segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Psol pró-impeachment e 'de direita' lidera eleição em Cuiabá

Raphael Di Cunto - Valor Econômico

BRASÍLIA - Pouco prestigiado pela cúpula do Psol, sigla que se orgulha de ser "oposição à esquerda do PT", o candidato do partido à Prefeitura de Cuiabá foi à TV esta semana rebater críticas do pastor Silas Malafaia, gravadas para o programa dos vereadores do PSC, que o acusava de ser a favor do aborto, da legalização das drogas, da troca de sexo e da "erotização de crianças na escola".

"Não é verdade o que eles estão dizendo [...] Sou católico praticante. Sou cristão", rebate o procurador Mauro de Barros (Psol), rejeitando algumas das principais bandeiras do partido. "Nossa vitória significa o fim dos privilégios e das negociatas que eles sempre tiveram, por isso esses ataques", continua, com o discurso de renovação na política que atraiu parte do eleitorado.

Criticado por militantes de esquerda por ser "de direita" - além do vídeo em resposta a Malafaia, defendeu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, rejeitado pelo Psol - e pela direita por fazer discurso estatizante, a favor de acabar com as empresas e transferir para a prefeitura o transporte coletivo e saneamento básico, Mauro tem surpreendido os adversários: lidera a última pesquisa do Ibope com 30% dos votos, à frente dos candidatos dos principais grupos políticos do Estado.

Em seguida, com 27%, está o deputado estadual Emanuel Pinheiro (PMDB), do grupo do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) - preso há um ano por suspeita de fraudes fiscais - e em terceiro o ex-prefeito Wilson Santos (PSDB), apoiado pelo governador Pedro Taques (PSDB), mas com apenas 20% dos votos. A pesquisa tem margem de erro de quatro pontos percentuais.

O procurador, que, apesar do que o nome poderia sugerir, não tem ligação com o Ministério Público, mas com a Procuradoria da Fazenda Nacional, aproveita o "recall" de quem disputou as últimas sete eleições majoritárias. Apesar de ser uma presença constante nas eleições, não abre mão do discurso de acabar com "as velhas práticas da política", para despontar como favorito desta vez.

Nas contas de adversários, Mauro leva vantagem para o segundo turno por receber o apoio informal do terceiro colocado, mesmo que rejeite alianças com os políticos tradicionais, "só interessados em cargos". É improvável, dizem políticos locais, que os dois grupos que se enfrentarão pelo governo estadual em dois anos se juntem agora. Segundo o Ibope, que ouviu 602 eleitores entre 13 e 15 de setembro, ele venceria todos os adversários no segundo turno.

A liderança na pesquisa, registrada sob o número MT 02684/2016 no TRE local, não aumentou o pouco prestígio do candidato junto à cúpula do Psol. Mato Grosso não tem representantes no diretório nacional do partido e Mauro só recebeu recursos do diretório local. O candidato, contudo, segue à risca uma das diretrizes: só fazer alianças com PSTU e PCO. O problema é que as duas legendas não existem no Estado.

A falta de aliados já provocou problemas na eleição passada, quando foi o sétimo candidato mais votado a deputado federal, mas o partido, sem coligação, não fez votos suficientes para eleger ninguém. Ele foi, porém, o mais votado da capital naquela disputa.

O programa de governo também segue linha mais parecida com a do Psol. Defende substituir as empresas de transporte coletivo por ônibus comprados pela própria prefeitura com financiamento e retomar a companhia de saneamento municipal, privatizada em 2012. O discurso, diz, não é radical, de rompimento de contratos. "As empresas de ônibus já operam sem licitação e há decisão judicial contrária à privatização. Ninguém vai provocar uma revolução socialista como prefeito de Cuiabá", afirma.

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