sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O surto político no mundo do dinheiro - Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

O salseiro de governo, Congresso e Supremo não abalou os donos do dinheiro grosso, os credores, o "mercado".

A notícia do PIBículo, porém, abalou governo e Banco Central, que agora prometem remendos. Isto é, medidas a fim de aliviar dívidas de pessoas e empresas.

Juros, dólar e mesmo a pequena Bolsa não deram saltos de susto com o sururu mais recente, que começou com a denúncia de Marcelo Calero contra Geddel Vieira Lima, no dia 19 de novembro.

Com a exceção passageira da sexta-feira, dia 2, pouco reagiram ao rolo institucional, das tentativas de Câmara e Senado de fugir da polícia, no fim do mês passado, aos riscos de tumulto paralisante do Congresso, aplacado pelo acordão com o Supremo desta semana. Acreditam que o esquemão garante as "reformas"?

O dólar anda pela casa de R$ 3,40, mas viajara para essa altura por causa de Donald Trump. Os juros na praça financeira deram um salto com a eleição americana, andaram então sem rumo definido e deram um pulinho político na virada do mês.

Mas os juros de curto prazo caem desde que o Banco Central passou a dizer "agora vai", a partir de quarta passada (30), quando houve reunião do Copom e se confirmou que o PIB está com cara de depressão.

Os juros reais (um ano, ex-ante) voltaram agora para onde estavam em 19 de outubro. Subiram desde então por causa do BC, que avisou ao "mercado" do ritmo lerdinho de queda da Selic. Não faz dois meses.

O medo de recaída em recessão ainda pior explodiu subitamente na semana passada, embora fosse sabido fazia tempo. Bateu desespero na elite econômica e no Planalto. Temer perdeu o encanto, digamos.

Então se difundiram boatos de fritura de Henrique Meirelles. Empresários e economistas reputados começaram a falar grosso sobre a inércia da equipe econômica e do Banco Central. Defensores santarrões da "ortodoxia" e da necessidade de "ancorar expectativas inflacionárias" e outras conversas pomposas de repente resolveram dar beliscões no BC.

Como resultado, o governo "estuda medidas".

Por pressões de Planalto e Congresso, a equipe econômica pode ter de engolir um Refis, refinanciamento, talvez perdão, de dívidas de empresas com o fisco.

Há uma campanha para que o Banco Central libere parte do dinheiro que os bancos têm de lá deixar estacionada (depósitos compulsórios), desde que o dinheiro sirva para refinanciar dívidas de empresas.

No entanto, sobra dinheiro para isso nos bancos maiores. Estão na retranca porque acham que não se trata de bom negócio. Pelo menos é o que diziam até a semana passada.

Flutua ainda em Brasília a sugestão de que o BNDES aumente linhas de crédito para capital de giro de empresas, as quais não conseguem dinheiro na banca comercial.

Nesta semana, o Conselho Curador do FGTS aprovou normas para o uso do dinheiro do fundo como garantia para empréstimos consignados, medida ainda do defunto governo Dilma Rousseff. Assessores de Michel Temer dizem que iniciativas "como essa" podem ser ampliadas, a fim de facilitar a troca de dívida muito cara pela menos cara do consignado. Não dizem como.

Nesses 20 dias de surto, o governo se mexe, não se sabe para onde; os credores "deram um tempo".

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