segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Dividido, PSB reavalia apoio a governo Temer

Por Raphael Di Cunto e Marina Falcão – Valor Econômico

BRASÍLIA E RECIFE - Diferentes projetos políticos dos grupos que compõem o PSB têm levado o partido a reavaliar o apoio ao governo Michel Temer. A discussão, alimentada pela reforma da Previdência, tem como pano de fundo disputas pelo comando de instâncias partidárias, como a liderança na Câmara e o diretório nacional, e o posicionamento nas eleições de 2018.

Desde a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos em plena campanha presidencial, o partido ficou dividido em pelo menos dois grupos. Foi assim no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e no apoio ao governo Temer. A ala contrária a apoiar o pemedebista aproveita a disputa por espaços internos para aumentar sua influência, ao atrair outros grupos para a independência.

É o que ocorre na eleição para a liderança do partido na Câmara. Os oposicionistas são um terço dos 33 deputados, mas valem-se de brigas internas para levar parte dos parlamentares a um distanciamento do governo.

O diretório de Pernambuco, o maior da sigla, está no meio da disputa. Tadeu Alencar (PE) é o candidato dos dois grupos à liderança da bancada. "Do ponto de vista da ação das bancadas não há indício de tomar distância do governo", disse Alencar. Ao mesmo tempo, ressaltou: "O apoio do PSB ao governo não é incondicional, nunca foi".

O deputado é homem de confiança do governador de Pernambuco, Paulo Câmara, que trabalha por uma postura mais independente do partido. O governador foi um crítico, por exemplo, da PEC do teto dos gastos. Seus possíveis adversários à reeleição em 2018 estão contemplados com espaços importantes na Esplanada: os ministros da Educação, Mendonça Filho (DEM), e das Cidades, Bruno Araújo (PSDB).

Pelo protagonismo do PSB em Pernambuco, Câmara rivaliza tradicionalmente com o ministro de Minas e Energia, Fernando Filho, e seu pai, o senador Fernando Bezerra Coelho. Na ala mais governista da bancada, os Coelho têm como candidata a deputada Tereza Cristina (MS) na eleição para líder na Câmara.

Outro espaço em disputa é o controle da máquina partidária. Os diretórios municipais, estaduais e o nacional terão nova eleição no segundo semestre de 2017. Com o comando do partido vem também mais poder de fogo para influenciar nas decisões sobre a eleição presidencial.

Presidente do diretório do Rio Grande do Sul e ex-candidato à vice-presidente da República, Beto Albuquerque afirma que o partido precisa entregar os cargos no governo. "É uma atitude coerente com o que fizemos em 2014. Perdemos o Eduardo e depois eu e Marina [Silva] concorremos defendendo um projeto que não é esse do Temer", disse.

O diretório gaúcho aprovou moção pelo rompimento com o presidente Michel Temer, apresentada quarta-feira no diretório nacional. Em carta, a Juventude do PSB engrossou o coro e pediu que partido "se afaste definitivamente" do governo. "Queremos o PSB na oposição, a saída da crise é pela esquerda", diz o texto.

Albuquerque tem interesse em concorrer ao Planalto. Ele vê o quadro fragmentado em 2018, com todos os partidos lançando candidatos e, por isso, com possibilidade de uma "zebra". Internamente, o movimento é apontado por outros dirigentes como uma forma de se cacifar a uma vaga de vice de outro presidenciável ou ganhar destaque para disputar o governo do Rio Grande do Sul.

Ele faz parte do grupo composto pelo deputado federal Júlio Delgado (MG), candidato à presidência da Câmara em 2013 e 2015, e por diretórios contrários ao impeachment como Acre e Amapá que defendem o distanciamento do PMDB para evitar o desgaste decorrente da agenda econômica com a qual não concordam e que é impopular.

Esses movimentos, embora não debatidos na reunião do diretório, levaram o PSB a divulgar documento com críticas à "política ortodoxa" de Temer, à reforma da Previdência e defender, embora de forma passageira, que ocorram "o mais breve possível discussões mais aprofundadas acerca do posicionamento em relação ao governo federal".

O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, diz que o afastamento do governo Temer é algo que pode vir a acontecer no futuro, mas que não foi assunto de debates no diretório. "Por enquanto, queremos apostar que o governo possa ter sensibilidade de orientar suas políticas para os que mais precisam", afirmou. "Não vamos ser motivo de instabilidade do governo e do país."

Ele criticou a pressa com que foi apresentado o relatório da reforma a Previdência: "Foi um erro grave. Precisa de uma discussão não apenas no Parlamento, mas com a sociedade, para que fique claro quem de fato vai pagar". Siqueira diz que o partido discorda de vários direcionamentos que constam no relatório e que, "no momento oportuno", anunciará quais pontos "o partido não poderá apoiar".

A maioria dos parlamentares e do diretório é a favor da aliança temporária com o PMDB com o discurso de independência, mas mantendo o ministério e os cargos. O argumento é que o partido não indicou ninguém: os filiados estão no governo porque o presidente Michel Temer avaliou serem bons quadros e os convidou.

Presidente da fundação do PSB e ex-governador do Espírito Santo, Renato Casagrande afirma que o partido discorda de boa parte da proposta de Temer para a Previdência, mas descarta rompimento. Documento da entidade questiona o modelo escolhido, que "limita-se a retirar direitos sem resolver o problema crescente dos gastos". Sugere rever a política de desonerações e garantir o benefício aos mais pobres.

Casagrande se enquadra no grupo de dez governadores ou candidatos ao cargo que ponderam a viabilidade de uma candidatura presidencial própria. Dependentes do governo federal por repasses de recursos e com receio de ficarem isolados, eles cobram que a legenda avalie se concorrer será a melhor alternativa para 2018. Sem alianças, diminuiriam as chances de crescimento da legenda e de atingir seus próprios projetos pessoais.

Essa corrente está dividida em três frentes: aliança com o PDT, do ex-governador do Ceará Ciro Gomes; adesão ao PSDB, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, em troca do vice, Márcio França (PSB), disputar a sucessão com apoio do tucano; ou uma nova coligação com Marina Silva (Rede), que hoje lidera as pesquisas de intenção de voto no segundo turno.

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