sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Ocupação de escolas pode afetar votação em Curitiba

Por Bettina Barros - Valor Econômico

CURITIBA - Em meio ao forte movimento de ocupação das escolas estaduais no Paraná, que poderá elevar ainda mais a abstenção neste domingo, nenhum analista político ou taxista de Curitiba parece estar disposto a arriscar quem sairá vitorioso na eleição na capital paranaense.

Pouco mais de 500 mil curitibanos aptos a voltar - de um total de 1,2 milhão - tiveram o seu local de votação alterado no segundo turno. Por precaução, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Estado decidiu transferir os eleitores das 146 escolas estaduais, ocupadas ou não, para garantir o pleito.

"Estou preocupado porque isso pode desencorajar a pessoa a ir votar", diz o candidato Ney Leprevost, do PSD, agora líder nas pesquisas, com 44% dos votos totais, segundo o Ibope. Seu rival, o ex-prefeito Rafael Greca, do PMN, e 39%, concorda. "A instrumentação política da escola não é boa".

A crise estudantil no Paraná é mais um elemento de incerteza numa eleição bastante indefinida, e a mais acirrada desde 2000 em Curitiba. Empatados tecnicamente, os candidatos sabem que cada abstenção pode forçar sutilmente o pêndulo a mudar de direção.

O impacto dos secundaristas nos resultados finais entrou no radar da campanha e se tornou a arma não prevista de Leprevost para atacar o atual governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), padrinho de Greca neste pleito.

"Os políticos estão com imagem ruim, o que acaba contribuindo para que as pessoas não queiram votar. Mas fico me perguntando se não há interesse por parte de algumas pessoas do governo de que as escolas mantenham-se ocupadas no dia da eleição", disse ele em entrevista ao Valor. "Nossa intenção de voto nas classes D e E cresceu bastante. E, nesse momento, locais de votação dessa população estão ocupados".

A intenção é não só tentar criar a conspiração de boicote - o movimento estudantil é muito maior que a política local -, mas lembrar eleitores indecisos do "massacre do 29 de abril", em 2015, provocando a indigestão capaz de minar o adversário.

À época, Beto Richa botou a polícia na rua para bater em professores e servidores que resistiam à aprovação de novas regras para a Previdência, deixando 213 feridos.

"Por toda a campanha, Greca tentou se afastar de Richa, que tem alta rejeição, para não ser contaminado pelo episódio", lembra Murilo Hidalgo, do Paraná Pesquisas.

O apoio do governador é parte da explicação para o desgaste de Greca. A outra é ele mesmo. Performático e de cultura enciclopédica, o candidato deixou de ganhar a eleição já no primeiro turno, como as pesquisas indicavam, ao declarar que vomitou em um pobre ao sentir o seu cheiro durante um trabalho social no início da carreira.


Ex-prefeito de Curitiba no início dos anos 1990, sucedendo Jaime Lerner, ele também foi acusado de roubar obras de arte de um museu da cidade ainda em sua gestão. Greca negou as acusações.

A gafe dos pobre foi o gatilho que alavancou Leprevost aos olhos dos eleitores, desbancando o prefeito Gustavo Fruet (PDT), candidato à reeleição, e nomes importantes no sistema político familista que caracteriza o Paraná, como Requião Filho (PMDB), cujo pai foi prefeito de Curitiba e governador do Paraná por três mandatos, e Maria Victória Barros (PP), filha do atual ministro da Saúde, Ricardo Barros, e da vice-governadora do Paraná, Cida Borghetti.

Quase nada diferente em relação à visão política e administrativa de Greca, Leprevost é um político que fez carreira no Legislativo - foi três vezes vereador, três deputado estadual. Muito bem votado, sobretudo na elite, prega a "nova política" (em contraponto a Greca, a "velha política") e diz que contra a sua carreira não há uma mancha para a oposição explorar. Nesta campanha, conseguiu chegar à periferia graças ao apoio de Ratinho Jr, filho do apresentador Ratinho, figura popular, e derrotado por estreita margem na eleição de 2012 em Curitiba.

Na conta de votos, espera levar eleitores de Fruet e demais derrotados - quase todos preferiram posição neutra no segundo turno.

"Estou trabalhando para conseguir voto por voto", diz Leprevost. Na entrada do estúdio de gravação de seus programas, a placa sintetiza as metas para 2016: "1) Eleger o Ney e 2) Destruir o gordo".

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