quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Operação Greenfield ‘é fio de novelo’, diz procurador-geral

• Janot não descarta que investigação em fundos chegue a políticos

Vinícius Sassine e Jailton de Carvalho - O Globo

-BRASÍLIA E RIO- O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, indicou ontem que o “núcleo político” das fraudes nos fundos de pensão deve ser alvo de pedidos de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), instância responsável por investigações de autoridades com foro privilegiado. Relatórios da Operação Greenfield, deflagrada na segunda-feira pela Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF), apontam a existência de um “núcleo político” com influência junto a dirigentes dos fundos.

— Investigação é fio de novelo, vai puxando e vamos ver o que vem — disse Janot ao ser indagado sobre um possível envolvimento de políticos nas fraudes, após reunião do Conselho Superior do MPF.

Ele afirmou que ainda não recebeu documentos relacionados à operação. Segundo fontes da Procuradoria-Geral da República (PGR), os relatórios com citações a políticos ainda não chegaram aos setores responsáveis. Depois de analisarem o material, os procuradores devem tomar uma decisão sobre os pedidos de abertura de inquérito junto ao STF. Por enquanto, os documentos apreendidos são analisados pelos investigadores que atuam na primeira instância da Justiça. 

Meirelles: sem vinculos com  J&F 
A Operação Greenfield investiga fraudes em pelo menos oito fundos de investimento em participações (FIPs): Cevix, Multiner, Sondas, OAS Empreendimentos, Enseada, RG Estaleiros, Florestal e Global Equity. Quarenta pessoas são investigadas por gestão temerária e fraudulenta nos fundos de pensão. São gestores, corretores e grandes empresários que aplicavam nesses FIPs.

Autoridades ligadas à investigação endossam as palavras de Janot. Segundo um dos responsáveis pela Greenfield, a operação tem potencial para superar até mesmo as cifras da Lava-Jato, considerada até agora a maior investigação sobre corrupção no país. Isso porque os fundos de pensão faziam movimentações expressivas de dinheiro, sem as amarras de licitações ou tomadas de preços.

— Se houver delação, essa operação pode ficar maior que a Lava-Jato — disse uma das autoridades do caso.

Uma das empresas citadas é a J&F, holding do Grupo JBS. Os irmãos Wesley e Joesley Batista foram afastados do comando do grupo. Isso levou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a divulgar uma nota, ontem à noite — ele atuou como consultor e presidente do Conselho de Administração da J&F.

O comunicado ressalta que Meirelles nunca dirigiu a J&F ou a Eldorado e que seus serviços de consultoria se concentraram na montagem do Banco Original. E ressaltou que, mesmo ao assumir a presidência do conselho, Meirelles não exerceu quaisquer funções executivas na empresa.

“O contrato de consultoria com a J&F estipulava que Meirelles não participava da gestão e não tinha acesso aos dados internos da empresa. Suas sugestões como consultor restringiam-se a assuntos do Banco Original ou para algum movimento estratégico, particularmente fora do Brasil, sobre o qual a J&F demandasse sua opinião. O contrato deixava claro que a empresa podia ou não adotar essas sugestões”, informou a nota.

A Fazenda ressaltou, ainda, que, ao aceitar o convite para assumir a pasta, Meirelles cortou todos os vínculos que tinha com o setor privado.

Só no início da operação, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, decretou o bloqueio de bens de 103 pessoas e empresas investigadas, no valor de R$ 8 bilhões, cifra que corresponderia aos valores desviados. A PF prendeu Carlos Augusto Borges e Maurício Marcellini Pereira, diretores da Funcef, o fundo de previdência dos funcionários da Caixa Econômica Federal. Eles estão entre as sete pessoas que tiveram prisão temporária decretada, por suspeita de envolvimento em fraudes na Funcef.

Também tiveram a prisão decretada os ex-presidentes da Funcef Carlos Alberto Caser e Guilherme Lacerda, além de Humberto Pires Grault Vianna, Demosthenes Marques e Fábio Maimoni Gonçalves, ex-diretores da entidade. Caser e Maimoni estão foragidos. Na segundafeira, um dos responsáveis pela investigação chegou a contabilizar a prisão de Caser, mas ele acabou não sendo localizado pela polícia. A Funcef é o alvo central da primeira etapa da Greenfield, ainda que a investigação tenha se estendido a Postalis, Previ e Petros (dos Correios, Banco do Brasil e Petrobras, respectivamente).

Os presos foram interrogados ontem. O prazo das prisões termina hoje. Os investigadores esperam que alguns acusados decidam contar o que sabem sobre as supostas fraudes, especialmente sobre a movimentação financeira.

Convocado pela PF, o ex-presidente da Previ Sergio Rosa depôs ontem na sede do órgão, no Centro do Rio. Acompanhado de seu advogado, ele chegou às 9h55m e ficou na PF por quase quatro horas. Ao sair, ele disse que gostaria de contar “tudo o que sabe”, mas o processo corre em segredo de Justiça.

— Vou colaborar prestando depoimento, como hoje — afirmou Sergio Rosa, sem informar quando se apresentará novamente à PF nem que dados levou às autoridades.

Ex-sindicalista que presidiu a Previ de 2003 a 2010, ele afirmou não saber se seus sucessores também serão convocados.

Segundo o juiz Oliveira, Sergio Rosa “teria recebido, por meio da empresa R.S. Consultoria e Planejamento Empresarial, vantagem pecuniária indevida da OAS para que a Previ realizasse investimentos do interesse da OAS (no caso Invepar)”.

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