terça-feira, 22 de novembro de 2016

Presente - Nizan Guanaes

- Folha de S. Paulo

Participei nesta segunda (21) de reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (o Conselhão) como representante da propaganda brasileira –um setor vital no qual cada R$ 1 investido gera R$ 10 para o conjunto da economia.

A contribuição da propaganda para a construção da sociedade brasileira é imensa. Muitos empresários que estão no Conselhão tiveram seus negócios erguidos com a ajuda indispensável da propaganda na formação de marcas e mercados.

Foi isto o que fui dizer ontem na reunião em Brasília: presente.

Este governo, e qualquer outro governo, atravessa um grande desafio de comunicação.

Churchill governou o Reino Unido num de seus momentos mais duros prometendo sangue, suor e lágrimas –um realismo emocionante e motivador. Moisés guiou os hebreus 40 anos pelo deserto em meio a imensas dificuldades, mas movidos pela fé.

Hoje, para atravessarmos nosso deserto, precisamos tanto de realismo quanto de fé. Não a fé num homem, num partido, numa ideologia, religião, mas a fé unificadora no Brasil, na construção de um país justo e forte com vocação de grandeza.

Precisamos transformar o embate divisor e destrutivo num debate unificador e construtivo. O debate é o bom embate.

Temos situações de emergência e desafios estruturais emergentes. Precisamos cuidar de ambos para darmos salto definitivo de desenvolvimento. Não vamos perder mais essa oportunidade.

O embate sobre a educação já está se transformando em debate sobre a educação, de forma estruturante. O embate sobre o ajuste fiscal também. Cabe ao governo explicar de forma clara, transparente e eficiente o que está sendo proposto e executado, ouvir as contribuições de todos, realizar os ajustes necessários e seguir em frente.

O grande desafio do Brasil e das democracias modernas é fazer com que as pessoas entendam a necessidade e a pertinência de medidas amargas, mas necessárias. Não adianta buscar só popularidade. A popularidade pode ser uma jaula.

Ninguém gosta de coisas amargas. Lembra a cara feia que você fazia quando sua mãe lhe dava xarope ruim? Sua mãe criou você com medidas amargas. Vá tomar banho, sente para estudar, desligue a TV. E, para ser boa mãe, ela precisou ter competência para comunicar essas medidas.

É nisso que a propaganda pública pode ajudar a nossa sociedade, a sociedade americana, a sociedade britânica... Esta é a comunicação do mundo político hoje: ajudar as democracias a sobreviver bem com medidas duras, porque este é um mundo de medidas duras (e necessárias).

A alternativa é um populismo desmedido que fala às pessoas simplesmente o que querem ouvir, mas cujas respostas são erradas e perigosas.

Não sou um político, sou um empresário. E, toda vez que um presidente da República me chamar, estarei presente, pronto para ajudar, porque o meu partido, antes de tudo, é o partido do Brasil.

Precisamos ajudar a empurrar essa Kombi ladeira acima até porque ela está indo na direção correta.

É preciso se comunicar com todos, principalmente com dona Maria, que conhece muito bem a realidade de um orçamento apertado e a necessidade de racionar e planejar gastos.

A população precisa entender que os remédios amargos são necessários. E os investidores precisam entender que o Brasil, remediado, estará pronto para retomar seu desenvolvimento, tendo passado por um aprendizado enorme e chocante sobre o que pode e não pode fazer em vários níveis e áreas.

A comunicação brasileira, como sempre, estará à altura dos desafios.

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