sábado, 22 de outubro de 2016

Uma da manhã - Nazim Hikmet

O mantel é azul
Em cima nossos livros
valiosos, sinceros, sorridentes
Minha amada
regressei do cativeiro
da torre
que tem meu inimigo
em meu próprio pais.

Uma da manha
Nossa lâmpada ainda segue acesa
deitada ao meu lado, minha mulher.
Está em seu quinto mês
e quando com minha pele vermelha sua pele
sobre seu ventre deposito minha mão
na criança se move e se gira.
Como a folha da pele na água
assim a criança do homem na matriz
meu pequeno.
A primeira batida de minha criança
É de lã rosada
Sua mãe teceu
O corpo e apenas um palmo de minha mão
As mangas grandes como meu polegar!
Meu pequeno
Se fosse menina
Que de pé à cabeça parecesse sua mãe
Se é homem
Que tenha minha estatura
Se é menina
Que da cor da avelã sejam seus olhos
Se é menino
Que seu olhar seja intensamente azul
Meu pequeno,
Não quero que aos vintes anos o matem,
Se é menino a frente
Se é menina
Em plena noite, nos refúgios.
Meu pequeno,
Seja menina ou menino
Não importa em qual idade,
Não quero que o metam na prisão
Por amar a justiça, a paz e a beleza.
Mas esta claro
Meu menino ou menina
Que se um dia que ansiamos se atrasa
Vai lutar
E inclusive
É um oficio duro, aqui e em nossos dias,
O oficio de pai.

Uma da manhã
Nossa lâmpada ainda segue acesa
Talvez daqui um momento
Quiça quando amanheça
Vão forçar a porta
Vão me sequestrar e vão me levar
Com meus livros
A polícia política de ambos os lados.
Eu olharei para trás
Minha mulher ficara junto a porta
E, em seu ventre cheio e pesado, o menino
Se voltara uma e outra vez.

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