domingo, 20 de novembro de 2016

Saída de ministro da Cultura abre nova crise no governo

• Calero fala em corrupção e acusa Geddel de pressão para liberar prédio em área histórica de Salvador

A demissão anteontem do ministro da Cultura Marcelo Calero abriu nova crise no Planalto. Um dos auxiliares mais próximos de Michel Temer, o ministro Geddel Vieira Lima (Governo) foi acusado por Calero de pressioná-lo para liberar construção de edifício residencial no centro histórico de Salvador, contrariando decisão do Iphan. “Não desejo pra ninguém estar diante de pressão política, diante de um caso claro de corrupção”, disse Calero ontem. Geddel admite ser dono de um apartamento no prédio, avaliado em R$ 3,3 milhões, mas nega ter usado influência para tentar viabilizar o projeto. A tendência é de que Temer não tome nenhuma medida no fim de semana. Nos bastidores, a avaliação é de que Calero fez acusações graves e precisará prová-las. Ele é o 5.º ministro a deixar o governo. Escolhido para substituí-lo, Roberto Freire promete respeitar a decisão do Iphan.

Saída de Calero abre nova crise no governo Temer

• Planalto. Após pedir demissão, ex-ministro da Cultura acusa titular da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, de pressionar por liberação de obra de seu interesse na BA

/Tânia Monteiro, Igor Gadelha e Lu Aiko Otta – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A saída do ministro da Cultura Marcelo Calero abriu nova crise no governo de Michel Temer. Um dos auxiliares mais próximos do presidente, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, se tornou o pivô de questionamentos éticos que colocam o Palácio do Planalto “nas cordas”, segundo interlocutores de Temer.

Calero pediu demissão do cargo anteontem. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, ele acusou Geddel de pressionar pela liberação da construção de um edifício residencial no centro histórico de Salvador, contrariando decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Ontem o ministro admitiu ao Estado que, de fato, é dono de uma unidade (mais informações na pág. ao lado) no 23º andar – avaliada em ao menos R$ 3,3 milhões segundo apurou a reportagem com corretores responsáveis pelo empreendimento. O ministro negou ter usado sua influência para tentar viabilizar a construção.

Essa foi a linha da conversa telefônica que Geddel teve na manhã de ontem com o presidente, que estava em São Paulo. A tendência é que Temer não adote nenhuma outra medida durante o fim de semana.

Embora nos bastidores do Planalto fala-se em “guerra de versões”, a avaliação é que a denúncia de Calero é “grave”. Ele reiterou as acusações ontem, em evento no Rio, e disse tratar-se “claramente de um caso de corrupção”.

As afirmações do ex-ministro causaram desconforto por colocar um ministro importante no centro de uma discussão ética. Foi um fecho ruim para uma semana em que o governo lutou para evitar respingos da prisão do ex-governador do Rio Sérgio Cabral, um dos principais integrantes do partido do presidente, o PMDB.

Comissão de Ética. Dada a gravidade dos fatos, a Comissão de Ética Pública do Palácio do Planalto vai entrar no caso. “Li com atenção o que foi publicado e, como presidente da Comissão, decidi que vou submeter o assunto ao colegiado, na segunda-feira, que vai decidir se abrirá procedimento de investigação (contra o ministro) ou não e quais providências a serem tomadas”, declarou o presidente da comissão, Mauro Menezes. “Não vou fazer qualificativo e nem dar declaração porque estaria me antecipando.”

A oposição quer fazer uma acareação. “Vamos chamar os dois na Câmara. Calero, para deixar mais explícito os motivos que levaram a seu pedido de demissão. E Geddel, para que explique a acusação. Eles vão ter de dar explicações ao Poder Legislativo”, afirmou a líder da minoria na Casa, deputada Jandira Feghali (PcdoB-RJ). Segundo ela, a convocação deve ser pedida nas comissões de Cultura ou de Fiscalização, ambas presididas por deputados do PT. A oposição pretende pedir o afastamento de Geddel.

‘Técnico’. Escolhido para suceder Calero na Cultura, o deputado federal Roberto Freire (PPS-SP) afirmou que vai respeitar a decisão técnica do Iphan. “Vou tomar conhecimento do fato ainda. Mas antes de tomar conhecimento, o princípio que me norteia é o técnico. Se existe um órgão técnico, é para ser respeitado na suas decisões.”

O ex-ministro da Cultura foi o quinto a deixar o governo desde que Temer assumiu o Planato, em maio. Antes dele saíram Romero Jucá, do Planejamento; Fabiano Silveira, da Transparência; Henrique Alves, do Turismo e Fábio Osório, da Advocacia-Geral da União. Todos por fatos relacionados à Operação Lava Jato.

Calero, que é diplomata de carreira, já informou ao Ministério das Relações Exteriores que vai reapresentar-se

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