domingo, 25 de setembro de 2016

Uma eleição em tempos de festas e crises – Editorial / O Globo

• Numa campanha curta, o que é positivo, o eleitor precisa ter cuidado diante de propostas sedutoras, embaladas em populismo, inexequíveis por definição

Numa campanha mais curta — o que não é mau —, os candidatos precisam ter maior capacidade de estabelecer uma sintonia fina com o eleitorado. Mas talvez não seja por isso que as pessoas ainda estejam pouco mobilizadas em torno da disputa para a prefeitura do Rio. Deve-se considerar que não apenas a cidade, mas todo o país, acaba de sair do longo e estressante processo que foi a tramitação do impeachment de Dilma Rousseff. Parece haver uma ressaca de embates políticos.

No Rio, pode existir, ainda, alguma dificuldade de se deixarem no passado os bons momentos vividos com a Olimpíada e a Paralimpíada, para entrar no árido terreno da política partidária. Mas nada justifica a alienação diante dos problemas da cidade e, tanto quanto, das plataformas dos candidatos. E não só dos problemas, mas também das potencialidades a serem exploradas, e de que forma. Em consonância com os rankings de mazelas listadas por eleitores, a Saúde tem sido um tema muito abordado pelos candidatos. Os oposicionistas, para criticar o uso de novos arranjos administrativos (organizações sociais), adotados para acabar com a baixa qualidade do atendimento.

Há, é certo, efeitos na cidade da grave crise fiscal do país e do estado, mas é necessário o alerta de que voltar ao regime dos servidores estatutários em postos, unidades de saúde e hospitais piorará a situação dos pacientes. Seria um retorno ao passado. Falhas de fiscalização e/ou acertos espúrios de prestadores de serviço com agentes públicos, no âmbito das OSs, têm de ser combatidos, mas sem acabar com sistemas de contratação de serviços de eficiência comprovada em outros estados e municípios. Nas crises, corporações aproveitam para manter ou recuperar privilégios.

Está posta nesta eleição a agenda levada às ruas pelas manifestações espontâneas de 2013. Dela constava a mobilidade, crucial para a população, principalmente a de renda mais baixa, forçada a longos deslocamentos pela região metropolitana, entre casa e trabalho. Um dos legados dos Jogos está neste campo. Foram construídos novos BRTs e, com o estado, levou-se o metrô à Barra. São ganhos importantes no transporte de massa, por necessários. Mas não suficientes, claro, depois de tanto tempo de inércia nesses investimentos.

Um polo dos debates de campanha são as tarifas. Aqui também o eleitorado precisa ficar atento, pois se trata de tema à feição da demagogia, aguçada pela crise econômica. Deve-se reivindicar transparência no cálculo das tarifas, cruciais para a grande maioria da população. Mas supor que será possível subsidiá-las na totalidade — tarifa zero — é ilusório, pois se trata de um custo insuportável para o Erário municipal.

Sempre se pode aumentar impostos sobre os “ricos”, mas nunca se pensa nos efeitos colaterais: fuga de empresas, de empregos, e assim por diante. O eleitor deve aguçar a atenção para avaliar qual a seriedade das propostas dos candidatos. Se são factíveis. Ou apenas se tratam da sedução populista de toda eleição.

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