terça-feira, 20 de setembro de 2016

Medalha de prata – Editorial / Folha de S. Paulo

O encerramento da Paraolimpíada fecha o ciclo de grandes competições esportivas organizadas no Brasil, a partir da Copa do Mundo de 2014. Cercados de compreensíveis apreensões, os eventos, com seus erros e acertos, estiveram à altura dos padrões internacionais.

Presidente do Comitê Paraolímpico Internacional, o britânico Philip Craven, por exemplo, declarou-se particularmente orgulhoso com os Jogos do Rio, que tiveram 2,1 milhões de ingressos vendidos, atrás somente de Londres-2012.

Considerando o grande interesse do público e o sucesso da organização, Craven afirmou também que a competição deixará um legado favorável no que tange ao aumento da consciência no país acerca da inclusão de pessoas com deficiência. Espera-se que esteja certo.

Não há dúvida de que essa palavra tão repetida —o legado— indica o principal aspecto a avaliar nessa sequência de festivais esportivos. Somados, os eventos custaram cerca de R$ 66 bilhões, dos quais mais da metade (aproximadamente R$ 40 bilhões) teve origem em entes públicos, seja no financiamento, seja no investimento.

Embora tentadoras, avaliações sobre a maior conveniência de aplicar tais recursos em outras áreas esbarram na constatação de que eles dificilmente seriam reunidos sem os compromissos assumidos para a Copa e a Olimpíada.

Seja como for, muito do que se prometeu não se cumpriu. No Mundial futebolístico, cidades deixaram de fazer o que estava previsto em termos de infraestrutura; houve evidências de irregularidades em obras; desperdiçou-se dinheiro em arenas que jamais superariam a vocação de elefante branco.

Quanto à Olimpíada, a promessa de despoluição da baía de Guanabara foi o fracasso mais retumbante. Perdeu-se oportunidade de ouro de dar um salto na qualidade ambiental de um dos cartões postais do país e de mostrar ao mundo capacidade de levar a cabo projetos que realmente façam a diferença.

Do lado positivo, são patentes as melhorias urbanas que o Rio obteve, da renovação da zona portuária à construção de novas plataformas de transporte público.

Vantagens palpáveis que se acrescentam às aparentemente mais etéreas, como os ganhos no incremento do turismo e a divulgação da imagem do Brasil no exterior. De acordo com pesquisa do Ministério do Turismo, 87,7% dos estrangeiros que vieram acompanhar os Jogos manifestaram interesse em voltar ao país.

Além disso, apesar de não ter atingido a meta na classificação geral, o Brasil conquistou recorde de medalhas tanto na Olimpíada (19) quanto na Paraolimpíada (72).

É de lamentar que Copa e Jogos tenham transcorrido num ambiente de grave crise econômica e política. Não era este o cenário que se descortinava quando o país conquistou o direito de tornar-se sede desses eventos. Faz parte do jogo.

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