos, como o diretório do PMDB em Alagoas e endereços do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, aliado de Renan. A Operação Catilinárias ocorreu em 15 de dezembro.

"Indefiro o requerimento, por entender que não houve demonstração de correlação fática entre esse requerido [Renan] e os fatos investigados no procedimento", escreveu o ministro do STF.

Teori entendeu em sua decisão haver "indícios" de vínculos de Renan com "o suposto desvio de recursos decorrentes de contratos firmados pela Transpetro".

O ministro, porém, afirmou que a PGR não estava dispensada de demonstrar como ocorre o vínculo de Renan com os crimes investigados e de que forma a busca e apreensão "se mostraria imprescindível às investigações".

Outro lado
A Folha não localizou as assessorias dos investigados na noite desta terça (26) para comentar.

O presidente do Senado tem negado envolvimento com o esquema de corrupção da Petrobras, afirmando que "suas relações com todas as empresas públicas e seus diretores nunca ultrapassaram os limites institucionais". O senador sustenta ainda que jamais autorizou qualquer outra pessoa a falar em seu nome.

O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado está a disposição dos órgãos de investigação para prestar esclarecimentos.

Não vejo distorção em transcrições de delações da Lava Jato, diz Janot

Márcio Falcão – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, rebateu nesta terça-feira (26) críticas feitas por advogados que atuam na Operação Lava Jato e disse que "não vê distorção" nas transcrições de depoimentos de delatores do esquema de corrupção da Petrobras.

Segundo o procurador, o ataque ao trabalho dos procuradores faz parte do que classificou de "técnica de defesa".

A fala de Janot é uma resposta a carta assinada por um grupo de cem advogados que questionaram a condução da Operação Lava Jato, apontando violação de direitos e garantias fundamentais dos suspeitos, além de promover "vazamento seletivo" de informações sigilosas.

Um dos argumentos levantados pelos advogados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) a rejeição da denúncia contra o congressista por suposto envolvimento com os desvios na Petrobras é que os depoimentos foram distorcidos e as degravações direcionadas para induzir a culpabilidade do acusado.

A defesa de Marcelo Odebrecht, preso na Lava Jato, também acusada a Procuradoria de manipular o depoimento de Paulo Roberto Costa para incriminar o dono da maior empreiteira do país. Para o procurador-geral da República, as reclamações fazem parte do direito de expressão.

"Não vi distorção alguma [nas transcrições dos depoimentos] e também não vi ninguém negar fato criminoso imputado a essas pessoas", disse Janot, após participar da primeira reunião do Conselho Nacional do Ministério Público.

Questionado sobre qual a conclusão que tirava sobre a ofensiva dos advogados, Janot respondeu: "é técnica de defesa".

Dilma pode condicionar crédito a emprego

Por Andrea Jubé e Leandra Peres – Valor Econômico

BRASÍLIA - O governo estuda exigir a geração de novos empregos como contrapartida às novas linhas de crédito destinadas a assegurar capital de giro às micro e pequenas empresas. As linhas de crédito devem somar R$ 50 bilhões e a forma como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) atuará ainda está sendo delineada. As medidas podem ser anunciadas amanhã na reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão.

Além de linhas voltadas às pequenas e médias empresas, à infraestrutura e às exportações, o BNDES também poderá oferecer linhas de financiamento de bens de capital. O governo ainda discute se liberará o uso da multa do FGTS como garantia ao crédito consignado.

Ontem Dilma conduziu uma ampla reunião preparatória da retomada do Conselhão, da qual participaram oito ministros - inclusive Nelson Barbosa, da Fazenda, Alexandre Tombini, do Banco Central, e Jaques Wagner, da Casa Civil -, além do ex-presidente do PCdoB Renato Rabelo, que assumirá a Secretaria Executiva do colegiado. Rabelo é um dos aliados mais próximos a Dilma e fiéis ao governo.

O grupo ainda está dividido quanto ao efetivo anúncio das medidas, que buscam impulsionar o crescimento econômico e dar ânimo aos investidores. Como não existe nenhuma medida de fôlego em gestação, há dúvidas se vale a pena adiantar as novas ações, ou apenas divulgar novas diretrizes econômicas. "O Conselhão é espaço de diálogo, não de anúncios", diz um ministro.

A contrapartida da criação de novas vagas de trabalho decorre do temor do governo de que o índice de desemprego alcance os dois dígitos até o fim do semestre, com o agravamento da recessão. O modelo em estudo por Nelson Barbosa contempla a oferta de crédito para empresas de médio porte junto ao BNDES, com juros corrigidos pela TJLP, de 7,5% ao ano, mais o acréscimo de uma taxa que pode ser de 1,5%, se a beneficiária comprovar a abertura de novas vagas. Se não houver geração de empregos, a taxa pode subir para 3% ao ano.

Esta proposta já foi apresentada a Dilma e aos ministros do núcleo político, mas o martelo ainda não foi batido. No início do mês, em um café da manhã com jornalistas, Dilma admitiu que o governo estudava ampliar o crédito para este segmento. "Nós achamos, inclusive, que o BNDES tem de fazer uma linha de capital de giro para aquelas empresas que são as mais frágeis, as médias, as pequenas, as micro", afirmou. Há 10 milhões de micro e pequenas empresas cadastradas no Simples Nacional, que respondem por 27% do Produto Interno Bruto (PIB).

O receio de que o índice de desemprego alcance 12%, como preveem alguns economistas, atemoriza o Planalto, com a perspectiva de que agrave ainda mais a baixa popularidade de Dilma. Em novembro, a taxa de desemprego foi de 7,5%, inferior à de outubro - de 7,9% -, mas superior ao registrado em novembro de 2014, que foi de 4,8%. Os dados são da Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Se a crise não refluir, economistas afirmam que o índice pode atingir os dois dígitos.

O governo não vai anunciar um "pacote" de medidas econômicas na reunião do Conselhão, avisam auxiliares presidenciais. Dilma e o ministro Jaques Wagner mostraram sintonia ao afirmarem que o governo não vai tirar "coelho da cartola". Mas além dos empréstimos para pequenas e médias empresas, haverá ainda medidas de fomento à exportação, ao agronegócio e incremento do crédito para o setor habitacional.

Também se reuniram ontem com Dilma os ministros Armando Monteiro Neto (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Valdir Simão (Planejamento), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), Aloizio Mercadante (Educação) e Kátia Abreu (Agricultura). Wagner, Barbosa, Monteiro Neto e Dilma vão discursar na abertura da reunião do Conselho. Serão realizadas quatro reuniões neste ano e a próxima será em maio.

Raymundo Costa: Impeachment trava o jogo e adia decisões

• Média de apoio é suficiente para manter Dilma

Valor Econômico, 26.01.2016

Governador do Espírito Santo, uma das poucas unidades da federação com as contas arrumadas, Paulo Hartung (PMDB) também está apreensivo com o aprofundamento da crise econômica e torce para a Câmara dos Deputados decidir logo o que vai fazer com o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. "Na medida em que essa agenda foi colocada, travou o país", diz. "Tem que haver uma decisão".

Hartung apoia a proposta de a presidente ir ao Congresso pedir apoio para medidas concretas para ajustar a economia, feita ontem pelo ex-ministro Delfim Netto em entrevista ao Valor. Mas só depois que o pedido de impeachment for votado na Câmara, para não parecer que usa de uma coisa para conseguir a outra. "[Dilma] iria tranquila, com a certeza de quem vai ficar até 2018 e apresentaria uma proposta sem ranço nem carimbos partidários".

A proposta de Hartung é válida, claro, no cenário de rejeição do pedido de impeachment. Ele não entra no mérito da questão. É preciso medir a temperatura do Congresso na volta aos trabalhos, na terça-feira, mas hoje tudo leva a crer que a presidente sairá vitoriosa deste embate. Se ele vier a acontecer logo, pois na contramão de pessoas como Hartung e Delfim, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ameaça travar a decisão com os recursos ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os ritos do impeachment.

Um levantamento da empresa de consultoria Arko Advice revela que Dilma tem condições de barrar o impeachment no voto, independentemente da ajuda que o STF deu à presidente ao dificultar os interesses da oposição na Câmara. Basta para Dilma sustentar o grau de fidelidade que os partidos aliados demonstraram em meio à turbulência nas votações de 2015 - 48,49% de apoio em média. Na prática isso significa 248 votos pró governo, 77 a mais que o necessário para arquivar o impeachment.

O estudo traz números que não condizem com a aparente situação de penúria do governo na Câmara. A média de apoio ao governo em 2015 foi maior que a registradas nos três anos últimos anos do primeiro mandato de Dilma, por exemplo. Segundo o cientista político Cristiano Noronha, da Arko, isso se explica pela revitalização política no diálogo com o Congresso decorrente da reeleição. Mesmo assim a média de apoio do primeiro ano do segundo mandato caiu 12,95% em relação a 2011, quando Dilma inaugurou seu governo. "À medida que o tempo passa, a relação entre Executivo e Legislativo tende a sofrer novos desgastes", diz.

Foi assim depois da eleição de 2010. No seu primeiro ano, a presidente conseguiu a média de apoio de 54,7% nas votações. Depois disso começou um processo de queda e não conseguiu mais voltar à média de apoio superior aos 50% dos aliados (veja o quadro). A tendência, de acordo com a análise da Arko, é que "a média de adesão dos próximos anos seja menor que as do primeiro mandato", o que só reforça a necessidade de a presidente tentar uma aproximação com o Congresso para os próximos três anos, como defendem Delfim Netto e o governador Hartung.

Outro dado interessante obtido pelo monitoramento da Arko Advice diz respeito ao desempenho do governo nas votações da Câmara. Foram analisadas 2.014 votações. Para uma presidente impopular que parecia prestes a ser despejada pela porta dos fundos do Palácio do Planalto, Dilma manteve nas votações praticamente a mesma performance do ano anterior, quando dividiu bons e maus momentos em termos de aprovação popular, até a reeleição com dificuldades.

Olhando em close as votações, Cristiano Noronha registra que o governo efetivamente aprovou os projetos de seu interesse, mas demonstrou sua fragilidade nas negociações. Em todas votações mais importantes o Palácio do Planalto cedeu, sendo o exemplo mais expressivo o pacote do ajuste fiscal, imaginado pelo ex-ministro Joaquim Levy para garantir uma arrecadação de R$ 25 bilhões, mas que ficou na metade disso no Congresso.

Outras vezes o governo perdeu tempo, caso da medida provisória da desoneração recusada por Renan Calheiros, presidente do Senado, e mais tarde enviada como projeto de lei. Nesse instante Renan mostrou para o governo a importância e a utilidade de ter um aliado facilitador na presidência do Senado.

O início do ano será tumultuado para o governo. Além do pedido de impeachment, a Arko lista meia dúzia de outros fatores que conspiram para manter o Palácio do Planalto na defensiva: o fraco desempenho da economia, a ampliação do desemprego, a Lava-Jato, a turbulência política, a baixa popularidade da presidente e o fato de que ela não pode disputar um novo mandato.

Mas há também sinais positivos. As manifestações de 2013 começaram pacíficas e ficaram violentas do meio para o fim. Agora, elas já começaram violentas, o que diminui o ímpeto revolucionário de muita gente para os protestos. Sem rua, não há impeachment. Por outro lado, o PMDB parece caminhar para uma acomodação entre as duas posições que dividem o partido em relação ao governo, o que - em última análise - pode ser bom para Dilma barrar o processo de impeachment.

Merval Pereira: Causa e consequência

- O Globo

Pior que gafe de ministro é entrega de cargos a partidos. Toda essa polêmica sobre as gafes cometidas em série pelo ministro da Saúde, Marcelo Castro, até chegar ao “sincericídio” de admitir que perdemos a guerra contra o mosquito da dengue, da zika e da chicungunha, só tem importância por um aspecto: a maneira como os cargos são preenchidos.

Juntar causa e consequência não é um esporte muito praticado no Brasil, mas o fato de que a corrupção já aparece como o principal problema do país pode indicar que os brasileiros finalmente estão descobrindo que ela é uma das causas da crise em que estamos metidos.

Não adianta a presidente Dilma ficar nervosa com os desacertos verbais de seu ministro — logo quem —, se o substituto também será escolhido da mesma maneira, e, pior que isso, provavelmente não haverá substituto, pois Marcelo Castro foi nomeado por indicação do então líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, que não pode abrir mão de seu apoio, pois continua lutando para se manter no cargo.

Dilma sabe que é melhor continuar com um ministro ineficiente e boquirroto do que perder o apoio do líder do PMDB. O deputado Hugo Motta, colocado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na presidência da CPI da Petrobras e agora disputando a liderança na Câmara sob os mesmos auspícios, já saiu em defesa do ministro da Saúde, nomeado pelo mesmo Picciani com quem disputa agora a liderança na Câmara.

Isso quer dizer que Motta já vislumbra na crise da Saúde uma boa oportunidade para arrebanhar alguns votos na bancada peemedebista que apoia o ministro Castro, que deve estar muito irritado com as críticas que vem recebendo do Planalto.

Não será surpresa se nos próximos dias, a pedido de Picciani, a própria presidente Dilma ou seu ministro principal Jaques Wagner sejam obrigados a dar declarações favoráveis a Marcelo Castro. Isso porque a disputa pela liderança do PMDB está acirrada, e Picciani corre o risco de perder a eleição, o que vai levar novamente o impeachment para o centro do debate político.

Até aqui, tratamos de dois aspectos da crise brasileira: as negociações internas do PMDB e como os governos nomeiam seus principais ministros. Digamos que Saúde e Educação fossem prioritárias para este governo. Se pegarmos os critérios utilizados nas indicações de seus condutores, veremos que não pode dar certo esse sistema deturpado de presidencialismo de coalizão, que se transforma em cooptação pura e simples.

Em nenhum momento se fala sobre projeto de governo, sobre programa para a Saúde e a Educação. A “Pátria Educadora” não passou de slogan vazio, e a escolha do filósofo Renato Janine, apenas uma propaganda enganosa dessa prioridade. Não havia intenção de implementar nada, nem foi dada ao ministro condição mínima de atuação nos cerca de 5 meses em que esquentou a cadeira do Ministério da Educação.

Logo um arranjo obrigou sua saída para acomodar o então chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que voltou para a Educação como espécie de castigo por má atuação na coordenação política do Planalto.

Então, não adianta a presidente Dilma ficar irritada com as tiradas do ministro da Saúde, assim como não deve esperar nada de um ministro como o da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, cujo maior mérito é ser “muito simpático, um gringão”, como o definem no PMDB do Rio, e ter sido dono de um restaurante rodízio na Baixada Fluminense.

Escolhido pelo PMDB do Rio, ele está lá da mesma maneira que Marcelo Castro está na Saúde, escolhido por Picciani para fortalecer a ala do PMDB que é contra o impeachment de Dilma. E como agora vão exigir deles o que não podem oferecer?

Já estamos vendo uma nova edição da mesma novela. Newton Cardoso Junior anuncia que, em troca de apoio a Picciani, Minas exige a nomeação do ministro da Aviação Civil “antes da eleição”.

Do jeito como as negociações partidárias são feitas, é impossível imaginar uma saída a curto prazo dessa situação de anomia, onde ninguém é de ninguém e não se sabe quem manda, e com que objetivo.

Dora Kramer: Pastel de vento

- O Estado de S. Paulo

O nome é pomposo: Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. A proposta, tão grandiosa (e vazia) quanto: “Assessorar o presidente da República na formulação de políticas e diretrizes específicas, e apreciar sugestões de políticas públicas, de reformas estruturais e desenvolvimento econômico-social que lhe sejam submetidas pelo presidente com vista à articulação das relações do governo com representantes da sociedade”.

A produção, um zero à esquerda. Criado em maio de 2003, o chamado “Conselhão” nunca pôs para funcionar um táxi no Brasil, muitíssimo menos determinou a definição dos grandes rumos do País ou “alargou de forma inédita a interlocução entre o governo e a sociedade”, conforme informa o balanço de atividades na página do CDES na internet.

Útil como peça publicitária no início da gestão Luiz Inácio da Silva, o conselho revelou-se inútil na prática. O que os conselheiros falavam nas reuniões entrava por um ouvido do governo e saía pelo outro. As poucas sugestões acatadas – como a concessão de crédito consignado – jamais foram atribuídas ao colegiado, mas apresentadas como iniciativas do então presidente.

Pois agora Dilma Rousseff anuncia a retomada desse foro de debates que se reúne amanhã, repaginado. Saem, por exemplo, executivos de empreiteiras e entram representantes de entidades de classe de empregados e empregadores. Para a função de cereja do bolo foi convidado o ator Wagner Moura.

A agenda, de novo, é ambiciosa: a definição de “estratégias para retomar o crescimento sem afetar o ajuste fiscal”. A ideia sugerida é a de debater propostas para a composição das medidas de recuperação da economia a serem anunciadas em fevereiro. Ora, ora, sabemos todos e sabem muito mais ministros, governadores, parlamentares governistas e políticos oposicionistas, quais são as bases do diálogo continuamente prometido e jamais praticado pela presidente da República, a quem cairia bem o codinome senhora de si.

Nessa condição, não ouve ninguém. É conhecido seu hábito de convocar reuniões com propósito exclusivo de se fazer ouvir. Não será, portanto, aos 90 conselheiros do CDES que abrirá os ouvidos.

Culatra. Os advogados signatários da diatribe – nominada manifesto – à atuação das autoridades encarregadas das investigações da Operação Lava Jato atiraram em direção à culatra. Não conseguiram coisa alguma do ponto de vista dos acusados. Antes, produziram um elogio ao equívoco no tocante à defesa do Estado de Direito.

Segundo eles, “nunca houve” no Brasil agressões tão graves às garantias individuais dos cidadãos. No documento, juízes e promotores são comparados a agentes da inquisição que empregariam, hoje, métodos “piores” que os adotados pela ditadura militar.

Chama atenção a ausência da assinatura de nomes proeminentes da advocacia nacional. Certamente acharam melhor não compactuar com um erro histórico de rara e monumental envergadura por ignorar os ditames do regime autoritário, cujas regras asseguravam a impunidade daquele poder ilegítimo face às atrocidades cometidas contra brasileiros tidos como inimigos.

Fora a inescapável evidência de que vivemos há mais de três décadas sob a égide da legalidade, os presos da Lava Jato são suspeitos de crimes comuns, não obstante os advogados tentem enquadrá-los na categoria de vítimas da política.

Francamente, uma categoria profissional que tantos e tão bons serviços prestou à luta pela retomada da democracia não merece carregar o fardo da guarda do retrocesso em nome de uns poucos que ainda não compreenderam (nem aceitaram) a evolução pela qual vem passando o Brasil.

Rosângela Bittar: Governo de algemas

• Dilma não tem o que colocar no lugar da luta para se defender

- Valor Econômico

Lula acha que não há uma alma mais honesta que ele nessa terra brasilis, e a terra acha que não há uma alma brasileira feliz, neste momento, com sua vida financeira, profissional, social, ética, política. 

Nem o Carnaval é capaz de melhorar esse estado de espírito. O desconforto é diversificado, pode-se fazer a pesquisa em diferentes universos que ora irão cravar o desemprego como o maior problema do país, outro momento será o da corrupção, ora é a saúde que, em qualquer nível, esfera administrativa ou partido na gestão é o que arrefece o entusiasmo com a vida de todo cidadão responsável. Há enquetes que mostram grupos numerosos preocupados com transporte, outras revelam terror com a ausência das obras de infraestrutura que poderiam conter os desastres naturais mas as providência para evitá-los não aparecem antes. E como a presença do governo na vida do cidadão é por aqui sufocante, a responsabilidade por todos os males, omissão e ação, é mesmo do governo. No caso do governo Dilma, omissão, pois a paralisia é total.

O governo está no segundo ano do segundo mandato e não começa. A presidente é movida por um festival de negações, de sustos, de respostas vazias quando resolve fornecê-las, de lugares comuns, sentenças carentes de sentido. Passa a maior parte do tempo enfurnada. De vez em quando, tocada por uma ameaça forte de ser defenestrada, reúne grupos, mobiliza, discursa, viaja. Mas na maior parte do tempo se preserva. Se explode, é internamente, nem isso se vê. O problema é sempre o outro, ou não há problema.

O professor Delfim Netto fez uma boa síntese em entrevista à jornalista Claudia Safatle, publicada no Valor de segunda-feira: não existe presidencialismo sem presidente. Já havia ele próprio, em manifestações anteriores, destacado a falta de protagonismo de Dilma Rousseff. Eufemismos. Aconselhou-a a assumir sua responsabilidade, mas o fez por vias tortas. Sugeriu que ela coloque o Congresso contra a parede exigindo que aprove reformas de fundo ou assuma a culpa pelo caos.

Jogar a responsabilidade de governo sobre o Congresso é só o que este governo tem feito, desde sempre. Embora esteja com o principal partido da aliança que o sustenta, o PT, o confronto das ideias de reforma sugeridas por Delfim. Pode ser a técnica da psicologia de dizer a ela para agir mesmo que seja para por peso nas costas do próximo.

A presidente passou pelo espasmo das providências com relação ao desastre ambiental que atingiu várias cidades de Minas, passou pelo espasmo das providências de combate ao Aedes aegypti, a maior vergonha nacional e o maior risco à população no momento, e agora se prepara para enfrentar outro espasmo de ação, o da ressurreição do Conselhão, de cuja eficácia o Brasil está livre desde sua gênese. Como um conselho de 80 pessoas nada resolve, já se pode prever, por exemplo, o resultado de sua primeira reunião, na quinta-feira. Dilma encontrou-se com oito ministros de Estado, ontem, para preparar medidas a serem anunciadas aos ilustres integrantes do grupo, entre elas a retomada do crédito como motor do crescimento. De novo. Além de outras que também acha o governo que vale a pena reiterar, reiterar, reiterar.

Em contrapartida espera ouvir dos conselheiros o apoio ao governo na sua campanha para aprovar a CPMF no Congresso e levar adiante a reforma da Previdência. Dilma não tem demonstrado força nem criatividade para sair do redemoinho.

Sabe que o impeachment acabou, mas no lugar da guerra que travava para se manter no cargo a presidente não tem o que colocar.

Não há também mais a disputa Nelson Barbosa versus ministro da Fazenda, vez que ele assumiu o posto de seu próprio freguês de contendas. Então, em lugar de apresentar novas armas, será mais um para voltar seus mísseis ao Congresso.

No meio desse nevoeiro, a presidente está sempre perplexa: com o FMI, com a corrupção, com seus assessores diretos envolvidos em suspeita de irregularidades nos processos correntes, com o desleixo do governo, com a falta de iniciativas que tirem o país do ciclo de calamidades.

Agora deve estar estarrecida, um estágio mais avançado do que perplexa, com seu ministro da Saúde, de uma franqueza desconcertante, que diz, como a OMS, que estamos perdendo a guerra para o mosquito Aedes aegypti, e numa nova versão do dito malufista "estupra mas não mata", disse que torce para que as mulheres peguem a doença que provoca microcefalia antes de engravidar.

Esse ministro da Saúde, porém, é o de menos. Ele entrou em outubro para a história do Brasil, ao ingressar no governo quando a dengue, a zika e a chikungunya já eram epidemia. Nos governos Lula e Dilma o PT colocou na Saúde seus ministros politicamente mais fortes. Alexandre Padilha de lá saiu para disputar o governo de São Paulo; Humberto Costa foi enfrentar Eduardo Campos em Pernambuco, e hoje é senador que volta e meia assume a liderança dos interesses do governo; e o último, Arthur Chioro, o mais enraizado no partido, que ampliou os tentáculos petistas pelo ministério inteiro, fazendo uma administração por conferências e assembleias, foi provavelmente o mais inerte.

Se for possível deixar o pensamento dar um voo daqui para trás, não é possível deter a atenção em uma única providência inovadora, séria, competente para resolver o dramático problema da saúde. Para um único Mais Médicos, há centenas de redes falidas de atendimento à saúde como a do Rio e a de Brasília.

O futuro que se vem desenhando também não é atraente. Procura-se uma ideia de Ciro Gomes, por exemplo, o último candidato a presidente lançado esta semana, um único plano ou medida para o governo do Brasil, e não se acha; procura-se um caminho apontado por Dilma para a Petrobras, em que é especialista, sair do buraco onde a jogaram, e não se vê; procura-se uma fonte de recursos para o governo meter a mão que não seja o FGTS, uma espécie de fundo de pensão dos novos tempos a sofrer sangria, não há. Passado, presente e futuro sem perspectiva.

Encurralado pelas denúncias e suspeitas, processos e delações, Lula resolveu cuidar da vida, da sobrevivência política, das campanhas eleitorais, e deve parar de ficar tutelando Dilma a cada nova rodada de crise. Só Dilma pode libertar seu governo das algemas.

Luiz Carlos Azedo: Dream Team

• Dilma absolutiza a força do Estado e busca uma interlocução direta com os grandes grupos empresariais e setores organizados da sociedade sem a mediação dos partidos e do Congresso

Correio Braziliense

Assim era chamada a histórica seleção de basquete dos Estados Unidos nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992, na qual brilharam Magic Johnson, Michael Jordan, Scottie Pippen, Charles Barkley e Patrick Ewing, grandes astros no NBA, o principal torneio de basquete profissional do mundo. Com eles, os Estados Unidos recuperaram a hegemonia perdida em razão das derrotas para a antiga União Soviética nas Olimpíadas de Munique, em 1972, e para o Brasil, “em casa”, nos Jogos Panamericanos de Indianópolis, em 1987, nos quais foi derrotada pela seleção liderada por Oscar Schmidt, o maior cestinha dos jogos. O Dream Team (time dos sonhos) venceu todas as partidas por uma diferença de mais de 30 pontos.

Imaginem, agora, uma equipe ministerial formada pelos integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, um agrupamento de cerca de 90 empresários, sindicalistas e personalidades da vida artística e literária que a presidente Dilma Rousseff reunirá na próxima quinta-feira para discutir a situação do país e ouvir sugestões para sair da encalacrada em que o país está.

Digamos que o ministro da Fazenda fosse Luiz Carlos Trabuco (Bradesco); o presidente do Banco Central, Roberto Setúbal (Itaú); João Paulo Lemann (Ambev), ministro das Relações Exteriores; Luiza Helena Trajano (Maganize Luiza), presidente do Sebrae; Abílio Diniz (BRF), presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); Miguel Nicolelis, ministro da Ciência e Tecnologia; Frederico Curado (Embraer), dos Transportes; Murilo Ferreira (Vale), ministro da Integração Nacional; José Roberto Ermírio de Moraes, Indústria e Comércio; Benjamin Steinbruch, Minas e Energia.

Que Fernando de Morais fosse ministro da Cultura; Paulo César Pinheiro, da Justiça; Miguel Torres (Força Sindical), do Trabalho; Wagner Freitas (CUT), da Previdência; e o ator Wagner Moura, escalado para a pasta sugerida pelo Chico Buarque, o Ministério do “Vai dar Merda”. Um time como esse, obviamente, poderia ser escalado de diferentes maneiras e seria o que de melhor o país teria para enfrentar a crise mandando os políticos catar coquinhos. Reúne uma plêiade de líderes bem-sucedidos, alguns dos quais já foram convidados ou estiveram cotados para ocupar uma pasta na Esplanada.

Estão diante de uma recessão somente comparável à crise de 1930, cuja principal consequência política foi a derrocada da República Velha, com a destituição do presidente Washington Luiz por Getúlio Vargas, na Revolução de 1930. A propósito, o governo provisório da época, majoritariamente formado por gaúchos e mineiros, reuniu estrelas como Assis Brasil (Agricultura), Francisco Campos (Educação e Saúde), Oswaldo Aranha (Justiça), Afrânio de Melo Franco (Relações Exteriores), Lindolfo Collor (Trabalho, Comércio e Indústria) e Paulo de Moraes e Barros (Viação e Transportes).
Getúlio protagonizou uma via de modernização autoritária, que durou até 1945, na qual criou linhas de crédito e também companhias e institutos dedicados à industrialização do país. A agricultura foi agraciada com medidas que aperfeiçoassem a produção e ampliassem os índices de exportação. No plano educacional, se instituiu o ensino primário público e gratuito, e a ampliação das instituições de ensino superior e secundário. Forjou o Estado brasileiro atual.

Em 1934, uma nova constituição consolidou o voto secreto e concedeu esse mesmo direito a todos os cidadãos maiores de 21 anos, incluindo as mulheres. Paralelamente, os trabalhadores foram agraciados com a jornada de oito horas diárias; a paridade salarial entre os sexos, a proibição do trabalho aos menores de 14 anos; férias remuneradas e indenização para demissão sem justa causa. Getúlio, porém, conseguiu que os deputados responsáveis pela Constituição de 1934 aprovassem a adoção de eleições indiretas para o primeiro mandato presidencial.

Linha direta
Dessa forma, alargou o seu mandato em mais quatro anos ao ser escolhido pelos membros do Poder Legislativo. Segundo o que fora acordado, o próximo presidente seria escolhido através de eleições diretas. Abriu-se o caminho para a implantação da ditadura do Estado Novo, em 1937, um golpe de estado que suspendeu as eleições e fechou o Congresso. Influenciado pela Carta Del Lavoro, Getúlio governou sem a mediação dos partidos, buscou uma relação direta com as lideranças empresariais e sindicais, lastreado por amplo apoio popular. Como todo o populismo latino-americano, foi fortemente influenciado pelo fascismo, mas Getúlio manteve-se na órbita dos Estados Unidos, quando nada por razões geopolíticas óbvias.

A presidente Dilma Rousseff reivindica a herança de Getúlio, quase sempre comparando a crise ética e política que o país vive hoje àquela que levou-o ao suicídio, em 1954, quando exercia novamente a Presidência, desta vez eleito pelo voto popular. Castilhista como Getúlio, Dilma absolutiza a força do Estado e busca uma interlocução direta com os grandes grupos empresariais e setores organizados da sociedade sem a mediação dos partidos e do Congresso. Esse modelo foi criado por Lula, para sequestrar a grande política e confiná-la ao Palácio do Planalto, mas Dilma nunca revelou aptidão para dialogar aberta e francamente com esses setores da sociedade, o que somente pretende fazer agora, com o governo à beira do naufrágio. Alguém já disse que a História se repete como farsa ou como tragédia.

Hélio Schwartsman: O fim do PT?

- Folha de S. Paulo

O PT deve ser extinto? O PSDB propõe que sim, ainda que seu baluarte maior, Fernando Henrique Cardoso, considere que não. A legenda liderada por Lula é, de longe, a que mais foi alvo de pedidos de cassação de seu registro político no TSE. Foram 12 (dos quais nove foram arquivados) contra dois do segundo colocado, o PV. Isso desde o fim do Estado Novo, em 1945.

A essa altura, não restam dúvidas de que dirigentes petistas cometeram vários crimes que envolveram o partido, mas me parece absurda a ideia de que agremiações políticas possam ser cassadas pela Justiça. A razão mais óbvia para isso é que legendas não são gente. Elas não pensam, deliberam nem agem sozinhas. Tudo que é feito em seu nome pode ser traçado a atos ou decisões de seus dirigentes ou de colegiados.

Se houve crimes aí, é preciso identificar as pessoas responsáveis pelos ilícitos e são elas que devem ser enquadradas. Condenar um partido (ou empresa ou qualquer outra instituição) por práticas delituosas faz tanto sentido quanto enforcar a vaca por ter pisoteado uma criança. O direito penal tem como pressuposto a existência de um agente racional. Só há crime quando ao "actus reus" (ato ilegal) corresponde uma "mens rea" (mente culpada).

Também me parece ruim pedir que a Justiça usurpe uma função que é dos eleitores. São eles que deveriam julgar se o PT cumpriu ou não suas promessas, se violou ou não com a ética partidária, e depositar seu veredicto nas urnas. Se precedentes históricos e pesquisas de opinião valem algo, o PT deverá ser severamente punido pelos eleitores nos próximos pleitos, mas terá a chance de tentar reconstruir-se.
Eventualmente, seus membros podem até chegar à conclusão de que a marca se tornou inviável e que é melhor fechar a lojinha, mas essa é uma decisão que cabe a eles. Seria péssimo se o TSE tirasse de eleitores e de militantes a oportunidade de aprender e evoluir.

Eliane Cantanhêde: Deu ‘zika’ na Saúde

- O Estado de S. Paulo

O carnaval nem começou e a Olimpíada será só no segundo semestre, mas o mosquito Aedes Aegypti já está sambando e batendo um bolão pelo Brasil afora. Em 2014, o País passou a conviver com o vírus chikungunya. Em 2015, bateu o recorde histórico de casos de dengue. Em 2016, já começou o ano com o zika vírus nas manchetes e contabilizando mais de 3 mil casos de microcefalia. Espantoso!

A dengue existe desde sempre no mundo, o chikungunya também não é exclusividade brasileira, o zika vem se espalhando por mais de 20 países e a febre amarela está controlada. (Ela também é transmitida pelo Aedes, mas com uma diferença vital: há vacina eficaz.) O mais espantoso, portanto, é tudo isso junto e o Brasil chegar a esse estado de calamidade tendo quem tem no Ministério da Saúde.

Enquanto as cúpulas do PT, do PMDB e do PP se refestelavam no mensalão, na Petrobrás, em outras estatais, no Carf, na edição de medidas provisórias, nos fundos de pensão e na relação do BNDES com as “campeãs nacionais”, tudo o que sobrou para empurrar na Saúde foi Marcelo Castro.

Quem é mesmo esse cidadão? Um médico renomado, respeitado e admirado pela própria categoria? Especialista de um dos centros de excelência do Brasil, com experiência comprovada em saúde pública? Ou um político com grande liderança?

Nada disso. Marcelo Castro é um médico sem currículo, um político medíocre, um deputado do “baixo clero”, que só virou o que virou porque o inexpressivo líder do PMDB, Leonardo Picciani, indicou e a errática presidente da República, Dilma Rousseff, nomeou. Agora, aguentem! Ou melhor: agora, brasileiros, aguentem!

Sem ter o que dizer aos cidadãos, apavorados com dengue, zika e chikungunya, e aos especialistas em Saúde, que precisam de orientação, coordenação, recursos e decisão política, o nosso Marcelo Castro se dedica a... falar, falar e falar sobre o que não sabe. Na falta do que dizer, improvisa.

Primeiro, horrorizou brasileiros e brasileiras ao “torcer” para que as mulheres pegassem o zika ainda meninas: “Vamos torcer para que mulheres, antes de entrar no período fértil, peguem a zika, para elas ficarem imunizadas pelo próprio mosquito. Aí, não precisa da vacina”. Agora, chocou o mundo e irritou Dilma ao dizer uma singela verdade: “nós estamos com o Aedes há décadas aqui e estamos perdendo feio a batalha para o mosquito”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) desconversou, considerando a fala do ministro brasileiro “algo fatalista”. E Dilma descabelou-se. Mas a culpa de ter um ministro desses é de quem?

O Brasil discute com os Estados Unidos um acordo de cooperação visando ampliar as pesquisas comuns sobre vacina da dengue para uma futura vacina contra o zika, com participação de outros países que se interessarem. Mas isso, repita-se, é coisa para o futuro.

No presente, a situação é fora de controle, com as grávidas brasileiras querendo fugir para locais mais seguros e os estrangeiros refletindo se é mesmo o caso de vir para o carnaval e a Olimpíada, com dengue sambando, chikungunya em campo, zika treinando dia e noite e um ministro da Saúde que é um caso para junta médica.

Depois do mensalão, do petrolão, da Zelotes, do escândalo do Carf, de Eduardo Cunha na presidência da Câmara, Renan Calheiros na do Senado e Picciani na liderança do maior partido... Marcelo Castro é a personificação da falência não de um governo, mas de um sistema.

Conselhão. Dilma reúne na quinta-feira ministros, pesos-pesados das finanças, líderes da indústria e do comércio, o homem mais rico do Brasil e até o nosso Wagner Moura. Para que, além da foto? Ela tem de conciliar combate à recessão e à inflação; dar crédito para quem não quer crédito; agradar aos gregos do pragmatismo e aos troianos alinhados com o PT. No fim, combinar com os russos: o Congresso. Vai dar certo?

Elio Gaspari: O presépio da doutora Dilma

- O Globo

O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social foi criado em 2003 e é composto por 90 membros. Para a reunião de amanhã, dois titulares tiveram que ser substituídos, pois Marcelo Odebrecht e José Carlos Bumlai estão na cadeia. Também estão trancados o ex- conselheiro João Vaccari Neto e José Dirceu, que assinou o ato de criação do organismo. É difícil imaginar outro grupo de 90 pessoas com semelhante desempenho. Para se ter uma ideia do que significa uma porcentagem de 2% de presos, vale lembrar que a taxa de brasileiros encarcerados para cada cem habitantes é de 0,3%.

O Conselhão pretendia ser um foro de debates. Tornou- se um pastel de vento a serviço da propaganda de um governo cuja titular diz que “o Brasil não parou, nem vai parar”. Os pibinhos e a recessão aconteceram no Burundi. É marquetagem tão inútil que desde julho de 2014 a doutora Dilma não o convocava. Uma reunião de 88 pessoas serve apenas para fotografias de um consenso inexistente. A menos que se considere consenso o fato de estarem todas sentadas.

Quando o Conselho foi criado, nele estava a atriz Lucélia Santos. Foi substituída por Wagner Moura. Pelo lado dos empresários, lá estará Jorge Paulo Lemann. Certamente, ele tem algo a dizer, mas, da última vez que foi ao Planalto, a doutora deu- lhe um chá de cadeira de mais de uma hora. Até aí pode- se pensar que tenha surgido algum imprevisto. O problema muda de figura quando se sabe que mandaram uma funcionária fazer- lhe sala, e ela dirigiu- se a Lemann em inglês. Coube a ele explicar que foi criado nas ondas de Ipanema. O surfista do século passado tornou- se o homem mais rico do Brasil porque a InBev produz e exporta gestão, exatamente o que falta ao governo da doutora.

Ele acaba de anunciar que adiou o cumprimento da meta anunciada em novembro de visitar todos os domicílios do país até o fim deste mês para combater o mosquito da zika. Lorota. O que houve foi o colapso de uma promessa impossível de ser atingida. Na melhor das hipóteses, foram a 15% das casas. Houve burocrata sugerindo que, para evitar o risco da microcefalia, as mulheres não engravidem. Como o mosquito está no Brasil há mais de um século, a providência extinguiria a população de Pindorama. Depois, veio o ministro da Saúde, torcendo para que as jovens sejam infectadas pelo vírus antes da idade fértil, pois assim adquiririam imunidade.

Como Brasília comanda espetáculos, em dezembro a doutora assinou o Decreto 8.612, criando uma Sala Nacional de Coordenação e Controle, para cuidar do mosquito. Ela funcionaria no Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres da Secretaria Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional. A sala mágica seria habitada por representantes de seis ministérios, dentro do Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia, que, por sua vez tem três “eixos”: “Mobilização e combate ao mosquito, atendimento a pessoas e desenvolvimento tecnológico”.

Aí está a essência da gestão da doutora: havendo um problema (o mosquito), lança-se um plano de enfrentamento, cria-se uma sala de controle anexa a um centro de gerenciamento e, daí em diante, o assunto é dos outros. Se nada der certo, convoca- se uma reunião do Conselhão para mudar de assunto em busca do que o Planalto chama de “agenda positiva”.

Cristiano Romero: Banco Central: a falta que a autonomia faz

• Tombini usou, em 2011, enredo idêntico para mudar política

- Valor Econômico

Quanto mais o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, tenta explicar a decisão de mudar subitamente o rumo da política de juros no último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), menos convincente a história fica. Tombini alega que, ao participar de reunião na Basileia nos dias 9 e 10, foi informado da forte desaceleração da economia chinesa e da queda dos preços do petróleo. Ele teria constatado que os dois movimentos produziriam efeitos desinflacionários na economia mundial e que o certo seria, então, o Copom manter a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano, em vez de elevá-la, como vinha sendo sinalizado pelo próprio BC há alguns meses.

Daquele domingo até o primeiro dia da reunião do Comitê, passaram-se nove dias. Tombini, mesmo assustado com os prognósticos de seus colegas banqueiros centrais reunidos no Banco de Compensações Internacionais, resolveu avisar ao distinto público, apenas na véspera da decisão, que levaria o Copom a tomar uma decisão diferente daquela que vinha sendo antecipada em documentos e discursos oficiais.

No dia 14, o presidente do BC teria recebido do Fundo Monetário Internacional (FMI), cinco dias antes da divulgação oficial, as novas projeções para o crescimento do Brasil e do mundo em 2016 e 2017. Os números eram revisões para baixo do que o Fundo havia divulgado em setembro. Mais uma vez, o presidente do BC ficou atemorizado com o que viu.

É curioso que Tombini não tenha se apavorado antes com as projeções do mercado divulgadas semanalmente pelo BC e que há tempos já previam queda de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016, apenas 0,5 ponto percentual abaixo do que diz o FMI. "A ideia de que o FMI sabe mais do que nós sobre o estado da economia é extravagante", disse, em entrevista à Cláudia Safatle, o ex-ministro Delfim Netto.

O que se sabe é que, um dia antes do encontro do Copom, quando anunciou seu espanto com as projeções do FMI, Tombini se reuniu com a presidente da República. Alguém tem dúvida sobre a opinião de Dilma Rousseff acerca do tema taxa de juros?

O que está em discussão não é a decisão da semana passada. Economistas de perfil ortodoxo defenderam publicamente a manutenção da taxa Selic em 14,25%. O que precisa ser debatido é a débil institucionalidade do Banco Central, que produz episódios como o da última reunião do Copom e é responsável em grande medida pela tragédia econômica vivida pelo Brasil neste e nos últimos cinco anos.

Há vários fatores concorrendo para o fato de o país conviver com os juros mais altos do planeta. Um deles é, sem dúvida, a ausência de independência formal da instituição. Apenas isso já responde por alguns pontos percentuais da taxa Selic - três, segundo estimativas de estudiosos do tema.

Quando era ministra do governo Lula, a presidente acreditou na tese de que os juros são altos no Brasil porque alguns diretores do BC são provenientes do mercado financeiro. Com sua influência crescente, ela conseguiu que esses diretores fossem substituídos por funcionários de carreira. Ao chegar ao Palácio do Planalto, fechou as portas do BC a nomes da academia ou do mercado e nomeou Tombini para comandá-lo.

A ascensão do atual presidente do BC foi facilitada por uma conversa que ele teve com Dilma durante a transição de governo em 2010. No colóquio, ela perguntou se seria possível chegar a 2014 com juro real de 2% ao ano. O futuro presidente do BC respondeu prontamente: "Sim".

Economista de formação rigorosa, com doutorado pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, e conhecimento profundo tanto de micro quanto de macroeconomia, Tombini foi o primeiro chefe do Departamento Econômicos (Depec), criado para amparar com estudos e estatísticas confiáveis o regime de metas para inflação, adotado em meados de 1999. Ele tem experiência e dispõe de conhecimento técnico para lidar com os temas mais complexos de uma autoridade monetária.

O que Tombini e seus colegas de diretoria não têm é independência para cumprir o mandato constitucional do BC - zelar pelo poder de compra da moeda, reduzindo a inflação para a meta (4,5%). Como funcionários públicos, eles são constrangidos publicamente e perseguidos politicamente, como ocorreu recentemente com o próprio Tombini. Na mesma situação, diretores vindos de fora podem pedir as contas e ir embora - hoje, apenas um diretor (Tony Volpon, da área internacional) é oriundo do mercado.

Em agosto de 2011, Tombini fez alegações parecidas com a de agora para embarcar numa aventura que está custando muito caro ao país. O enredo é muito parecido: depois de participar de uma "terrível" reunião na Basileia, ele teria ido à presidente Dilma para informá-la de que a Europa mergulharia novamente numa recessão e que isso teria efeitos desinflacionários em todo o mundo; diante desse quadro, seria possível reduzir drasticamente a taxa de juros.

Na ocasião, o BC vinha comunicando que, graças a pressões inflacionárias e especialmente à deterioração das expectativas, os juros continuariam subindo. Sem emitir qualquer sinal ao mercado (leia-se: à sociedade), Tombini e seus diretores reduziram a taxa Selic no fim de agosto, iniciando um processo que a levou para 7,25% ao ano em 2012. Aquela decisão foi o marco inicial do que ficou conhecido como Nova Matriz Econômica, um conjunto de medidas que destruiu o bem-sucedido arcabouço macroeconômico adotado pelo país em 1999.

Na gestão Tombini, a média inflacionária anual aumentou para 7,07%, acima do teto permitido (6,5%); as expectativas de inflação, desde 2011, estiveram sempre acima da meta; a volatilidade da taxa de juros é a maior da história do regime; a comunicação com o mercado é deficiente, o que dificulta ainda mais a gestão das expectativas etc.

O Brasil tem hoje o juro mais alto do mundo, uma das inflações mais elevadas e está em recessão há dois anos. Não tem o único benefício dos juros altos, que seria inflação baixa ou pelo menos em torno da meta. O juro alto, além de inibir a atividade econômica, provoca uma enorme despesa aos cofres públicos - nos 12 meses até novembro, chegou a R$ 496,9 bilhões (8,42% do PIB). A quem interessa, portanto, que o BC não tenha autonomia? O que a sociedade ganha com o atual modelo?