quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Economistas veem possibilidade de queda maior em novembro

Por Silvia Rosa e Flavia Lima – Valor Econômico

SÃO PAULO - O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu ser menos ousado neste início de ciclo de afrouxamento monetário, ao optar por um corte de 0,25 ponto percentual da Selic, para 14%. Mas deixou a porta aberta para intensificar o processo de redução dos juros já na reunião de novembro, segundo economistas.

Apesar de o comunicado após a reunião ter sido contido, a leitura do mercado foi que o BC buscou, primeiramente, esfriar a euforia, mas que condições econômicas mais favoráveis e inflação menos pressionada poderão autorizar uma aceleração na trajetória de queda da taxa Selic.

Na avaliação de Tatiana Pinheiro, economista do Santander, o Copom pode acelerar o corte de juros em novembro após a aprovação da PEC dos gastos e se a inflação de serviços recuar. "Olhando a decisão do BC, ela é plenamente cabível. A inflação teve evolução favorável para o retorno à meta no horizonte relevante da política monetária da reunião de agosto para outubro, tanto na parte dos preços de alimentos quanto na queda nos núcleos da inflação de serviços, e expectativa de aprovação final da PEC dos gastos na Câmara ainda em outubro", diz a economista.

O banco esperava o início do ciclo de afrouxamento monetário apenas em novembro, mas a velocidade de avanço da agenda fiscal surpreendeu e abriu espaço para que o BC cortasse a taxa básica de juros já em outubro. A discussão agora, segundo Tatiana, é de qual será o tamanho do ciclo e a possibilidade de a Selic voltar para um dígito. "Acreditamos que há possibilidade de a Selic chegar a um dígito ainda neste ciclo [de corte], com o BC devendo prosseguir com os cortes da taxa básica ao longo de 2017 em todas as decisões", diz.

"Espero 0,50 ponto de corte na próxima reunião porque acho que as condições da inflação vão melhorar", afirma Fernando Rocha, economista-chefe da JGP, ao ressaltar que a taxa Selic deve ir para algo próximo de 10% no final do ano que vem. "O que o BC está passando de mensagem é que se a inflação for mais alta, ele não vai cortar tanto a taxa de juros, pois o compromisso principal é com a meta."

Na visão do economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, o BC optou por um corte de 0,25 ponto para eliminar a possibilidade de uma grande euforia no mercado. "Com 0,5 ponto, o mercado entraria em uma euforia grande e começaria a precificar na curva de juros um corte de 0,75 ponto. Dando 0,25 ponto, ele elimina essa possibilidade", diz Oliveira. O economista espera corte de 0,5 ponto em novembro porque as condições econômicas, somadas à convergência das expectativas de inflação em um horizonte relevante, permite queda dessa magnitude.

Para Rodrigo Melo, economista-chefe da Icatu Vanguarda, os próximos passos da autoridade monetária serão guiados especialmente pelo comportamento da inflação de serviços, o que abre espaço para um corte maior em novembro. "A inflação de serviços é o fator mais importante, que atualmente mais atrapalha a convicção do BC no processo de desinflação", diz.

Para o economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, a desaceleração mais lenta da inflação de serviços desde junho levou o Copom a adotar uma postura mais cautelosa no início do ciclo. "O BC quer ter maior certeza de que a velocidade de desinflação desses preços é consistente." Segundo Kawall, os preços de industrializados e serviços devem manter a trajetória de desinflação e isso associado à continuidade do avanço das reformas, melhora das expectativas de inflação e contribuição positiva do câmbio devem abrir espaço para intensificar o ritmo de cortes e optar pela queda de 0,5 ponto da Selic em novembro.

Melo, da Icatu, avalia que leituras mais positivas em serviços devem justificar uma queda de 0,5 ponto em novembro, com a Selic encerrando o ano em 13,5%.

Para Sérgio Werlang, ex-diretor de política econômica do BC e assessor da presidência da Fundação Getulio Vargas (FGV), a decisão do Copom de reduzir a Selic em 0,25 ponto percentual por unanimidade foi um importante sinalizador e indica que, se a trajetória de crescimento dos gastos for contida, a inflação poderá ficar sob controle com juro real bem mais baixo. Werlang avalia, no entanto, que a queda não poderia ter sido maior agora, pois ainda há muita incerteza sobre a trajetória fiscal do Brasil. "Para início de conversa, precisamos aprovar a PEC do teto. A decisão foi correta e ponderada."

Diferentemente de boa parte do mercado, Werlang não espera um corte maior da Selic, de 0,5 ponto percentual, em novembro. Segundo o economista, isso só ocorreria se a inflação viesse muito baixa e se houvesse muitos sinais de aprovação da PEC do teto sem nenhuma modificação, o que, por enquanto, não faz parte de seu cenário.

A reação do mercado futuro de juros hoje, segundo Tatiana, deve ser positiva, devendo ocorrer uma queda das taxas ao longo de toda a curva de juros, embora o corte de 0,25 ponto já estivesse contemplado nos preços. Os contratos de DI refletiam 70% de chance de redução de 0,25 ponto nesta reunião.

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