terça-feira, 4 de outubro de 2016

PSDB sai das urnas como a maior força eleitoral – Editorial / Valor Econômico

Os eleitores rejeitaram o PT, maior força da esquerda, e também as opções que lhes foram servidas nas urnas nos pleitos municipais. Em número de votos, o PT desceu de 17,2 milhões, em 2012, para 6,8 milhões e o número de cidades sob seu comando caiu a menos da metade - de 638 para 256 -, cifra que não permite ver o desastre da brutal derrota em São Paulo. Em trajetória preocupante e ascendente vieram o absenteísmo e os votos em branco e nulos, que somaram espantosos 42,5% no Rio e 38,5% em São Paulo e Porto Alegre. O menor tempo de campanha e a penúria de recursos para quase meio milhão de candidatos, provocaram várias mudanças nas forças eleitorais, menos no desinteresse do eleitor.

Com a vitória em primeiro turno em São Paulo e boa posição em várias capitais onde tem chances de ganhar (oito), o PSDB tornou-se a maior força eleitoral do país. Recebeu 17,6 milhões de votos e terá sob sua gestão 37,5 milhões de habitantes - um triunfo inegável e uma responsabilidade ampliada. O PMDB continua dono dos pequenos e médios municípios, ao vencer a disputa em 1.029 deles, embora possa arrebatar apenas três capitais onde disputa o segundo turno em posição de vantagem: Florianópolis, Goiânia e Cuiabá. O PSD continua em trajetória de alta, com 8 milhões de votos, e saiu das urnas como quarta força eleitoral.

Como esperado, após o fim do longo domínio do PT, as forças de centro-direita saíram revigoradas nas eleições municipais. No campo da esquerda, o PSOL parece ter angariado parte dos desiludidos com o petismo, ao atingir dois dígitos em capitais importantes, como Porto Alegre (12%), Belém (29,5%) e atingir 18,3% dos votos no Rio de Janeiro, deixando para trás o candidato da máquina municipal, Pedro Paulo. Alargando um pouco o guarda-chuva da esquerda, o PSB perdeu algumas posições, mas manteve-se em forma (8,3 milhões de votos), assim como o PDT (6,3 milhões). O PCdoB ganhou mais prefeituras (80), mas recebeu menos votos.

O movimento das peças eleitorais, que favorece a centro-direita e a direita, se direcionará agora para a conquista da Presidência. Tudo pode acontecer, mas alguns dos roteiros plausíveis que já estão sendo delineados permitem ver intenções iniciais de alguns dos principais protagonistas.

O governo de Michel Temer sai fortalecido no curto prazo, o que pode lhe dar mais segurança na aprovação da PEC do teto dos gastos, sua primeira e principal batalha. Entretanto, um PSDB tonificado, que vai se afastar em algum momento para ir à corrida eleitoral, passa a ter voz mais forte e poder de pressão maior junto ao Planalto. O PSDB que venceu em São Paulo, tanto na capital como interior, é o de Geraldo Alckmin, o tucano mais arredio no apoio ao governo federal.

O cacife do PSDB, porém, esbarra em sua divisão interna. Alckmin, com um golpe de mão, impôs João Doria contra a velha guarda do partido (Fernando Henrique, José Serra etc) e seu gesto foi coroado de êxito. O senador Aécio Neves, aspirante à disputa presidencial, perde força, assim como José Serra. Serra deu apoio ao malogrado ensaio geral de coalizão PMDB e PSD de Kassab em São Paulo.

Esse, porém, pode ser o caminho do PMDB, caso decida concorrer com candidato próprio - Serra e Henrique Meirelles estão no páreo. Com um dos polos da velha polarização, o PT, muito enfraquecido, PMDB e PSDB concorrerão para ver quem tem maior força de atração sobre partidos com peso do Centrão, como PP (5,6 milhões de votos), PR (4,38 milhões), PRB e PTB.

Em São Paulo, boa parte dos votos dos eleitores mais pobres foram para João Doria. O espólio da esmagadora votação petista no Nordeste na eleição presidencial terá de ser conquistado. Nas eleições de domingo, PSB e PDT se mostraram fortes em São Luís, Recife, Natal e Fortaleza. Mas essas duas legendas não têm afinidades nem com tucanos, nem com o PMDB, o que pode abrir espaço para uma candidatura de nome regional com projeção nacional (a reedição da tentativa de Eduardo Campos, por exemplo), de centro-esquerda. O PT cultiva a ideia de frente de esquerdas, na qual diluirá parte de sua rejeição e que lhe permita reagrupar movimentos sociais e políticos independentes.

As eleições municipais mostraram ainda forte dispersão partidária, o que abre um amplo leque de possibilidades para o futuro. Se a dispersão prevalecer, há tanto espaço para aventureiros "críticos da política" como para Lula, até há pouco ainda forte nas pesquisas.

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